22 abril 2010

O Sapo-Comum (bufo bufo)

Sapo-comum (bufo bufo)
A minha c'madre C'stóida des qu' os sapos dã olhado...

Em chigando esta altura do ano, uma pessoa nã pode ir pr' à banda d' adonde haja uma pôça d' água que nã ôve ôtra coisa qu' os sapos a fazerem barulho. Quer-se d'zer: más as arrãs do qu' ôs sapos, verdade se diga. Más ê cá, desta vez, vô-me l'es falar dos sapos e dêxo as arrãs de fora.

Ontordia, 'tava-se p' ali im conversa premode a b'charada, nã sê quem é que foi buscar a conversa dos sapos. Nã foi preciso mái nada, a minha c'madre C'stóida f'cô logo im pele de galinha. Aquilo, nã pode ôvir falar im sapos e cobras, a m'lher insêa-se logo toda... E marafa-se:

- Mái atão vomecêas nã têm mái nada im que falar?!... Nã sabem qu' isso dá olhado?!... Até já tenho os cabelos im pé...

E olhô p' ô céu e benzé-se:

- Seja lôvado Nosso Senhor Jesus Cristo e sua mãe Marí Santíss'ma!...

Sapo-comum (bufo bufo)
Nesta altura do ano, adonde há água há sapos...

Más aquilo a famila gosta é d' incher o papinho, inda p'r cimba 'tava o ti Zé Caçapo, semp'e danado p'a sovinar os ôtros, nunca mái largaram o assunto. O parente Caçapo, atão, - a gente, em ele nã 'tando a ôvir, ch'mamos-l'e "O Verruma" - tanto zurzilô, tanto zurzilô qu' a m'lher, a certo ponto, teve que fugir p' à cozinha.

D'zia o parente "Verruma":

- O últ'mo qu' incontrí, peguí numa varinha, aquilo foi um remed'o santo... Daquelas varinhas bem fininas de saíço... fui-l'e dando com ela, pateô num 'stante...

Salta o compad'e Jôquim do Barranco:

- Vomecêa tem p'r c'stume 'tar sempre fazer porra com os ôtros, mái nã l'e esqueça que há quem diga qu' isso é verdade. Des que l'e dando com uma varinha fina eles esticam logo o pernil...

- Pôs foi o qu' ê cá fiz. À sigunda varadinha já ele tinha um palmo de língua de fora...

Mintira... Qu' ê cá nunca vi o homem fazer mal a criatura nenhuma q'onto más a um sapo qu' é um bicho que mal nã faz a ninguém, só-se bem...

- Ó ti Zé, mecêa com essa nã m' indròmina qu' ê cá nã vô nisso. Atão, inda faz pôco tempo, 'teve a falar com-migo e des que bichos desses q'ontos más melhor lá nos sês cantêros...

Sapo-comum (bufo bufo)
O parente "Verruma" nã sabia mái os sapos vão p'a drento d' água p'a cobrir as sapas...

- Ê cá disse isso?!...

- Pôs disse... E tamém alomeô os perquéns... Des que lesmas e ôtra b'charada que l'e ingassem lá às suas bejoarias os sapos que lá tinha faziam-l'e a folha...

- Ehq, mecêa, tamém, podia 'tar calado e nã me descobrir a careca...

- Que jêto f'car calado s' ê cá sê munto bem qu' os b'chalos fazem tanto jêto à gente... E nã fazem mal nenhum. Olhe, cá p'ra mim, cada um que vejo é uma festa. Já sê que nessa nôte é menes uma preçanada de lesmas a me c'merem as alfaiças...

- Más olhe qu' eles dã olhado... Aprecate-se qu' a prima C'stóida tem r'zão. Eles dã olhado...

- Olhado dá mecêa...

- E ôtra coisa: Tenha munta conta nã se apròchegue munto p' ô pé de nenhum qu' eles tamém usama m'jar p' ôs olhos da famila...

- Só-se!...

Salta, ôtra vez, a c'mad'e C'stóida:

- Mijam, mijam. Mijam, sa senhora. A minha avó, que Dés tem, bem d'zia. Uma ocasião hôve um homenzinho lá p'r baxo dos Três Figos, inda no tempo dos avózes dela, que dêxô de ver premode isso. Des qu' um sapo l'e fez xixi p' às vistas...

- E mecêa conheci-ô? Pobrezinho dele...

Sapo-comum (bufo bufo)
Os ovos saem do rabo da sapa logo num cordão...

- Nã no conhecia... Atã, nã disse logo que a minha avó é que me contô e isso passô-se no tempo dos avózes dela?...

- Ah, atã assim já fico mái sossegado. Des que, nestes anos todos, tem desparcido munta bicharada - assim c'm' aquele gato brabo que l'e chamam o lince ibérico - calhando esses sapos que faziam isso tamém já se desluziram. E, dessa manêra, já nã tenho qu' andar em cudados...

- Nã goze...

- Agora por isso, inda ontontem - ó se nã foi ontontem foi há uns dias - vinha ê cá ali ô rego do tãinque grande prê abaxo, 'tavam dôs lá drento qu' era um desparate. Par'ciam duas gorpelhas...

- Drento do rego?!... Isso eram arrãs, parente... Atã os sapos andam cá drento d' água!... Eram duas arranitas e, calhando, piquenalhas...

- Ai eram duas arrãs... Atã nã sabe que os sapos cobrem as sapas drento d' água?... E elas põem logo lá os ovos p'a narcerem os sapo-sapinhos. Veja lá aqui uns retratos qu' ê cá tirí...

- Atã, amostre lá...

Ovos do sapo-comum (bufo bufo)
Calhando a ver uns cordõs destes drento d' água, já sabe que sã ovos de sapa...

- Nã vê?... O sapo a cobrir a sapa e os ovos a l'e saírem ali do rabo dela que parêce um cordão nã sê do quem... É dali que, e despôs, saem os tales sapo-sapinhos...

- D'zer a verdade, já tenho visto aqueles cordõs aí nas r'bêras, mái cudava qu' aquilo era coisa só das arrãs. Dos sapos nã sabia... Mái isso nã taria sido eles que, com a brama, caíram p'a drento do rego e tavam-se a afogar?...

- Chame-l'e isso, chame... Eles fazem semp'e aquilo da méma manêra. Lá cuda que foi a p'remêra vez qu' ê vi tal coisa... Désna de moço-pequeno qu' ê conheço isso... Mecêa é qu' é um nenço que nã sabe nada de nada... Nã é verdade, compd'e Jôquim?

- Ora se é... Tem semp'e a mania d' andar a sovinar nos ôtros, mái, vai-se a ver, im certas coisas, nã sabe coisíssema nenhuma. Sabe menes que...

- Olhe, qu' o sê burro, o "Larga-Traques"...

- Lá isso, nã sê, nã sê... Olhe qu' o mê "Larga-Traques", ê cá venho de qualquer banda, amonto-me nele, siguro na arreata, dig'-l'e:

Sapo-comum (bufo bufo)
Um bicho destes q'ontas sapas é que já nã cobriu, senhor?...

- Vamos imbora, "Larga-Traques". Vamos p' ô monte.

- E ele vai? Mái mecêa tem de l'e ir insinando o caminho...

- Alguma vez?!... Posso-me pôr a dromir im cimba da albarda qu' ele invreda, seja de nôte ó de dia, e, im menes de nada, 'tá à porta da arramada... Aquilo é um bicho de estimação, nã cude. Inda mecêa podia narcer ôtra vez que nunca havera de possuir um animal destes, assim tã sabido...

E c'm' à conversa passô dos sapos p' ô burro do mê compd'e Jôquim do Barranco, já nã enteressa à gente. De manêras que, assim me despeço.

Até qu' a gente se veja e Dés Nosso Senhor os acompanhe.