15 novembro 2007

A Via Algarviana

A Via Algarviana
A Via Algarviana é uma v'reda désna d' Alcôtim até ô Cabo se S. V'cente...

Ê nã l'es disse, ontordia, qu' eles têm p' aí 'tado a fazer um caminho, p'r essas serras fora, désna d' Alcôtim até ô Cabo de S. V'cente?!... Atão, se nã acraditaram, aqui têm o mapa p'r donde ele vai passar e tudo.

Nã liguem é munto ali àquele traço a verde que fui ê cá que fiz p'r cima do ôtro, p'a se ver melhor, e, coisas fêtas à mão, inda p'r cima p'r quem nã conhêce, já se sabe que nã ficam lá grande coisa.

Mái lá p'r verem um traço tã grósso, nã cudem qu' aquilo é alguma estrada assim larga c'm' à Via do Infante... Aquilo é uma v'reda e, vá lá, de q'ondo im vez, uma carrelêra ó ôtra que lá se calha a panhar no mê do mato.

Pôs nessa tal noite das Corridas Fotográficas - p'a l'e ch'marem corridas, p'r o jêto os pobrezinhos hã-de ter que andar a tirar os retratos a fugir... - a famila lá da Almargem puseram-se ali com uma máquina, béque-me de cinema, e vá d' apresentarem umas imajas e explicarem tudo munto bem explicadinho lá disso da Via Algarviana.

Ê cá, que nã 'tava à espera, e a minha Maria o mémo, f'cô-se imbasbacados que nem parvos a olhar p' àquilo. Mái, contentes. Aí, ela volta-se p'ra mim, toda pespeneta, logo a querer mandar:

A Via Algarviana
P' à gente nã se perder aí p'r esses charazes, vã enxamear aí a Serra com estas tab'letas...

- Quem havera de d'zer... uma coisa destas... Agora já nã tens precisão d' ires lá p'a tã desviado andar no Caminho de Santiago... S' ires andar neste, 'tás semp'e perto do monte.

- O qu' é que tu 'tás p' aí d'zendo, m'lher... Atã, Alcôtim é perto daqui?!...

- Comparado com Santiago...

- Mái é que qu' ê cá só fui a pé désna do Porto... e inda fica mái perto do qu' a Via Algarviana.

- Ai mái perto.... Era o que faltava...

- Atã, olha lá bem p' ô que 'tá além a d'zer... Nã vês?... Lê lá além ô canto de baxo a soma dos quilómetros tôd's que são...

- Trazentos e tal quilómetros?!... Nã pode ser!... Aquilo 'tá inganado...

- 'Tá inganado, 'tá... Atã, nã vês que 'tá...

- C'm' é que pode ser uma lonjura dessas, diz-me lá!...

- Atã nã ôves o qu' o homem 'tá a d'zer?... Aquilo é p'a andar a correr os cerros tôd's, p'r os caminhos d' ôtro tempo. Tem-se qu' arrodear p'r munto lado... Más a más qu' ele há barrancos e r'bêros que nã se dã atravessado senã im certos pontos. Mòrmente no enverno...

- Com uma lonjura dessas, já nã vô-me contigo, nã cudes... C'm' é qu' ê cá dava agu-ento a andar assim tanto, senhor?!... Im menes de nada, tinha os pés chêos de roeduras...

A Via Algarviana
Aqui 'tá a tabela com as lonjuras dos catorze dias que se leva a andar de sito em sito...

- Ó m'lher, aquilo é coisa p'a se fazer com tempo. Nã vês qu' eles falam im duas semanas...

- Méme assim... Nã, nã, nã... Cá a filha da minha mãe é que nã cai nessa...

- Mái vô-me ê cá... Dêxa que logo vês... Tã penas eles aibram isso, lá vô eu que nem uma fita!.... Assim eles me convindassem p' à inaguração, qu' ê par'cia logo lá....

- E s' uma pessoa se perde aí p'r esses charazes... Nunca mái chega a lado nenhum... E, atã, agora qu' ele há p'r 'í barrancos - c'm' o ôtro que diz - d' adonde já nem Dés se dá visto...

- Nã tenhas medo que méme que se passe p'r donde o diabo perdé a mãe - Dés me perdoe... - ninguém se perde... Eles põem lá sinás p'r toda a banda...

- Quales sinás?

-Nã vês aqueles além fêtos de madêra? E os ôtres pintados nas pedras?... A gente vai olhando p' àquilo e sabe-se semp'e o caminho...

A m'lher, aí, lá sossegô um coisinho. Arrenjô foi, logo, ôtras agarras...

- Mái, méme assim, c'm' é qu' ê cá dô andado p'r lá tant' ô tempo, cerro abaxo, cerro acima, com estes calos qu' ê tenho aqui na palma dos pés... E as dores que se me põem aqui nas cruzes em ê cá andando assim mái um coisinho de ladêra acima...

De manêras que, se nã arrenjar p' aí ôtra companha, lá tarê qu' ir sòzinho. Com a minha Maria é que nã l'e vejo muntos jêtos... Nã vejo, nã senhora. Ela, em pondo uma coisa na cabeça, é má de se l'a dar tirado...

1ª Corrida Fotográfica na Via Algarviana
Isto já foi retratos qu' eles tiraram na Via Algarviana...

De modes que, as coisas 'tão assim. A Almargem e uma mêa-dúiza de Câmaras cá do Algarve - mormente da Serra - fazeram-se sóiços e tã tôd's encrençados em levar a Via Algarviana p' à frente. E levam. Qu' isto em havendo d'nhêrinho, mê belo amigo... tudo se faz. E ele des que tamém par'ceram p' aí umas empresas a dar um a'xilozinho...

Vamos lá a ver, agora, de vomecêas quem é que s' afitura a pôr-se ô caminho e vir conhecer o Algarve cá da Serra... A pé. Ê dig'-l'es já que vô-me. Mái dia, menes dia, em aquilo 'tando im condiçõs, ponho a trôxa às costa e desalvoroprê adiante...

Querendem saber mái qualquer coisinha a respêto disto, acalquem aqui nos sites da Via Algarviana e da Almargem.

Passen tôd's munto bem.

13 novembro 2007

Mái um Blog. De Monchique e Portimão!...

Blog 'Portimão & Monchique Online'
Isto são coisas do blog "Portimão & Monchique Online".

D'zeram-me, um destes dias, que já tinha par'cido p' aí mái um blog a falar, ô méme tempo, de Monchique e de Portimão.

Ora s' ê cá gosto de Monchique até mái não e de Vila Nova nã l'e fica atrás, f'quí todo sast'fêto... Más a más, que mecêas sabem qu' ê cá semp'e tive esta pàxão de ver tã pôcos blogs tanto dum lado c'm' do ôtro. Dos que prestem p'a alguma coisa, 'tá bom de ver, que ruins, c'm' alguns, é melhor não...

De manêras que, cá a mê uso, fui, caminho de lá p'a bispar bem o qu' eles já fazeram. E, dig'-l'es logo, gostí de ver. 'Tá bem qu' aquilo é uma coisa inda munto no prencipo, nã se pode pedir tudo logo, assim, de chofre, mái p'ras informaçõs que tenho, é caso p'a ir p' à frente...

Sã rapaziada nova - nã é cá c'm' Parente, que já vai do mê-dia p' à tarde - chêazinhos de ganas e marafados p' a levarem aquilo méme a precêto. E todos dôs de familas cá da Serra.

Pôs, atão, munta saúde e sorte é o qu' ê cá l'es desejo e que façam munta coisa boa p' à gente aprender qualquer coisinha e s' ad'vertir ô bem fêto.

E vomecêas, d' ora im q'onto, querendem, passem p'r lá a fazer uma visitinha, qu' ê cá vô-me fazer o mémo, p' ôs môços f'carem sast'fêtos e andarem emprensados com aquilo.

Fica-se combinados e até à vista.

12 novembro 2007

3ª Corrida Fotográfica de Monchique

3ª Corrida Fotográfica de Monchique
Os que ganharam 'tavam logo ali do lado d'rêto im jêto de serem bem vistos...

Uma tarde destas - já de noitinha, qu' isto agora os dias sã bem piquenalhos - 'tava ê cá munto descansadinho aqui im casa, sa senhora boa vida, já todo fêtinho p'a, mái logo, me rapimpar com o decomerzinho qu' a minha Maria 'tava fazendo e, despôs, calhando, vir até aqui ô comp'tador com as pantufas calçadas p'a nã m' arrefecerem os pés e, a seguir, m' ir dêtar com eles quentinhos, salta-me ela:

- Nã sê se já viste aí nisso - "isso" é c'm' ela chama ô mê comp'tador... - que, mái logo, aí das sês im diante, vã p' ali inagurar uns retratos na Galeria de S. Antóino... E têm p' a lá umas castanhas assadas e jiropiga.

- O quem?!... Atã... e só agora é que me dizes?...

- Cudava que tu já haveras de 'tar farto de saber... Nã há nada que nã me venhas d'zer que já viste aí nisso...

- Tal 'tá essa!... Vejo umas, ôtras não... Ó cudas qu' ê cá nã tenho mái nada que fazer que levar aqui assentado na frente disto, c'm' tu levas semp'e jogada a veres os romãinços todos da tel'visão?!...

- Pôs olha, quem me disse foi a c'mad'e C'stóida, inda agora, e, s' ela disse, é que lá sabe...3ª Corrida Fotográfica de Monchique

- Atã e agora?... Já ele passa das cinco, c'm' é qu' uma pessoa tem tempo p'a se despachar e chigar lá...

D'zer a verdade, gostava d' ir ver tudo o que lá 't'vesse, mái perder as castanhitas e a jiropiga é que me dava mái remórso...

- Dêxa lá, nã t' apequentes... Come ali qualquer coisinha, méme à pressa, que, nesse mê tempo, ê ponho-te a farpela toda p'a vestires e inda s' há-de chigar a tempo e horas... Q'ondo se voltar, logo se cêa.

- A tempo e horas... Só s' aquilo nã começar logo à hora qu' eles dizem...

- E nã sabes qu' eles nunca 'tã lá às horas marcadas?... Inda a gente se há-de fartar de esperar sabe-se lá o tempo...

- Calhava bem qu' isso fosse assim, mái nã taremos essa sorte... Ora se me t'vesses dito, com tempo, se nã 'taria e cá já pronto p'a abalar...

Mái, lá me dí p'r os conselhos da m'lher, c'mí p' ali uma côida de pão à pressa - f'cô-me tudo ingaiolado - com um conduto que já nem m' alembra, e fui-me vestir lá p' ô quarto da cama.

A marafada da minha Maria já 'tava despachada. Ê cá bem estranhí vê-la naquele estado q'ondo antrí im casa, mái cuidí qu' ela tinha ido à mercêria comprar fosse lá o que fosse e t'vesse chigado nã há nada de tempo...

Ora, ela já sabia daquilo tudo e, c'm' ê cá, só se nã puder dum todo, é que nã vô-me a estas coisas, a danada vesti-se logo a tempo e horas. E pintô os bêços e tudo... D' incarnado...

Bom. Mái dêxamos isso da mão...

Ô certo, ô certo, é que lá s' abalô, à rôpa toda, a ver se nã se chigava munto tarde, qu' é coisa qu' ê cá nã gosto de m' acontecer. Dá-me béque-me vergonha de chigar às coisas já mêo e a famila pôr-se tudo a olhar p'ra mim... o qu' é que mecêas querem...

E, olhem, até qu' a coisa nã corré assim munto mal. Chigô-se lá, já bem aí das sês e mêa p' ô lado das sete, 'tava bem munta famila - nada menes duma dúiza deles, contando com os dôtores e ingenhêros qu' iam apresentar aquilo, 'tá bom de ver... - mái, inda andava p'r lá tudo a bispar e, só dali a um belo pôco, é que desataram p'a lá com a lenga-lenga deles.

3ª Corrida Fotográfica de Monchique
Tã penas s' entrava, 'tavam logo uma preçanada de quadros com os retratos todos...

Más, olhe, ê gostí, ô bem fêto, daquilo e a minha Maria, atão, isso nã se fala... A Galeria de Sant' Antóino 'tava munto bem arrenjadinha, tinha as paredes chêazinhas de retratos e, cá na rua, inda 'tava um homenzinho a assar as tales castanhitas p' à gente se rapimpar com elas - e tamém com uns calcesinhos de jiropiga... - em aquilo acabando.

Verdade se diga, aquilo, as falas deles até que nã duraram assim munto tempo - o senhor Presidente béque-me tamém 'tava com um coisinho de pressa, qu' o homem havera de ter a cêa à espera - e, im menes de nada já tinham falado e intregado os prémos ôs que ganharam. Era assim uns papés que quái que davam ares ô mê diploma da quarta classe.

Qu' eles f'caram todos contentes, lá isso f'caram. P'r mái que nã fosse, com a gradessíss'ma salva de palmas que panhavam daquela famila toda... Qu' ele, agora, já se tinham ajuntado más uns q'ontos e, nã nos contí, mái já passava bem munto da tal dúiza que 'tavam ô prencipo..

Nã sê se já disse, calhando não, logo, inda pensí qu' aquilo era retratos duma corrida só. Mái, ô fim de contas, era más era de duas. Uma era a 3ª Corrida Fotográfica de Monchique e a ôtra era a 1ª Corrida Fotográfica na Via Algarviana.

E aí é qu' ê cá tive uma gradessíss'ma supresa... Quem m' havera de d'zer qu' eles 'tavam já a fazer aí um caminho désna duma ponta do Algarve até à ôtra - mái cá por a Serra, nã cudem... - p' à gente dar andado nem mái nem menes que duas semanas d' infiada sem ir a casa, senhor?!...

Pôs, fiquem certos que 'tão. E aquilo, p'r o jêto, já vai bem adiantado...

Mái, desse caso, logo l'es falo ôtro dia, em tendo jêto.

3ª Corrida Fotográfica de Monchique
Ele havia retratos p'r aquela casa toda, tanto se faz no piso de baxo c'm' nos altos...

Agora vejam lá se nã vã à Galeria de Santo Antóino ver aquilo tudo munto bem visto. 'Tá lá até 14 de Dezembro, das 14h00 às 18h00. Só ôs dias de semana... qu' ô Sáb'do e D'mingo, é p'a descanso.

É que cá im Monchique, c'm' no resto de Portugal, isto da cultura - museus, exposiçõs e coisas assim - é só p'a quem nã tenha nada que fazer. Os trabalhadores, esses mariolas... que s' advirtam p'r donde quêram... Ó atão, vâ à exposição, mái tirando um dia de trabalho p'r conta deles. Ninguém os proíve...

Já agora, nã l'es fazendo munto d'frença, vã-se entretendo com mái três ó quatro retratos. Acalquem aqui na Galeria da Corrida Fotográfica de Monchique.

E tenham munta saúde.

05 novembro 2007

Mái um Magusto im Marmelete

Magusto de Marmelete 2007
Se nã 'tô atribuído, este ano, béque-me inda 'tava mái famila im Marmelete qu' ô c'stume...

No pr'mêro de Novembro, quem é que pode passar sem c'mer umas castanhitas assadas, senhor?!... Ê cá é coisa que nã d'spenso...

E, agora, atão, que, tanto se faz no Alferce c'm' im Marmelete, a famila lá da Junta, tôd's anos, arrenjam sempre manêra de fazer magustos p' ôs de cá e p'a quem quêra vir de fora, sem ter de se pagar coisíssema nenhuma... Mái, nã cudem, é castanhas até fartar!...

Pôs, p'r os Santos, fui, ôtra vez, caminho de Marmelete c'm' no ano passado. Bem que me dava jêto dar 'tado nas duas bandas ô méme tempo, mái, c'm' nã dô, f'quí-me p'r 'lí. Nã vê, tamém é adonde s' ajunta mái gente da minha famila. Qu' amigos, isso atão, que vá a um lado que vá a ôtro, parêcem sempre com fartura...

Atã, e nã é que, este ano, o tempo 'tava qu' era uma classe... Cale-se aí!... Aquilo era sol qu' até se tornava quái um coisinho de más... S' um homem nã t'vesse qualquer coisa p'a tapar a cabeça, sintia-se logo ele quem-mar, e ô bem fêto...

Ora, aquela malta lá de baxo do Algarve, meteram-se nas vias deles e par'cé p'r 'í quái tudo. Ajuntô-se lá um gentío qu' era um d'sparate... Mormente, logo ali da bandinha de cima, ô pé das barrecas, chigô a um ponto que nem se dava andado lá.

Más ê cá e os mês camaradas nã fomos nisso. Abalô-se ali prê abaxo, naquela rua impinada d'rêto ô Povo, e toca de fazer o nosso magusto méme lá ô canto de baxo. E, par'cendo que não, semp'e se 'tava munto mái desafogados...

Magusto de Marmelete 2007
Olhem bem c'm' se faz um magusto...

Mái se cudam que se f'cô lá sòzinhos, assim quái desquecidos dos ôtros, 'tã munto mal inganados. À uma, qu' ele foi semp'e chigando famila e, despôs, qu' a gente levava-se ali uma cesta bem aviada com umas belas garrafinhas de madronho e havia munto quem l'e luzisse o olho p'r um calcesinho dela p'a desimbaçar das castanhas...

Más o qu' inda achí mái bem caçado era que, tã penas a gente punha um fexe de carquejas im cima das castanhas e se l'e tiçava fogo, assim se c'meçavam a aprochigar de tôd's lados e, im menes de nada, ajuntava-se logo ali uma matula que nã era brincadêra...

Uns, c'm' quem nã quer a coisa, já com um cartuchinho nas mãs, ôtr's com um pàzinho p' às puxar do fogo p'a fora sem se quem-marem, e, parte deles, de mãs a avanar, que dalguma manêra logo s' haveram de desenrascar.

Qu 'ele, a esse respêto, o mê parente Verruma - o ti Zé Caçapo - bem l'es fez lá uma parte qu' ê cá e tôd's q'ontos lá 'tavam com-migo e deram por ela, fartamos-se de rir.

Aquilo, o velho é munto marafado e 'tá semp'e fêto p'a sacanear os ôtr's. De manêras que tem semp'e d' arrenjar manêra de judear seja com quem ser. O qu' é que l' havera d' alembrar...

- Ó Refóias, nã ôves, atão estes estapôres, tã penas veêm as castanhas, inda mal ataloadas, jogam-se logo a tirar nelas que nem tampôco dêxam a gente atabafá-las...

- Nã vê, parente, isto é famila lá debaxo do Algarve nã conhêcem nada de castanhas. Só 'tã ac'st'mados é a comprar nelas lá na Fêra de S. Martinho ó na Fêra Franca...

- Atã e s'a gente l'e fazesse aqui a parte qu' eles hã-de-se barimbar?...

Magusto de Marmelete 2007
Que seja homem que seja m'lher, tudo pega num forcado e vá d' assar nelas...

- Veja lá o qu' é que 'tá pr' aí a arrenjar. Olhe que pode-l'e algum par'cer mal...

- Atão, e à gente?... Virem eles papar aqui as castanhas quái todas do nosso magusto, nã parêce mal?!...

Calí-me, a ver s' o homem l'e passava aquilo da idéa, nã fosse ele fazer p' ali alguma parte ruim e ê cá inda f'car no mê do tiro. Peguí no forcado, fui afêçoando o resto dos tojos qu' inda ardiam im cima das castanhas, achí qu' aquilo inda era pôco fogo, puz-l'e mái um punhado de carquêjas p'a drento.

Punhana, 'tavam munto secas, levantam-se umas alas que ninguém dava parado à roda daquilo!... Teve tudo que se desarradar dali ó f'cavam que nem um galo qu' a minha Maria chamusgô, ontordia, p' à gente c'mer com batatas no dia dos anos dela.

E inda foi sorte... Olhe que, com aquele fogo todo, as castanhas nã 'tavam desbelicadas, desatam a arrebentar, há uma que faz saltar uma brasa com uma tal força que, más um nada, inda quem-mava uma m'lherzinha que tamém 'tava a ver se, no mê daquela chusma de gente, inda l' acabedaria alguma castanhita assada.

A M'lher é que foi munto safa e, c'm' já 'tava com a pulga na orelha premode os estoiros qu' elas davam, dé logo um rafujão tal que quái que desingalgava pr' aquela calçada abaxo. Se nã é uma moça nova, qu' ali 'tava ô pé, l'e jogar logo a mão e sigurá-la com q'onta força tinha, nã sê munto bem adonde é qu' ela nã tinha ido aparar...

Calhando, alguns inda cudaram qu' ê cá fiz aquilo d'aprepósito, mái isso, atão, digo-l'es logo que foi sem sigundas intençõs. Calhô a vir assim uma arajazinha e aquilo alô mái depressa do qu' ê cá 'tava a fazer conta. Mái que foi sem maldade, foi.

Magusto de Marmelete 2007
Em se bebendo um calcesinho ó dôs, dá nisto...

Más o parente Zé Caçapo, em vendo aquilo, inda l'e dé mái aquela sezão de fazer a parte dele... Pôs-se ali munto amòrado, dêxô assar as castanhas, c'mé umas duas ó três, semp'e caladinho que nem um rato, puxô da faquinha "Sovi", tã velha que já de folha toda gasta, qu' ele usa na alsebêra - ê cá tenho uma "Icel" - desbrugô um pero marigomes e dé-me um pedacinho.

Nisto, volta-se p'ra mim:

- Nã é tarde nem é cedo!... Dêx' ôs lá esgravatar bem ali na cinza e tirarem as castanhas todas de lá, que já l'es dô o arroz...

- Parente, tenha conta com isso, veja lá o qu' é que vai p' aí fazer...

Disse-l'e ê cá, já sabendo qu' ele, q'ondo calha, é munto desabusado.

Ora, tã penas eles se desarradaram todos dali e foram caminho d' ôtro magusto, vejo-o pegar na forquilha e ir d'rêto às tôiças de tójo e de carqueja. Carrega com uma forquilhada delas ali p' ô pé do borralho - p'a d'zer a verdade, nã era bem borralho, era só já cinza e uns q'ontos cravanitos - e vem, ôtra vez ô pé de mim.

- Ó Refóias, nã tens aí o tê isquêrinho? Ó uma caxinha de forfes... tamém serve.

- Isquêro?!... Atã nã sabe qu' ê nã uso disso?... Ê cá nã fumo... Atã o qu' é que fez ô seu?

- Tenho aqui a alsebêra rota, o marafado caí-me p' ô forro das calças... Nã vês isto?!...

- Ó parente Zé, isso, assoprando ali num tição daqueles, acende logo fogo...

- Atã assopra lá tu qu' ê cust'-m' a dobrar. Faz-me lá esse jêto...

E ê cá, parvinho, inda fiz menção d' ir assoprar num tiçanito que p' ali 'tava p'a dar fogo ôs tojos, q'ondo nisto, vejo o marafado jogar as mãs ô forcado, vir com ele d'rêto à cinza e assim largar uma pàzada naquilo tudo.

Nã l'es digo nada. Se nã sô tã l'gêro a dar um salto p'a trás, tinha-me inchido todo de cinza, o raio do velho... Volto-me p'ra ele, um coisinho quái inzàinado:

Magusto de Marmelete 2007
As pessoas bonitas, méme tisnadas, sã semp'e bonitas...

- Ó seu... este, seu aquele, atã que conversa é essa?!...

- Nã me digas qu' o vento te jogô cinza p' à fúiça?!...

- Ah, foi o vento, seu...

- Sim!... Atã nã viste que foi uma manga de vento que passô aqui de repente...

Mái, 'tá bom de ver, aquilo passô-me logo a ravasca. Uma pessoa vai p' àquelas coisas é p'a rir e mangar. E, atão, tem-se que saber acêtar as partes dos ôtros, méme qu' elas nã sejam munto boas de gramar, c'mo esta do ti Zé Verruma.

Mái inda nã era isto qu' ele se 'tava preparar p'a fazer. Dig'-l' ê cá:

- Ó ti Zé, mái p'a qu' é que mecêa quer dar fogo ôs tojos, se nã tem aí castanhas denhumas p'a assar?... 'Tá parvo ó quem?...

- Cala-te aí, saganheta!... Nã digas isso de manêra qu' eles oiçam...

- Atã, que jêto?

- Dêxa que já vês... Arrenja-me lá ali manêra d' ê cá tiçar fogo a isto.

Lá abalí, fui ali mái aciminha, ô magusto duma famila qu' ê nem conheci e pedi fogo. Trusse uma tôiça de carqueja a arder e integuí-a ô velho Verruma.

- Queres ver c'm' é qu' a gente l'e faz a parte, olha só p'ra isto...

E vá de dar fogo ô magusto dele - sem castanhas nenhumas, 'tá bom de ver - e más qu' aconchegava as brasas p'a um lado e p'a ôtro, fazendo de conta que tinha castanhas lá p'r baxo. Dali a um pôcachinho, aprochegava-se um. D' ora im q'onto, vinha mái ôtro. Até qu' o fogo s' apagô e f'caram só as brasas. Volta-se p'ra mim e arrulha munto alto:

- 'Tão assadas. Já se podem c'mer!... Nã nas dêxem arrefecer!...

Ora, jogaram-se tôd's a esgravatar no mê dos tiçõs... Aquilo era cinza p'a um lado, brasas p'a ôtro e castanhas... nem vê-las...

Ê cá desandí logo assim ali p'a um canto, nã fosse eles pensarem que tinha sido trabalho meu. Ele vem atrás de mim, incosta-se ô mê lado, desata numa galhofa qu' ê nã me dí sustido e vá de rir tamém.

- Atã nã qu'riam castanhas assadas?!... Escrafunchem à vontade qu' hã-de dar com muntas...

- Cale-se pr' aí, parente... Olhe qu' eles inda l'e parêcem mal...

- Nã tenhas medo qu' isto é c'm' no carnaval... ninguém leva à mal...

Pôs os pobrezitos ramexeram, ramexeram... estramalharam aquilo tudo e nem uma castanhita p' à amostra...

Magusto de Marmelete 2007
Já ele era lusco-fusco, inda a gente p'r lá 'tava e a festa durava im forte...

Nesse mê tempo, já ele era lusco-fusco, andava tudo de cara tisnada que mal se via os olhos luzir, as garrafinhas de madronho iam do mêo p' ô fim e já nã se tinha barriga p'a tanta castanha... Que, lá nisso, a Junta de Freguesia de Marmelete nã teve mãs a medir. Apresentô castanhas até mái não... E inda a festa 'tava p'a durar.

Más ê cá fic'-me p'r 'quí, que já chega de palêo.

Dando-se o caso de gostarem de ver mái alguns retratos do Magusto de Marmelete, acalquem aqui na Galeria do Magusto. Se quererem vê-los no YouTube - mái já sabem que sã munto mái desenxabidos - é aí à frente. Acalquem duas vezes:

Dés l'es dê saúde.