05 agosto 2006

Em Vila Nova, fazeram um grandessís'm' arjamolho...

Certificado

Fui a Vila Nova com a minha Maria, enché-se a barriga d' arjamolho e inda me deram isto.

Q'ondo o Zé Manel, filho do mê compad'e jôquim do Barranco, fez a f'neza de convindar a gente p'a s' ir a Vila Nova, nunca pensí d' ir lá incontrar um gentío daqueles e inda menes um arjamolho fêto drento dum tãinque.

Ê cá inda 'tive p'a l'e d'zer que não, mái fui-me aconselhar com a minha Maria e dig'-l'e:

- Ó Maria, o Zé Manel convindô a gente p'a s' ir lá im baxo a Vila Nova dar um passêo, 'mái ê 'tá-me custando tanto ter qu' ir tomar banho e vestir a rôpa do D'mingo e, ô méme tempo, sê cá a que horas é qu' a gente volta de lá...

Ela nem me dêxô d'zer mái nada:

- Ó homem, atã s' ele convindô, vai-se-l'e fazer uma desfêta dessas?!... Calhando, inda era capaz de f'car apequentado com a gente.

A marafada 'tá semp'e fêta p'a andar na ratôiça...

- Ele des qu' há p'ra lá uma festa p'a c'merem um arjamolho e despôs f'car resistado num livro nem sê quém, qu' eles sã os melhores do mundo. Mái atã e s' ele faz c'm' da ôtra vez que só vêo trazer a gente aqui já na madrugada, passando das três da manhã?!...

- Olha, chega-se q'ondo se chigar e ninguém tem nada com isso. Amanhã nã se tem água de partilhas p' a regar nem nada... Ê cá, na minha idéa, cudo que se havera d' ir, senã ele, nôtra ocasião, nunca mái s' alembra da gente.

Agora mecêas digam-me lá. Com umas réplas destas da minha Maria, o qu' é qu' ê cá havera de fazer?... Fui p' ô Zé Manel e disse-l'e que sim. E seja o que Dés qu'ser...

De manêras que, foi só jogar p' aqui umas chapadas d' água p' ô corpo, vestir rôpinha lavada e abalar, qu' o Zé Manel já 'tava à espera da gente e dos mês compadres - o pai a mãe dele.

Nem se levô uma buchazinha nem nada, qu' ele disse logo que nã havia míngua de levar, que c'mia-se lá o arjamolho. Des qu' era dado. Ê nã acredití lá munto nisso, mái fiz de conta que sim.

Pôs nã l' es digo nada. Chigô-se lá, aquil' era de f'car embasbacado.

Famila de pratos na mão, p'r tudo q'onto era sito, a c'merem esgalf'tados que, béque-me, 'tavam com medo do arjamolho s' acabar entes de tempo. Aí vi logo qu' o Zé Manel tinha r'zão. Aquil' era dado...

Lá im cimba duma coisa 'tavam uns, com umas colheres de panela que par'ciam da tropa, a tirar arjamolho à rôpa toda p'a umas malgas dum tamanho parvo.

Arjamolho

P'a fazerem o arjamolho, em vez duma malga, tinham um tãinque que dava p'a se t'mar lá banho...

Arjamolho

Uma preçada de môces e moças, tamém de colher funda, mái um coisinho mái pequena, a incher pratos e mái pratos que nã davam agu-ento...

De q'ondo em vez, passava p'r uns com um chapéu d' aba caída, uma capa chêa de medalhas e inda mái um medalhão pindurado ô bescoço, tudo d' igual, pensí:

- Isto sará a Guarda daqui qu' agora tem esta farda? Nã l' acho munto jêto, mái beh!

Pergunto ô Zé Manel:

- Zé Manel, mái atão o qu' é que sã estes, tôdes vestidos desta manêra?

- Ó ti Refóias, isto sã aí os da confraria. Foram eles que fazeram este concurso. Nã vê além aquele chê de medalhas? É o chefe deles, o grã-mestre.

- Mái atão e moram p' aí nalgum convento perto, qu' ê cá nã tenha ôvido falar?

- Nã senhora. Eles sã sóiços da confraria más é de comer e bober. Nã sã frades nenhuns... E atão fazem estas coisas qu' é p'a serem falados.

- Tó diébe, mái atã p'a comer e bober é preciso se vestirem daquela manêra?!... Ê cá, désna que tenha vontade e dec'merzinho, até em ciroilas ê me rapimpo com um jantarinho qu' a minha Maria faça. E, em tendo fastio, nã serve de nada me vestir desta ó daquela manêra que nã dô c'mido...

- Eh'q, ê logo l'e dexplico isso melhor, um dia destes, qu' isto aqui 'tá munto barulho e nã vã eles ôvir o que mecêa p' aí diz e encherem uma barrigada de rir às nossas tensas.

Grão-Mestre

O chefe deles tôdes 'tá bem carregadinho de medalhas e medalhõs...

Mái, méme assim, inda me voltí p' ô mê compad'e Jôquim e dig'-l'e:

- Ó compad'e, mái atã d' adonde é que par'ceu tanta famila? Isto, a maior parte nã sã de cá, calhando...

- Ê sê cá... Más olhe que Vila Nova já é uma grande terra. Eles nã hõ-de gostar da gente l'e ch'mar Vila Nova. Hõ-de qu'rer que se diga Portimão, mái tamém eles chamam parentes à famila lá de Monchique e a gente tem que se f'car...

- Inda m' alembro de q'ondo eles iam lá de pé descalço vender barbigão... Era uma medida, cinco destõs. Agora, s' a gente os qu'rer, tem que s' os vir comprar à praça e bem caros...

- É verdade. E a gente, q'ontas vezes se vêo com um cravanito im cimba dum burro vendê-lo p'r cá...

- Mái inda me ponho cá a cismar e nã dô alcançado bem o perquém disto tudo. Tanto cagaçal, tanta tel'visão, tanta coisa de roda disto pre mode quem? P'a darem um arjamolho a quem no qu'ser vir aqui c'mer?...

- Ora, nã sabe mecêa qu' isto agora é tudo assim. Só o qu' ajunta famila é que l'es ent'ressa. E a famila tamém só gosta é de marafundas. Que mecê nã pense, uma bela parte dos qu' aqui 'tão é pessoal de Lisboa, que vêem p'ra cá este mês, e pedem d'nhêro ô banco p'a gastar... Foi o mê Zé Manel que me disse e ele sabe disso.

- Já nã tenho cabeça p'a isto. Lá no mê monte é qu' ê 'tô bem e q'onto mái nã vale uma festa de S. Antóino em Marmelete ó a de S. Romão no Alferce. Aquilo sim, é qu' a gente s' ad'verte...

E cada vez par'cia mái famila, qu' aquilo já se custava a dar andado lá. Eram só encontrõs p'a um lado, pisadelas p'a ôtro...

Já de nôte cerrada, inda cantô um grupo ali da F'guêra que foi o qu' ê gostí más. Olhe, apresentaram umas modas - umas algarvias ôtras alentejanas - todas bonitas e bem trabalhadas...

Grão-Mestre

Despôs d' encherem a barriguinha, 'tava tudo a ver os ranchos...

E foi assim qu' eles f'caram lá nesse livro dos que fazem as maiores parvoêras do mundo e a gente pôs-se a andar caminho do monte, qu' o Zé Manel, no dia a seguir, tamém tinha que trabalhar e nã se descudô munto nas horas.

À saída, inda me prècuraram s' ê cá gostava de levar um diploma, qu' era barato.

- Atã q'ont' é que custa?

- São só dois euros e o produto da venda é para uma obra de caridade.

Disse-me um senhor, munto pr'nóstico, com voz de Lisboa, mái com cara de boa pessoa. E lá disse p'ra donde ia o d'nhêro, ê cá é que nã m' alembro já.

- Atã, 'tá bem. S' ele é isso, dê lá p'ra cá um e tome lá os dôs eros. E tamém me calha, qu' ê cá de diplomas só tenho p'a lá o da tercêra classe e já bem puído dos anos.

- Que nome é que deseja que ponha?

- Olhe, ponha o mê e da minha Maria, que fica-se logo os dôs no mémo.

- E o seu é...

- Ponha assim: O Parente da Refóias e a su Maria. Nã acha que fica bem?...

- Acho, acho... Põe-se sempre a gosto do cliente.

É menino, q'ondo o homem me dé aquilo tã bem fêtinho, até f'quí repeso de nã comprar dôs. Um p'ra mim ôtro pr' à minha Maria, mái atão já 'tava...

Semp'e se punha um lá no quarto da cama, no itager do mê lado, e o ôtro lá no tabique da casa de jantar ó atão na pelhêra da casa de fora.

Até p' à semana e Dés os acompanhe.

15 comentários:

  1. Muito se falou na televisão deste evento, que serviu para dar a conhecer esta especialidade gastronómica algarvia a pessoas de todo o país, e calhando, também aos estrangeiros que por lá se encontravam. Quem sabe para o ano que vem se lembrem de fazer o mesmo relativamente ao xarém ou aos carapaus alimados ;)
    Guarde bem o diploma, pois é muito bonito, e não é qualquer um que tem a honra de possuir tal prova de ter contribuído para que a Vila Nova batesse este magnífico recorde!

    Os melhores cumprimentos para o amigo Refóias e sua Maria.

    P.S.: Já estou fazendo as malas para passar uns belos dias aí, tirando fotos a tudo o que há de belo. Já que o Parente conhece a minha morada em Monchique, saiba que as portas da minha casa estarão abertas para si e sua esposa.

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  2. Ora bem, parente "Certificado" é parente autêntico. Pena foi não lhe terem dado um coração a dizer "Amo a minha terra"...
    Bom domingo para vossemesseses!
    Abç

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  3. Meu amigo,
    Nem imagina o quanto me fez sorrir, pois acho muito engraçado os seus dizeres.
    De resto deixo-lhe os meus parabéns, pois o seu blog está muito engraçado. As fotos são muito bonitas também.
    Um abraço e até mais.
    PS: Não sobrou nada da sopa?

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  4. Ana Pinto:
    Nã ê s' inda venho a horas de l'e desejar uma boa viaja de Liboa até Monchique. Se já 't'ver cá, atão que passe uns dias do melhor que possa ser e só me dá pàxão é de nã ver os retratos que mecêa vai tirar p'r 'qui, qu' hõ-de ser do mái bonito que há.
    A minha Maria manda-l'e agradecer munto os comprimentos e a oferta da sua casa e, uma vez que calhe, até pode ser qu' a gente se veja.
    Muntas rec'mendaçõs dos dôs, p'a si e p'à sua mãe.

    PS: A su idéa de, pr' ô ano, fazerem um tacho de papas daquele tamanho, lá em Vila Nova - e bem que podiam ser acompanhadas com sardinhas da moira assadas, como no mê tempo, ó atão com conquilhas ó barbigão - é de se l'e tirar o chapéu. Munto gostava ê cá qu' isso se desse...

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  5. Bettips:
    Dés l'e dê saúde e alegria e qu' o fumo aí p'r essas bandas já tenha despàirecido.
    C'm' ê pôco vejo tel'visão e custa-me ôvir as notiças, de parvas qu' elas são, p'a nã falar d'ôtras bodegas qu'as tel'visõs dão, quái nunca sê das coisas a temp' e horas.
    Olhe, o diploma em fêtio dum coração, com a tal escrita a d'zer "Pélo-me p'la minha terra!" é vomecêa que me dá e todos os que lêem as minhas patacoadas. Cada comentáiro que fazem acrecentam uma letra que fica aqui marcada no mê pêto.
    Dés l'e pague a todos.

    PS: M't'ôbrigado p'r aquele email tã bonito que me mandô. Um dia destes, em tendo um coisinho de tempo, vô-l'e responder.

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  6. Marco Magalhães:
    F'qu'i munto contente de ter uma v'sita nova de Lisboa. Seja bem par'cido e m't'ôbrigado p'lo que me diz. Tamém já fui bispar os sês blogs e gostí.
    Olhe, da sopa, se f'cô algum r'stinho, aquilo, passado um belo pôco, já nã presta p'a nada qu' o pão fica todo mole que parêce umas papas... E os t'mates e o popino, com o vinagre, até ficam emborrachados...
    Tenha munta saúde.

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  7. Alfazema:
    Já vi que mecêa há-de ser marafada p'ô laré, c'm' à minha Maria. E, calhando, o sê Blé há-de ser assim um homenzarrão de respêto, cá c'm' ô Parente da Refóias... Semp'e prontos p'a mandar, mái sem contradiar as nossas Marias...
    E já agora semp'e l'e digo qu' a famila, aqui em Monchique, q'ondo diz Vila Nova 'tá-s'a falar de Portimão...
    A Vila Nova de Milfontes já fica munto fora da nossa volta e ê cá nunca m' astrevia a abanhar no rio Mira, méme ele nacendo aí ô pé de si.
    Vá lá na r'bêra d' Odelôca... e é no v'rão q'ond' ela vai seca... Aquilo, q'ond' a água me chega ôs artelhos, fico logo todo ensiado, q'onto más jogar um margulho lá p'a drento...
    Tamém l'e mando bêjos, mái a minha Maria que nã saiba. Veja lá...

    PS: Olhe, gosto munto d' ir aí à su serra do Caldêrão ver aqueles lá do Buda e, ô méme tempo, c'mer um belo jantar naquela venda que 'tá logo lá ô pé.
    Ai que belo dec'merzinho qu' aquela parenta faz...

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  8. Eh lá! Isso é qu'foi advertimento! Um advertimento qué cá bem g'stava de ter tido, inda p'r cimba na minha terra. Inflizmente já não gosto munto dela p'r mode de ter tantes préds, cuma p'ssoa até s'aborrece e ósdespôs é só cárrs cuma p'ssoa nem sabe onde s'meter. Muntos parabéns pró Ti Refóias e prá sua Maria. Qualquer dia tem que pensar em screver um livre com iste tude e/ou fazer uma amostra de fetografias, qu'iste já vái sende um trabalhe bêqueme grande o suficiente para uma coisa desse tamanhe.
    Um abraço cá deste monte!

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  9. Parente

    O Verão sem arjamolho não é Verão!
    Os tomates, os pepinos, os pimentos, os óregãos e tudo mais...quando se juntam na malga fazem uma festa.
    O que dizer quando se juntam num "tãinque que dava p'a se t'mar lá banho..."?!
    Grande festa em Vila Nova, Parente!

    ~*Um beijo*~

    P.S. O nº9388 de "A maior sopa do mundo" certifica não só uma participação na tentativa de record...
    Quem faz uma reportagem como esta que o Parente fez merece entrar, de imediato, no Guiness. ;):):)

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  10. Célia Luz
    Dés l'e pague p'r tudo.
    Olhe, a su terra, Vila Nova, 'tá mái bonita do que já 'teve.
    Méme com aquelas casas munto altas, tem ôtras coisas qu' ê dig'-l'e: Até gosto.
    Inda ontordia, fui a pé désna do Parque de Fêras e Exposiçõs até à Praia da Rocha, semp'e junt' ô rio e gostí do que vi.
    Só falta arrenjarem o Convento de S. Francisco, parente do nosso aqui de Monchique, e fazerem um pedaço de caminho lá ô pé, que fica uma passêo do melhor que pode ser.
    Muntas recomendaçõs.

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  11. Rosmaninho
    Mecêa até me faz f'car encarnado com essa conversa...
    Mái méme assim, Dés l'e pague e m' t' ôbrigado.
    Muntos comprimentos.

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  12. Parente

    Acredite que não o quis fazer corar...
    Terá sido a conversa dos tomates, pepinos e pimentos... ou foi a do guiness? :):):)

    Estou a brincar...:):):)

    ~*Um beijo*~

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  13. Rosmaninho
    Ê béque-me já me tinha vindo à idéa que vomecêa, calhando, 'tava a charolar. E agora vejo que nã 'tava atribuído.
    Pôs fique sabendo qu' é disso qu' ê cá gosto, méme que me faça mái encarnado qu' um p'mento quem-moso.
    A conversa do guiness é que me dêxô mái empeçado, que cá com as bejoarias lido ê tôdes dias, 'tá bom de ver...
    Dés l'e dê munta saúde.

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  14. Parente

    De cada vez qu'é cá olhe pra este retrate (de qu'ondo esperam plo espetacle), enche logue o papinhe de rir. Atã nã é qu'o parente apanhou logue uma porçanada de Monsquêras, más a que se vê melhor é logue uma Alfercenha - A Toucinha - É que nem de prepósite, será que tavam tôdes esganades de fome...
    Com o calorinho que fazia, tá visto que tava méme a calhar o arjamolhe

    Dés le dê o que le faz más falta...

    O Campaniço

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