Im Pêra, fazeram uns bonecos d' arêa que sã méme bem-caçados...
Era uma coisa qu' ê cá tinha vontade de ver já há um belo tempo e inda nã tinha tido ocasião era isto dos bonecos fêtos d' arêa qu' eles, tôdes verõs, usam a fazer lá no Algarve, ali p' às bandas de Pêra.
Pôs, a semana passada parcé-me aqui o ti Luís Agúida p'a me comprar umas bajas temproas qu' ê tinha pr' ali - o homem faz a praça im Vila Nova - nã foi tarde nem foi cedo, fazemos logo duas contratas duma assentada: vendi-l'e as bajas todas p'r junto e combinamos a ir os dôs, no mata-velhos dele, a ver as tás bonecos fêtos d' arêa.
Aquilo foi uma coisa que calhô assim im conversa, num derrepente, e ê cá, logo de mimento, nem me vê à cabeça qu' o estapor do mata-velhos só pode levar dôs passagêros. Ora, c'm' é qu' a minha Maria ia tamém... E a ti Felismina, qu' é a m'lher?...
- Ó ti Luís, atã e nã se leva as nossas velhas?... - Dig'-l'e ê cá.
- Quem, a ti Maria e a minha Felismina?...
- Quem havera de ser?...
- Ó ti Refóias, dêxe-se disso... As velhas que fiquem a cudar no monte qu' a gente os dôs vai munto bem sòzinhos... Olhe, ê cá... tenho alturas que já nã dô aturado a minha...
Até do Camõs nã se desqueceram. E dumas moças qu' ele incontrô na Ilha dos Amores...
Aqui, f'quí-me... Más ele, levô a catarruar naquilo, nã se calava, e a minha Maria qu' andava a tabornequear ali no alpendre pôs-se à escuta e ôviu. Ora, salta logo de lá...
- O qu' é qu' o ti Luís 'tá p'r aí a d'zer, qu' ê nã panhí munto bem?!... É p'ra s' ir tôdes ver as construçõs na arêa?... Ó é só vocêas?...
F'quí logo incalacrado. Diz ele:
- Atã nã vê qu' o mê carrinho só pode levar dôs de cada vez... Só se mecêa s' amontar aqui na caxa adonde ê carrego as coisas p'a levar à praça...
- Tenha p' aí juízo... Era o que vocêas queriam era irem sòzinhos... Ê já resolvo isso. Sòzinhos é que vocêas nã vão. Que jêto?!...
E pronto. Assim abalô caminho da casa do mê compad'e Jôquim.
Inda a gente quái que nã se tinha tido tempo de tomar ar, já a vozêrrão delas as duas - a minha e a c'mad'e C'stóida - soava lá na rua deles. O que d'ziam nã sê, mái tamém nã tardô nada, já as novas tinha chigado até cá a esta banda.
- Já 'tá tudo arrenjado... O Zé Manel leva a gente. Vã os dôs aí nessa b'cicleta do ti Luís qu' ê cá e a c'mad'e C'stóida vamos nôtra via.
- Atã e o compad'e Jôquim, fica im terra?
- Nã te dê cudados qu' ele tamém vai com a gente...
Atã e estes lá do Egipto, nã 'tã bem fêtos? É, béque-me, a rainha deles e um pobrezinho dum ênuco...
- Ó Maria, nã t' enfezes qu' a gente inda 'tava a combinar as coisas e tu nã f'cavas no rastolho...
- Ê bem ôvi o que ti Luís disse. Nã tens precisão de 'tar com desculpas...
E c'm' ê cá, d'zer a verdade, nã tinha mái nenhuma manêra de me defender, a coisa f'cô p'r 'lí e, no dia combinado, lá se foi todos caminho do Algarve.
C'm' à coisa 'tava combinada, a mim acabedô-me ir no mata-velhos do ti Luís. Ora, aquela trugia já 'tá mái velho qu' o dono, dêtava um fedôr a petrol que metia medo e o ti Luís, tamém, nã sê c'm' é qu' ele fazia aquilo, andava só ôs lóres duma banda à ôtra da estrada - q'ondo nã ia méme ô mêo, a pisar o traço e tudo, qu' os ôtros 'tavam-l'e semp'e apitando...
Ê cá, que nã uso a almarear c'm' alguma famila que nã prosa, desato a sintir assim béque-me umas ãinsas... Inda vi jêtos de bolsar. Aquilo foi p'r uma coisinha de nada...
- Eh ti Luís, tenha p' aí conta, homem!... Vá um coisinho mái brando com isso... Quer dar cabo da gente ó quem?...
- Mái devagar ainda?!... Atã isto só de ladêra à baxo é que dá uns sassenta. Agora vô-me a q'ôrenta e tal... Inda o Zé Manel, que vem logo ali atrás, s' aborrêce e passa adiante da gente...
- Dêxe-o passar!... A gente logo lá chega tamém. Mecêa nã sabe o caminho? Sabe. Atã, pronto.
Estes aqui 'tã a ver cinema. P'r o jêto, q'ondo eles inda amostravam o cinema na rua...
Más aí, já a gente ia chigando quái à recta do Rasmalho, as curvas acabaram-se e a coisa lá se compôs. Quer-se d'zer, inda se dé ôtra parte qu' ê cá nã contava com ela, E tudo p'r culpa do Zé Manel que chigô lá im baxo entes da Ladêra do Vau, mete p'a drento da a'to-'strada.
Se nã sabia ele qu'o mata-velhos nã pode andar nesses caminhos... Mái atão, desquecé-se... E lá se foi a gente os dôs sòzinhos p'ra estrada antiga até Alcantarilha. Tamém nã se perdé nada. Aparamos lá num certo sito, bobemos uma piquenalha cada um, aquilo sôbe que nem ginjas. E eles ficaram im seco...
E, já agora, semp'e l'es falo lá dos bonecos. D'zer a verdade, nem l'es sê incarecer. Custô-me um belo d'nhêrinho, lá isso custô, mái dí-o p'r bem gasto. Ê cá e a minha Maria inda se teve que pagar os dôs, já nã m' alembro bem, mái foi coisa aí duns doze eros e sessenta cêntimos... Qu' a gente somos os dôs já reformados e sai um coisinho mái barato.
Agora ê cá inda gostava de saber d' adonde é qu' eles desincantaram tanta arêa p'a fazer aquilo tudo. É que sã bonecos e mái bonecos, carros, casas, bichos, foguetõs, ê sê cá!... E tudo tã bem fêtinho que mecêas nem calculam...
Até o Camõs lá está a olhar p'ra umas moças qu' ele, p'r o jêto, incontrô lá num sito adonde elas andavam assim com pôca rôpa im cimba do corpinho, a Ilha dos Amores. E jêtosas qu' elas eram... A minha Maria é que nã gostô lá munto d' ê cá l'e 'tar a tirar o retrato, qu' ê bem vi ela fazer uma careta p' ô lado da c'mad'e C'stóida...
Estes 'tã a ver a bola na tel'visão. Só l'e falta ali um garrafanito de cinco litros...
Agora, chegar ali, pôr-se a olhar p' às moças todo imbasbacado, puxar da sua faquinha dele, desbrugar o albricoque e jogar a casca p' ô mê do chão... Eh'q!... Nã é coisa que se faça... Vem de lá um estrangêro põe-se a fazer miécos c'm' quem diz:
- Isto aqui é algum monturo ó quem?!... Toca más é a apanhar isso...
Nã sê bem s' era iso qu' ele queria d'zer ó não, mái, se disse, foi bem dito. Volta-se o compad'e Jôquim p' ô ti Luís:
- Já viu o qu' é que mecêa arrenjô?... Panhe lá a casca do albricoque e ponha isso àlém naquele caxote... Atã que figura é essa?...
- Ai, punhana, 'tava a olhar p' às moças nem dí p'r o que fiz!... Isto, tamém, qualquer um tem um descuido. E com este calor, im menes de nada, seca...
- Que seque que nã seque, panhe lá isso. Nã vê qu' é uma vergonha?... Senã nunca mái venho consigo...
Aí, o homem, caí nele, panhô a casca e tudo se compôs.
Pôs, mês belos amigos, p'a quem goste daquelas coisas, vá lá à Fiesa 2009 qu' aquilo 'tá bonito. Mái vã assim à tardinha qu' à hora da calma que faz lá uma torrêra munto má de gramar. E nã joguem cascas d' albricoque p' ô chão...
Fiquem-se com Dés.
Ora viva!!
ResponderEliminarAo longe, deixei de ver a serra de Monchique outra vez,porque voltei à Finlândia. Estive em Lagos de férias,o tempo passa tão rápido, que não tive tempo para dar um saltinho aí a Fonte Velha, talvez aí encontre a resposta à minha origem, às raízes que enrolam minha imaginação e me acompanham com a imagem de "Marmelete".
Um abraço amigo, do Reino do Algarve, espalhado por esse mundo fora.
Gsti munto desta parte! Mostra qu'ameceia leva jêto im cuntar estas xtóiras à famila. Pre menos a mim é cousa que me dá grande consolo! Na tenho à vonde cum ler isto e ando por i a amostrar à maltinha cum quim ê me dou tamém. Cá fico asperando per más!
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