24 março 2009

Lá tarê qu' ir à Via Algarviana ôtra vez, pôs atão...

Via Algarviana - 2ª Grande Travessia - Março / Abril 2009
Este ano, uns vã a pé c'm' ê cá, ôtres vã a cavalo e há os que tamém s' amontam im b'cicletas...

Se algum de vomecêas dé o nome p'ra ir à Via Algarviana Sáb'do que vem, fique já sabendo qu' ê cá tamém vô-me. À pata, 'tá bom de ver, qu' ê cavalo nã tenho e b'cicleta tamém não. E, méme que t'vesse, nã m' afiturava a isso p'a nã m' hablitar a bater a apèraja aí num sito qualquer e terem de me trazer às costas caminho do monte...

Pôs, mês belos amigos, p' àqueles qu' inda nã se resolveram, se quererem ir a pé, inda vã a tempo de dar o nome hoje ó amanhã, agora de b'cicleta já 'tá tudo chêo. A cavalo, calhando, tamém inda podem ter sorte, mái nã sê lá munto bem. É falarem com a famila lá da Almargem, qu' eles têm isso tudo im dia.

Desta vez, nã cudem qu' é que c'm' no ano passado que só abalamos sês... P'r o que tenho ôvisto d'zer, abalam de Alcoutim, à pata, p'ra cimba duns sessenta e tal. De b'cicleta sã mái uns qu'renta. E a cavalo, contando todos - famila e animazes - sã tamém uma bela manchêa deles...

E tamém já tenho ôvisto qu' ele há pr' aí uns pôstos de tel'fonia e, p'r o jêto, tamém de tel'visão, que vã dar notiças daquilo. Olhem, a Rádio Fóia des qu' é uma delas. Qu' ê cá, d'zer a verdade, nã tenho a firme certeza qu' isso seja assim... Vendo p'r o mémo preço que comprí. E o que me d'zeram foi que, calhando, isso ia-se dar.

Via Algarviana - 2ª Grande Travessia - Março / Abril 2009
Desta vez, uma pessoa já dá com este sinás, calhando, é má de se perder...

Atã nã se façam rasmôlgos e, a 6, 7 e 8 do mês que vem, o mês da Abril, levem repáiro a ver se vêem a gente passar aí nalguma banda. Os que darem cá chigado... Qu' ê cá nã sê munto bem se darê... A sês, vem-se de Silves até Monchique, passando na Picota. A sete, vai-se de Monchique p'ra Marmelete, passando na Fóia. E a oito, vai-se de Marmelete p'a Bensafrim, passando nas Romêras.

Que vomecêas já sabem bem o qu' é a Via Algarviana... É aquela vereda que vai désna d' Alcoutim até ô farol do Cabo de S. Vicente e tem mái de sassenta léguas de comprimenta. É méme isso: 300 km... Sempre cá p'r cimba, p'la Serra. Nunca se vai lá im baxo ô Algarve. Qu' eles lá no Algarve tamém têm uma coisa assim par'cida. Béque-me l'e chamam a Ecovia ó coisa assim...

E já agora, mês belos amigos, passem munto bem p'r cá qu' ê, em voltando, logo l'es conto c'm' é qu' a coisa foi. E só volto lá p' à Páscoa. Vejam se ganham muntos contratos e comam muntas amêndoas.

Atã, até qu' a gente se veja.

11 março 2009

O Lagar dos Pardieiros - Alferce

Lagar dos Pardieiros - Alferce - Monchique
Olhem-me só p'a esta classe d' azête do alagar dos Pardiêros...

- Olha, põe-te calado que tu conhêces tanto disso c'm' dum alagar d' azête!...

- Conhêce vomecêa... Nã se 'tá méme a ver?!...

- Sim, atã tu tens alguma coisa qu' abaxar os preços daquela manêra c'm' fazeste inda no sáb'do passado, qu' aquilo foi uma pôca-vergonha?...

- Atã s' aqueles das hortas lá de baxo chigaram lá e relaxaram aquilo tudo...

Isto era uma conversa qu' o mê parente Cosme da Quinta 'tava a ter com Chico Bôicinhas, moço inda novo, a respêto dos preços das bejoarias qu' eles usam a levar lá p'ra baxo, q'ondo vã fazer a praça a Vila Nova.

E vê méme ô queres que me fez vir à mimóira uns retratos qu' ê tirí ontordia no alagar dos Pardiêros e andava p' ôs amostrar e inda nã tinha tido ocasião.

- Ó parente Cosme, agora por isso, este ano levô algumas zêtonas p' ô alagar?

Lagar dos Pardieiros - Alferce - Monchique
O alagar dos Pardiêros só tem estas mozes, mái nã há zêtonas que l'e deam àvonde...

- Olhe, logo, nã panhí nenhumas qu' elas 'tavam munto miudalhas. Nã vê, nã chové nada no cedo... E, despôs de chover, nã tive jêto de l' acudir premode ôtres serviçalhos que tinha pr' aí p'r fazer. Perderam-se lá todas no chão... E vomecêa, inda fez algum azêtinho?

- As minhas ol'vêras nã tinham nada de jêto nã as panhí, mái as do mê compadre Jôquim do Barranco 'tavam carregadinhas e, atão, d'í-l'e lá uma ajudinha e panhamo-se-as quái todas.

- E levaram pr' àdonde?

- P' ô alagar dos Pardiêros. Já nã trabalha mái nenhum cá na nossa zona...

- E o azêtinho, que tal?

- Ó Home, cale-se aí... Uma coisa do melhor!... Já há bem muntos anos que nã m' alembra dum azêtinho tã bom c'mo este...

Diz o Chico Bôicinhas:

- Inda nunca fui a um alagar... Aquilo tem alguma coisa que ver?...

Lagar dos Pardieiros - Alferce - Monchique
Despôs d' acartar as zêtonas, vai-se lá com uns garrafanitos drento duma saca e traz-se o azêtinho...

- Méme assim, vocês, os môces nôvos, só pensam é nã sê no quem, nã ligam coisíss'ma nenhuma a certas coisas, qu' até dá dó... E, despôs, quêxem-se. Em já nã havendo quem faça nada disto, logo sabem q'onto l'e custa...

- Ó ti Refóias, dêxe-se disso... Atã nã vê qu' isto agora é tudo d'frente do sê tempo?... Agora há as máquinas p'a fazer tudo e o que nã temos cá vem de fora...

- Fia-te nisso e nã corras... Dés quêra que qualquer dia nã vás f'car repeso...

- Mái diga lá, parente, o alagar inda fonciona tôdes anos? - Prècurô o parente Cosme.

- Até agora, tem trabalhado sempre. E, p'ro jêto que l'e vejo, é p'a se manter.

- Ai, sim?...

- Atã, o homem tem aquilo lá qu' é um mimo. Vocêas haveram de ver... É uma coisa à moda antiga, mái já com tôdes os precêtos d' agora.

- Põs, e se nã fosse assim, era mái que certo qu' os da ASAE l'e caíam logo im cimba...

Lagar dos Pardieiros - Alferce - Monchique
Põe-se a massa entremêo das cêras p'a irem p' à prensa...

- E pensa qu' eles nã hã-de já ter ido lá?... Ninguém me disse, mái eles têm andado aí p'r tod' à banda... Agora tamém l'e digo: c'mo homem tem aquilo, podem ir lá tôdes dias que nã têm sorte nenhuma...

- Dessa manêra, tem os precêtos tôdes, c'm' mecêa disse...

- Cale-se aí... Aquilo 'tá tudo c'm' deve de ser. Tudo asseadinho, tudo vasilhas d' inox... até brilha!...

- E, c'm' ê cá ia a d'zer, um azêtinho tã bom, tã bom, que, dig'-l'e já sem medo nenhum, tira a palhinha a esses que vancêas compram aí nas mercêrias...

- E nã fez lá uma tiborna?

- Vontade nã me faltô... Mái isso, agora, tem mái que se l'e diga. Nôtres tempos é qu' uma pessoa ia lá, levava um pedaço de pão, passava-o debaxo da bica do azête e c'mia. Agora já nã se pode fazer isso...

- Mái, em chigando ô monte, pode...

- Ah, isso, im casa, tã penas chiguí, disse logo à minha Maria p'a me despejar uma gotinha p'a uma pelengana, um coisinho de sal, alhos até mái não e vá de molhar umas sopas de pão inda quentinho, qu' ela 'tava de cozedura nesse dia...

- Ai, qu' até me 'tá a nascer água na boca... Munto gosto ê cá disso!... E com um bom porrete de vinho daquele casêro qu' ê cá faço com umas uvas que vô-me b'scar ali a Al'zur...

Lagar dos Pardieiros - Alferce - Monchique
A prensa expreme aquilo tanto ó tã pôco qu' o azête sai todo e só fica o bagaço...

- Olhe, atão, em l'e dando jêto, traga um v'nhito desse qu' ê cá ponho o azête e o pão... Faz-se aqui uma função...

- Um dia qu' a parenta Maria coza, era boa ocasião...

- Sa senhora... E ponho-l'e tamém ali umas três ó quatro batatas-doces no forno, tamém se as come. Elas este ano sã boas do melhor... Ó nã aprecêa?...

- Gosto munto, mái tenho que ter conta com elas. De q'ondo im vez, nã me caem lá munto bem... Béque-me me dã im trabalhar aqui no bucho, panho com cada azia que nã é brincadêra...

- E já fez a exp'rimentação de, im vez s' assadas, as comer cozidas com um azêtinho, deste do alagar?

- Inda pior, parente... Isso atão, é certo e sabido, dá-me logo uma azia marafada. Mãi nã é premode o azête, é premode as batatas...

- Nã é do vinho d' Al'zur, é das batatas-doces assadas!... - Salta logo o Chico.

Lagar dos Pardieiros - Alferce - Monchique
Quem havera de d'zer que desta água negra sai um azête do melhor...

- Lá 'tás tu ôtra vez... Atã tamém nã sabes qu' a batata-doce é munto má de se fazer a digestã?...

- Cá p'ra mim faz-me pôca d'f'rença. Nã uso a c'mer tal coisa. As batatas-doces qu' o mê pai samêa sã p'a dar ôs porcos...

- Isso sã aquelas maiores... As mái pequenas, assadinhas ó cozidas, sabem que nem ginjas...

- E com respêto ô alagar dos Pardiêros, pr' ô ano inda abrirá?

- Isso sabe-se que sim!... Atã o homem - o senhor António - gastô lá um poder de d'nhêro p'a pôr aquilo im condiçõs é porque quer mantê-lo. E bastante falta faz...

- Dêxa 'tar que nã hê-de dêxar perder mái zêtonas nenhumas...

E vomecêas, mês belos amigos, se t'verem uma ol'vêrinha, panhem as zêtonitas todas e levem lá p' ôs Pardiêros que ficam com um azêtinho do melhor e, ô méme tempo, ajudam a manter o alagar aberto, qu' é já só o que há cá im Monchique, Marmelete e Alferce de tantos qu' ele havia nos mês tempos de moço. E trabalhavam todos...

Querendem, vejam mái alguns retratos do Alagar dos Pardiêros. É só acalcarem aqui na Galeria do Alagar.

E fiquem-se com Dés.