O amigo Zé Ilídio sabe fazer verga c'm' pôcos...
Isto, agora, no verão há p'r'í tanta festa ó tã pôca qu' uma pessoa nã sabe p'a que lado é que s' há-de virar. Se vai a uma banda nã vai a ôtra, se vai a esta nã vai àquela. E isto p'a já nã falar nôtros casos c'm' quem tenha água de partilhas num dia desses e nã na possa dêxar de regar...
Vem esta conversa premode um passêo qu' ê cá e más a minha Maria se foi dar na ôtra semana a um lugar que já nã é pr'mêra vez que lá se vai: à Fatacil. Nã se tinha fêto conta d' ir a tal sito este verão, mái ele hôve uma amiga de minha Maria lá de baxo de Vila Nova que arrenjô uns bilhêtes p' à gente se poder antrar sem pagar nada e atão semp'e se resolvemos a ir.
Sim, que nã sê se mecêas sabem mái aquilo p'a antrar lá, uns pagam, ôtros não. P'r menos é o que chigô ôs mês ôvidos. Um f'lano, tendo um amigo - um comerciante ó artesão ó coisa assim - que l' arrenje uns convintes, antra de graça. Nã tendo, paga cinco eros...
Quem qu'sesse, provava um coisinho de chouriça, morcela de farinha ó mólhe do amigo Vangelista...
Mái o caso é qu' a gente inverdamos aí prêabaxo e par'cemos p'r lá. E o más ingraçado, sem ter graça nenhuma, foi que im vez de se antrar lá p'r a porta da frente, aquela grande p'r donde antra quái toda a famila, foi-se imbirrar com uma mái pequena que fica lá p' trás, inda p'a lá das arramadas daqueles bichos qu' eles lá têm. Mái o homenzinho dêxô a gente antrar e a gente antrô...
Atã e nã é que tã penas chigamos ô pé dos cavalos damos logo de frente com o parente Zé "Caçapo" - o "Verruma" - todo munto intretido na conversa com o ti Vergil Patinha, o Tóino "Luzicuco" e o Martinho do Almarjão - 'Pata-Rasa' l'e chamam (o homem tem os pés chatos...). A conversa era béque-me a respêto de cavalos c'm' s' o homem alguma vez t'vesse sido almocreve e sabesse alguma coisa daquilo?!... Pôs s' ele nunca possuiu tã pôco um macho... que o vi foi sempre com burros lazêrôsos e bem ruinzalhos...
- Olha o parente Zé!... Atã c'm' é que vai isso, hom?... 'Tavam à espera da gente? Se fosse combinado, calhando, nã se incrontávamos assim...
E vá uma tanganhada... Voltí-mr p' ôs ôt'os três e falí-l'es tamém:
- Atã e mecêas c'm' é que 'tão? Tamém vieram ver a fêra?...
- Ehq, isto é todos anos a méma coisa... Mái uma pessoa tamém s' aborrêce de 'tar sempre lá ô monte...
- Nã me diga, ti Vergil, que mecêa tamém vêo apresentar aqui o sê burro, o "Carôcho"?... Vejo àlém um a comer palha naquela masdoira...
Salta logo o parente 'Verruma', semp'e muntogozão:
- Qual, aquele que 'tá além na arramada ó algum dos que 'tão ali assantados naquelas mesas da esplanada?
A parenta Mari' Nunes a trabalhar no seu tear dela...
- Lá 'tá mecêa semp'e com as suas. Ele é bem verdade que há p'r 'í muntos d' orelha curta... Mostre lá as suas!...
- Pôs as minhas sã curtas e palha nã como... Veja lá pr' aí bem isso... Ó, atão, tarê qu' o levar além um coisinho más adiante a ver um vivente que 'tá lá dêtado...
- Algum bezerralho? Béque-me vejo àlém umas vacas...
- Quales vacas nem quales bezerros!... Venha cá com-migo se quer ver uma coisa jêtosa...
- Com esse jêto, hum... Boa nã vai sair daí... Ó cuda qu' ê cá nã no conheço já munto bem? Mái nã s' adiante munto, olhe qu' ê cá respondo-l'e ô consoante...
- Nã tenha medo ti Refóias, aquilo nã é nada de mal... Venha com a gente e aprecêe. - Diz logo o ti Vergil Patinha que já sabia do que se tratava.
E lá fomos caminho d' adonde 'tava o gado.
Nã era munta coisa... 'tava o tal burro, uma porcalha com bacorinhos, umas bezerras, umas cabras e o más era ovelhas. Ô chigar à arramada das cabras, daquelas algarvias - um gado bonito, nã se pode d'zer o contráiro - já ele se ria voltado p' ô Tóino "Luzicuco"...
Com o tear e uns trapinhos a parenta Mari' Nunes faz estas coisas todas...
- Tóino, tal achas a armação desse b'chinho? F'cava bem aí a muntos... Até inrolam!... - E vá de dar carcachadas, o marafado...
Más o pior é que, logo da bandinha de lá, 'tavam umas ovelhas e um carnêro. E, mês belos amigos, aquilo tinha que se d'zesse... O bicho já era velho e já se sabe qu' aquela coisa qu' eles têm na cabeça nunca pára de crecer. Ora... vejam bem aí no retrato e logo me dizem que tal...
Volta-se o mariola p'ra mim e, sempre munto cão, prècura-me:
- Ti Refóias, qual é o sê numbre de chapéu? É o qurenta e sês ó o qurenta e oito?
- O qu' é que mecêa tem com isso? Quer-me comprar algum?... Ê cá, q'ondo tenho preciso vô-me à Chapelaria Ideal, àlém im Vila Nova. Nôtres tempos, inda havia adonde comprar tal coisa lá im Monchique. À do Sr. Antóino Albano ó à do parente João Chula, que Dés os tenha, quái sempre tinham. Más agora já dô notiça disso...
Disse ê cá a ver se desviava a conversa qu' ê vi logo que dali nã vinha boa coisa... Qu' o saganheta 'tava era a querer antrar com-migo premode o gradessíss'm' ô chapéu qu' o carnêro tinha... Más ele voltô ô assunto:
- Nem que fosse o sessenta aquele ali nã l'e servia... Nã sê adonde é qu' o b'chalho arrenjô uma coisa tã bonita. Nã vê? Já dá umas três voltas... E já l'e cortaram as pontas, senão...
O bicho já quái que nã podia com o chapéu, tinha que arrimar o focinho no chão...
- Pôs nã me servia, nã senhora... Agora a si, nã sê, nã sê... ponha-se lá assim mái de lado p'a ê cá l'e tirar as medidas...
- Ê cá nã tenho precisão que já 'tô governado!... Agora p'ra si, até era pessoa p'a l'o comprar de boa mente e dar-l'o dado...
- M't'ôbrigado m't'agradecido, mái fique lá vomecêa com o presente se l'e faz jêto. Más a más com o peso qu' aquilo tem só p'a homens rijos c'm' à si, ti Zé... Nã vê qu' o bicho já custa a suster a cabeça no ar e só 'tá bem é com os quêxos arrimados no chão?...
- Bom, bom... Vamos más é dar mái uma voltinha qu' isto aqui já nã enteressa... O ti Refóias, querendo, logo vem comprar o chapéu mái tarde...
- Alguma vez?!... Ele fica é já afiançado p'ra si!...
E abalamos caminho da barreca, ó, c'm' dizem pr' aí, do pavilhão de Monchique. E im boa hora...
Olhem, pr'mêro, 'tava logo lá uma menina da Cam'bra a dar uns b'lhetes duma rifa p'a s' ir passar uns dias nas Caldas de Monchique, naquele hotel novo qu' eles fazeram lá. Ê cá e a minha Maria demos logo o nome. A mim nã me sai nada, tenho a firme certeza, agora à minha Maria é certo e sabido que vai ter pré'mo. Em ela jogando nas rifas, sai-l'e sempre... De manêras que, prestes, 'tô fazendo conta d' ir lá dromir uma noite ó duas.
Havia p'r lá umas moças dêtadas na erva. E gordinhas qu' elas eram...
Despôs, arrodeamos p' à banda de lá, demos com um prato chêo de rodelas de chôriça, morcela de farinha e mólhe. Ora, nã t'vemos ôtro reméd'o senã provar... Eram do amigo Vangelista ali do Pé da Cruz. E inda provamos tamém um calcesinho dela... Era da boa.
Voltamos-se pr' ô ôtro lado, 'tava o amigo Zé Ilídio a fazer verga. D'zer a verdade, ele chama-se José Inácio Rosa, más é alomeado p'r Zé Ilídio em mimóira do pai que Dés tem, que tamém era um amigo do melhor. Diz logo ele p'ra mim:
- Tire retratos à vontade, ti Refóias, tire os que quêra!...
E pegô logo na garrafinha e no copo p'a dar uns porretes à gente. Da dele, cudo ê cá. Era c'm' mel. Até estralava às goélas abaxo...
Logo da bandinha de lá, 'tava o tear da parenta Mari' Nunes. Já toda a gente conhêce. Nem tenho míngua de falar nisso. Nã há ôtro c'm' àquele e as coisas qu' ela faz 'tão bem à vista.
Inda corremos o resto, más aí tive que me aprecatar qu' a minha Maria põe-se a ôvir aqueles rèclames tôdos, os marafados chama-na logo ali p' à frente, nã sê se l'e fazem alguma benzedura s' o qu' é que é, indròminam-na duma tal manêra qu' ela, im menes de nada, quer comprar aquilo tudo...
O ano passado, comprô p'a lá uma bassôira ó lá o qu' aquilo era, nã prestava p'a coisíssema nenhuma que já a jogô p' ô monturo, e custô um poder de dinhêro. De modes que, este ano, jogô-se foi a comprar barros. Coisas des que duma fábrica que fechô lá p'ra cima e vendem tudo no barato. Mintiredo...
Querendem ver más alguns retratos da Fatacil deste ano, acalquem aqui na Galeria da Fatacil más é tudo coisa pôca.
E até qu' a gente se veja.
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