24 novembro 2008

Apoisô um grifo no telhado do mê compadre

Um Grifo em Monchique
Apoisô um Grifo no telhado do mê compad' Jôquim...

Este ano, fiz uma contrata com o mê compad'e Jôquim do Barranco. C'm' à gente já nã se pode grande coisa, qu' a idade já é munta, resolvé-se panhar uns madronhitos os dôs e fazer-se uma aguardentinha a mêas p'a se ter p' ô gasto da casa.

De manêras que, é o qu' a gente temos andado a fazer. E, olhe, já se vai com uma vasilha chêa e ôtra a mê caminho...

Más isto vem ô caso premode uma parte que se com a gente, um dia da semana passada. Vinha-se os dôs munto bem, cada qual com a sua sélha de madronhos ô ombro, à précura duma buchazinha p' ô almoço, desata-se a ôvir o canito do mê compadre numa grande ladrada.

Logo, cudí qu' aquilo era premode o ti Zé Caçapo "Verruma" vir logo à frente - qu' ele, nesse dia, dé uma manita à gente e panhô tamém uns dôs ó três baldes de madronho. Mái, c'm' o bicho nã se calava de manêra nenhuma, digo p' ô mê compad'e:

Um Grifo em Monchique
O ti Zé Caçapo quis-l'e dar uma pàzada na cabeça, más o bicho nã tirava os olhos de cima dele...

- Compad'e, mái atão o qu' é que se passa com o sê Lanzudo - é o canito dele - que leva p' ali a ladrar désna qu' a gente aqui chigô e nunca mái se cala?!...

- Sê cá... Há-de ser premode aqui o t' Zé... Nã sabe qu' ele 'tá-se semp'e a meter com o bicho? Ora, o cão nã no pode ver...

- Ai é p'r causa de mim?!... Nã é qu' ele é azedo que nem um raio... Mái, s' é pra mim, nã sê a r'zão dele 'tar só a olhar é àlém p'ra cimba do sê telhado. Calhando é carolho c'm' ô dono...

Aí, o mê compad'e Jôquim nã gostô lá munto da amenção - qu' o homem, graças a Dés, nã é carolho, nã senhora... - e béque-me ia já responder ô consoante ô ti "Verruma".

Mái, nesse mê tempo, a c'madre C'stóida que tinha vindo à rua mandar a gente s' aviar a ir pr' à menza, entes qu' o dec'merzinho arrefecesse, olha p' ô telhado e dá um eco:

- Ai, valha-me Nossa Senhora!... 'Tá um bicho àlem ô pé da ch'miné!... E a olhar po' ô galinhêro... Ai minha bela Bicosa qu' ele inda m' a leva!...

Um Grifo em Monchique
E dé um avoão...

- O que sará aquilo?!... Algum bufo?... - Diz o "Verruma".

- Qual bufo nem qual quem!... Aquilo é más é um sapêro. E grandalhão que nem um capacho...

- Sapêro?!... - dig'-l' ê cá.

- Pôs. Ó, atão, algum gavião...

- Gargaludo c'm' àquilo é?!... Nunca vi p'r 'í bicho assim... Más, olhe, vem ali o sê Zé Manel e ele é moço p'a tirar já aqui as temas todas qu' ele conhêce qualquer coisinha disso.

- Atã, prècure-l'e lá a ver o qu' é qu' ele diz...

O moço, atão, nem foi preciso a gente l'e d'zer nada. Repàirô que se 'tava tôdes d' olhos pôstos no bicho, pôz-se tamém a olhar e nã tardô nada salta logo com a dele:

- Vê-se logo que vocêas nã percebem nada disso... Inda ontordia eles 'tavam a amostrar b'charada daquela na tel'visão. É tal e qual uns qu' eles l'e ch'mavam grifos. Até, béque-me, d'zeram qu' uns eram grifos e haviam ôtros mái ó menes par'cidos ch'mados abutres...

- O quem?...

- Sa senhora. E os brasilêros têm p'ra lá uns que l'e chamam urubus...

- Ora, brasilêros... Esses saganhetas tinham que l'e pôr logo um nome desses...

- Nã fale mal dos brasilêros, compad'e Jôquim... Olhe qu' ê cá vô-me pôr isto tudo na internet e, despôs, eles podem parcer-se mal... E há uns centos deles que usam a vir aqui bispar isto tudo...

- Atã, diga-l'e lá a eles qu' ê cá disse isto a mangar...

Um Grifo em Monchique
Quái que perdé altura, mái baté ôtra vez as asas...

- Vejam lá s' o estapôr do bicho me leva é alguma galinha... Ai minha bela "Bicosa", qu' é uma poedêra do melhor qu' ê cá já tive!... E a galinhita-da-índia que tem pintaínhos... Vô-me já gôrdá-la im casa...

- Nã s' apequente, minha mãe, o bicho des que só come carne de bichos já môrtos...

- Fia-te nisso, C'stóida, fia-te... Nã tarda nada 'tás más é com uma galinha a menes... S' ê fosse a ti, prendi-às más era já...

- Lá 'tá mecêa, mê pai... Atã s' ê l'e digo qu' o bicho nã é cacenho... Na tel'visão afiançaram qu' eles só comem o qu' incontrem morto aí p'r esses charazes...

Salta o "Verruma":

- E tu acraditas nisso tudo, Zé Manel?!... Nã sabes qu' esses da tel'visão sã uns mintirôsos que nã se pode uma pessoa fiar neles?... 'Pera aí qu' ê já te digo o qu' é qu' ê faço...

Um Grifo em Monchique
E voltô caminho da gente ôtra vez...

E joga-se a uma vara de calitro que 'tava ali incostada à parede da casa, põe uma escaida im frente d' adonde o bicho 'tava apoisado, assobe uns dôs ó três degraus de pau nas mãs, tôdo fêto p'a dar uma pàzada no b'chinho. Arrulha-l'e o Zé Manel:

- Ó ti Zé, dêxe o bicho descansado, home!... Atã, que jêto uma coisa dessas?... Gostava que l'e fazessem o mémo e l'e tanchassem aí com um pau na lombêra, sem mái nem menes?...

- Na lombêra?!... Ê dô-l'e logo é na cabeça, qu' ele há-de cair de pantanas ali no mê do chão...

- Nã tenhas cudados, Zé Manel, qu' ele nã l'e dá acertado. Pensas qu' o bicho é parvo?... Tã penas o pau chegue lá p' ô lado dele, dá um avoão e vai-se imbora... E inda quem se vai dar mal há-de o t' Zé. Dêxa que já vês...

Um Grifo em Monchique
Inda cuidí qu' o marafado se jogava a mim...

E assim foi.

O ti Zé Caçapo com aquela enfluêinça toda d' acertar na cabeça do bicho, desquecé-se que 'tava im cimba da escáida. Sigura na vara com as duas mãs, vai p'a dar o porradão no bicho, ele dá dôs passinhos mái p'ra cimba, furta-se à vara e dá um avoão.

A vara bate na ponta do telhado e desliza p' à banda de lá... A escáida dá varêjo, ele larga o pau das mãs, dá um gangueão e, nã l'es digo nada, foi p'r um nadinha que nã baté a apèraja no mê do chão...

O grifo, esse atão, abriu as asas e lá foi prê abaxo com elas esticadas a ver se dava tomado altura. Más a coisa nã l'e corré assim munto bem, teve que bater as asas três ó quatro vezes, q'ondo não, inda apoisava, mémo sem qu'rer, num milho paínço qu' o mê compadre tem sameado no cantêro do mêo.

Aí, dé mêa-volta e vêo, ôtra vez, p'ra este lado. Quái até que me vi inrascado com ele, qu' o marafado, a certa altura, imbicô d'rêto a mim, inda cuidí qu' ele nã gostasse de f'car no retrato... Mái o qu' ele tinha no sintido era apoisar ôtra vez no mémo dito telhado do mê compadre.

Só qu' o parente "Verruma" inda lá 'tava de pau alçado ô pé da escáida e o bicho, que nã é parvo dum todo, barimbô-se nele, baté a asas mái uma vez ó duas e foi apoisar, mái pralàzinho, nas casas da ti Zabel Tomé.

Um Grifo em Monchique
Passados três ó quatro dias, andava ele a avoar já lá p' às bandas de Vila Nova...

E c'm' à gente tinha qu' ir panhar mái uns madronhitos da parte da tarde, dêxame-se-o da mão e foi-se bater o almocinho qu' a c'mad' C'stóida tinha lá p' à gente.

Passados três ó quatro dias, tive precisão d' ir a Vila Nova e, ali na zona do Porto de Lagos, puz o gargalo de fora da janela da camineta da carrêra e inda o vi a avoar à roda, já a uma bela altura, nã sê se à prècura d' algum bicho que p' ali 't'vesse morto ó se p'a s' ir imbora p'a ôtre lado, qu' aqui, calhando, nã dava governado vida.

Ó se nã era ele, era um parente dele que l'e dava muntos ares...

Tenham munta saúde e até um destes dias.

05 novembro 2008

O blog "Arranhí Pacanherra"

Blog 'Arranhí Pacanherra'
O blog dos "Pacanherros" é do mái completo que possa ser e haver...

Em me dando cobiça de rir um pôcachinho, tenho p'r c'stume d' ir devassar o blog duns môces que moram lá do lado de lá de Vila Nova, béque-me no Parchal. Nã é qu' ê cá os conheça lá munto bem, mái des qu' inda sã de familas aqui de Monchique, p'r menes, dôs ó três deles e, antão, inda mái festa me dá...

Já agora que falí nisso, inda agora m' assomí lá só p'à amostrar o mê compad'e Jôquim do Barranco qu' as coisas nem semp'e sã bem c'mo ele quer qu' elas sejam. É qu' o home, d' ora im q'onto, dá-l'e umas manias e toca de tem-mar qu' o qu' ele diz é qu' é verdade.

'Tava-se a gente munto intretidos, assantados méme aqui ni pial da minha rua, ele desbrugando um pero maláipo - nã sê adonde ele o desincantô qu' ele perêros daqueles nã tem... - e ê cá a olhar p' àquele serviço qu' o pero 'tava mái verde que sê cá o quem, vêo a conversa dos "Pacanherros".

Diz ele:

- Mái isso nã sã uns môces-pequenos qu' o mê Zé Manel já tem falado que põem p' aí umas parvoêras nessa coisa que mecêa fala, a intre... intre... nem ê cá sê bem o nome dessa mechas...

Blog 'Arranhí Pacanherra'
Isto é coisas qu' eles pôem no YouTube...

- Internet, c'pad'... Internet, qu' é adonde tamém 'tã aquelas coisas qu' ê cá faço... Cachamorra, que vomecêa, tamém, p'a aprender qualquer coisa...

- Olhe lá, atã s' ê cá nã fui à escola p' à aprender a nossa fala, quer qu' ê saiba d'zer esses nomes estrangêros?...

- Bom, mái dêxamos isso da mão... Os môces 'té que são bem caçados. De tanta parvoêra que dizem, qualquer um, q'ondo dá por ela, 'tá-se a desmanchar com rir... Se mecêa visse o qu' eles pintam...

- Eh'q!... Cá p' ô mê lado, nã sê, nã sê... P'a ê cá me dar festa só se ser uma coisa munto completa...

Más, olhem. Nem d' aprepósito, vinha o Zé Manel assomando à ponta da rua. Assim l'e bradí, logo:

- Ó Zé Manel, anda cá aqui qu' é p'a tirares umas temas com-migo e com o tê pai...

- O qu' é que vocês já 'tã pr' aí a empencer? Parêcem dôs môces-pequenos... semp'e a imblicar um com o ôtro...

- Olha lá, nã sabes aqueles môces lá de baxo do Algarve, lá do Parchal ó coisa assim?... Que tal achas deles? Nã sã bem caçados?

Blog 'Arranhí Pacanherra'
No "Áluim", os amaricanos fazem caras com abób'ras e velas...

- Quales? Têm algum conjunto que toca nos balhos?

- Nã, os do "Arranhí Pacanherra"... Aqueles que fazem umas coisas assim mê aparvetadas e pôem na internet... E já uma vez se meteram com-migo, os marafados... (veja aqui)

- Ah, esses?!... Isso sã uma classe!...

- Ê nã l'e disse, compadre?... Aquilo é qu' é uma coisa chigada ô qu' é bom...

- E tu que nã 't'vesses semp'e contra mim... P'ra ti, o c'pad' Refóias tem semp'e r'zão...

- Ó mê pai, nã é 'tar do lado deste ó daquele, é qu' ê cá aprecêo aquelas coisas qu' eles fazem. E mecêa veja e logo me conta...

- Ó Zé Manel, trazeste o tê comp'tador? Aquele daquela malinha?

- O mê "Magalhães"?

- Nã é o tê cão... Falo no tê comp'tador de mão...

- Ó ti Refóias, "Magalhães" é a marca dum comp'tador qu' o Governo, agora, distribói ôs môces-pequenos da escola e ê cá disse isto p'r graça. O mê cão é o "Mata-cães", premode ele morder munto nos ôtros, já nã s' alembra?...

Blog 'Arranhí Pacanherra'
Este "Pacanherro" é munto bem caçado...

- Atã, s' o trazeste, amostra lá 'í ô tê pai o qu' os "Pacanherros" fazem qu' a gente já vê s' ele gosta ó se nã gosta...

E o moço lá foi caminho do carro b'scar o "Magalhães" dele. Nã tardando nada, voltô com ele, inganchô-l'e p' ali uma peça qu' ele diz qu' é p'a panhar a internet im qualquer banda nem que seja ali no mê das sobrêras, e amostrô aquilo ô pai.

O homem, tem-moso que nem um pórco - isto nã é falar mal do mê compadre... é qu' ele, quái sempre, é méme assim. Mái nã l'e digam nada qu' ele ofende-se... - ô prencipo, fez-se munto sério e até olhava de lado e franzia o sobrolho.

- Mái atã, adonde é que 'tá a graça disto?!... E 'tô ê cá aqui a perder tempo...

Mái, tã penas eles fazeram lá aquela parte dum panhar um grande cagáiço com um espantalho, punhana!, nã s' aguentô, desata a rir, teve qu' amòchar...

- Ai, agora, já se desmancha a rir?!... Atã, des que nã l' achava graça...

- Só nã panhí munto bem foi aquilo do "Áluim"...

- O "Halloween", mê pai, é uma festa qu' os amaricanos fazem p'a lá - calhando nã têm castanhas p'a fazer magustos c'm' à gente aqui e, atão, à noitinha, andam os môce-pequenos de porta im porta a pedir escolates e rab'çados, vestidos de bruxas e de medos.

- Olha que grande coisa...

- A malta põe, quái tudo, umas abób'ras cortadas im jêto de cara com velas acesas drento e quem nã dar nada ôs môces, eles fazem-l'e uma parte.

Blog 'Arranhí Pacanherra'
Andavam os dôs, desincontrados. Cada qual panhô cá uma rabana...

- É qu' ê cá ia méme esperdiçar as abó'bras que tenho ali p'a dar ô mê "Trombão"... Era o que faltava...

- Olhe, p'a l'e d'zer a verdade, c'pad' Jôquim, 'té que nem gosto munto de dar abób'ras ôs mês porcos... Aquilo é decomer munto fraco. Saem abobrêros...

- Nã me diga isso, qu' inda nã foi além nenhuma porca ressaída qu' ele nã a cobrisse im condiçõs e desse sempre uma preçanada de bác'ros...

- Nã s' ofenda, compadre... Ê nã quis desfazer no sê "Trombão"... Aquilo, im barrasco, é do melhor que se pode incontrar... Calhando, sai ô dono...

- Bom, já mecêa c'meça com as suas...

P' ali me desculpí, nã fosse ele embrutar com-migo, e a conversa mudô d' assunto.

Mái, 'tã a ver? Até o mê compadre Jôquim do Barranco se desmanchô a rir com os "Arranhí Pacanherra". Agora vomecêas, que nã sã assim tem-mosos c'mo ele, s 'irem lá, logo me dizem que tal acham as partes deles... Cá p'ra mim, nã dã o tempo p'r mal impregue. Más a más, qu' eles, alguns, sã filhos de cá de Monchique

E fiquem-se com Dés, até ôtro dia.