Os b'chinhos que lá 'tavam já se sumiram quái todos. O Omega Parque fechô dum todo...
Des que tudo o que tem c'meço tamém tem fim, e é bem verdade... O Omega Parque, qu' a gente cudava qu' era p'a ajudar uns tantos animás, que tinham o inço quái acabado, a voltar ô prencipo, foi ele é que, inda mal nã 'tava no prencipo, assim chigô ô fim.
P' ôs qu' acraditam, Deus é o prencipo e o fim e é representado p'ra pr'mêra e última letra do alfabeto lá desses da Grécia: alfa e omega. E, calhando, tamém é essa a r'zão de l'e ch'marem Omega Parque. P'a tratar de q'ôlidades de bichos que 'tão quái no fim.
E atã nã querem lá ver que, um destes dias, abalí com a minha Maria e os mês compadres, todos munto contentes, sa senhora boa vida, caminho quái do Barracão, p'a s' ir ver lá os b'chinhos e a coisa corré-me mal... E vô-l'e já d'zer o perquem, qu' ê cá inda nã quero crer na rabana que panhí.
Já havia que tempos qu' ê cá andava p'a ir lá, mái fui-me pondo a pôco, uma vezes era premode o serviço que 'tava p'r fazer, ôtras era o tempo que nã convindava e más isto e más aquilo, e, a semana passada, antão, é que lá me opus e desafií a minha Maria.
Mái, c'm' nã se tinha via, o qu' é a qu' a gente s' havera d' alembrar?... Convindar o compadre Jôquim do Barranco e a c'madre C'stóida, a ver s' eles davam capeado o Zé Manel de manêras qu' ele levasse os quatro tod's no carrinho dele.
Nã é coisa qu' ele faça munto lá de boa mente, qu' ele gosta mái d' ir namorar as moças do que andar a alcançar os velhos aqui e além, mái c'm' já havia bem munto tempo que nã se l'e pedia nada, q'ondo o pai l'e falô nisso, ele inda, béque-me, franziu, assim, um sobrolho, mái lá disse que sim.
Esta chita, tã triste, já desconfia que vai mudar de casa...
E foi assim qu' a gente se resolvé a abalar, bem fornecidos com o que munto bem cada um l'e dé nas ganas im levar, p'a se c'mer qualquer coisinha lá naquelas lindas mesas qu' eles fazeram méme na frente da antrada do Parque.
C'm' o Zé Manel já tem munta prática de guiar o carrinho, aquilo, inq'onto a gente chigô e nã chigô ô nosso destino, foi um foguete. Mái atão e a apequentação qu' a gente panhô, tã penas se saí cá prá fora e se foi caminho lá da antrada p'a se comprar os b'lhêtes... Batemos com o nariz na porta!...
Salta logo o mê compadre Jôquim:
- Olha que esta!... Mái atão, logo calhô, vir-se no dia qu' isto fecha?!... Foi mal escolhido...
- Ê vô-me já saber disso...
Diz o Zé Manel, com aquele ar de safo qu' ele tem sempre. E pôs-se a andar ali à roda daquilo a ver se lombrigava algum que l'e d'zesse o que se passava. Mái, beh!... Nã par'cé fosse quem fosse.
Ê cá, vô-me atrás dele, ponho-me a olhar bem p'r àquilo, e nã vejo bichos denhuns... Dig'-l'e:
- Ó Zé Manel, mái atão eles levaram os bichos daqui!... Atã, nã vês? 'Tã àlém os paus e aquelas coisas todas, e bichos, viste-los...
Isto olhando p'r os buracos da rede, qu' aquilo, d'zer a verdade, vê-se munta coisa de cá da banda de fora.
- Tem r'zão. Aquilo, nã tem jêto nenhum de 'tarem ali bichos já há uns belos dias... Vamos lá ali ô ôtro lado...
E foi-se.
Até os macacos béque-me parêcem mê azôgados...
E nã é qu' inda demos de frente com dôs macacos e p' ali uma coisa que fazia alembrar um gato, assim p' ô grande, qu' ê cá, num derrepente, até falí logo p' ô Zé Manel:
- Nã ôves, atã aquilo sará o tal lince, qu' eles p' aí tanto falam, qu' anda aí p'a trás, nessa zona daqui até à barraja da Odelôca!...
- Ó ti Refóias, nã diga parvoêras dessas!... Atã nã vê qu' aquilo é grande demás p'a ser um lince?!... Um lince, dos qu' havia aqui mái já nã há, é c'm' um gato, só um coisinho maior. Aquele bicho àlém pesa mái que vomecêa...
- Tó, raio, que grande bicho!... Assim, ô longe, béque-me nã parêce...
- É uma chita... Olhe, a fugir é c'm' uma seta!... Nã há ôtro bicho, im terra, que fuja tanto c'mo ela...
- Punhana!... P' ô pé dela é qu' ê cá nã vô...
- Nã tenha medo qu' ela 'tá presa. Ná vê ali aquelas redes?...
- Pôs, sim. Mái ê cá gosto mái ali daqueles macacos. Se t'vessem aqui mái perto, dava-l'e uma alcagóita.
- Nã me diga que tem aí alcagoitas...
- Tenho, sa senhora. Nã sabes qu' ê cá, tôd's anos, sameio lá uma bêradinha delas p' ô gasto da casa?...
- Nã coma munto disso que, na su idade, pode-l'e fazer mal... Pode-l'e dar munta reacção...
- Qual o quem!... Tu cudas qu' ê preciso disso p'a esse efêto?!... Nã senhora... Gosto é de l'e comer uns bagulhinhos, de q'ondo im vez... E p'a tapar um calcesinho dela, é uma classe. Mái dêxa-me lá tirar uns retratos ôs macacos...
E vá lá qu' ê tinha a máquina méme ali à mão, pindurada ô bescoço, senã nã tinha apr'vêtado nada daquilo... Inda se 'tava nesta conversa, já os marafados saltavam p' aqueles baraços abaxo qu' assim des'parceram no mê do mato que nunca mái ninguém l'e pôs as vistas im riba.
Quem havera de d'zer que p'a fazerem isto tiraram o estacionamento ôs carros...
De manêras que, lá se voltô p' ô pé dos ôtros, fêtos parvo, que ninguém sabia o que havera de d'zer duma coisa daquelas. Assim, sem mái nem quem, aquilo tudo fechado e bichos, quái nenhuns... O qu' é que se teria dado?...
Diz a c'madre C'stóida:
- Isso, calhando, dêxaram-nos fugir e andam pr' aí cada um p'r sê lado...
Salta logo a minha Maria, qu' é munto medrosa:
- Ai que medo!... Vamos más é já todos imbora daqui, entes que parêça p' aí algum e faça mal à gente...
- Nã tenha medo, ti Maria... Os que faltam ali é tudo b'chinhos que nã fazem mal nenhum. É só papagaios e uns macaquinhos piquenalhos... e, béque-me, uns que l'e chamam lémures...
- Dêxem-se de conversas dessas, que nã fugiram dali bichos nenhuns... Ó morreram ó levaram-nos fosse lá p'a donde fosse... Calhando, p' ôs incasalarem com ôtros, quem é que sabe?...
- Uma coisa é certa. Já temos parte do passêo estragado. Qu' a gente vinha com este fito e, agora, nem os pôcos qu' aí estão se dã visto, qu' a porta 'tá fechada...
- Olhem lá, e s' a gente s' assantasse ali numa mêzinha daquelas e se c'messe uma bucha?...
- É o melhor que se faz... Se nã temos mái nada p'a fazer...
- Atã, o Zé Manel aconchega melhor ali o carrinho, p'a dêxar os ôtros passarem, qu' isto, d'zer a verdade, f'cô munto bonito, mái nã tem é sito p'a estacionar os carros...
- Isto, a estrada é larga, nã há problema...
E lá se foi paleando e rapimpando-se com os decomeres qu'as m'lheres tinham arrenjado p' à gente. Qu' elas, atão, q'ondo é assim p' à festa, fazem semp'e coisa do melhor...
Mái, verdade se diga, nã foi a méma coisa c'm' s' a gente, pr'mêro, t'vesse ido ver os b'chinhos lá nos lugares deles...
Méme com as letras todas incambulhadas umas nas ôtras, inda quái que se dá lido o nome...
Más aquilo f'cô-me cá na idéa e, ô voltar p' ô monte, fui ramoendo cá p'ra mim:
- Isto nã fica assim. Ê cá tenho que deslindar bem o caso... Dêxa 'tar qu' ê logo vô saber bem c'm' às coisas são...
E, passado um pôco, descorré-me a quem prècurar. É qu' ê tenho um parente que trabalha ali naquela coisa das Águas das Caldas, homem já de grande posição lá drento - p'r o que me dizem, daqueles que mandam já nos ôtros - e ele é pessoa p'a me desenlear bem isto. E assim foi.
O mê parente dexplicô-me bem a coisa, qu' ele, atão, 'tá semp'e d'sposto p' ô que seja preciso p'a qualquer amigo... Des que o Omega Parque tinha méme fechado dum todo, qu' aquilo havia p'a lá uns problemas e andavam a levar os b'chinhos todos p' ô estrangêro e toma abaxo e toma acima, e aquilo pifrô, pronto.
Punhana!... Aqui é qu' ê cá f'quí duma tal manêra, que só visto... Tanto qu' ê gosto da b'charada, saber qu' eles 'tavam ali a olhar p'r uma manchinha deles, dos que já nã há quái nenhuns, a ver s' eles amentavam a criação p' nã des'par'cerem mémo de vez, e, agora ir-se tudo imbora...
Mái tamém, dé-me uma gavierra, digo p'ra mim:
- Vô-me saber isto melhor!...
E fui.
E sabem o qu' é qu' a famila me disse? Memo os de lá do Omega Parque? Nem mecêas calculam...
Des que t'veram que fechar aquilo premode que a Junta das Estradas resolvé a l'es tirar o parque de estacionamento im frente da porta e fazer o tal parque de merendas adonde a gente c'mé a buchazinha...
Sem lugar adonde pôr os carros, a famila dêxô d' ir lá visitar os b'chinhos e, sem o d'nhêrinho dos b'lhetes c'm' é qu' eles arrenjam decomer p'a l'es dar?... Mandaram-nos p'a ôtr's Parques, no estrangêro, adonde haja quem os trate bem...
Mái, méme assim, inda me d'zeram qu' o que mái l'es custô nã era a falta de d'nhêro... O pior de tudo foi verem que, im Portugal - e ê cá digo im Monchique - os que mandam "pensam que é mais importante as pessoas terem um parque de merendas para fazer picnics do que um Parque de Acolhimento de várias espécies de animais em vias de extinção".
Querendem ir lá ô site do Omega Parque, acalquem aqui.
Mês belos amigos, nã pensem qu' isto é conversa minha... Isto - tenho quái vergonha de l'es d'zer - mái foi verdade!... Aqui im Monchique...
Nã hôve Câmara que se metesse nisso? Nem Junta de Freguesia, nem aí esses do Ambiente, nem ninguém?!...
P'r este andar, nã sê adonde se vai parar. Mái, com o que p' aí vai, qu' a famila béque-me dé tudo im parvo, isto nã há-de durar munto tempo, nã senhora...
E só de pensar nisto, já nã sê o que diga...
Olhem, tenham todos munta saúde...
é realmente triste saber que a construção desenfreada de paruqes de merendas em locais onde não fazem especial sentido tenha levado ao fecho de uma reserva onde se lutava para sensibilizar os visitantes para a ameaça de extinção que diversas espécies animais sofrem, em grande parte (senão totalmente)pela acção humana.
ResponderEliminarE o facto de as autoridades competentes, nem os cidadãos se terem manifestado contra este retrocesso é preocupante.
Falta de divulgação ou indiferença?
Ontem fui à vila, tratar dum assunto ali ó pé donde era a venda do vizinho Zé Carcereiro. Quando é cá passei ó lado desse parque pensei cá pra mim: ó punhão, querem lá ver que p´lo jêto isto já acabou?
ResponderEliminarSe nã fosse o Parente inda tava na dúvida.
Olhe, fiquei charingado com esta notícia!
Provavelmente, aqueles terrenos mais tarde irão vendê-los a preços de “uva mijona” como acontece nestas alturas. Uma boa oportunidade para a Santa Casa da Misericórdia de Monchique, que é rica, já que a Câmara está falida, comprar aqueles terrenos para ali fazer uma casa de repouso de luxo para todos os reformados, endinheirados, da Europa e de todo o Mundo, que adoram o nosso clima. Era uma fonte de receita que servia para cobrir as despesas dos reformados pobres do nosso concelho, e que servia, também, para criar muitos postos de trabalho. Mas parece que só tem ideias quem não tem dinheiro, e certamente irá perder-se mais uma oportunidade de bom negócio para o nosso Concelho.
ResponderEliminarFalta de divulgação ou indiferença?
ResponderEliminarPois não sendo de Monchique, mas conhecendo a maneira de ser do pessoal do Algarve, nomeadamente de Monchique, não seria de esperar outra alternativa. E O PARQUE DA MINA É JÁ A SEGUIR !!! dou ate ao proximo ano no maximo. É perguntar aos habitantes de MOnchique, quantos foram ver o Omega Parque (eu não sou de lá e fui por duas vezes). Quantos já foram ao Parque da Mina. MAIS GRAVE AINDA, QUANTOS SÃO SOCIOS DOS BOMBEIROS E QUAL O VALOR DA SUA QUOTA (eu não sou de Monchique e sou socio e de valor mais elevado do que em Lisboa). Só quando as coisas ficam escuras para nao dizer negras, se mexem um pouco para o lado para deixar passar o entulho. E já agora que contribuições lhe foram dadas pela Camara ou outras entidades ? POR ULTIMO É SO VER O QUE SE TEM PASSADO COM O CONVENTO. QUANDO FINALMENTE CAIR DE MADURO ESTARA TUDO ENTAO RESOLVIDO E NO SEU LUGAR DE SEMPRE (no chão).
Lamento imenso saber que o Omega Parque fechou... Felizmente tive oportunidade de o visitar, um parque simples mas muito interessante, norteado por princípios louváveis (protecção de espécies em vias de extinção) e com belos exemplares, alguns únicos em Portugal... Não compreendo como o deixam fechar, tal como não compreendo a postura da Câmara em relação a muitas outras coisas...
ResponderEliminarFiquei triste com esta notícia...
:(
Amigo rifoias quando é que desce á realidade e começa a ser útil falando Português?
ResponderEliminarOu pensa publicar um dicionário?
Asinus asinum fricat!
Alfredo Pinto Coelho Marman
lx.
Há comentários sem razão, e justificação para serem feitos, e o anterior é um deles!
ResponderEliminarPara o anónimo Marman:
ResponderEliminar"Heus, bone vir!
Quo alterios asinos iudicas, eo tu ipse stultus!
Vale!
Cognatus Refoias"
Fiquei triste com esta notícia! Felizmente tive oportunidade de visitar o Parque e gostei muito do que vi. É uma pena que tenha fechado a porta mas sem parque de estacionamento é compreensivel que tenha pouca afluencia de gente. Dizem que o que é bom, acaba-se depressa, assim foi neste caso.
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