08 maio 2010

Dia de Maio em Marmelete

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
A famila de Marmelete foi quái tudo ô passêo da Junta...

Désna de moço-pequeno, foi uma coisa qu' ê cá sempre gostí de fazer foi, Dia de Maio, ir desmaiar p'r 'í p'r esses cerros. Em chigando tal dia, que chova qu' avente, nã me venham cá com coisas qu' ê tenho qu' abalar im companha de q'ontos amigos quêram fazer o mémo. É um costume qu' a gente cá tem, o qu' é que mecêas querem?...

E digam-me lá se nã é uma coisa bonita a gente s'a ajuntar uns com os ôtros, levar-se um farnel, uma garrafinha d' aguardente e um bolinho de tacho e ir-se p' à giraldina o dia todo, sem cudados com ôtras coisas?... Dêxa-se o trabalho p'a trás, dêxa-se tudo e vá pagode...

E, atão, agora qu' inda 'tá tudo mái ô queres... Uma pessoa só tem precisão de dar o nome uma semana entes, lá na Junta, e, Dia de Maio de manhã, 'tar a jêto ô pé na Casa do Povo e abalar atrás daquela famila toda. Sem nunca os perder de vista, nã vá uma homem s' inganar e ir p'ra v'reda errada...

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
Ia tudo munto contente, mãi o mulherio, atão, nem se fala...

É certo e sabido qu' aí mái ó menes lá p' ô mêo do caminho, a Junta há-de-se apresentar com quasequer coisinha p' à gente dar ô dente. 'Tô falando de Marmelete, 'tá bom de ver, que foi adonde ê cá este ano fui desmaiar com a minha Maria. Com a minha Maria e mái uma rabanhada de gente, béque-me uns cento e oitenta, perto ó certo...

Os mês compadres além do Barranco, esses nã foram. Nã é qu' eles nã gostem, que gostam ô bem fêto, mái atão a comad'e C'stóida, ontordia, incalhô p' ali num tanganho fez um golpe méme prebaxinho do artelho, tem fêto mèzinhas até mái não, méme assim aquilo arejô, quái que nã dá andado.

O mê compadre tamém tem p' ali com umas quêxas, umas dores nas cruzes, um formiguêro nas pernas... Anda sempre caminho dos Perêros - vai a um end'rêta que p'a lá há - mái nã l'e vejo melhoras nenhumas... Ê cá até já l'e disse:

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
No Cerro dos Picos é que foi o bom e o bonito...

- Compadre, isso é coisa de bicos de papagaio... Mecêa vá más é ô dôtor a ver s' ele l'e manda tirar uma chapa, pode ser que acuse lá alguma coisa.

- Que jêto?!... Atã nã vê qu' isto sô ê cá que 'tô desmanchado, nã é coisa p'a dôtor?... Foi um jêto qu' ê cá dí, já faz um belo tempo, àlém a pular aquele combro p'ra baxo. Ê sê cá s' isto até nã sará algum nervo trocido?...

- Ó mê belo amigo, atã a gente faz-l'e já aí uma benzedura!... Maria traz-me lá aí uma sovela e um novelo de linha...

- Bom, bom, bom....

- Vá qu' ê cá faço-l'e já aqui a cantilena...

- Dêxe-se de gozo, compad'e Refóias...

- "Osso quebrado, nervo trocido / s' é osso quebrado, vai p'a dond' é que foste criado / s' é nervo trocido, vai p'a dond' é que foste narcido / osso quebrado, nervo trocido..."

E, ô mémo tempo, fazia a amenção de 'tar a espetar a sovela num novelo de linha.

- Olhe qu' algum dia pode-l'e acabedar a si... E, despôs, semp'e quero ver o qu' é que mecêa faz...

Bom, mái deixamos isso da mão. Ô certo, ô certo é qu' os pobrezinhos dos mês compadres, desta vez, nã puderam ir desmaiar.

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
A Senhora Presidenta andô a dar uns calcesinhos dela. E, p'a fazer boca, era um bolo de tacho do melhor...

E o qu' eles nã perderam, mês belos amigos... O tempo 'tava qu' era uma classe. Nã fazia munto sol, mái tamém nã chovia. Verdura p'r tod' ô lado. As mongariças tudo im flôr. Rosas-albardêras do mái lindo que possa ser e haver. Méme alguns maios já 'tavam capazes de panhar. Atã e o resto?!...

Hôve lá uns q'ontos, calhando com medo de l'e faltarem as forças a mêo do caminho, qu' aquilo, no prencipo, era munto de ladêra acima, que bela lembrança que t'veram... Levaram umas garrafinhas d' aguardente p'a, de q'ondo im vez, boberem um calcesinho dela e darem tamém ôs amigos.

Ora, aqui e ali, tamém m' acabedô um solvinho. E boa qu' ela era, que nem se sentia às goélas abaxo. Agora à cabeça chigava ela bem depressa. P'r menes, d' alguns parentes e amigos que lá 'tavam, que bastava l' olhar p' à cor da cara - encarnados que nem uns p'mentos - e ver os gangueõs qu' eles davam... Aquilo, havia lá menino que já só andavam de zambareta...

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
A descer todos os santos ajudam. E, atão, já nã vinha ninguém com os bofes de fora...

E isto p'a nã falar de q'ondo se chigô ô Cerro dos Picos. Aquilo lá é que foi... A senhora Presidenta e mái as ôtras senhoras e homens lá da Junta, apresentaram-se com uma catrefada de coisas p' à famila comer e bober, toda a gente incheu a barriguinha.

Ê cá e más a minha Maria - e umas amigas dela qu' ê nã alomêo aqui, nã vã elas se marafar - tinha-se matado o bicho logo munto cedo e um coisinho à pressa p'a nã chigar atrasados. De manêras que, já há um belo pôco que se tinha aqui um bichinho a rabear.

Ora, jogamos-se todos ô decormerzinho que lá parceu foi um vê se te havias. Im menes de nada, aquilo desparceu quái tudo. E a senhora Presidenta sempre a trabalhar im forte. Até dava gosto ver uma pessoa assim, inda tã novinha mái semp'e munto dada e pronta p'a acontentar toda a gente.

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
Havia sitos tã bonitos que nã l'es sê incarecer...

E levava um bolo de tacho e um madronhito... Quem é que se podia negar a uma coisa daquelas tã boa?!... Até a minha Maria imborcô um calcesinho dela e duas fatias de bolo-de-maio... E diz que 'tá d' adiata premode nã sê o quem. O que saria se 't'vesse...

Más isto foi o que se passô só no passêo. Que, da parte da tarde, lá na Casa do Povo, só quem lá foi, que contado ninguém acredita. Era pórco assado, torresmos, carne frita... E um balho im forte.

Só l'es sê d'zer que vim de lá todo escadraçado. É qu' a minha Maria, em pegando a balhar, leva as modas todas a êto. Todas l'e servem e nã quer perder nenhuma...

E p'r 'quí me fico. Querendem ver mái alguma coisa do Dia de Maio im Marmelete, acalquem nessas coisas aí a seguir:

Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
Apresentação de diapositivos no Picasa




Video do passeio no YouTube



Passeio do Dia de Maio 2010 - Marmelete
Galeria de fotografias Refóias

E até um destes dias.

1 comentário:

  1. Obrigado,por este espaço que me transporta á minha meninice,com a minha avó Joana e o meu avô Manuel,com ditos e sabores monchiquenhos ou não fossem eles oriundos da arriqueta,e da umbria,
    que belos momentos eu disfruto neste espaço
    genuíno e tão autêntico,que as vissicitudes da vida levaram pra outra serra,a de S.Marcos da Serra,em jeito de Homenagem aos meus Queridos
    Avós,que onde quer que estejam,eu sou iternamente Grato.BEM HAJA.
    José Correia Nunes

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