26 julho 2007

E sempre fui a Santiago...

Simbolos indicadores do Caminho de Santiago
Se nã fossem estes setas quem é que dava lá chigado, senhor?!... Ê cá nã dava, que nã sabia o caminho...

Andí, andí, semp'e me pus a caminho de Santiago. E já cá 'tô de volta. E, já agora, 'tejam com Dés, que falar ôs amigos tamém se usa...

Cudava ê cá qu' aquilo era c'm' ir daqui à Vila e voltar e nã tinha nada que se l'e d'ssesse. Pôs, mês belos amigos, mal sabia ê cá nos trabalhos que me 'tava a meter...

Côxo c'mo ia dum joelho, caminhos ruins assim c'm' quem vai à Fóia ó à Picota quái só p'r incurtadoiros, tôd's dias ter qu' andar uma lonjura daquelas - olhem que parte deles era mái qu' ir daqui a Vila Nova... sês, sete léguas, p'a nã d'zer oito - é dum homem se ver im traquetes, más ô bem fêto...

Tinha, atão, uma coisa boa - uma não, uma preçanada delas, mái esta é a pr'mêra... Era que s' andava grande parte do caminho p'r v'redas no mê do mato e do alvoredo, com uma fresquidão qu' era um consolo. Muntas das vezes, passava-se horas que nem tampôco se via estradas alcatroadas nem se panhava com o barulho dos carros.

P' à gente nã s' inganar, lá 'tava semp'e uma seta amarela im tôd's os cruzamentos, ó, atão, na parte de Espanha, uma viêra desenhada com as pontas voltadas p'a donde era o caminho certo. Nã tinha nada qu' inganar. Mái, só aqui pr' à gente, inda m' acabedô andar um belo pôco e, despôs, ter de voltar p'a trás...

Dec'merzinho nã faltava, qu' iam lá umas senhoras que sabiam-no fazer quái tã bem c'm' à minha Maria, p'a nã d'zer melhor, - qu' ela nã foi, mecêas sabem disso... - e à farta, que ninguém passava fome. Só quem fosse munto bicoso...

Em uma pessoa 'tando mái inrrascado com dores nalgum lado ó calhando a fazer mêa-dúiza de borrefas nos pés, vinham logo umas senhoras inf'rmêras - mái à chigada que no caminho - e tratavam daquilo munto melhor que s' uma pessoa fossse ali ô hospital, às urgências...

Olhem, ê cá nã me quero fazer nem mái nem menes qu' os ôtros, mái nã 'tarê atribuído se d'zer qu' elas nã tinham melhor freguês. Aquilo era tôd's dias à abalada e à chigada, lá 'tava de roda delas. E méme a mê do dia, lá p'r aqueles charazes, tamém se dé o caso de terem que me vir inrolar p' ali uns trapos no joelho...

Mái tamém l'es digo: pessoas boas c'm' àquelas, inda nunca vi... Eram do Corpo de Voluntáiros da Cruz de Malta. E 'tejam certos duma coisa, qu' ê cá disso tenho a firme certeza. Se chigado ô fim, foi premode elas. Dés l'e pague a todas.

A Compostela
Deram-me lá este diploma. É mái bonito qu' o qu' arrecebi na escola de S. Roque, q'ondo fiz a quarta classe. E em latim...

Em chigando a Santiago de Compostela, fui lá a um escritóiro - ch'mavam-l'e eles Oficina do Peregrino, mái nã vi lá farramenta nenhuma a nã ser canetas e folhas de papel... - que des que davam lá um diploma ôs que t'vessem chigado ô fim da viaja.

Más aquilo tinha-se qu' amostrar o b'lhete d' identidade e mái nã sê quem e ê cá quái que nã dava panhado nada do qu' o homem que lá 'tava p'r trás do balcão me d'zia. É qu' ele falava p'a lá uma espanholada qu' era uma coisa temente. E depressa...

Mái, verdade se diga, q'ondo o homem viu qu' ê cá 'tava ali espècado, calhando de boca aberta, a olhar p'ra ele sem intender coisíss'ma nenhuma, prècurô-me:

- Tu eres portugués?

- Sa senhora. Vinhe de Monchique e nã 'tô a intender nada do que mecêa 'tá p' aí a d'zer...

E o homenzinho - boa pessoa - lá desatô a falar um coisinho mái devagar.

- Credencial del peregrino e D.N.I.

Credencial inda vi o que era, agora D.N.I. munto sabia ê cá o qu' é qu' isso havera de ser... Mái, num derrepente, vê-me à idéa c'm' é que m' havera de desenrascar. Puxo da m'chila, aibro-l'e o fecho da alsebêra adonde tinha a papelada toda e dig'-l'e:

- Olha, tens aqui. Tira o que qu'reres. Désna que nã me leves a cartêra...

Más, nã cudem, ê vi logo qu' ele tinha cara de boa pessoa e nã m' ia fazer nenhuma parte manhosa. E assim foi. O homem tirô a Credencial de Peregrino e o b'lhete d' identidade, fez-me p' ali mái umas prècuras - queria saber o qu' é qu' ê cá fazia, o qu' é que nã fazia, q'ontos anos tinha, d' adonde é que era, im que dia tinha abalado de casa e tal, e tal...

Credencial do PeregrinoCredencial do Peregrino
P'r o caminho, tem-se qu' ir pedindo p'a pôrem carimbos neste papel. Ó, atão, chega-se lá e nã se panha a Compostela...

E p' ali desatô a escrever e a ler num livro. P'r o jêto, nã sabia lá munto bem c'm' havera de pôr o mê nome im latim e, ó m' ingano munto, ó ele andô lá à prècura disso.

Nesse mê tempo, pôs-se a falar com-migo - umas ê panhava, ôtras nã intendia nada... Mái lá me dexplicô que tinha qu' olhar bem ôs carimbos dos sitos adonde ê cá tinha passado a ver s' era verdade qu' ê tinha andado aquela lonjura toda a pé.

Ora, s' ê cá nã t'vesse ido a pé, tamém nã ia p' ali indròminá-lo... mái lá os chefes dele mandam assim, ele nã tem ôtro remédo. O homem, 'tá bom de ver, nã tem culpa nenhuma disso...

Agora, vejam lá bem s' ê calho a nã ligar àquilo e a nã pedir p'a me pôrem os carimbos naquelas vendas adonde a gente ia bober umas cervejalhas ó uns calcesinhos de vinho lá do deles - d'zer a verdade, é um coisinho p' ô fraco que nã tem mái duns sete ó oito degraus. Mái rafresca... Vá lá qu' ê via os ôtros e fazia c'mo eles, apresentava tamém a minha Credencial de Peregrino. Cudando qu' aquilo era p'r graça...

Atã, q'ondo lá irem, nã se descudem. Cada sito qu' apararem, peçam p'a pôr um carimbo na Credencial.

E, q'ondo dí por isso, já o homenzinho me 'tava a passar a Compostela p' às mãs.

Olhí bem p' ô papel e digo p'ra mim:

- Punhana!... Custô mái foi...

E fiquem sabendo que, nos pr'mêros dias, nunca pensí de dar lá chigado. Atã, andava com uma perna que nem na dobrava... Mái volto-me p' ô homem:

- M't' ôbrigado, m't' agradecido, Nosso Senhor é que l' há-de pagar... E, já agora, despense-me lá ali um canudo daqueles...

- Canudo?!..

- Sa senhora, aquilo ali p'a pôr o papel lá drento todo bem inroladinho...

- Ah, um tubo... Le custa un euro...

- 'Tá bem, mê belo amigo, aqui o tem... E tenha munta saúde.

E lá abalí, todo inchado, de canudo na mão, ramoendo cá p'ra mim qu' agora já ninguém me podia d'zer qu' ê nã tinha fêto umas cinquenta léguas a pé, perto ó certo, do Porto a Santiago de Compostela.

E p'r 'qui me fico. Calhando, em podendo, logo l'es conto mái umas passajas que se deram durante aquele caminho todo. O Caminho Português de Santiago. Hoje foi só p'a l'es d'zer que já chiguí e saber se vomecêas 'tã todos bons.

Se qu'rerem ver alguns retratos, acalquem aqui na Galeria de Santiago, qu' ê cá vô metendo neles à medida que tenha jêto.

E até um destes dias.

11 julho 2007

Calhando, vô-me Caminho de Santiago

Catedral de Santiago de Compostela
A pé, nã é qualquer um que dá chigado a Santiago...

Já fez um ano, nã sê s' inda 'tão lembrados, fiz uma viaja com uns amigos e foi-se parar bem a Santiago de Compostela. E ê gostí daquilo ô bem fêto. Lá isso gostí.

E, nessa ocasião, vi lá chigar um casalinho, cada qual com o sê bordanito na mão, um chapelinho d' aba larga pindurado ô bescoço com um elástico e, ôs ombros, duas m'chilas qu' eram quái do tamanho deles.

Sube, despôs, qu' eles tinham andado a pé mái de cinquenta léguas, debaxo de bom e má tempo, com aquela trôxa toda às costas e a dromir sabe Dés adonde. Mái nunca mái me desqueceu da cara qu' eles fazeram tã penas entraram na Praça do Obradoiro e deram de frente com a Catedral de Santiago...

Atã e nã é qu' aquilo me f'cô cá a dar voltas ô miolo?... Más é que f'cô mémo... E, passados uns tempos, 'tava p' ali a minha Maria a despelar umas batatas p' ô jantar e ê cá a retraçar uma abób'ra p'a masturar com farelos e dar à Cochina, salto p'ra ela:

- Ó Maria, atão e s' a gente fosse uma vez a Santiago nas condiçõs daquele casalinho qu' a gente vi lá?...

- Qual casalinho? Que conversa é essa?!...

- Nã t' alembras q'ondo se 'tava lá im Santiago?...

- Ó homem de Dés, cala-te pr' aí com isso... Atã alguma vez ê cá dava andado assim uma lonjura dessas?!... Tomara ê cá dar ido p' aí à missa tôd's D'mingos...

Vi logo que dali nã levava nada. Mái nã me desem-maginí... Pus-me a matinar, a matinar e lembrí-me do mê compadre Jôquim do Barranco e mái uns q'ontos amigos bons, cudando qu' os desafiava e algum havera d' ir nisso.

Qual o quem?!... Munto inganado 'tava, mês belos amigos... Nem hôve um, tampôco p' à amostra, que me t'vesse fêto uma conversa bonita, p'r mái que nã fosse, d' ir pensar no caso. Todos d'zeram logo que nã, "nem pensar nisso!..."

De manêras que, ontordia, pus-me a olhar à folhinha a ver o qu' é qu' eles davam de tempo p'a este mês e nã é que aibro aquilo logo no dia de Santiago... Lá me vêo, ôtra vez, aquela enfluêinça, mái duma tal manêra que nã me dô livrado dela...

E agora, o qu' é qu' ê faço?... Olhem, inda nã sê bem, mái se nã me pôrem a vista im cima aí p'r umas duas semanas, coisa assim, é qu' abalí à pata p'r o Caminho Português de Santiago.

Bordão de Peregrino de SantiagoEquipamento de Peregrino de Santiago
Chapéu, bordão e mochila já ê cá tenho, agora inda nã sê é adonde arrenjar uma viêra destas...

Qu' ê cá, atão, já tenho a trôxa toda im condiçõs. Um chapéu d' aba larga, uma m'chila e um bordanito qu' ê fiz duma vara de castanho, que dá semp'e jêto p'a uma pessoa s' enqu'librar.

Inda andí a matinar a ver se dava levado o mê Jericó com-migo - já que mái ninguém se resolvé a ir - qu' ele semp'e m' ajudava a carregar com a trugia às costas - méme velho, mê belo burrinho... - e a minha canita Brableta que dá uma bela companha, mái atão aquilo abala-se do Porto, c'm' é qu' ê os panho lá?...

Na carrêra, 'tá bem à vista que nã pode ser, e, no comboio, já mandí prècurar, des que tamém já nã fazem esse serviço p'a burros, só me dispensam b'lhete p'ra mim, e bem caro... E a canita tinha d' ir drento duma gaiola e 'tar bacinada e nã sê quem, nã sê quem...

Ora, já se vê que, a qu'rer abalar, tarê qu' ir sòzinho. Nã é lá grande idéa, mái atão...

Tamém, méme que vá, é d' adregue m' aguentar p'r aqueles caminhos, qu' ê cá, um destes dias, dí aqui um jêto a uma perna e, agora, ando p'r aqui com uma moínha num joelho que nã 'tô lá munto sast'fêto com isto.

A minha Maria já me dé aqui umas esfregas, uma preção de vezes, com uma pomada qu' ela comprô ali à dos chineses, coisa assim béque-me c'm' à banha da cobra qu' usava a par'cer na fêra de Monchique, mái munto mái fedorenta, e nã me servi de nada.

Ela bem que esfegrô e mái que esfregô, e, a seguir inrolô-me o joelho com um trapo qu' ela fez com uma perna dumas ciroilas velhas que p ' ali tinha, mái, é c'm' l'es digo, nã valé de nada!...

Agora o chêro... Esse sim. Impestô a casa duma tal manêra que nem as moscas cá dã antrado... E uma noite destas, tive qu' abalar da cama e ir dromir ali p'a debaxo da arramada. Semp'e o fador nã é tã ruim... Vá lá qu' ele é Verão e nã faz frio...

E agora 'tô num enrascanço que nã sê o que faça. S' abale, se nã abale. S' abalo, calhando, ô fim dum dia ó dôs, arrelo. Se nã abalo, fico sem saber se lá dava chigado ó não. E ê cá que nã gosto nada de vacas incoiradas... Olhem, s' ir, vô, se nã ir, nã vô. S' arrèlar, arrelo, se nã arrèlar, chego lá... E pronto.

É passem munto bem, qu' ê logo l'es conto c'm' é qu' a coisa se passô.

05 julho 2007

Alferce, aldeia em flor

Alferce, aldeia em flor 2007
P'r uns dôs ó três meses, quem qu'sesse ver flores, era no Alferce...

Este ano fazeram pr' aí um concurso, ó uma coisa assim, que cada concelho tinha um povo que se inchia de flores até mái não, p'a ver se ch'mavam a famila de fora assim a estas terras mái piquenalhas.

Cá im Monchique, calhô ô Alferce.

De manêras que, tã penas o enverno acabô, a famila ali do Alferce desatô a despôr flores p'r tudo q'onto era sito e, nã sê se tã lembrados, mái, já no dia de Maio, q'ondo se foi o passêo e às provas do bolo de tacho, aquilo 'tava que dava gosto. E assim f'cô até agora.

Andí p'a l'es amostrar isto este tempo todo, mái nã tive jêto, e, atão, só agora é que 'tô a falar no caso, e um coisinho à pressa, que ando aí a tratar d' ôtras coisas que logo l'es digo o que é.

Dessa manêra, vô-me falar pôco - qu' é p'a nã d'zer muntas parvoêras - e dêxo-l'es aqui uma manchinha de retratos que tirí às flores do Alferce, a aldeia em flor de Monchique.

Alferce, aldeia em flor 2007
Esta quái qu' até parêce de plástico, mãi nã cudem, é uma flor de verdade...

Más é verdade, em as coisas 'tando p'a nã correr bem, há-de par'cer sempre algum impendiclo p'a empeçar uma pessoa. Ora era que chovia, ora qu' aventava, e, ô certo, é que nunca dí tirado retratos cá a mê gosto... E méme p'a escrever mêa-dúiza de patacoadas havera d' haver sempre qualquer empecilho que nã me dêxava tratar do caso.

E, d'zer a verdade, andí, andí, nã me dí safado sem panhar com umas gotas d' água im cimba dos cascos, já p'a nã falar da ventania que fazia nesse dia im que lá fui, qu' andava tudo p'r aqueles ares.

Até o mê casquêro, se nã m' aprecato, nã sê adonde tinha ido parar, uma vez qu' uma manga de vento o panhô p'la aba e o estrapôs p' ô mê da rua, a caminho do Povo de Baxo. Vá lá qu' ê cá já 'tava contando com aquilo e salto-l'e logo im cima com a ponta da bota. Foi méme rès-vés... S' ele nã calha a ter a aba um coisinho tã larga - assim quãi c'm' um abirum - já nã no tinha panhado...

Alferce, aldeia em flor 2007
No Largo, parte eram flores de vaso e, aqui deste lado, puseram as ervas de chêro quái todas as que há cá...

E méme nessa altura, oiço uma voz, béque-me conhecida, assim além adiante, a meter-se com-migo:

- Olha quem 'tá além... O Refóias todo descrapuçado e com a coisa na mão...

A coisa era a máquina dos retratos, 'tá bom de ver... e o mariola que 'tava a qu'rer entrar com-migo era o Tóino Luzicuco, um diebo além das bandas de S. Marcos, que vê pr' aí parar, ora 'tá num lado, ora 'tá nôtro, mái, agora, ôvi d'zer que tem parado mái tempo é ali pr' ô Alferce.

- Ah, grande badalo, vê lá se deste uma manita a panhar aqui o chapéu, entes qu' ele abalasse aí prê adiante...

- Dêxasses-e-o vir, qu' ê logo o cercava aqui...

- Com um vento destes?!... Sê cá s' ele nã alevantava voo e o menes qu' ia parar era ô Barranco do Demo...

- E o mal qu' isso me fazia...

- Nã te fazia a ti, mái fazia-me a mim, que f'cava sem ele...

- G'ande prejuízo... Um casquêro desses já todo debôto e, béque-me, até roto ele já 'tá aí no debrum...

- Qual roto nem roto!... Inda o comprí, o ano passado, na fêra de Vila Nova... E bem caro qu' ele foi que me ia custando os olhos da cara...

- Nã te chores, que tu tens munto... Ó pensas qu' ê nã te conheço?...

Alferce, aldeia em flor 2007
P'r tod' ô lado puseram umas florinhas. Méme singelas que fossem...

- Já que 'tás com essa conversa, era p'a te pagar um calcesinho ali à do Càxinha, já nã te pago...

- O qu' é qu' isso t' adianta?... Pago eu...

- Assim, 'tá bem... Dêxa-me lá tirar aqui mái uns dôs ó três retratos, que vai-se já ali...

- Vai-se, não... Quem é que te disse qu' ê pagava p'ra ti?!...

- Dêxa lá que nenhum há-de ficar im seco... Olha, 'tive cá a pensar e, se nã te portares mal, inda pode ser que mande vir alguma coisa p'ra ti...

Inda bem nã tinha acabado de falar já ele 'tava a fazer um cigarrinho... Puxa duma onça d' Àguia, um livro de papel daqueles das mortalhas mái largas e vá d' enrolar. O Homem tem uma prática daquilo que, nã demorô um foguete, já ele tinha o cigarro nos quêxos...

- Ó Tóino, atã assim é que te portas bem?... Nã sabes qu' ê cá nã gosto de fumarem ô pé de mim?!...

- Mái tens de t' aguentar... Ê cá, atão, sem um cigarrinho é que nã dô passado...

- Olha que já ôvi muntos d'zerem o mémo e, partes deles, já nã fumam. Uns, que t'veram méme de se dêxar de fumar premode a falta d' ar que sintiam, e ôtros, que já morreram, parte deles, na desgraça...

- Eh'q, mái atão, quem me tira o tabaquinho tira-me tudo...

- Bem fez o que te baptizô p'r Luzicuco... Andas semp'e de luzinha a acender e a apagar...

- S' ê cá sabesse quem foi o grandessíss'mo filho da pucra, logo l'e dava o arroz... E tu tamém nã te descudes munto com a língua qu' ê nã gosto de me ch'marem isso...

- Isto nã era p'a te ch'mar, era só p'a fazer a amenção... E já sabes que q'onto mái t' enfezas, mái eles te chamam. Se nã fazeres caso, vã, vã, desquecem-se...


Já qu' o YouTube 'tá na moda, vejam lá os retratos tamém aqui. Querendem...

Agora, se gostarem de ver os retratos mémo ô sério, acalquem aqui na galeria do Alferce, aldeia em flor.

E p'r 'qui me fico.

Sáb'do e D'mingo que vêem, nã percam a fêra do presunto. Ê cá, Sáb'do, tenho um baptiso, se lá dar chigado só se no D'mingo, mái quero ver se nã perco tal coisa.

Atã até um dia destes e saúde da boa.

01 julho 2007

Clube os Amigos da Floresta "O Pulmão do Algarve"

Clube dos Amigos da Floresta
Estas pessoas - e mái uns q'ontos que nã 'tavam aqui - 'tã semp'e d'spôstos a acudir ô que ser preciso.

Na noite de S. João, c'm' já l'es contí, fui a Marmelete más a minha Maria e os mês compadres.

Ora, c'm' à gente chigô cedo, que ninguém dava aturado o Zé Manel im casa, o mê compadre Jôquim assantô-se a li à sombra do plátano p'a fazer tempo. Ê cá, que m' aborrêce de 'tar munto tempo no mémo sito, pus-me a andar lá p'r um lado e ôtro e vá de bispar o que me par'cé na frente.

E espertô-me a atenção, uma coisa qu' e já tenho visto umas tantas vezes, mái inda nunca tinha falado lá com a famila que pertence àquilo. Até, p'a d'zer a verdade, inda na fêra dos inchidos ê me tinha rapimpado com uma carne frita qu' eles lá tinham, que foi um consolo.

Pôs, desta vez, calhô a dar-se o caso de falar logo com o chefe lá daquilo, qu' é um amigo ali daquela famila da Boavista, e o homem lá arrenjô pacência p'a me dexplicar aquilo tudo tim-tim p'r tim-tim e f'quí sabendo o qu' inda nã sabia.

Clube dos Amigos da Floresta

O Clube os Amigos da Floresta tem aí quái uma dúiza de directores - ê aqui no retrato só dí panhado sês - mái nã cudem qu' eles servem p' ô mémo qu' aí os dos clubes da bola e coisas assim...Nã senhora!...

Eles servem é p'a trabalhar q'ondo é preciso, sem arreceberem coisíssema nenhuma. P'r exempes, s' haver um fogo - c'm' 'tã aqui perto - vã logo lá com a camineta deles e o motor de tirar água, e fazem tudo o que puderem p'a ver s' o dã apagado entes dele se espalhar.

No Enverno, cai uma arve numa carr'lêra, eles vã lá com um motoserra e tiram-na. Há uma inundação, eles vã ajudar a resolver o caso. E p'r 'í diente...

E isto a qualquer hora. Tanto se faz de dia c'm' às tantas da madrugada, 'tã sempre prontos p'a dar uma manita a qualquer um que precise.

Mái o amigo João Albano - o Presidente do Clube - disse-me tamém uma coisa que me f'cô cá no ôvido, que tem uma grande emportâinça, cá no mê ver. É qu' eles tôd's "têm uma missão de vigia" e, atão, andam semp'e a dar uma vista d' olhos nisto e naquilo. De manêras que semp'e é mái má dum estapôr qualquer dar fogo seja adonde for, e, caso dêa ó ele s' acenda dôtra manêra, é d'adregue eles nã darem por isso logo no prencípo.

'Tá bom de ver que, sabendo disto tudo, pensí logo im me fazer sóiço daquilo. Sim, que, désna que nã meta política - lá isso dos partidos... - ê gosto semp'e de fazer parte destas coisas. P'r mái que nã seja, p'a ajudar com a colectazinha tôd's anos.

E é barato, home... Olhem, querendem se fazer sóiços, aquilo é só dar o nome, assinar um papel qu' o Presidente - o amigo João Albano lá dos Gralhos, daquele restaurante munto conhecido "O Abrigo da Serra" - tem e pagar, béque-me, vinte eros p'r ano, que ninguém fica mái pobre nem mái rico p'r isso... Mái, 'tá bom de ver que, se qu'rerem falar com ôtro director do Clube, tamém há-de dar no mémo.

E se p'a qualquer um vinte eros nã é nada, p' ô Clube, se t'ver uma bela manchêa de sóiços - que já tem perto dum mê-cento deles, nã cudem... - semp'e tem ôtras condiçõs p'a comprar mái material e tamém p'a bater o pé aí à famila da Junta e da Câmara e d' ôt's lados, a ver s' eles dã mái um a'xilozinho...

Clube dos Amigos da Floresta
Arrenjaram esta camineta com um depósito e um motor de tirar água p'a acudir a um fogo que parêça.

Sim, qu' o Clube inda é novo - só foi criado despôs dos fôg's d' há três ó quatro anos - e tamém é pobre que, p'r o que percebi, só l'e pagam o gasóleo. O resto foi comprado com o d'nhêro qu' eles arrenjarem e, agora, já hôve um estrangêro - que belo amigo... - que dé ôtra camineta qu' inda 'tá a ser resistada.

Até agora, só têm tido esta que se vê aqui e é com ela que se têm governado. Semp'e é melhor pôco do que nada, já d'zia a minha avó... mái, p'a uma parte tã grande da serra, vê-se logo qu' isto nã chega...

E, já agora, sabem c'm' é qu' eles vã arrenjando algum d'nhêrinho p' às despesas? Olhem, é vendendo uma carninha frita com pão e umas cervejalhas e mái uns calcesinhos de vinho c'm' àqueles qu' ê cá bobi na noite de S. João, com o mê compadre Jôquim do Barranco...

Aprevêtam estas festas, montam lá as coisas deles e vendem o que podem. Ô méme tempo, ganham uns destanitos e tratam bem da gente q'ondo se 'tá com fome e, inda más emportante, com sede...

Clube dos Amigos da Floresta
É assim, vendendo umas coisinhas nas festas, qu' o Clube arrenja algum d'nhêrinho...

Pôs atão, vejam lá se dão tôd's tamém uma manita ô Clube os Amigos da Floresta "O Pulmão do Algarve", tanto se faz dando o nome p'a sóiços, c'm' fazendo despesa na barreca deles q'ondo irem a qualquer lugar adonde eles 'tejam.

Olhem qu' a nossa Serra de Monchique já ardé quái toda, inda faz pôco tempo, e nã há quem quêra qu' isso se dê ôtra vez nem agora nem nunca.

Tenham todos munta saúde.