16 fevereiro 2009

Uns penedros munto bem caçados...

Rochas da Malhada Velha - Loulé
Olhando bem, nã se vê logo qu' é um macaco...

Ná sê se vomecêas já deram p'r isso, más ê cá, d' ora inq'onto, vô-me dar aí uns passêos com aqueles môces da Almargem. E, nos entervalos, tamém uso a ir aí p'r esses cerros e barrancos com umas moças qu' ê cá conheço e que gostam d' andar metidas aí ô mato.

Pôs, um destes dias, eles mandaram recado aí p'ra internet, des qu' iam ver umas pedras mê estrambólicas qu' havia lá na Malhada Velha. Mái nã é esta aqui de Marmelete... É uma Malhada Velha que há além p' às bandas de Loulé - aquele sito adonde se vai à festa da Mãe S'b'rana.

'Tá bom de ver que, em tendo via, ê cá 'tô semp'e fêto p'a coisas dessas, más aquilo a coisa nã corré munto bem e chigô-se ô fim do tempo e a gente nã dé o nome. P'a melhor ser, à últ'ma da hora, lá par'cé a tal dita via e um homem fica sem saber o que fazer...

Abalar sem ter dado o nome era, béque-me, assim uma arção um coisinho p' ô fêo, mái, tamém, f'car im terra, com uma via ali às ordes, nã me calhava nada bem...

Digo p' à minha c'madre C'stóida, que 'tava im pulgas p'r que nã abalava:

Rochas da Malhada Velha - Loulé
Aqui, cada um d'zia a sua. Cobra, lagarto, cágado e, béque-me, dinossáiro..

- Nã sê o que faça c'madre... Tenho béque-me vergonha de par'cer lá assim sem mái nem quem, mái tamém me dá custo de nã ir, com uma via tã boa aqui à porta...

- Vamos, sa senhora, compadre. Que jête nã s' ir?!... Eles nã se l' hã-de par'cer mal, nã senhora. Atã uns môces tã porrêros...

- Cá p'r mim nã vô-me a banda nenhuma!... Nã gosto de fazer figuras... T'vessem dado o nome a tempo e horas... Quem é qu' as mandô fazer as coisas assim?... - Salta logo o compad' Jôquim, todo munto senhoril.

Vem a minha Maria im favor da c'madre:

- Ai nã se vai!... Era o que faltava!... Isso de nã dar o nome nã tem emportâinça nenhuma. Eles querem é q'ontos más melhor... Vamos e pronto!...

Ô certo, ô certo, é qu' elas foram, foram e lá convenceram o compad' Jôquim e, im menes dum foguete, já a gente lá ia tôdes a caminho.

E uma coisa ê l'es vô já d'zer: mor'ceu bem a pena. Nem que me matassem, me passava p'r a cabeça, d' ir dar lá com uma coisa daquelas... P'a quem 'tá ac'stumado a ver só aqui a Pedra da Zorra ó o Penedo do Buraco ó ôtras assim, aquelas têm que se l'e diga.

É uns padragulhos, uma coisa temente... Grandes e cada qual com o sê fêtio. Uns parêcem bichos, ôtres até quái que fazem alembrar famila e ôtres nem sê o qu' é que parêcem... Sê cá se nã sarão medos?...

Logo o pr'mêro, uns des que tinha jêto de ser a cabeça dum lagarto, ôtres que saria duma cobra, ôtres dum cágado e uma dôtora que p'a lá 'tava qu'ria, p'r força, qu' aquilo fosse um dinossáiro... E, calhando, saria... P'ra alguma coisa ela estudô...

Rochas da Malhada Velha - Loulé
Cá p'ra mim, iste nã passa sem ser um velho insombrado...

Más isto era só o pr'mêro... Despôs deste, inda demos com uma preçanada deles. Um, cá p'ra mim, nã tinha nada que ver... Era um macaco... O mê compadre inda se pôs a acossar a cabeça e béque-me e a desconfiar, q'ondo ê cá l'e disse isso. Más aquilo era um macaco, nã me venham com coisas... Um macaco daqueles gorilas...

O ôtro, quái de certeza, nã afianço, mái aquilo era um velho insombrado qu' andava a penar, pagando o que fez cá neste mundo... Um medo... Uma coisa assim... Más a minha c'madre C'stóida des qu' aquilo l'e fazia alembrar era um anão dos da Branca de Neve. Beh!... Pode ser que seja, mái nã l' acho munto jêto...

Foi-se andando p'r aqueles matos, era só baloisos e mái baloisos, qu' ê cá nã nos dô amostrado todos aqui... Olhe, um, lá mái adiante, tôdes d'ziam que era aquele passarão qu' o Benfica usa a pôr a avoar lá no campo da bola. Uma àiga. Mái 'tava lá uma moça que vêo do Porto e dá escola ali p'a Faro, disse logo:

- Uma áiga?!... Vá lá que seja um sapêro... ó um bufo... Os lampiõs têm p'a lá um bicho desses mái aquilo nã passa sem ser uma coisa comandada a pilhas. Nã é áiga denhuma, nã cudem...

Más ê cá digo e volto a d'zer, aquilo tinha jêto de ser uma áiga. Tinha sa senhora.

Logo ali mái pralàzinho, olho entremêo duns charavascos, vejo, béque-me, uma cabeça de gente. Logo, inda quái que panhí medo, dí assim um rafujão p'a trás e nã me contive:

Rochas da Malhada Velha - Loulé
Iste sará um homem de "Cro-Magnom", c'm' disse uma dôtora que p'a lá 'tava?...

- Tó diébe, o qu' é que 'tá p' ali escondido p' trás daquelas tôiças?!... Aquilo é uma cabeça dum...

- Adonde, adonde, compad' Refóias?...

- Ali... Nã vê c'pad' Jôquim?... P' trás daquelas moitas, em par do sol...

Diz logo o saganheta:

- Dá ares a si... O nariz... Aquela cachimóina comprida...

- Só s' a si!... Vá lá charingar ôtro!... Qu' ê saiba nã tenho a cabeça assim compridona c'm' àquele... E careca nã sô...

- Mái fez-me alembrar mecêa, o qu' é que quer?... Tal e qual, um dia destes, que vomecêa 'tava todo descrapuçado lá debaxo daquela sobrêra p' trás de casa...

Diz a tal dotôra, que 'tava logo ali arrumada à gente e nã tem nada em ter ôvisto a conversa toda:

- Cá p'ra mim, aquilo é um bom exemplar do "Homem de Cro-Magnom"...

- O qu' é qu' ela disse, c'padre?!..

- Sê cá?!... Falô p' ali num homem quasequer. Ê cá nã no conheço, nã me precure, qu' ê afianço que nã no conheço... Nunca ôvi falar dele. Isso há-de ser algum nortenho lá da terra dela...

Nisto, 'tava a gente munto bem sa senhora boa vida nesta conversa - bàxinho, 'tá bom de ver, p' à m'lher nã ôvir o que se d'zia - olhí àlém p' à frente, já o resto da famila 'tava tudo junto, num grande ôrío, à rés dôtra pedra tamém munto bem caçada. E, p'r o jêto, tem que se ter conta com ela...

Vô-me lá ô pé, ponho-me à escuta, d'zia a minha Maria:

- Ah, s' ele é lá isso, quem nã passa ali sô ê cá... Mecêa passa, c'mad' C'stóida?

- Ê cá?!... Nem pensar!... E se, despôs, nã dô voltado p' à banda de cá?!...

- Atão, tem aí alguma calêra ó covato que seja má de passar?... - Prècurí ê cá.

- Podem ir qu' a gente os dôs, despôs, puxame-se-as cá p'ra riba ôtra vez... Um pega num braço, ôtro nôtro... - diz o c'pad' Jôquim.

- Qual o quem?!... Nã é nada disso!... Vocês andam semp' aí desmandados e, despôs, nã ôvem a dexplicação das coisas... Nã é c'mad' Maria?...

- Nunca sã capazes de 'tar aqui ô pé da gente. Andam semp'e desviados... Se há vendas perto, é p'r que há e vã logo p'a lá b'ber uns copes, se nã há, é p'r que nã há e tamém nã param adonde pertence 'tarem...

Rochas da Malhada Velha - Loulé
Mái quem é que se astrevia a passar na Porta do Além, senhor?!...

- Jôquim, se t'vesses aqui ô pé da gente, c'm' ê te digo semp'e p'a 'tares, tinhas ôvisto o jêto d' a gente ter medo de passar p' à banda de lá. Mái tu nunca 'tás...

- E o meu é o mémo!...

- Mái atão, no fim de resto, nã passam p' à banda de lá premode quem? É alguma coisa que nã se possa saber?...

- Nã vês qu' isto aqui é a "Porta do Além"?!... Quem passa p' à banda de lá nã se sabe se dá voltado...

- E já algum desparceu?...

- Des que sim... Que já há quem tenha desparcido... Passaram p' à banda de lá e levaramn um sumiço que nunca mái ninguém os viu...

- Atã dêxa-me lá tirar já um retrato entes que vocês sejam todas ser ingolidas e ê cá e o compad' Jôquim nunca mái s' as veja...

- Ai tu abusas?!... Quêra Dés nã te calhe a ti!...

- Ê cá tamém tenho munto respêto p'r essas coisas, c'madre... Más o homens, já sabe...

Bom, a conversa inda durô munto más, mái ê fico-me p'r 'quí.

S' irem lá à Malhada Velha, uma coisa l'es digo: tenham munta conta com a "Porta do Além". Nã vã elas se dar...

E, p' ôs que quêram ver mái alguns retratos, acalquem aqui na galeria do passêo da Malhada Velha que 'tá lá tudo.

Tenham munta saúde, mês belos amigos.

1 comentário:

  1. N'ôve, atã agora que tá chegande a Fêra dos Enchides, na quer tar ca gente lá no recinte e buber à saúde da terra?

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