O bicho do p'nhêro faz estes grandes linhos de têa e folhiço...
- Ele há quem diga qu' o bicho do p'nhêro, em a gente l'e tocando, faz uma bretoeja que mete medo. Ê cá, atão, posso-l'e até pegar com as mãs qu' ele nã me faz mal denhum...
- 'Tá-se méme a ver... Acradito tanto nisso c'm' nada. Tu nã conhêces é o qu' é um bicho do p'nhêro. Essa é qu' é essa...
- Olá!... Inda, uma ocasião, ia ê cá caminho do Barranco do Preto, passí p'r baxo dum p'nhêro manso que lá 'tava, sinto uma coisa me cair im cimba do mê casquêro, jogo a mão, era um... E nã era menes qu' um bicho-barril daqueles das borras, nã cude... E nã f'quí com bretoeja im banda denhuma...
- Cudas qu' ê 'tô a dromir ó quem!... 'Tá lá algum p'nhêro manso no Barranco do Preto?!... Há lá é castanhêros à fartazana. Agora p'nhêros...
Isto era o Adelino da Desmoitada, semp'e munto cão, a querer béque-me quái antrar com o ti Luís Agúida que vinha no mata-velhos dele e aparô ali ô pé da gente.
Lá bonitos sã eles, mái atão e a bretoeja que fazem...
E, c'm' ê cá 'tava a d'zer p'ra ele e p' ô v'zinho Mané Mansinho, qu' inda ontontem tinha ido àlém àqueles p'nhêros daquele lado ver se panhava um costal de folhiço p'a pôr na cama do mê pórco e tive que me vir imbora qu' havia bichos daqueles p'r todô lado, o marafado aprevêtô logo p'a meter a púa no ti Luís.
Más, é verdade. Fui àlém, sa senhora boa vida, de costalinho às costas e o insino ô ombro, chego lá, joguí o costal p' ô chão - aquilo nã é um costal, é quái uma gorpelha, qu' ele é grande, más ê cá, tamém, nã no encho munto p'a nã dar cabo da espinha... - pego no insino e jogo-me a ajuntar folhiço.
Vô-me a um sito que fazia assim um altinho e, à roda béque-me um covato, cudando qu' era uma bela manchinha de folhiço, meto o insino bem ô fundo, puxo, punhana!..., desato a ver bichos de p'nhêro de raboleta masturados com o folhiço, até se m' alevantaram os cabelos do pêto...
Digo p'ra mim:
- Mái atão, nã posso levar isto, senão o pórco inda panha p' àlém alguma bretoeja e pode-l'e fazer mal... E ê cá, nã se fala. Se ponho isto im cimba da lombêra, até impôlas ê cá crio nas orelhas...
De manêras que dêxí aquilo e fui lá mái p' à banda de lá. Mái qual o quem?!... Pus-me a devassar bem os p'nhêros, aquilo era só b'charia p'r tod' ô lado. Os estapôres béque-me tinham combinado uns com os ôtres. Andava-se tudo a mexer...
D'zer a verdade, uns sã mái às cores do que ôtres...
Uns já 'tavam interrados, ôtres vinham a caminho e os que nã tinham inda abalado dos linhos já 'tavam da banda de fora prontos p'a virem cá p'ra baxo p'ô chão.
- Barimba-te, más é nisto e vai-te imbora entes que sejas más é tu a panhar a bretoeja im vez do pórco... - Pensí ê cá.
E nã tive precisão de mái nada. Abalí, nesse 'stante, caminho do monte...
Mái c'm' tinha míngua de cama p' ô pórco, fui ali p'r trás de casa, panhí umas moitas e mêa-dúiza de jastras daquelas mái pequenas e joguí-as p' ô curral. E, agora, inqonto os bichos do p'nhêro nã se fazerem em brab'leta, nã parêço p' àquelas bandas...
Mái, voltando à conversa do Adelino e do ti Luís, d'zia o ti Luís:
- Ai do tamanho dum bicho-barril das borras, dizes tu... Atã alguns sã mái grossos qu' aqui o mê dedo grande... Tu nã 'tarás atribuído com isso e...
- Qual atribuído, nem qual atribuído!... Foi tal e qual assim!... O bicho tinha uns cabelos quái da comprimenta dos dum estrangêro que passô aqui, um dia destes, qu' até fazia rabo de cavalo...
- Vê lá se não foi algum sapêro que 't'vesse lá apoisado no bico da árv'e e te fez o presente p'ra cimba do casquêro... Ó alguma galinha choca...
Salta o ti Alvino das Martunhêras, que tamém 'tava ali com a gente, assantado no pial:
Pôem-se a andar atrás uns dos ôtres e passam tôdes p'r o mémo caminho do da frente...
- Se fosse méme um bicho do p'nhêro, era d' adregue nã f'cares com bretoeja. Aquilo é certo e sabido que s' uma pessoa l'e toca fica logo inrascado... Olha, um canito qu' ê tinha - mê belo b'chinho... ch'mava-se Dique - uma ocasião pôs-se...
- Isso foi o sê cão... Agora ê cá, nã há bicho que me faça mal...
- Mái dêxa-me lá contar...
- Conte, conte... Mái nã se ponha com mintiredo...
- Qual mintiredo... Isto é a pura da verdade.
- Ah, assim, 'tá bem...
- O mê Dique - mê belo canito que dava p' à caça e tudo... - uma ocasião, vêje-o a esgravatar lá ô pé dum p'nhêro brabo qu' ê tenho lá p'r baxo de casa, mái nã liguí. Cudí qu' aquilo fosse alguma coisa qu' ele t'vesse p'a lá interrado ó...
- Ó algum rato-tòpêro que p'a lá andasse... - diz o Adelino a fazer de conta que 'tava munto emprensado no caso.
- Pôs, isso mémo. Algum rato-tòpêro. Tamém podia ser...
- Ó toca de lagarto... Ó de bicha...
- Olha lá, nã gozes... Podia ser munto mái coisas, más de verdade, de verdade, era esses tás bichos do p'nhêro.
- Atã o sê Dique c'mé uns q'ontos, não?...
Em encontrandem um sito que gostem, inrolam-se tôdes uns nos ôtres e tapam-se...
- Nã sejas parvo... O pobrezinho do bicho esgravatô, esgravatô... e mái que punha lá o focinho a chêrar, e ê cá sem ligar.
- Atã e mecêa nã enxutô o canito?!...
- Ê cá nã sabia que 'tavam lá os escamungados dos bichos, home...
- Atã e despôs?...
- Ora e despôs... Mái logo, parêce-me ele já com o focinho todo inchado, béque-me assim a afègar, todo insovacado...
- E nã l'e fez nenhuma mèzinha?
- Tive cá algum tempo p'ra isso?!... Aquilo nã tardô dôs minutos já o pobrezinho 'tava espatarrado no mê da rua!...
- Esticô o pernil?!...
- Sa senhora... Morré ali méme na minha frente!... Mê belo canito...
- Olha que essa!...
Mês belos amigos, isto foi verdade, qu' ê cá sê que foi. O ti Alvino já, uma vez, me tinha contado esta parte. E, nã sê foi premode isso, d' ora im q'onto, fala naquele canito, o Dique.
Pôs, olhem, isto dé-se com o Dique, mái a gente tôdes tamém se tem que ter munta conta qu' aqueles bichos sã danados e qualquer um l'e pode ter pôca sorte com eles. E atã ê cá que nem tã pôco um mosquito me pode picar que fico logo com uma zalação que nã àguento...
Inda l'es podia contar mái partes dos bichos do p'nhêro, mái fica p'a ôtra ocasião. Agora se quererem ver estes e ôtros tantos retratos desses bichos, acalquem aqui na Galeria dos Bichos do p'nhêro.
E Dés l'e dê saúde a tôdes.
Não sei o que dizem aí em Monchique quando os pinhais aparecem cobertos de teias/casulos de bichos, mas na Beira Alta o conhecimento empirico diz "que o ano vai ser seco".
ResponderEliminarMaria Costa
Mais uma visita, "mé migue"!
ResponderEliminarE desta vez sempre digo qualquer coisinha!
Como sempre, delicio-me a lê-lo.
Deixo-lhe um abraço!