24 maio 2007

O Moinho do Poucochinho

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
Visto daqui, o Moinho do Pôcachinho quái que parêce a brincar...

Visto daqui o Moinho do Pôcachinho béque-me parêce dos de brincadêra, mái vã lá ver d' ô perto e, despôs, logo me contam que tal... Têm é que se pôr a fancos que, p' ô darem visto, só no Dia da Espiga é qu' ele usa a 'tar aberto e a moer pão.

Foi o que se a semana passada, q'ondo uma preçanada de famila foi à missa campal ô Barranco dos Pisôs e, no fim de resto, f'cô-se lá a c'mer os farneles uns dos ôtr's e a provar uns calcesinhos daquilo que par'cesse. Fosse ele vinho ó aguardente.

Quem nã par'cé p'r lá nã sabe o que perdeu. E já nã l'es vô falar da função qu' a gente lá se fez que já falí um destes dias, nem na missa, nem no balho, nem im coisíssema nenhuma dessas. Desta vez é só p'a falar da parte da azenha qu' aquilo tem que ver. Ninguém diga que não, que tem.

P'ra mim, só foi mal empregado qu' a minha máquina dos retratos pifrô - e vejam lá qu' inda nem um ano tem... - e, atão, agora nã tenho ôtro reméd'o senã governar-me com a ôtra que p' aqui tenho, já quái do tempo do comboio a cravão.

E os marafados lá da Canon, im Lisboa, des que levam umas belas semanas a arrenjar aquilo... De manêras que, vô-me p' aqui amanhando, màlamente, com esta e vomecêas nã estranhem dos retratos serem um coisinho inda más enferiores do qu' usavam a ser.

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
Méme assim, a roda da azenha inda 'tá uma coisa munto bem amanhada...

Pôs, mês amigos, uma azenha a trabalhar é uma coisa que já é d' adregue se ver, hoje im dia. E esta aqui, s' atribuído nã 'tô, só trabalha um dia no ano. E é p' à amostrar à famila c'm' é qu' a coisa era nôt's tempos.

E esse dia é a Quinta-Fêra d' Às-sunção, Dia da Espiga, um dia tã emportante cá im Monchique qu' é só o dia qu' as criadas dizem a verdade às patroas e qu' a Cambra até fez dele feriado p' à gente se poder ir p' ô coçáiro à vontade, vejam lá...

E já o ano passado nã tive jêto de lá ir, más este ano, disse logo à minha Maria:

- Aprecata-te, Maria, que este ano o Dia da Espiga é p'ra ir ô Barranco dos Pisõs... Nem qu' ê tenha que dêxar o serviço todo em mêo, ninguém me faz perder uma coisa daquelas...

- Ó homem, quem é que t' impata?!... Já que queres, assim tanto, ir, dêxa lá que p'r mim nã perdes via. E farnel tamém nã há-de faltar qu' ê cá, de béspra, faço logo tudo o que tenhas míngua...

- Isso fica a tê carrego. Mái, verdade que se diga, tamém nunca m' invergonhaste p'r minha culpa, que levas semp'e decomer com fartura e coisas bem arrenjadas à tu manêra...

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
E, em o molêro soltando a água, é arradar de lá d' ô pé ó toma-se banho méme sem qu'rer...

Pôs, assim que sube qu' eles iam pôr o moinho a trabalhar, já nâ desarradí pé qu' ê cá nem p'r nada que perdia um trabalho desses.

Punhana, assim que soltaram a água, ai do que 't'vesse lá perto da roda!... Aquilo jogava água p'r tôd' ô lado... E as mózes vá de c'meçarem a rodar qu' até parêce mintira c'm' é qu' a água tem tanta força p'a fazer mexer uns balôisos daqueles. Aquilo pesa, nã cudem. Mái, munto mémo...

Em elas rodando c'm' rodavam, era só pôr-l'e uns belos baguinhos de milho e dêxá-las moer à rôpa toda, qu' ele havia p'r 'lí bem munta m'lherzinha que qu'ria uma far'nhita p'a fazer umas papinhas. E cada uma lá desatô a falar da su recêta qu' até foi ingraçado.

Umas era papas com t'mates, ôtras era com côve, ôtras põem-l'e açucre e há tamém quem as faça com o caldo das morcelas - o caldo moiro - e, aí, já s' alomeam p'r papas-moiras. Inda hôve quem falasse do tempo qu' elas se c'miam com sardinhas garrentas aquecidas nas brasas ó méme soltêras.

Nã adianta 'tar, agora aqui, a falar das manêras todas de fazer papas, que tamém se podem ch'mar avélas, mái só l'es digo qu' a minha Maria, entes, q'ondo calhava, fazi-às com barbigõs, agora, que 'tá mái fina, só já l'e servem as conquilhas...

Isto, qu' ela aprendé com as amigas dela lá do Algarve, qu' o que 'tá na moda é com conquilhas... Nã há restarante nenhum lá p'ra baxo que nã faça isso e, aí alomêam-nas p'r xerém... De Manêras que, a minha Maria tamém já sabe fazer xerém. E nã é nada ruim, nã senhora...

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
Em as mozes rodando, é pôr-l'e grão e dêxá-las moer...

Nôt's tempos, tanto moíam milho c'm' trigo nestas azenhas - ó, calhando, inda más trigo que milho - más, agora, c'm' 'tá na moda as papas, desta e daquela manêra, e pão já quái nã há quem faça - só cá o Parente é qu' inda p' aí vai cozendo umas fornadas dele - a Junta de Freguesia p' ali mandô vir um saquinho de milho - e fez muntíss'mo de bem - p' à gente s' ad'v'rtir e nã se esquecermos d' antigamente, qu' a gente nã sabe o tempo que 'tá p'ra vir...

E atão, aquilo foi dêxar ir moendo um pôcachinho e tramelear uns com os ôtros, inq'onto nem tôd's inda tinha descobrido qu' o moinho já foncionava. Que daí p' à frente, foi um corr'pio de fora p'a drento e drento p'a fora, que nã havia gato pingado que nã se qu'sesse assomar a ver uma coisa daquelas.

Uns que viam os ôtr's ir, ôtr's que gostavam méme de ver e já levavam esse fito ô irem ô Barranco dos Pisõs naquele dia e ôtr's que nem uma coisa nem ôtra, mái, assim que viram, f'caram emprensados com uma coisa tã bem caçada. Hôve menino qu' até f'cava de boca aberta e com os olhos arregalados até mái não. E nã era caso p'a menes...

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
Em desatando a trabalhar, o moinho do Poucochinho enche uma tulha de farinha im menes dum farol...

O caso é que p'a tirar dôs ó três retratos foi um empeço, qu' aquilo lá drento era pertado e a famila era munta. E quem é qu' os dava desarradado de lá de manêras qu' havesse campo p' panhar o qu' ê cá queria... Puxava um p'a um lado, punha-se logo ôtro no lugar daquele. Mudava ê cá de sito, passavam logo uns dôs ó três p'r a frente...

Mái, no fim de resto, tudo lá se arrenjado. E tamém nã se pode ser munto desquesitos. Qu' aquilo, tamém, chigô a um ponto qu' a té já a famila s' arradavam uns ôs ôtros. Nã sê é s' era p'a ê cá tirar os retratos ô moinho ó se era alguns que tamém l'e dava jêto ficar no retrato p'a, e daí, se verem na internet.

Sim qu' isto já há p'r 'í de tudo. Uns nã querem f'car im nada, ôtr's 'tã semp'e prontos p'a f'car no retrato. Destes é qu' ê cá gosto... q' um homem tem d' arrenjar qualquer coisa p'a pôr aqui, 'tá bom de ver. Se tôd's se fazessem rasmôlgos e nã t'vesse assunto, c'm' é qu' ê m' amanhava...

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
Com uma farinha tã bem moída, era à rabanhita a ver quem levava um saquinho dela...

Agora tamém l'es digo mái uma coisa. Nesse mê tempo qu' isto s' ia dando, o moinho nunca aparava de moer e, aquilo, chigô ali a um certo ponto que já era quái à rabanhita a ver quem é que dava levado um saquinho de farinha p'a casa p'a fazer umas avélas.

Q'onto mái moía, mái freguesas tinha e méme a moer à rôpa toda, nunca agu-ento a incher a tulha, qu' o homem nã tinha descanso a incher sacos de plástico p'a gente. O que vale é qu' aquilo era de graça e, atão, a famila tinha que ter pacência p'a esperar.

Assim fez a minha Maria, que levô lá, p'ra cimba dum quarto d' hora bem medido, à espera da vez dela. Más a marafadaarrèlô e f'cô ali à espera, sem arradar pé, até que lá trôxe tamém o sê saquinho dela, chêo de farinha.

Agora já sê que, nã tardando munto, tã penas ela arrenje uma manchinha de conquilhas, há-de-se m' apresentar com uma pratada de papas im cimba da menza qu' ê cá até fico insampado im frente delas. Digo uma pratada p'r vergonha, p'a nã d'zer uma tachada, qu' elas sabem bem é c'midas logo do tacho... É que, d'zer a verdade, até é um decomer qu' ê aprecêo ô bem fêto. Sendo bem fêtas... Más isso, ela sabe-as amanhar im condiçõs.

Inda agora, ela andava à pregunta duma penêra p'a penêrar a farinha...

E nã nos aborrêço más. Gostándem, vejam o resto dos retratos acalcando aqui na Galeria do Moinho do Poucochinho.

Passem tôd' munto bem.

O Blog da "Arca Velha"

Toulões - Adro da Igreja
Este retrato é d' agora, mái, tirando as muletas, podia ser bem d' há uns cinquenta anos...

Ele há um blog, lá nesse Alentejo prêacima, bem incostadinho p' às bandas de Espanha, ch'mado "A Arca Velha". Quem o faz é um amigo bom - Chanesco, l'e chamam. E tal e qual c'm' aqui o Parente fala de Monchique, o amigo Chanesco, muntíss'mo melhor, fala da terra dele: Toulões.

Nã é p'r nada, mái é dos qu' ê cá mái gosto d' ir bispar. Nã desfazendo im denhum dos ôtros, 'tá bom de ver, qu' ê bem qu'ria era falar aqui de tôd's, mái atão e o tempo, adonde é qu' ê cá vô-me arrenjá-lo?...

E, agora, 'tô a falar deste aqui, p'r mode uma coisa. É qu' ontordia, calhô a passar p'r lá, qu' andí p'r aqueles charazes caminho de Idanha, Penha Garcia e ôtras coisas má's qu' p'r 'lí há à roda de Toulões - coisas do mái bonito que pode ser e haver - e aquilo f'cô-me aqui na idéa.

E, hoje, fui lá bispar ô "Arca Velha" e nã é qu' o amigo Chanesco des que passaram p'r lá umas corridas de b'cicleta... E com uns novecentos corredores!...Mái atão aqueles amigos qu' ê ontordia incontrí lá no adro da igreja hõ-de ter f'cado c'm' parvos de verem um estrafego assim, lá no sito deles...

Olhe qu' ê cá ia com o mê amigo Jôqu'nito, um belo amigo dos tempos da tropa, qu' a gente tratava p'r "Artista", e chigô-se a Toulões com a boca tã seca que quái que nã se dava já falado de manêra nenhuma. Más lá se meté conversa com estes velhotes ali no adro a ver s' eles insinavam à gente alguma venda que p' ali havesse.

Igreja de Toulões
Dá gosto 'tar um pôcachinho no adro da igreja de Toulões e ver coisas assim...

- Ora, 'tejam p'r 'qui com Dés...

- Boas tardes.

- Esta igreja é bem bonita... Isto já sará munto antiga?

Disse ê cá, só p'a meter conversa.

Responde a m'lherzinha das muletas:

- Oh, isso já tem muntos anos...

- Mái ela foi arrenjada, calhando, inda nã há munto tempo...

- Olhe ê cá nã m' alembro disso. Se foi, há-de ter sido entes d' ê narcer...

- Atã e nã há p'r 'qui um sito adonde a gente possa b'ber qualquer coisinha p'a matar a sede?

Diz o homenzinho das cabras, que vinha passando nesse entrementes e béque-me trazia pôco vagar, que nã sê s' era das cabras s' era dele, ia falando e andando:

- Isso, ali do lado de lá, há um cafèzinho, vã lá que sã bem servidos.

- E aqui, logo ô pé, nã há nada, assim mái perto?

- Nã senhora. Cá só há aquele... Mái tamém nã é munto desviado. É logo ali...

E lá fomos, andô-se de trás p'a diante, de diante p'a trás, até qu' incontramos a venda e se matô a sede.

Mái voltando ô blog "A Arca Velha", 'tejam certos que s' ele há blogs que morêcem a gente ir lá devassar é méme este. Contos bem contados, tudo c'm' deve de ser, e usando tamém d'zeres lá à moda deles, qu' é uma coisa c'm' se vê pôco.

Exp'r'mentem a ir lá e logo veêm. Cada conto é mái bonito qu' o ôtro. E, em a gente desatando a ler, nunca mái s' apara. Podem-se fiar im mim qu' ê 'tô d'zendo a verdade.

Acalquem aqui que vã logo lá parar.

E com rec'mendaçõs p' ô amigo Chanesco e p'a tôd's, qu' aqui nã se dêxa ninguém f'car p'a trás, passem bem e até mái ver.

22 maio 2007

O Dia da Espiga

Ramo da Espiga
Dia da Espiga, a minha Maria ganhô este lindessísss'mo ramo, panhado logo ô romper d' arora...

Dia da Espiga faz quái uma pessoa s' alembrar do Dia de Maio. Vai-se 'í p'r esses charazes, 'tá tudo verdinho im flor e, quem aprecêa uma bela sombra e gosta de missa ô ar livre, abala caminho do Barranco dos Pisõs e passa lá um dia qu' é uma classe.

E agora, atão, qu' a Junta dé im mandar vir lá um conjunto tocar qu' é p' ad'vertir inda más a famila, nem se fala... Levando-se um farnelinho c'm' deve de ser, cá à manêra, uma pessoa assanta-se numa menza daquelas, dá im c'mer e bober, é até má de s' alevantar de lá assim sem más esta nem más aquela.

Pôs, na Quinta-Fêra d' Às-sunção, aquilo 'teve duma manêra qu' os que lá foram tenho a firme certeza que nã f'caram repesos do caminho que fazeram. P'r menes, cá p' ô mê lado e da minha Maria, a coisa corré méme ô queres.

Ajuntamos-se com os nossos compadres dali de baxo d' ô pé da Nave e uns af'lhados e mái uns amigos bons que foram par'cendo, aquilo foi um dia de espàircemento c'm' há já uns belos tempos a gente nã panhava.

Pr'mêro, foi a missa campal. Aí, tem que se 'tar com munto respêtinho. E olhe que, no mê de tanta famila e assim ô ar livre, 'té me dé que pensar de ver tudo com tanto precêto, que nã havia quem fazesse barulho nem desencaminhasse os que 'tavam perto.

Dia da Espiga - Barranco dos Pisões - Monchique
Méme assim, inda s' ajuntô bem munta famila p' à missa campal...

De manêras que, o senhor Prior lá fez o sê papel - e munto bem fêto, qu' o homem faz umas prègaçõs que tem semp'e ali as palavras todas debaxo da língua - e aí lá p' ôs lados da mêa-hora ó pôco más, já 'tava tudo fêto p'a ir c'mer qualquer coisinha. E, calhando a haver uma gotinha do tinto, molhar o bico p'a impurrar o decomer p'r as goélas abaxo.

Nesse entrementes, e entes qu' o pessoal infiasse todo p'r o moinho adrento, já ê cá lá tinha ido tirar uns retratinhos, qu' aquilo 'tá ali uma coisa c'm' ê cá tenho visto pôco. Olhe qu' a Junta de Freguesia arrenjô o moinho do Poucochinho duma tal manêra que só o que faz lá falta é um molêro p'a ir b'scar o grão e levar a farinha...

Sim, que farinha ele faz... Mái, nôt' ocasião ê logo l'es falo disso e logo l'es amostro dôs ó três retratos daquilo tudo a foncionar. Hoje é só do resto, da gradessíss'ma pangalhada qu' a gente fez, que durô quái a tarde entêra. E olhe qu' havia menino que, por eles, calhando, só a nôte é qu' os tirava de lá...

E nã m' admiro nada... Se vomecêas provassem um casêrinho qu' o mê compadre Jôquim apresentô lá, logo viam o qu' era bom. Bom, mas bom!... Inda l'es digo más. Bom c'm' àquele pode ser qu' incontrem. E méme assim, nã sê, nã sê... Mái melhor, atão, posto que nã há aqui tã perto.

Dia da Espiga - Barranco dos Pisões - Monchique
O mê compad'e Jôquim Mela apresentô um garrafanito dum casêrinho qu' ele fez, qu' até as m'lheres se lembiam...

Ê cá c'm' nã tenho uvas que prestem e nã sê fazer nada de jêto delas, levava ali umas garrafinhas dum alentejano ali das bandas de Pias, coisa tamém jêtosa, que me trôxe um amigo, uma ocasião.

Mái, q'ondo o mê compadre apresenta aquela especialidade, que, só d' olhar p' à cor dele, um homem f'cava-l'e a luzir os dôs olhos, nunca más m' alembrí d' ir à prècura da cesta de verga adonde leví as minhas.

Só l'es sê d'zer é qu' a gente desata a c'mer, à rôpa toda, o qu' as m'lheres p'r 'lí puseram im cimba da menza, qu' o mê compad'e quái que nã dava àgu-ento a incher cop's p'ra este e p' àquele...

E olhem qu' ele béque-me até fazia tanta presunção im s' apresentar com um artigo assim de tã boa q'ôlideza que 'tô cá desconfiado que nã s' insaiava nada p'a infiar umas pelhegas ôs que nã t'vessem conta e fossem imborcando neles à medida qu' ele os inchia...

Foi o que se com o mê amigo Arraúl Vàlise. Assim l'e chamam qu' ele, im mái novo, 'teve um ano im França e des que, q'ondo voltô, desquecé-se duma mala da rôpa na carrêra de Sabóia p'a Monchique, e atão, mái tarde, foi lá à Agência à prègunta da vàlise, que já nã s' alembrava c'm' se d'zia mala im português. Ora, esta malta aqui im Monchique nã pode ôvir nada, f'cô o Vàlise... Más ele, tamém, nã s' emporta nada.

Pôs o amigo Arraúl chigô lá já um coisinho atrasado, que nã sê o qu' é que teve p'ra fazer de manhã e atão, q'ondo par'ceu, já o garrafanito ia p' ô lado do mêo. Mái isso nã o enfèzô nada qu' ele nã é moço p'a s' acanhar e emborcô logo uns dôs ó três d' infiada.

Nã tardando nada, já ele 'tava im pior estado qu' ôs ôtr's... E p' ô qu' é qu' havera de l'e dar?... P'a balhar. D'zer a verdade, nã era coisa que nã me t'vesse já alembrado, nã senhora. Mái isto c'm' "ovelha que berra, bocado que perde" e a coisa inda 'tava no prencíp'o, disse cá pr'a mim:

- Olha lá, enche más é pr'mêro a barriguinha, entes qu' eles te façam a parte e te dêxem p' aí im seco, e, despôs, logo vás p' ali arrojar as botas atrás da tu Maria, s'acuáso nã arrenjares uma moça mái nova, qu' é o mái certo que tu tens é nã arrenjar...

Dia da Espiga - Barranco dos Pisões - Monchique
Quem havera de d'zer que, nuns barrancos daqueles, 'tava um conjunto a tocar modas do melhor...

Ô certo, ô certo é qu' os moços que 'tavam lá tocar acertavam bem e as modas eram boas, home... Já assim do mê p' à fente, hôve ali uma parte qu' aquilo era só coisas do nosso tempo. Aí, já o garrafanito 'tava-se a ver bem o fundo, vem o ti Manel do Fojo e dá as provas do madronho dele, duma garrafinha que trazia na alz'bêra do casaco.

Ê cá, p'a nã f'car atrás, vô-me à cesta de verga e jog'-me a uma garrafinha dela qu' ê tinha lá posto ô abalar de casa sem a minha Maria dar notiça. Vá uma rodada tamém p'a tôd's...

Diz o Arraúl:

- Lá verum coisinho de bolo de tacho qu' é p' à gente tapar estes e l'e b'ber só más um cada um e, a seguir, vai-se tôd's balhar. Seja cão o que nã ir!...

Ora, nã foi coisa que se d'zesse a surdos... Más as m'lheres 'tavam com o olho na gente, viram que já se 'tava um coisinho escarados, fugiram todas e vá de balhar umas com as ôtras.

Digo p' ô Vàlise:

- Atã e agora?...

- Agora?!... Anda lá dái com-migo qu' a gente vai àlém e desmancha aquilo tudo. Vá!...

E lá se foi. Cada um pegô na sua, mái 'tava má de s' acertar alguma coisa de jêto. E as pobrezinhas, calhando, algumas inda levaram foi uns incontrõs e nã sê munto bem se vieram com os calos a latejar duma pisadela ó ôtra que panharam...

Mái, ô fim de resto, foi tudo uma charola im forte e inda t'vemos sorte qu' a brigada nã sê p'r donde é qu' andô que nã na vimos nessa tarde.

Moinho do Poucochinho - Barranco dos Pisões - Monchique
Em desatando a trabalhar, o moinho do Poucochinho enche uma tulha de farinha im menes dum farol...

Dêx'-l'es aqui este retrato do moinho do Poucochinho p'a s' irem consolando. Em havendo jêto, logo l'es amostro mái uns dôs ó três e conto-l'es o que passí p'ôs dar tirado.

E aqui na galeria do Dia da Espiga podem ver mái uns q'ontos, se qu'rerem.

Até qu' a gente se veja.

15 maio 2007

Flores do Maio: Adelfas e Rosas-Albardêras

Adelfeira - Monchique
As adelfas, os fôg's bem nas quem-maram, más elas aí 'tã ôtra vez...

Na Fóia, há p'r 'í bem muntas flores que já quái que nã há im banda nenhuma. Ontordia, qu' isto é Maio, tirí p'a ir dar uma volta à prègunta dumas q'ontas, que sã as qu' ê cá mái aprecêio. E dí com elas todas. Mái, agora, só l'es vô amostrar duas, que sã as qu' ê mái me revejo nelas.

Olhem, a pr'mêra é a adelfa.

Há quem l'e chame ôtr's nomes assim um coisinho manhôsos, c'm' asália, rododendro, loendro e ôtros que nem l'es sê d'zer, más isso é a famila que estuda munto e lê esses nomes nos livros. A gente aqui semp'e l'e ch'mô adelfa e há-de ser semp'e adelfa.

E olhem qu' é uma flor tã emportante que nem tampôco se pode panhar, qu' é pr'ivido. D'zer a verdade, p'a se dar com ela é preciso um homem saber adonde ela há, e é im pôc's sitos, tamém l'es digo. Más a más, que, q'ondo hôve os fôg's, nã sê se f'cô alguma que nã tenha ardido. P'r menes, as qu' ê cá conhecia f'cô tudo chamuscado.

Flor da adelfa - Monchique
Em bonito, pode haver igual, mái melhor nem pensar...

E é uma coisa qu' ê repaìrí é qu' elas, méme já 'tando todas bonitas ôtra vez, inda se l'e vê os paus velhos tôd's fêtos im cravão. E dá dó...

Máicudem, q'ondo ê vi a Serra arder assim toda daquela manêra, semp'e pensí que adelfas, rosas-albardêras, gilbrabêros, azevinhos e coisas dessas haveram de ser má de voltar a par'cer ôtra vez. Más inganí-me e 'tô sast'fêto de me ter inganado. Quái tôd's já têm arrebentos que, vistos ô longe, nem dã ares a ter ardido.

P'r mode isso, já ê tive umas temas com o mê parente Zé Caçapo, qu' a gente os dôs, más um nada, inda se tínhamos más era p' ali zangado um com o ôtro. O homem nã basta ser gozão, senã inda ser tem-moso que nem um burro. E meté na cabeça qu' umas adelfêras que toda a vida tenho conhecido ali num sito qu' ê cá sê, nunca tinham ardido.

Ora ê sê muntíss'mo de bem qu' elas arderam... Criaram foi logo uns belos arrebentos e quem nã as vai ver bem lá ô perto, cuda qu' elas nã arderam. Ai nã arderam... Era bom que nã t'vessem ardido, mái arderam, sa senhora.

- Ó Refóias, tu 'tarás parvo?!... Atã ê cá é que sô velho e tu é que atribóes assim as coisas... Nã vês qu' o fogo passô além de roda e saltô p' às mongariças da banda de cimba que nem tocô nas adelfas?!...

Flor da adelfa - Monchique
Estas flores sã c'm' algumas m'lheres. Q'onto mái bonitas, mái excamungadas... do veneno que têm.

- Ai nã tocô nas adelfas... Quem-mô-as foi todas!... Elas é que já deram ôtra vez arrebentos...

- Qual o quem!... Atã c'm' é qu' elas se faziam daquele tamanho im menes de nada?... Aquilo é uma coisa que leva munto tempo a crecer... nã é dum ano pr' ô ôtro.

- Ó t' Zé, atã mecêa nã vê àlém aqueles tanchôtos a saírem assim da ramaja, que tã tôd's pretos, fêtos im cravão?...

- Que jêto?!... O qu' ê vejo àlém é uma preçã de ramaja toda chêa de viço e umas florzalhas já im mê abrir... Agora tanchôtos quem-mados... Alguma vez?!...

Inda l'e quis fazer ver qu' aquilo tinham crecido daquela manêra p'r mode 'tarem num sito méme ô queres p'ra elas - fresco, voltadas ô norte, numa chanita de terra bem negra, ô ladinho dum córgo, pequeno mái que nunca falta lá água - mái nã servi de nada. E ele semp'e a l'e dar:

- Inda tens munto que patear p'a aprenderes a quarta parte do qu' aqui o tê parente sabe... Má', em qu'rendes, chega-te cá p' ô de mim qu' ê dô-te umas liçõs...

Ah, velho dum raio!... Bem que l'e puseram o alexim de "Verruma", qu' ele 'tá semp'e a judear. É que, mém' ê cá nã qu'rendo, já me 'tava a fazer chigar o sãingue às ventas, qu' era o fito dele, p'a me ver bem inzàinado.

- Olhe lá, venha lá daí e vai-se àlém ô pé tirar temas... Que vomecêa há-de ver que nã tem coisíssema nenhuma de r'zão!...

- Ê cá?!... Ir agora aí labuçar as calças todas nos tróços quem-mados dos tojos e inda m' afiturar a atascar as botas naquele lamatêro qu' a água que salta da córga faz àlém méme à rés das adelfas... Isso é qu' era bom!... Vai tu sòzinho, se qu'reres...

- Ah... os tojos arderam, más as adelfas não... Tal é essa patochada... Já foi panhado. 'Tá a ver c'm' o fogo semp'e quem-mô isto aqui tudo?...

Más ele, vi-se pertado, desatô logo a desconversar e mudô d' assunto.

- Olha lá, já viste bem aquelas rosas-albardêras c'm' 'tã bonitas?...

Rosa-albardeira - Monchique
A rosa-albardêra tamém só há im certos sitos, mái bonita é ela...

- Ah, já nã l'e calha a conversa, vira-se p' às rosas-albardêras...

- Sim, atã aquilo é qu' é uma flor do mái bonito que pode ser e haver... E nã l'e mexas munto qu' elas tamém sã venenosas e nã se podem panhar que tamém é pr'ivido.

- Há que tempos qu' ê cá sê disso... Inda era moço-pequeno, já ê 'tava farto de saber tal coisa... Ó pensa que nã tive munto quem m' insinasse?...

- Isso dizes tu. Calhando, 'tás a saber agora...

Lá 'tava o estapôr do "Verruma", ôtra vez, a qu'rer empencer com-migo... É qu' o marafadoesperdiça ocasião nenhuma...

- Olhe, se vomecêa nã t'vesse quái idade p'a ser mê pai e, inda p'ra más, é mê parente, ê já l'e d'zia... Punhana, que nã pode passar sem 'tar sempre pegando com uma pessoa...

- Olha... Tu é que 'tás p' aí béque-me com os azêtes que nã se pode d'zer nada. Mái nã t' inzáines que, méme nã sabendes nada destas coisas, ê sô tê amigo e tenho pacência p'a t' insinar, e daí, inda sô homem munto bem capaz p'a pagar uns calcesinhos aí numa venda qualquer...

Aí, já f'quí um coisinho mái de boa avêa.

- Vá lá que lá disse uma com jêto... Agarrado c'm' vomecêa é, quái que nem quero crer numa franqueza dessas assim sem mái nem quem...

- Se nã t' apetêce, fica p'ra ôtro dia. Com bebida nã se perta...

Responde ele logo, munto l'gêro, calhando, já repeso de se ter descaído...

Rosa-albardeira - Monchique
Mal empregado ser uma flor que tamém já se vê munto pôco cá p'r estas bandas...

- Que jêto nã m' apetecer?!... Acha qu' ê tenho cara de l'e fazer uma ofensa dessas?... Mecêa com uma ãinsa tã grande de pagar qualquer coisa e ê cá nã acêtava?... Ê sô sê amigo, parente...

Respondi-l'e ê cá, inda mái l'gêro, nã fosse ele voltar atrás...

- Mái vê lá se nã te calha, fica p' ôtro dia... Podes ter p' aí que fazer... ó coisa assim...

Isso queria ele qu' ê cá nã acêtasse... Abalô-se e teve que pagar, que se charingô... Tamém nã l'e fica fazendo falta nenhuma. O homem é sòzinho, nã tem filho nem filha, arrecebe uma bela pensanita, coisa duns cinquenta contos, perto ó certo, e come lá das coisas que samêa nos cantêros dele, nã se pode quêxar munto...

Ê bem no tenho visto, d' ora im q'onto, ir caminho ali da Caxa, munto d'sfarçado, com um saco de plástico nas mãs, todo inrolado. Aquilo é o que l'e sobra tôd's meses qu' ele vai lá pôr a render. Nã é senã isso...

Pôs olhem, o ti Zé Caçapo, nesse dia, até me fez f'car abismado. O homem é má de se descoser, mái em ela l'e chigando à cabeça, béque-me fica logo ôtro, manda vir rodadas às duas e três d' enfiada. E nã pagava só pr' ôs dôs, nã cudem. Era p'a q'ontos lá tavam naquela venda...

Só l'es sê d'zer que já era ê cá que me qu'ria pôr a andar e ele que nunca mái arrencava de lá... 'Té a minha Maria havera de 'tar já im cudados d' ê nã par'cer e o decomer a arrefecer...

Rosa-albardeira - Monchique
Méme desfolhada, a rosa-albardêra inda é uma lindeza...

Mái voltando às adelfas e às rosas-albardêras, se calharem a dar com alguma, aprecêem-na bem mái nã l'e façam mal nem pensem em levá-la p' ô jardim, se t'verem.

Logo, qu' é pr'ivido panhá-las que 'tã quái a d'spar'cer todas. Despôs, qu' elas sã venenosas e podem-l'e fazer a parte. E, inda p'ra más, elas nã se dão senã nos sitos qu' elas gostam e, atão, nã pegam.

Passem munto bem e até à vista.

12 maio 2007

O Maio de Marmelete

O Maio - Marmelete
No Maio de Marmelete tinham lá um pórco, bem com umas oito arrôbas ó perto...

Tal e qual c'm' ê cá l'es tinha dito, abalí do Alferce só com uma cervejalha no bucho e p' ali mái uns coisalhos de bolo de tacho e um panito com chôriça qu' a minha Maria comprô lá na senhora Cidália.

Mái, isto hoje em dia, os carros andam que se marafam e, atão, foi coisa de pôco tempo, já se 'tava a chigar a Marmelete. Só que, béque-me, nã vi assim jêto nenhum de grande festa, ramordí baxinho p' à minha Maria:

- Tu nã me digas qu' a festa aqui foi só da parte da manhã e eles já baldearam o pórco assado todo...

- Ó homem, nã digas brut'lidades... Atã nã vês qu' a famila foi ô passêo deles lá ô Cerro dos Picos e agora 'tã a descansar um pôcachinho... E tamém hã-de 'tar c'mendo qualquer coisinha...

- Ê sê cá... É bom que tenhas r'zão, qu' ê já tenho aqui um bicho a rabear que nã dô conta dele... Mái, já agora que falas nisso, tamém havera de ter sido um passêo do melhor. Olha que esta, a gente nã se ter dado ir ôs dôs...

E dig'-l'es agora, que já ôvi incarecer, qu' o passêo de Marmelete foi ô Cerro dos Picos e foi uma coisa do melhor. Isto nã falando nos que foram de b'cicleta que des que correram p' aí os cerros quái tôd's da freguesia p'r donde havesse estrada.

Ôvi falar qu' andaram, perto ó certo, umas oito léguas... Sê cá s' os marafados nã 'tarã p'r aí a fazer tenção d' ir à volta a Portugal!... Ê cá, ô Cerro dos Picos, calhando, inda tinha canoiras p'a dar ido e vindo, mái, agora, amontar-me numa b'cicleta e andar aí cerro abaxo, cerro acima... já nã tenho fôl'go p'ra isso. Era d' adregue era nã me dêxar p' aí arrabolar p'r uma barrêra abaxo e ir parar drento dum balsedo...

Mái, nesse entrementes, já a gente tinha corrido o Povo todo - isto no voksvagem da Zèlinha, 'tá bom de ver - e já se vinha dando a volta além p'r trás da África, de manêras a vir dar à Casa do Povo. E atã nã é que béque-me desatí a lombrigar assim um fuminho a sair de lá de drento?...

Baile do Maio - Marmelete
Tã penas o fole soô, rompé tudo a balhar naquela casa...

- Nã veêm já há além quasequer coisa p' ôs lados da Casa do Povo?... Aquilo há-de ser eles a acenderem o fogo p'a assar o bác'ro...

- Nã vejo nada... - Diz a Zèlinha.

- Ah... e a mim até béque-me já me vem aqui um chêrinho e tudo... - Acode a minha Maria que tamém já tinha a barriga incostada às costas.

- É eles que 'tã ali a adiantar serviço, sim...

Tã penas tinha acabado de falar, assim ela aparô no largo da Casa do Povo. E ê cá salto do carro e vô-me logo d'rêto adonde via luzir o fumo. Ora, dô com uma coisa que nem vomecêas quêram saber... Qual bác'ro nem bác'ro... um pórco bem dumas sete ó oito arrobas, espetado num ferro e já c'm'çando a t'mar uma corzinha.

Daí im diante, nem tenho preciso de l'es contar... que vomecêas já calculam o que se deu. Aquilo foi comer e bober, balhar e charolar, e, ô fim da festa, os que tinham de guiar carro p'a ir p'a casa, aprometerem uma coisinha qualquer ô S. Cr'stóvã, p'a ele l'es levar a Guarda p'a longe do caminho...

Mái nã cudem, aquilo foi uma festa im grande... Ajuntô famila de munto lado. Os que moram im Marmelete e muntos que nã moram. Mái, d'zer a verdade, 'té dá gosto ver a famila s' ajuntar assim, tudo ad'v'rtido, e, parte das vezes, sem ser esperado, incontrar amigos que passa-se anos que nã se l'e põe os olhos im riba.

Festa do Maio - Marmelete
Alguns ad'v'rtiam-se ô bem fêto, méme sem balhar...

Foi o que se com o mê parente Chico da Varja, que 'tá lá p'ra baxo p' à Varja do Farelo faz muntos anos, mái gosta semp'e de parcer p'r cá nestas ocasiõs.

ê cá tinha ido b'scar sê cá os pratos de carne assada que foram e provado um v'nhito casêro dum garrafanito q' um amigo bom - dos do melhor, 'tá bom de ver - levô pra lá assim c'm' quem nã quer a coisa, foi q'ondo dí p'r o parente Chico andar p'r 'lí a balhar, inda com um desembaraço c'm' t'vesse a ametade dos anos.

Nã foi caso p' admirar qu' aquilo 'tava munta famila, munto banzé, e, atão, sacuáso me descuido, era certo e sabido que nem repàirava no homem. Mái vá lá qu' aquilo calhô, méme ô queres, na altura da moda acabar, ele larga a velhota que tinha ido puxar e vai assim quái d'rêto ô balcão, béque-me chê de secura.

- Parente Chico! Ó parente Chico!... - Brad'-l'e ê cá, com q'onta força tinha.

Más ele, com a ãinsa de molhar as goélas, nem p'r nada que ôvia e só aparô ô sentir o balcão incostado à barriga. Aí, fui-me a ele e dí-l'e uma manetada na espinha. O homem volta-se de rompante, com cara de pôcos amigos, mái p' ô marafado que ôtra coisa, quái a qu'rer infelpar-se com-migo.

Punhana!... Mái, assim que dá com olhos em mim, esmorêce, desata a rir e vá de m' abraçar.

- Atã, parente Chico, o qu' é que se faz?... Já tinha bradado p'r si um porradão de vezes e vomecêa nã me ligava...

- É que nã ôvi, parente. Com este lanedo... Olha s' ele havia tempo qu' a gente nã se via!...

Inda mal a gente nã se tinha comprimentado, já ôtro amigo - mái dos tempos dele que dos mês - se vinha apròchigando. Era o ti Mané Maria.

Um belo amigo - nã desfazendo - com noventa e um anos, já fêtos, mái semp'e sast'fêto. E marafado p'a se meter com as moças, home... A primêra coisa qu' ele fez foi, im vez de comprimentar a gente, ir dar uma tanganhada numa moça que p' ali 'tava, munto mái nova qui ele, méme sem na conhecer. Más ela nã fez assim munto caso dele. Atã, virô-se p' à gente.

Ti Manel Maria - Marmelete
O ti Mané Maria, méme com os sês noventa e um anos, jã fêtos, anda semp'e sast'fêto...

- Haja saúde... Mái atã, 'tarê inganado ó vomecêa nã é ali daquela famila dos Refóias?...

- Sô, sa senhora. Mái me 'tá vomecêa a conhecer... Atã e aqui o mê parente, nã sabe quem ele é?

- Quem?

O homem já vê um coisinho pôco...

- Aqui o mê parente Chico da Varja, ti Manel. 'Tá bem qu' ele 'tá lá p' ô Algarve faz bem muntos anos, mái mecêa há-de-se alembrar dele...

- Olha o Chico da Varja!... Atã nã havera de conhecer?!... Somos do mémo sortêo. S' um é velho, o ôtro nã é novo...

- Ah, sã da méma idade...

- Ó Chico, nã t' alembras daquela parte qu' ê fiz ô padre Espanhol, já ê era casado?...

- Ah, atã isso já ê morava lá p'ra baxo, há que tempos...

- C'm' é que foi isso, ti Manel? Conte lá!...

E o homem p' ali desatô a contar a históira que se com o padre Espanhol - Dés o tenha im bom lugar - e a m'lher dele e ele, mái, com o banzé que p' ali 'tava e o ti Mané Maria já um coisinho escorvado e sem dentes quái nenhuns, nã panhí a bem d'zer nada do qu' ele disse.

Aquilo foi uma parte que se com a m'lher dele, que foi tratar fosse lá o que fosse com o pad'e Espanhol. Ora o pad'e Espanhol ch'mava-se assim qu' ele vê de Espanha fugido à guerra - o nome dele era Crisântemo ó coisa assim... - e havia quem d'zesse qu' ele tinha panhado aqueles gazes qu' eles usavam lá na guerra.

De manêras que, o homem nã tinha lá munta pacência p'a aturar as parvoêras de cada um e, em as coisas nã lhe calhando lá munto bem, dava com cada garreão a qualquer um q' uma pessoa até ia de zambareta fugindo d' ô pé dele. Foi o que se com a m'lher do ti Manel.

E o qu' é qu' o ti Manel l' havera de dar na cabeça?... Foi de venta arreganhada d'rêto ô padre tirar temas. Ê cá nã vi, mái aquilo havera de ser o bom e o bonito. O padre a falar mê espanhol, mê português e o ti Manél a falar à nossa moda qu' o padre nã havera d' intender coisíssema nenhuma, os dôs inzàinados que nem cãs...

Más olhem, foi um descanso. Q'ondo os dôs d'zeram tudo o que tinham p'a falar, que nã ôviram nada do qu' o ôtro disse, f'caram amigos e aquilo passô adiente c'm' se nã fosse nada.

Fazendo 'o quatro'
O mê parente das Vinhas, méme um coisinho impeçado, inda fazia o quatro qu' era uma lindeza...

Inq'onto o ti Mané Maria ia p' ali arredondando o conto dele, peguí em mim e fui lá p' ô lado d' adonde eles 'tavam a assar o pórco, a ver se trazia mái uns pedacinhos de carne de febra assada. Más aquilo era à bicha, tive que me pôr atrás dos ôtros e esperar um belo pôco.

Foi à medida de m' incontrar com ôtro parente e amigo do melhor, qu' é assim quái par'cido com-migo. Já os nossos bisavozes, q'ondo calhava, gostavam de provar uns calcesinhos dela e, atão, isto vem na gèração.

Mái o homem, méme já um coisinho escorvado, fez-se forte - assim é que é!... - e vá de se meter com-migo:

- Vá lá aqui um retrato ô sê parente das Vinhas!... Vá qu' é p'a f'car de lembrança...

- Ó mê belo amigo, ponha-se já aí... Mái tem que fazer o quatro... Só l'e tiro a fazer o quatro...

- Só se já!...

E sabem o que l'es digo? Nã foi logo à pr'mêra, mái aí à quarta ó quinta vez, lá s' enqu'librô que dé p'a l'e tirar este retrato que l'es amostro aqui...

E assim se foi passando a tarde. Bem que dava p'a contar mái umas partes ingraçadas que p'r lá se deram, mái c'm' já foi há uns belos dias que foi o Maio e p'a nã nos 'tar a impertenecer más, fic'-me p'r 'qui.

Festa do Maio - Marmelete
Uma coisa que me dá sast'fação é ver os môces nôvos parcerem nestas coisas...

Só o qu' inda gostava de l'es d'zer era que, se nã 'tô atribuído, béque-me vejo cada vez par'cer mái famila nestas festas daqui da nossa zona, tanto faz serem coisas da igreja c'm' das Juntas e da Cam'bra. E munta moçada nova, mês belos amigos...

Pronto. Agora, se qu'rerem ver mái retratos da festa do Maio de Marmelete, acalquem aqui na galeria da festa do Maio de Marmelete. E já agora, quem qu'ser ver do passêo do Alferce, é aqui na galeria do passêo do Alferce.

Até um destes dias e saúde da boa.

04 maio 2007

O Passêo do Maio no Alferce

Passeio do Maio - Alferce
O passêo do Maio do Alferce foi quái duas léguas p'r caminhos velhos...

Ontordia, sube que, tanto im Marmelete c'm' no Alferce, faziam um passêo no Dia de Maio. Ora, f'quí logo empeçado... Tanto qu' ê cá gosto de dar pessêos a pé e nã dava ido ôs dôs. Inda me pus a ver se s' aquilo se dava resolvido d' alguma manêra, mái, só-se!...

De manêras que, vô-me caminho do mê compad'e Jôquim do Barranco e desafi'-o p'a ver s' ele tinha coraja d' ir com-migo e com a minha Maria, tanto fazia a um c'm' o ôtro. Era o qu' ele gostasse más.

Mái, qual o quem!... O homem, semp'e com aquele jêtinho dele, molengão e passo lento, que custa a mexer uma bota sem pedir l'cença à ôtra - vá lá qu' ele nã 'tá aqui que nos oiça... - tirô-me logo isso da idéa:

- Ai c'pad', tenha pacência, mái p'ra isso nã me convinde... Já sabe qu' ê gosto é d' andar cá à minha manêra e essa malta nã tem nada im andar depressa demás e, atão, nã espere p'r mim.

- Nã me diga que nã faz esse jêto à c'mad' C'stóida, que tamém havera de gostar d' ir...

- A minha C'stóida?!... Atã ela custa-se a mexêr, que já quái que nã ido a pé à missa... Veja lá que já, um destes dias, me disse qu' ê l' havera de ch'mar um carro de praça...

- Olha que essa...

- Tire daí o sentido, compad'e Refóias. Tire dái o sentido qu' ê cá nã vô.

Pensí cá p'ra mim:

- Tenho qu' ir bater a ôtra porta, 'tá visto...

É que, sòzinho com a minha Maria, béque-me nã me dava jêto ir. E atão disse-l'e a ela que, se qu'sesse ir, tinha qu' arrenjar companha. Más sabia è cá qu' isso era o que nã l'e dava cudados nenhuns a arrenjar.

Monte da Lameira - Alferce
Foi um passêo só com vistas do melhor, c'mo esta do Monte da Lamêra...

- Oh homem, atã isso manda-se já recado l'a p'ra baxo p' às minhas amigas qu' elas, é mái que certo, que parêcem p'r 'í...

- Atã, trata tu disso, se tens portador que l'es dê o recado...

- Qual portador nem portador... Elas têm telefone, tamém nã é assim uma f'rtuna tã grande c'mo isso, l'es tel'fonar...

- Faz c'm' quêras, qu' ê cá já fiz a minha parte. Mái vê se tratas disso a temp' e horas...

Nã sê lá c'm' é qu' ela fez a coisa, mái, ô certo, ô certo, é que, Dia de Maio, logo ô clarear, já elas cá 'tavam, todas bem arrenjadas, p'a se fazerem ô caminho. E abalô-se. Entes, inda l'es prècurí se gostavam mái d' ir ô Alferce ó a Marmelete. Mài elas pôco l' emportava. Qu'riam era laré...

D'zer a verdade, ê nã disse nada a ninguém, mái já tinha resolvido c'm' fazer a coisa. Leví a matinar uns belos dias 'té que me vê cá uma idéa à cabeça.

C'm' elas tinham carro, o melhor era s' ap'vêtar a manhã no Alferce, qu' o passêo passava p'r uma adega de madronho e semp'e haveram de dar lá uns calcesinhos dela à famila, e, à tarde, ia-se a Marmelete, que tinham lá um pórco p'a assar, e inchia-se lá uma barrigada de carne.

E assim se fez.

Atã vô-l'es falar do passêo do Alferce e, despôs, logo l'es falo da festa de Marmelete. Que foram os dôs do melhor que possa ser...

Adega do Monte da Lameira - Alferce
No Monte da Lamêra, aparô-se p'a b'ber um calcesinho dela...

Pôs inda bem nã se tinha abalado do Alferce - aquilo era de manhã, p'la fresca - já se 'tava a decer p' ô Monte da Lamêra. Qu' era, calhando, o sito que más ent'r'ssava a parte dos qu' ali iam... E isto p'rquem?...

É que, no Monte da Lamêra, 'tá uma gradessíss'ma adega, qu' era da Famila dos Melos, uma coisa do melhor que cá o Parente já viu im sito p'a estilar aguardente. Aquilo tem tôd's os cómados e é campôso p'a se trabalhar à larga.

Altrafices, isso tem que nã falta coisíss'ma nenhuma. Vasilhas im madêra, é uma preçanada delas. 'Tá bem que já nã se pode fazer ser uso delas qu' eles nã querem, mái fazem vista... Mái dêxa-se isso p'a trás, qu' ê cá, em calhando, logo l'es conto c'm' é qu' é isso de estilar o madronho.

Pôs quem 'tava lá a arreceber aquela matula toda do passêo era um senhor que mecêas há-dem conhecer, qu' ele é ali da Caxa. É o senhor Zé Palo. Mái nã cudem, o homem nã foi só dar uns porretes im forte à gente, que foi inq'onto se quis - e nisso l' agradêço que nã dêxí lá a parte que me pertencia, nã senhora - é que tamém dexplicô aquilo à gente qu' até dé consolo ôvir.

Com aquilo tudo e c'm' àquela era da boa, inda o desafií p'a me vender uma garrafinha dumas qu' ele tinha ali im cimba duma mêzinha à nossa frente. E sabem o qu' é que se deu?... Nã me vendido denhuma...

E nã me dé vendido perquém. À uma, qu' ele des que tinha pôca - mái p' à gente, o homem fazia semp'e um jêtinho, 'tá bom de ver... - e, despôs, p'r mode nã ter ali o livro das facturas. É qu' eles, agora, obrigam a famila a pôr ali um selo no gargalo da garrafa, com um numbre, e atão vá lá despârcer uma garrafa daquelas que nã fique resistada lá nessas ditas facturas...

E tamém falô na guia de marcha e tal, nã sê quem, nã sê quem... Olhem, no mê tempo, guia de marcha era um papel qu' eles davam à gente p'a s' ir assentar praça ó, atão, q'ondo mandavam um homem dum q'ôrtel p'ô ôtro. Agora, a aguardente tamém tem. 'Tá bem caçado, sa senhora...

E já com uns q'óntos caláiços no bucho - e nã cudem qu' eram mosquitos, que nã eram... - lá se pusemos a caminho qu' inda a Umbria 'tava desviada e a Fonte Santa nã se fala... E em chigando lá, faltava ôtr' tanto caminho p'a andar.

Passeio do Maio - Alferce
Na Fonte Santa da Malhada Quente, quem tinha, c'mé um farnel, quem nã tinha, b'bé água da bica...

Mái aquilo, com os calcesinhos que se bebeu, a famila toda munto ad'vertida, as vistas do mái bonito que possa ser e tôd's a ver se nã faziam má figura p'a nã f'carem p'a trás, nã tardô quái nada que nã se 't'vesse a chigar à Fonte Santa da Malhada Quente.

Ora, já se vinha a dar à perna bem há uma duas horas, pert' ó certo, aquilo foi tudo a ver quem s' assantava pr'mêro e puxava do farnel p'a matar a larica... Até o pobrezinho do cão lá do homenzinho que toma conta dos banhos - o ti D'mingos - par'cé logo a ver s' apr'vêtava p'r 'lí algum miolo de pão que fosse aparar ô chão. Mái béque-me nã teve assim munta sorte...

E já agora, apr'vêto p'a l'es d'zer uma coisa. Calhando, muntos de vomecêas inda nunca foram a tal sito. Más, olhem, era bom que fossem. Metem-se na estrada do Alferce, im chigando à P'rtela do Estiêro, se qu'rerem, bebem um porrete na venda da Senhora Mari' J'sé, tornejam p'ra baxo e, tanto faz a pé ó de carro, im menes de nada 'tã na Fonte Santa.

Nã é que seja um sito com grandes vistas, qu' aquilo é lá no fundo do barranco, mái água é c'm' à das Caldas, tem a méme virtude; sombras, é do mái fresco que há, com aqueles amiêros tôd's; sossego, nã se hôve coisíss'ma nenhuma, tirando um passaralho ó ôtro e a água a correr, córgo abaxo. O qu' é que mecêas querem más?...

Calhando, foi p'r mode isso - ó nã saria, qu' os tacõs das botas já pesariam a alguns... - que foi uns trabalhos p' à famila abalar dali p'a trás, ôtra vez caminho do Alferce. E agora, era quái sempre a assubir. Olhe qu' ele havia lugares que quái que se tinha qu' ingraminhar, d' ingres que eram...

Passeio do Maio - Alferce
A ti D'mingas, que Dés a conserve com os sês 99 anos, vê logo dar de vaia à gente...

Mái, a seguir à pr'mêra arrencada, lá se panhô uma chanita d'rêta que dé p'a t'mar fôl'go. É logo ali p' àquelas bandas do Escalfado q'ondo se vai p' ô do Bate-Fandango. E calhô bem qu' a ti D'mingas, que já tinha visto aquela chusma de famila passar p'a um lado, agora, à volta 'tava logo ali à coca p'a se meter com a gente.

Ô chigar ô pé dela, salta-me logo:

- Venha com Dés, menino...

- Atã c'm' vai isso, ti D'mingas?... O qu' é que se tem fêto?...

- Ai, 'tô munto im baxo... Tenho andado p' aqui com umas dores... Dói-me isto aqui tudo, nã vê, aqui assim... E tamém já nã vejo grande coisa... Nã vê, já tenho munta idade. Sã 99 anos, já fêtos no mês de Março...

- Eh'q... Há p'r 'í tantos, mái nôvos, que tamém se quêxam do mémo...

- Mái dexplique-me lá quem é que mecêa é, qu' as minhas vistas nã alcançam a l'e tirar bem as fêçõs...

Lá l'e 'tive a deslindar bem quem era, quem nã era, falô-se deste e daquele, e inda l' achí uma idéa tã boa que, qualquer um que nã saiba, nã l'e dá aquela idade nem lá p' ô pé...

- Pôs fique-se com Dés e que tenha munta saúde, qu' ê cá, pr' ô ano, quero ôvir falar que l'e fazeram uma grande festa q'ondo fazer o cento...

- Ai, nã ne fale nisso, qu' ê nã sê se chego lá...

- Ai nã que nã chega!... E inda há-de fazer bem muntos má's. Com essa r'jeza...

- Vá com Dés, ti Refóias...

Bolos regionais - Alferce
A senhora Cidália sabe fazer bolos e pão de toda a q'ôlidade. Nã veêm?... Désna de panitos com chôriça a bolos de tacho e de massa temp'rada, há de tudo...

D' ali p'ra diante, em s' atravessando a estrada d' alcatrão, foi só assubir à rôpa toda até lá im riba à Êra Covada. Tã penas se lombrigô o Alto de Baxo a luzir perto do Alferce, aquilo foi c'm' quem tirô um peso de cinco arrôbas das costas d' alguns...

O que nã me calhô lá munto bem foi que já ia tôdo fêtinho p'a c'mer uns coisinhos de carne frita lá no Alferce, numa barrequinha qu' eles usam a ter lá p'r as festas, e, desta vez, panhí um charimbote. Peço uma bifana, à manêra, lá ô amigo que lá 'tava, e nã qu'ria crer no que ôvia:

- Hoje nã temos, ti Refóias. Agora já nã dêxam.

- Já nã dêxam?!... Atã que jêto?...

- Ai, vomecêa nã sabe, ainda?... Isto, agora, quem qu'rer fazer bifanas tem de trazer f'igoríf'co, óleo lá c'm' eles querem, ter uns papeles aí nã sê d' adonde, e mái uma preçanada de coisas qu' ê nã l'e sê contar. Quem nã tenha, veêm aí os fiscás, levam-l'e tudo e inda l' atancham com uma murta qu' até vai lendo.

- Pôç'ras!... Isto, mái logo, é melhor um homem s' ir mandar matar!... Nã se pode fazer madronho, nã se pode fazer mortepórques, nã se pode fritar carne, nã se pode fazer nada... Má atã o qu' é isto, senhor?!...

- Isto 'tá assim... O qu' é que mecêa quer...

- O qu' ê cá qu'ria era c'mer qualquer coisinha... Mái, dêxe lá. Vô-me ali à da senhora Cidália qu' ela tem ali uns bolinhos de tacho e panitos com chôriça e de torresmos, até bolos de massa temp'rada ela tem. E tudo do melhor qu' ela sabe fazer munto bem. Dê -me lá aí uma cervejalha p'a acompanhar, fazendo favor...

- É só o que tenho p'a vender é cerveja...

- Tamém nã faz mal, qu' ê, nã tardando, abalo p'a Marmelete e eles 'tã lá a assar um pórco, há-de-me acabedar algum pedacinho...

E assim fiz. Mái com respêto a Marmelete, logo l'es conto daqui a uns dias, qu' a minha Maria fez-me aí uma parte e ê cá, agora, nã tenho ocasião de l'es contar o resto.

O qu' é qu' a minha Maria me fez?!... Olhem, dé o nome da gente p'a ir aí a uma banda com uns amigos e, atão, vai-se 'tar uns quatro ó cinco dias p'r fora. Em se voltando, conto o resto.

Mái p'a nã perderem tudo, se qu'rerem ver mái retratos do passêo do Alferce, e da festa do Maio de Marmelete acalquem aqui na galeria do passêo do Alferce e na galeria da festa do Maio de Marmelete.

Atã, assim, passem munto bem e até p' à semana. Dés l'e dê munta saúde.