Vai-se a ver, a "Visão" nunca se desqueceu da gente...
Calhando, inda 'tã alembrados da últ'ma vez qu' ê cá fui andar na Via Algarviana. Nã sê se l'es falí, mái se nã falí falo agora, iam tamém lá dôs môces, tanto um c'm' o ôtro, ch'mados Pedro, um p'a tirar retratos e o ôtro p'a apontar tudo o que via numa sebenta.
E d' adonde é qu' eles vinham?... Ora aí 'tá... Uma coisa que pôcos ó denhuns haveram de saber. Qu' eles, verdade se diga, nã traziam nenhuma tab'leta pindurada no bescoço e quem os visse havera de cudar qu' aquilo eram mái dôs, imparvetados c'm' ê cá, que se tinham posto a andar duas semanas a pé désna d' Alcoutim até ô cabo de S. V'cente.
Mái nã eram, nã senhora. Eram jornalistas duma revista ch'mada "Visão". Nã desfazendo, famila do mái porrêro que possa ser e haver. Tamém nã tinham r'zão nenhuma de quêxa. A gente, p'a ir lá, teve-se que pagar p'a dar o nome, eles inda t'veram quem l'e pagasse por isso... Mái, fosse lá o que fosse, demos-se todos muntíssemo de bem.
E, atão, despôs de duas semanas a andar a pé, chigados ô fim da viaja, a munto custo, cada qual abalô p' ô sê monte com a trôxa às costas. Uns côxos ôtros trôpos, mái quái todos chêos de pàxão daquilo ter acabado tã depressa. Mái, c'm' o que tem quer ser tem munta força e tudo o que tem prencipo tamém tem fim, o laré acabô dum todo.
É aqui qu' ele conta a nossa passaja cá pr' a Serra...
Más inda com respêto ôs tás dôs jornalistas, os môces passaram tod' ô caminho um a tirar retratos e o ôtro a apontar tudo numa sebenta. Cudava ê cá qu' aquilo, calhando, até saria coisa p'a sair dali um livro ó quasequer coisa assim. Inganí-me.
Uma ocasião, inda entes de se chigar cá a Monchique - oh!... munto entes disso!... - conversando com o dos retratos, ele contô-me que 'tavam os dôs ali a ver davam fêto uma reportaja - reportaja, se nã m' ingano munto, é contarem lá no jornal aquilo que se passa im qualquer banda - de c'm' o é qu' a famila dava andado aqueles trazentos e tal quilómetros à pata e o qu' é que se via p'ro caminho.
De manêras que, f'quí à espera a ver o qu' é que dali saía. Comprí a tal revista "Visão", gastí um poder de d'nhêro, nã vinha nada. Esperí um mês, esperí ôtro... nada. Prècurí a este, prècurí àquele... ninguém me sabia d'zer nada. Pensí cá p'ra mim:
- Eles barimbaram-se foi nisso. Tira daí o sintido que nã tens sorte nenhuma... Os homens, calhando, nã acharam graça àquilo ó, atão, f'caram tã cansados que nã deram fêto nada...
Até o mê compad'e Jôquim do Barranco, um dia que se falô no caso, se pôs a fazer porra de mim que me fez quái chigar o sãingue às ventas:
Com o qu' ele diz aqui, mecêas hã-de cudar qu' ê cá l'e besuntí as mãs com alguma garrafinha de madronho. Nã besuntí mái logo besunto, em o vendo. Qu' o homem morêce...
- Com qu' então até o tinha entrevistado, hem... e iam pôr lá no jornal o que mecêa disse... Eles viram foi que vomecêa nã passava dum trôxa qualquer e puseram-se a fazer cachamorra de si... ah, ah, ah!...
Aquilo caí-me tã mal, punhana!... Na altura, até pensí:
- Logo ê cá l'e falí no assunto q'ondo vinhe da Via Algarviana. Podia munto bem ter f'cado calado, nã l'e parêcem?...
Más agora já 'tô na mó de cima ôtra vez. Os homens tardaram mái nã faltaram. Im Agosto, lá 'par'ceu a tal reportaja adonde eles contam tudo da Via Algarviana e tamém falam de cá da Serra de Monchique e do 'Parente da Refóias'.
Nã é que sejam uma coisa assim de tod' ô tamanho, mái, comparado com o qu' eles falam dos ôt'os lados, até que nã 'tá nada mal, nã senhora...
E, em acabando de escrever isto, ê já l'es digo o que vô-me fazer. Vô-me caminho do mê compad'e Jôquim do Barranco e esfrego-l'e a revista nas ventas. Qu' é p'ra ele, à ôtra vez, nã me charingar c'm' fez naquele dia q'ondo se pôs a caçoar com-migo premode eles inda nã terem posto aquilo lá no jornal.
'Tá bom de ver que esfregar-l'e aquilo nas ventas é uma manêra de falar. Nã é que nã me desse vontade disso, mái vô-me é l' amostrar aquilo ali bem na frente da cara p'a ver o qu' é qu' ele faz. Desta vez, há-de f'car bem inrascado. E, calhando, um coisinho cioso...
Um tirava retratos, ôtro apontava tudo num caderno...
Pôs, vistas bem as coisas, os Pedros fazeram um trabalho... uma coisa do melhor que pode ser e haver. E nã cudem... anderam aquelas dias todos ô pé da gente, nunca arrèlaram e, borrefas, nada... Chigaram ô fim com os pèzinhos im bom estado c'm' se t'vessem começado naquele dia.
E moços de bom trato qu' aquilo eram... Semp'e na charola qu' aquilo era um pagode de manhã à nôte. Mòrmente o Pedro dos retratos, mês belos amigos, ninguém se dava sustido ô pé dele sem largar umas carcachadas valentes d' ora im q'onto. Aquilo era chalaça atrás de chalaça...
Mái, já agora, querendem ver o trabalho qu' eles fazeram, acalquem na apresentação de diapositivos powerpoint do artigo que saíu na Visão - Vida & Viagens (é um f'chêralho com menos de 10Mb, nã cudem lá que se trata d' alguma coisa do ôtro mundo...).
E fiquem-se com Dés.
Vô já buscar o f'chêralho.
ResponderEliminarO Parente não cabe em si, de tão inchado com a reportaja!
ResponderEliminarAcaba por ser também uma alusão à riqueza natural de Monchique, que muitos ainda desconhecem.
Só é pena que, em termos de património construído, continue com a reputação manchada pela incúria ao Convento.
Imagine a fama que Monchique teria, se fosse (bem) recuperado!!
Parabéns pelo reconhecimento e pelo excelente veículo de divulgação aqui do seu bolg,que continua a ser do melhor, ao cabo de mais de três anos.
Da sua amiga,
Ana Pinto