19 dezembro 2010

O Jornal de Monchique faz anos

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Atã nã é qu', ôs 25 anos, o Jornal de Monchique já saíu 327 vezes cá p'ra fora?!... E 'tá p'a durar...


'Tive aí num certo sito com a minha Maria e, isto, as m'lheres, já se sabe c'm' é qu' elas são. Nã há coisíssema nunhuma qu' elas nã dêem notiça. De manêras que trôve logo uma nova p'a me dar, tã penas chigamos ô monte.

Nã é que seja coisa do ôto mundo, mái, d'zer a verdade, tem que se l'e diga. É qu' o Jornal de Monchique, chigando ô dia 21 deste mês, faz anos. E já tem uma bela conta, nã cudem... P'ro jêto, des que são já vinte cinco.

- S' acuaso isso é assim c'm' tu dizes, Maria, é certo e sabido qu' o chefe lá daquilo nã dêxa perder um atopo desses sem fazer uma festa de tôd' ô tamanho...

- Atã, e nã é caso p'ra menes. Já tenho ôvisto falar qu' ele parceram por 'í muntos jornás, daqueles que fazem lá im Lisboa e nôtras bandas, que nã duraram esse tempo todo...

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Tôdes meses, cá vem ele. Nunca falha...


- Calhando...

- E sará qu' ele, lá o chefe do Jornal, s' alembrará cá da gente? P' a s' ir tamém à função...

- Nã querias mái mel texugo?!... Logo, que o qu' ê cá tenho ôvisto é que o Jornal nã tem lá grandes posses p'a coisas dessas, e, despôs, que, mémo que t'vesse, o senhor dôtor Zé Gonçalo nã no ia consumir com a gente. Atã assim, ia a famila aí toda de Monchique...

- O senhor dôtor Zé Gonçalo?!... Atã é ele que manda lá naquilo?...

- Cudo que sim. P'r menes é o que diz no Jornal: 'Director: Nobre Duarte'...

- Olha!... E ê cá a cudar que era o ôtro senhor dôtor, tamém da méma farmácia...

- Quem? O senhor dôtor Zé Manel?... Esse, béque-me, tamém manda lá bem munto, sim...

- Atã isso sabe-se... Já rapairaste quem é que escreve sempre, logo na sigunda lauda, umas coisas daquelas que têm que se l'e diga? Eles, se nã 'tô atribuído, chamam-l' 'editorial' ó uma coisa assim...

- Mái, nôtres tempos, béque-me nã era ele. Calhando, ora é um, ora é ôtro...

- Dos que mandam, em dôtores, só falta o senhor dôtor Paulo Rosa, qu' o senhor Carricinho, cudo ê cá, nã é tal coisa...

- Pôs não, mái sabe mái que muntos... Foi ele que insinô parte dos que, agora, sã dôtores. Essa é qu' é essa!...

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Mal se vê, mái 'tá ali a famila toda que faz o Jornal de Monchique...


'Tava ê cá e a minha Maria, sa senhora boa vida, no mêo desta conversa, logo pracàzinho da casola dos coelhos, soô, parêceque, uma rasmalhada ali p' trás dumas tôiças. Calamos-se e vá de s' ingrilar p'a lá a ver o que era.

Ora o que era. Era o 'Lanzudo'... O 'Lanzudo' é o canito do mê compad'e Jôquim do Barranco, um b'chinho, aquilo que se pode ch'mar uma coisa bonita. Todo branco, todo cabeludo, azedo do pior em 'tando ô monte, e nã pode ver nada mexer que joga-se logo.

E s'o 'Lanzudo' 'tava ali, era qu' o dono - ó a dona... - tamém nã 'tariam munto desviados. Bem dito, bem fêto, assim chigaram logo os dôs atrás dele.

´Tejam com Dés, venham com Dés, c'm' é 'tão, c'm' é que não 'tão, lá se falamos todos c'm' é dado. Volto-me ê cá p'a eles os dôs:

- 'Tava-se a gente aqui a falar qu' o Jornal de Monchique já há vinte cinco anos que começô. Vejam lá c'm' o tempo passa a fugir. Parêce que foi ontordia...

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Faz uns tempos, nã sê o qu' é que l'es deu, desataram a pôr aqui as patacoadas do Parente da Refóias...


- Tó, diacho!... Já vinte e tal anos!... Pôs ê cá, mémo nã sabendo ler quái nada, arrecebe-o désna do prencipo. Gosto de saber aquelas coisas. E a minha C'stóida tamém...

- Sim tamém vejo quái sempre os retratos da famila que morreu e isso tudo...

- Atã e nã tem lido tamém aquelas patacoadas cá do Parente da Refóias qu' eles, faz uns tempos, desataram a pôr lá?

- Ê cá nã tenho vagar pra isso, compadre... Vejo os retratos e já é munto. O qu' é vomecêa cuda?... E p'a ôvir as suas patochadas nã tenho precisão de ler o Jornal de Monchique. É só vir aqui e ôvi-lo falar...

Aí, calí-me, qu' a minha c'madre C'stóida nã vinha de munto boa avêa e nã fosse a gente impinar p' ali os barretes.

Mái, voltando ô Jornal de Monchique, indo gostava dele fazer más ôtros tantos anos e ê 'tar cá p'a ver. Ah isso gostava! E s' isso nã se dar, tenho a firme certeza que nã é p'r o Jornal ter desparcido. Ê cá é que já fui fazer uma viaja só com bilhete p' à banda de lá...

Parabéns ô Jornal de Monchique e à famila qu' o tem fêto désna d' há um q'ortêrão d' anos até agora. Aguentem-no até o mê-cento, p'a nã pedir, logo, até ô moio.

E Dés l'es dê saúde.

03 dezembro 2010

Galeria de Santo António nã se nega ô puxo...

Exposição Retrospectiva Rui André na Galeria de Santo António - Monchique
Im Ôtubro, foi o Sr. Presidente Rui André qu' amostrô os sês lindessíssemos trabalhos dele...


A Galeria de Santo Antóino, agora, dé im pôr lá desenhos, bonecos, retratos e coisas assim p'a toda a gente ver, que nã se passa quái mês nenhum que nã parêça quasequer coisa de novo. É c'mo ôtro que diz, 'dé-l'e p' ali e nã se nega ô puxo'...

Agora o que mái me dêxô imbasbacado foi que, aí em prencipos do mês passado - ó saria inda entes do Banho do Vinte Nove, nã m' alembra bem - arrecebi um convite, lá p'r mêo daquela coisa que 'tá agora munto na moda - o Facebook - p'a m' apresentar lá, num certo dia, premode uma inaguração.

Mái nã cudem. Nã era uma inaguração p' aí dum artista qualquer... Logo, até béque-medí bem p'r ela, mái a minha Maria, que nã dêxa passar nada, q'ondo ê cá l'e li aquilo im voz alta, voltô-se p'ra mim, toda munto pespeneta:

- Rui André?!... Foi Rui André que tu d'zeste? Olha lá, atã isso nã sará o Presidente da Cam'bra? Ó home, olha que nã tem nada im ser ele mémo... Rui André, Rui André... Nã dô p'r haver aí mái ninguém com esse nome... Lê lá ôtra vez...

Exposição Retrospectiva Rui André na Galeria de Santo António - Monchique
E falô um belo pôco p'a quem l'e quis ligar. E era-se uma bela manchinha deles, nã cudem...


Ê cá, assim de mimento, f'quí um coisinho insarampantado, que nã 'tava a contar. E tamém, parvo, nã li logo aquilo tudo até ô canto de baxo. Que, s' ê cá t'vesse lido désna do prencipo até ô fim, 'tava tudo logo lá d'zendo... Qu' era o Senhor Presidente da Cam'bra de Monchique, um moço inda assim p' ô novo, que nã há ôtro nas Cam'bras todas com menes anos, que gosta munto daquelas coisas da arte, e más isto e más aquilo, e coisa e tal...

De manêras que, a m'lher terminô, logo ali naquele mimento, c'm' é qu' as coisas haveram de ser. A pr'mêra foi que chovesse ele ó qu' aventasse, nã passava sem ir lá nesse tal mémo dia da inaguração. E, em ela pondo uma coisa à idéa e d'zendo, tenham a firme certeza qu' é assim que tudo se vai dar...

Más a más, qu' aquilo, p'ro jêto, prantam sempre lá alguma coisinha p' a dar ô dente. E p'a molhar o bico tamém. E, aí, já nã é só ela que 'tá ent'ressada. Tamém ê cá 'tô... E quem é que nã 'tá, ham?!...

E, d'zer a verdade, foi-se os dôs e a coisa passô-se tal e qual c'm' 'tava pensada. E p'ro jêto qu' ê cá vi lá na famila toda, f'cô tudo imbêçado com o que lá viram. Foi retratos do melhor, foi desenhos, foi tudo...

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Com respêto à Amália, hôve quem d'zesse logo: "C'mo isto nã há..." ...


Passado um mês, eles ôtra vez de roda de mim e da minha Maria p'a s' ir a ôtra inaguração lá no mémo sito... E com respêto ô quem? Desta vez, li logo tudo e fui ê cá que disse, de rompante:

- Olha, Maria, agora temos ôtra. E vamos tamém!.... É da Amália Rodrigues, m'lher!...

- Da Amália?!... Que bela lembrança qu' eles t'veram!... Ai s' ê cá gosto d' ôvir a Amália... E a c'madre C'stóida tamém de perde p'r ela.

- Mái que conversa é essa, Maria?... Bem sabes qu' a m'lher já morreu faz mái de dez anos. Aquilo vai ser uma coisa p' à gente s' alembrar dela.

- Atã e nem tampôco põem lá umas cantigas dela?... Uns fadinhos, uma coisa assim?!...

- Ah, isso, calhando, põem. Nã digo que nã ponham, nã senhora... Ô méme tempo qu' uma pessoa vê os quadros, vai-se ôvindo umas modas. É de c'stume eles pôrem música im quái tudo, tamém nã há-de ser desta vez que nã põem...

E puseram. Puseram, qu' a gente foi-se lá os dôs e más a c'madr'e C'stóida e, ainda s' ia a assubir as escaidas da antrada, já ele soava p'ra lá p'a drento a Amália a cantar um fado qu' era um consolo.

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Ajuntô-se um poder de famila na inaguração...


Mái uma coisa l'es digo ê cá. Até f'quí quái abismado com o que lá vi. Logo, qu' as coisas que lá 'tavam p' à gente ver tinham que se l'e d'zesse, e, depôs, a chusma de famila que lá s' ajuntô p'a ver aquilo.

E isso tanto se faz da pr'mêra vez, q'ondo foi o Senhor Presidente a apresentar as suas coisas dele, c'm' da sigunda, qu' eram p' aí coisa duns vinte artistas, perto ó certo, todos a amostarem qualquer coisa que fazesse a Amália Rodrigues vir à nossa mimóira.

E, p'ro jêto, inda lá 'tão!... Qu' ele des que aquilo vai durar até p'rô ano que vem. Na 'Agenda de Monchique' vem d'zendo que só acaba no dia nove de Fevrêro, vejam lá! Dá bem tempo p'a ninguèm se poder quêxar de nã ir lá. Qualquer um, querendo, vai. Inda p'r cimba, nã se paga nada, que, na Galeria de Santo Antóino, é tudo d' amor em graça.

E nã l'es parêce bem assim? A mim parêce-me. E à minha Maria tamém. Já o ti Zé Caçapo, aquele mê parente que tem o anexim do 'Verruma', que tamém lá par'ceu mái nã aprecêa nada daquilo, cuda que não. P'ra ele, aquilo devia de ser de paga à antrada:

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Ele até havia quem f'casse um belo pôco im frente de cada desenho...


- Atã isto tem algum jêto, agora, a Câm'bra 'tar a gastar, todos dias aqui uma remessa de d'nhêro só p'a esta estrangêrada vir aqui se fazerem d' emportantes?!...

Esta conversa passava-se cá fora, ô pé da porta da rua, qu' ê cá e a minha Maria tinha-se vindo cá fora panhar ar e o ti Zé Caçapo, chigô naquele mimento, já atrasado, c'mo é uso dele.

- Qual o quem, primo Zé!... - d'zia-l'e a minha Maria.

- Ai qual o quem...

- A Cam'bra nã gasta quái nada com isto. Foi méme o Senhor Rui André, o Senhor Presidente, que me disse. A Cam'bra só dá a casa, o resto é com os que organizam a exposição. Atã e diga lá, isto é só estrangêros?!... Ê cá o que vejo ali é tanto estrangêros c'm' famila de cá. Assome-se lá bem ali p'a drento...

Ele assomô-se. Olhô, olhô e lombrigô aquela menza qu' eles usam a pôr lá com uns comes e bebes, coisa pôca, mái, c'm' ê cá disse logo no prencipo, semp'e se molha o bico e dá-se um coisinho ô dente. Aí o homem mudô logo de fêção.

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Em 'tandem pôcos a ver, aprecêa-se melhor...


À uma, que 'tavam lá umas garrafas de vinho branco que ele atribuíu que sariam de madronho, qu' é o qu' ele gosta más, e, à ôtra, que tamém viu logo que nã era só estrangêros que lá 'tavam.

E isto p'a nã falar do garreão qu' ele ôviu da minha Maria, logo a seguir, premode ter antrado assim, de rompante, caminho dos comes e bebes. Nem falô a quem lá 'tava, jogô-se a c'mer de tudo o que viu im cimba da menza e bobida foi até mái não. A m'lher f'cô méme inzainada...

Más isso, agora, nã enteressa. O que l'es posso d'zer é que, aquilo, 'tão lá coisas que nã se podem perder de ver. Méme quem ande com o governo munto impeçado, qu' isto, neste tempo, já anda tudo a afêçoar o sapatinho p' ô Dia de Festa, nã dêxe de tirar uma bêradinha de tempo p'a dar lá uma fugida. Despôs, nã digam qu' ê cá nã nos avisí...

E, querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria dos Vídeos do Parente da Refóias ó nas Galerias da Exposição Retrospectiva Rui André e da Exposição Colectiva Amália Meu Amor.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

E até qu' a gente se veja.