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12 maio 2007

O Maio de Marmelete

O Maio - Marmelete
No Maio de Marmelete tinham lá um pórco, bem com umas oito arrôbas ó perto...

Tal e qual c'm' ê cá l'es tinha dito, abalí do Alferce só com uma cervejalha no bucho e p' ali mái uns coisalhos de bolo de tacho e um panito com chôriça qu' a minha Maria comprô lá na senhora Cidália.

Mái, isto hoje em dia, os carros andam que se marafam e, atão, foi coisa de pôco tempo, já se 'tava a chigar a Marmelete. Só que, béque-me, nã vi assim jêto nenhum de grande festa, ramordí baxinho p' à minha Maria:

- Tu nã me digas qu' a festa aqui foi só da parte da manhã e eles já baldearam o pórco assado todo...

- Ó homem, nã digas brut'lidades... Atã nã vês qu' a famila foi ô passêo deles lá ô Cerro dos Picos e agora 'tã a descansar um pôcachinho... E tamém hã-de 'tar c'mendo qualquer coisinha...

- Ê sê cá... É bom que tenhas r'zão, qu' ê já tenho aqui um bicho a rabear que nã dô conta dele... Mái, já agora que falas nisso, tamém havera de ter sido um passêo do melhor. Olha que esta, a gente nã se ter dado ir ôs dôs...

E dig'-l'es agora, que já ôvi incarecer, qu' o passêo de Marmelete foi ô Cerro dos Picos e foi uma coisa do melhor. Isto nã falando nos que foram de b'cicleta que des que correram p' aí os cerros quái tôd's da freguesia p'r donde havesse estrada.

Ôvi falar qu' andaram, perto ó certo, umas oito léguas... Sê cá s' os marafados nã 'tarã p'r aí a fazer tenção d' ir à volta a Portugal!... Ê cá, ô Cerro dos Picos, calhando, inda tinha canoiras p'a dar ido e vindo, mái, agora, amontar-me numa b'cicleta e andar aí cerro abaxo, cerro acima... já nã tenho fôl'go p'ra isso. Era d' adregue era nã me dêxar p' aí arrabolar p'r uma barrêra abaxo e ir parar drento dum balsedo...

Mái, nesse entrementes, já a gente tinha corrido o Povo todo - isto no voksvagem da Zèlinha, 'tá bom de ver - e já se vinha dando a volta além p'r trás da África, de manêras a vir dar à Casa do Povo. E atã nã é que béque-me desatí a lombrigar assim um fuminho a sair de lá de drento?...

Baile do Maio - Marmelete
Tã penas o fole soô, rompé tudo a balhar naquela casa...

- Nã veêm já há além quasequer coisa p' ôs lados da Casa do Povo?... Aquilo há-de ser eles a acenderem o fogo p'a assar o bác'ro...

- Nã vejo nada... - Diz a Zèlinha.

- Ah... e a mim até béque-me já me vem aqui um chêrinho e tudo... - Acode a minha Maria que tamém já tinha a barriga incostada às costas.

- É eles que 'tã ali a adiantar serviço, sim...

Tã penas tinha acabado de falar, assim ela aparô no largo da Casa do Povo. E ê cá salto do carro e vô-me logo d'rêto adonde via luzir o fumo. Ora, dô com uma coisa que nem vomecêas quêram saber... Qual bác'ro nem bác'ro... um pórco bem dumas sete ó oito arrobas, espetado num ferro e já c'm'çando a t'mar uma corzinha.

Daí im diante, nem tenho preciso de l'es contar... que vomecêas já calculam o que se deu. Aquilo foi comer e bober, balhar e charolar, e, ô fim da festa, os que tinham de guiar carro p'a ir p'a casa, aprometerem uma coisinha qualquer ô S. Cr'stóvã, p'a ele l'es levar a Guarda p'a longe do caminho...

Mái nã cudem, aquilo foi uma festa im grande... Ajuntô famila de munto lado. Os que moram im Marmelete e muntos que nã moram. Mái, d'zer a verdade, 'té dá gosto ver a famila s' ajuntar assim, tudo ad'v'rtido, e, parte das vezes, sem ser esperado, incontrar amigos que passa-se anos que nã se l'e põe os olhos im riba.

Festa do Maio - Marmelete
Alguns ad'v'rtiam-se ô bem fêto, méme sem balhar...

Foi o que se com o mê parente Chico da Varja, que 'tá lá p'ra baxo p' à Varja do Farelo faz muntos anos, mái gosta semp'e de parcer p'r cá nestas ocasiõs.

ê cá tinha ido b'scar sê cá os pratos de carne assada que foram e provado um v'nhito casêro dum garrafanito q' um amigo bom - dos do melhor, 'tá bom de ver - levô pra lá assim c'm' quem nã quer a coisa, foi q'ondo dí p'r o parente Chico andar p'r 'lí a balhar, inda com um desembaraço c'm' t'vesse a ametade dos anos.

Nã foi caso p' admirar qu' aquilo 'tava munta famila, munto banzé, e, atão, sacuáso me descuido, era certo e sabido que nem repàirava no homem. Mái vá lá qu' aquilo calhô, méme ô queres, na altura da moda acabar, ele larga a velhota que tinha ido puxar e vai assim quái d'rêto ô balcão, béque-me chê de secura.

- Parente Chico! Ó parente Chico!... - Brad'-l'e ê cá, com q'onta força tinha.

Más ele, com a ãinsa de molhar as goélas, nem p'r nada que ôvia e só aparô ô sentir o balcão incostado à barriga. Aí, fui-me a ele e dí-l'e uma manetada na espinha. O homem volta-se de rompante, com cara de pôcos amigos, mái p' ô marafado que ôtra coisa, quái a qu'rer infelpar-se com-migo.

Punhana!... Mái, assim que dá com olhos em mim, esmorêce, desata a rir e vá de m' abraçar.

- Atã, parente Chico, o qu' é que se faz?... Já tinha bradado p'r si um porradão de vezes e vomecêa nã me ligava...

- É que nã ôvi, parente. Com este lanedo... Olha s' ele havia tempo qu' a gente nã se via!...

Inda mal a gente nã se tinha comprimentado, já ôtro amigo - mái dos tempos dele que dos mês - se vinha apròchigando. Era o ti Mané Maria.

Um belo amigo - nã desfazendo - com noventa e um anos, já fêtos, mái semp'e sast'fêto. E marafado p'a se meter com as moças, home... A primêra coisa qu' ele fez foi, im vez de comprimentar a gente, ir dar uma tanganhada numa moça que p' ali 'tava, munto mái nova qui ele, méme sem na conhecer. Más ela nã fez assim munto caso dele. Atã, virô-se p' à gente.

Ti Manel Maria - Marmelete
O ti Mané Maria, méme com os sês noventa e um anos, jã fêtos, anda semp'e sast'fêto...

- Haja saúde... Mái atã, 'tarê inganado ó vomecêa nã é ali daquela famila dos Refóias?...

- Sô, sa senhora. Mái me 'tá vomecêa a conhecer... Atã e aqui o mê parente, nã sabe quem ele é?

- Quem?

O homem já vê um coisinho pôco...

- Aqui o mê parente Chico da Varja, ti Manel. 'Tá bem qu' ele 'tá lá p' ô Algarve faz bem muntos anos, mái mecêa há-de-se alembrar dele...

- Olha o Chico da Varja!... Atã nã havera de conhecer?!... Somos do mémo sortêo. S' um é velho, o ôtro nã é novo...

- Ah, sã da méma idade...

- Ó Chico, nã t' alembras daquela parte qu' ê fiz ô padre Espanhol, já ê era casado?...

- Ah, atã isso já ê morava lá p'ra baxo, há que tempos...

- C'm' é que foi isso, ti Manel? Conte lá!...

E o homem p' ali desatô a contar a históira que se com o padre Espanhol - Dés o tenha im bom lugar - e a m'lher dele e ele, mái, com o banzé que p' ali 'tava e o ti Mané Maria já um coisinho escorvado e sem dentes quái nenhuns, nã panhí a bem d'zer nada do qu' ele disse.

Aquilo foi uma parte que se com a m'lher dele, que foi tratar fosse lá o que fosse com o pad'e Espanhol. Ora o pad'e Espanhol ch'mava-se assim qu' ele vê de Espanha fugido à guerra - o nome dele era Crisântemo ó coisa assim... - e havia quem d'zesse qu' ele tinha panhado aqueles gazes qu' eles usavam lá na guerra.

De manêras que, o homem nã tinha lá munta pacência p'a aturar as parvoêras de cada um e, em as coisas nã lhe calhando lá munto bem, dava com cada garreão a qualquer um q' uma pessoa até ia de zambareta fugindo d' ô pé dele. Foi o que se com a m'lher do ti Manel.

E o qu' é qu' o ti Manel l' havera de dar na cabeça?... Foi de venta arreganhada d'rêto ô padre tirar temas. Ê cá nã vi, mái aquilo havera de ser o bom e o bonito. O padre a falar mê espanhol, mê português e o ti Manél a falar à nossa moda qu' o padre nã havera d' intender coisíssema nenhuma, os dôs inzàinados que nem cãs...

Más olhem, foi um descanso. Q'ondo os dôs d'zeram tudo o que tinham p'a falar, que nã ôviram nada do qu' o ôtro disse, f'caram amigos e aquilo passô adiente c'm' se nã fosse nada.

Fazendo 'o quatro'
O mê parente das Vinhas, méme um coisinho impeçado, inda fazia o quatro qu' era uma lindeza...

Inq'onto o ti Mané Maria ia p' ali arredondando o conto dele, peguí em mim e fui lá p' ô lado d' adonde eles 'tavam a assar o pórco, a ver se trazia mái uns pedacinhos de carne de febra assada. Más aquilo era à bicha, tive que me pôr atrás dos ôtros e esperar um belo pôco.

Foi à medida de m' incontrar com ôtro parente e amigo do melhor, qu' é assim quái par'cido com-migo. Já os nossos bisavozes, q'ondo calhava, gostavam de provar uns calcesinhos dela e, atão, isto vem na gèração.

Mái o homem, méme já um coisinho escorvado, fez-se forte - assim é que é!... - e vá de se meter com-migo:

- Vá lá aqui um retrato ô sê parente das Vinhas!... Vá qu' é p'a f'car de lembrança...

- Ó mê belo amigo, ponha-se já aí... Mái tem que fazer o quatro... Só l'e tiro a fazer o quatro...

- Só se já!...

E sabem o que l'es digo? Nã foi logo à pr'mêra, mái aí à quarta ó quinta vez, lá s' enqu'librô que dé p'a l'e tirar este retrato que l'es amostro aqui...

E assim se foi passando a tarde. Bem que dava p'a contar mái umas partes ingraçadas que p'r lá se deram, mái c'm' já foi há uns belos dias que foi o Maio e p'a nã nos 'tar a impertenecer más, fic'-me p'r 'qui.

Festa do Maio - Marmelete
Uma coisa que me dá sast'fação é ver os môces nôvos parcerem nestas coisas...

Só o qu' inda gostava de l'es d'zer era que, se nã 'tô atribuído, béque-me vejo cada vez par'cer mái famila nestas festas daqui da nossa zona, tanto faz serem coisas da igreja c'm' das Juntas e da Cam'bra. E munta moçada nova, mês belos amigos...

Pronto. Agora, se qu'rerem ver mái retratos da festa do Maio de Marmelete, acalquem aqui na galeria da festa do Maio de Marmelete. E já agora, quem qu'ser ver do passêo do Alferce, é aqui na galeria do passêo do Alferce.

Até um destes dias e saúde da boa.

04 maio 2007

O Passêo do Maio no Alferce

Passeio do Maio - Alferce
O passêo do Maio do Alferce foi quái duas léguas p'r caminhos velhos...

Ontordia, sube que, tanto im Marmelete c'm' no Alferce, faziam um passêo no Dia de Maio. Ora, f'quí logo empeçado... Tanto qu' ê cá gosto de dar pessêos a pé e nã dava ido ôs dôs. Inda me pus a ver se s' aquilo se dava resolvido d' alguma manêra, mái, só-se!...

De manêras que, vô-me caminho do mê compad'e Jôquim do Barranco e desafi'-o p'a ver s' ele tinha coraja d' ir com-migo e com a minha Maria, tanto fazia a um c'm' o ôtro. Era o qu' ele gostasse más.

Mái, qual o quem!... O homem, semp'e com aquele jêtinho dele, molengão e passo lento, que custa a mexer uma bota sem pedir l'cença à ôtra - vá lá qu' ele nã 'tá aqui que nos oiça... - tirô-me logo isso da idéa:

- Ai c'pad', tenha pacência, mái p'ra isso nã me convinde... Já sabe qu' ê gosto é d' andar cá à minha manêra e essa malta nã tem nada im andar depressa demás e, atão, nã espere p'r mim.

- Nã me diga que nã faz esse jêto à c'mad' C'stóida, que tamém havera de gostar d' ir...

- A minha C'stóida?!... Atã ela custa-se a mexêr, que já quái que nã ido a pé à missa... Veja lá que já, um destes dias, me disse qu' ê l' havera de ch'mar um carro de praça...

- Olha que essa...

- Tire daí o sentido, compad'e Refóias. Tire dái o sentido qu' ê cá nã vô.

Pensí cá p'ra mim:

- Tenho qu' ir bater a ôtra porta, 'tá visto...

É que, sòzinho com a minha Maria, béque-me nã me dava jêto ir. E atão disse-l'e a ela que, se qu'sesse ir, tinha qu' arrenjar companha. Más sabia è cá qu' isso era o que nã l'e dava cudados nenhuns a arrenjar.

Monte da Lameira - Alferce
Foi um passêo só com vistas do melhor, c'mo esta do Monte da Lamêra...

- Oh homem, atã isso manda-se já recado l'a p'ra baxo p' às minhas amigas qu' elas, é mái que certo, que parêcem p'r 'í...

- Atã, trata tu disso, se tens portador que l'es dê o recado...

- Qual portador nem portador... Elas têm telefone, tamém nã é assim uma f'rtuna tã grande c'mo isso, l'es tel'fonar...

- Faz c'm' quêras, qu' ê cá já fiz a minha parte. Mái vê se tratas disso a temp' e horas...

Nã sê lá c'm' é qu' ela fez a coisa, mái, ô certo, ô certo, é que, Dia de Maio, logo ô clarear, já elas cá 'tavam, todas bem arrenjadas, p'a se fazerem ô caminho. E abalô-se. Entes, inda l'es prècurí se gostavam mái d' ir ô Alferce ó a Marmelete. Mài elas pôco l' emportava. Qu'riam era laré...

D'zer a verdade, ê nã disse nada a ninguém, mái já tinha resolvido c'm' fazer a coisa. Leví a matinar uns belos dias 'té que me vê cá uma idéa à cabeça.

C'm' elas tinham carro, o melhor era s' ap'vêtar a manhã no Alferce, qu' o passêo passava p'r uma adega de madronho e semp'e haveram de dar lá uns calcesinhos dela à famila, e, à tarde, ia-se a Marmelete, que tinham lá um pórco p'a assar, e inchia-se lá uma barrigada de carne.

E assim se fez.

Atã vô-l'es falar do passêo do Alferce e, despôs, logo l'es falo da festa de Marmelete. Que foram os dôs do melhor que possa ser...

Adega do Monte da Lameira - Alferce
No Monte da Lamêra, aparô-se p'a b'ber um calcesinho dela...

Pôs inda bem nã se tinha abalado do Alferce - aquilo era de manhã, p'la fresca - já se 'tava a decer p' ô Monte da Lamêra. Qu' era, calhando, o sito que más ent'r'ssava a parte dos qu' ali iam... E isto p'rquem?...

É que, no Monte da Lamêra, 'tá uma gradessíss'ma adega, qu' era da Famila dos Melos, uma coisa do melhor que cá o Parente já viu im sito p'a estilar aguardente. Aquilo tem tôd's os cómados e é campôso p'a se trabalhar à larga.

Altrafices, isso tem que nã falta coisíss'ma nenhuma. Vasilhas im madêra, é uma preçanada delas. 'Tá bem que já nã se pode fazer ser uso delas qu' eles nã querem, mái fazem vista... Mái dêxa-se isso p'a trás, qu' ê cá, em calhando, logo l'es conto c'm' é qu' é isso de estilar o madronho.

Pôs quem 'tava lá a arreceber aquela matula toda do passêo era um senhor que mecêas há-dem conhecer, qu' ele é ali da Caxa. É o senhor Zé Palo. Mái nã cudem, o homem nã foi só dar uns porretes im forte à gente, que foi inq'onto se quis - e nisso l' agradêço que nã dêxí lá a parte que me pertencia, nã senhora - é que tamém dexplicô aquilo à gente qu' até dé consolo ôvir.

Com aquilo tudo e c'm' àquela era da boa, inda o desafií p'a me vender uma garrafinha dumas qu' ele tinha ali im cimba duma mêzinha à nossa frente. E sabem o qu' é que se deu?... Nã me vendido denhuma...

E nã me dé vendido perquém. À uma, qu' ele des que tinha pôca - mái p' à gente, o homem fazia semp'e um jêtinho, 'tá bom de ver... - e, despôs, p'r mode nã ter ali o livro das facturas. É qu' eles, agora, obrigam a famila a pôr ali um selo no gargalo da garrafa, com um numbre, e atão vá lá despârcer uma garrafa daquelas que nã fique resistada lá nessas ditas facturas...

E tamém falô na guia de marcha e tal, nã sê quem, nã sê quem... Olhem, no mê tempo, guia de marcha era um papel qu' eles davam à gente p'a s' ir assentar praça ó, atão, q'ondo mandavam um homem dum q'ôrtel p'ô ôtro. Agora, a aguardente tamém tem. 'Tá bem caçado, sa senhora...

E já com uns q'óntos caláiços no bucho - e nã cudem qu' eram mosquitos, que nã eram... - lá se pusemos a caminho qu' inda a Umbria 'tava desviada e a Fonte Santa nã se fala... E em chigando lá, faltava ôtr' tanto caminho p'a andar.

Passeio do Maio - Alferce
Na Fonte Santa da Malhada Quente, quem tinha, c'mé um farnel, quem nã tinha, b'bé água da bica...

Mái aquilo, com os calcesinhos que se bebeu, a famila toda munto ad'vertida, as vistas do mái bonito que possa ser e tôd's a ver se nã faziam má figura p'a nã f'carem p'a trás, nã tardô quái nada que nã se 't'vesse a chigar à Fonte Santa da Malhada Quente.

Ora, já se vinha a dar à perna bem há uma duas horas, pert' ó certo, aquilo foi tudo a ver quem s' assantava pr'mêro e puxava do farnel p'a matar a larica... Até o pobrezinho do cão lá do homenzinho que toma conta dos banhos - o ti D'mingos - par'cé logo a ver s' apr'vêtava p'r 'lí algum miolo de pão que fosse aparar ô chão. Mái béque-me nã teve assim munta sorte...

E já agora, apr'vêto p'a l'es d'zer uma coisa. Calhando, muntos de vomecêas inda nunca foram a tal sito. Más, olhem, era bom que fossem. Metem-se na estrada do Alferce, im chigando à P'rtela do Estiêro, se qu'rerem, bebem um porrete na venda da Senhora Mari' J'sé, tornejam p'ra baxo e, tanto faz a pé ó de carro, im menes de nada 'tã na Fonte Santa.

Nã é que seja um sito com grandes vistas, qu' aquilo é lá no fundo do barranco, mái água é c'm' à das Caldas, tem a méme virtude; sombras, é do mái fresco que há, com aqueles amiêros tôd's; sossego, nã se hôve coisíss'ma nenhuma, tirando um passaralho ó ôtro e a água a correr, córgo abaxo. O qu' é que mecêas querem más?...

Calhando, foi p'r mode isso - ó nã saria, qu' os tacõs das botas já pesariam a alguns... - que foi uns trabalhos p' à famila abalar dali p'a trás, ôtra vez caminho do Alferce. E agora, era quái sempre a assubir. Olhe qu' ele havia lugares que quái que se tinha qu' ingraminhar, d' ingres que eram...

Passeio do Maio - Alferce
A ti D'mingas, que Dés a conserve com os sês 99 anos, vê logo dar de vaia à gente...

Mái, a seguir à pr'mêra arrencada, lá se panhô uma chanita d'rêta que dé p'a t'mar fôl'go. É logo ali p' àquelas bandas do Escalfado q'ondo se vai p' ô do Bate-Fandango. E calhô bem qu' a ti D'mingas, que já tinha visto aquela chusma de famila passar p'a um lado, agora, à volta 'tava logo ali à coca p'a se meter com a gente.

Ô chigar ô pé dela, salta-me logo:

- Venha com Dés, menino...

- Atã c'm' vai isso, ti D'mingas?... O qu' é que se tem fêto?...

- Ai, 'tô munto im baxo... Tenho andado p' aqui com umas dores... Dói-me isto aqui tudo, nã vê, aqui assim... E tamém já nã vejo grande coisa... Nã vê, já tenho munta idade. Sã 99 anos, já fêtos no mês de Março...

- Eh'q... Há p'r 'í tantos, mái nôvos, que tamém se quêxam do mémo...

- Mái dexplique-me lá quem é que mecêa é, qu' as minhas vistas nã alcançam a l'e tirar bem as fêçõs...

Lá l'e 'tive a deslindar bem quem era, quem nã era, falô-se deste e daquele, e inda l' achí uma idéa tã boa que, qualquer um que nã saiba, nã l'e dá aquela idade nem lá p' ô pé...

- Pôs fique-se com Dés e que tenha munta saúde, qu' ê cá, pr' ô ano, quero ôvir falar que l'e fazeram uma grande festa q'ondo fazer o cento...

- Ai, nã ne fale nisso, qu' ê nã sê se chego lá...

- Ai nã que nã chega!... E inda há-de fazer bem muntos má's. Com essa r'jeza...

- Vá com Dés, ti Refóias...

Bolos regionais - Alferce
A senhora Cidália sabe fazer bolos e pão de toda a q'ôlidade. Nã veêm?... Désna de panitos com chôriça a bolos de tacho e de massa temp'rada, há de tudo...

D' ali p'ra diante, em s' atravessando a estrada d' alcatrão, foi só assubir à rôpa toda até lá im riba à Êra Covada. Tã penas se lombrigô o Alto de Baxo a luzir perto do Alferce, aquilo foi c'm' quem tirô um peso de cinco arrôbas das costas d' alguns...

O que nã me calhô lá munto bem foi que já ia tôdo fêtinho p'a c'mer uns coisinhos de carne frita lá no Alferce, numa barrequinha qu' eles usam a ter lá p'r as festas, e, desta vez, panhí um charimbote. Peço uma bifana, à manêra, lá ô amigo que lá 'tava, e nã qu'ria crer no que ôvia:

- Hoje nã temos, ti Refóias. Agora já nã dêxam.

- Já nã dêxam?!... Atã que jêto?...

- Ai, vomecêa nã sabe, ainda?... Isto, agora, quem qu'rer fazer bifanas tem de trazer f'igoríf'co, óleo lá c'm' eles querem, ter uns papeles aí nã sê d' adonde, e mái uma preçanada de coisas qu' ê nã l'e sê contar. Quem nã tenha, veêm aí os fiscás, levam-l'e tudo e inda l' atancham com uma murta qu' até vai lendo.

- Pôç'ras!... Isto, mái logo, é melhor um homem s' ir mandar matar!... Nã se pode fazer madronho, nã se pode fazer mortepórques, nã se pode fritar carne, nã se pode fazer nada... Má atã o qu' é isto, senhor?!...

- Isto 'tá assim... O qu' é que mecêa quer...

- O qu' ê cá qu'ria era c'mer qualquer coisinha... Mái, dêxe lá. Vô-me ali à da senhora Cidália qu' ela tem ali uns bolinhos de tacho e panitos com chôriça e de torresmos, até bolos de massa temp'rada ela tem. E tudo do melhor qu' ela sabe fazer munto bem. Dê -me lá aí uma cervejalha p'a acompanhar, fazendo favor...

- É só o que tenho p'a vender é cerveja...

- Tamém nã faz mal, qu' ê, nã tardando, abalo p'a Marmelete e eles 'tã lá a assar um pórco, há-de-me acabedar algum pedacinho...

E assim fiz. Mái com respêto a Marmelete, logo l'es conto daqui a uns dias, qu' a minha Maria fez-me aí uma parte e ê cá, agora, nã tenho ocasião de l'es contar o resto.

O qu' é qu' a minha Maria me fez?!... Olhem, dé o nome da gente p'a ir aí a uma banda com uns amigos e, atão, vai-se 'tar uns quatro ó cinco dias p'r fora. Em se voltando, conto o resto.

Mái p'a nã perderem tudo, se qu'rerem ver mái retratos do passêo do Alferce, e da festa do Maio de Marmelete acalquem aqui na galeria do passêo do Alferce e na galeria da festa do Maio de Marmelete.

Atã, assim, passem munto bem e até p' à semana. Dés l'e dê munta saúde.

25 abril 2007

O Maio nã tarda aí nada...

Programa do Dia de Maio - MarmeletePrograma do Dia de Maio - Alferce
Im Marmelete há passêo e bolos de tacho. No Alferce é a méma coisa...

O Dia de Maio 'tá méme quái a chigar - é já Terça que vem - e a famila das Juntas de Marmelete e do Alferce béque-me até fazem presunção nas festas que dão p' ô pessoal d' agora s' alembrar do c'm' é que se fazia nôt's temp's.

E, atão, toca de, cada uma, fazer o sê passêo, à pata e de b'cicleta, p'a desinferrujar as pernas e, do mê-dia p' à tarde, quem tenha fêto bolos de tacho apresenta-se com eles p'a amostrar q'onto vale. E quem é que ganha com isso?...

É os que lá vã, c'm' ê cá, que nã se tem reméd'o senã provar um coisinho de tôd's p'a se ver qual é o melhor. E semp'e se l'e bebe tamém uns calcesinhos dela p'a desinfastiar e alimpar as goélas. Senã, era d' adregue qualquer um nã f'car p' ali imbaçado a pontos de nã dar t'mado ar.

Picos - Marmelete
O passêo de Marmelete nã sê p'r donde passa. Mái há-de ser coisa assim ó inda melhor...

Com respêto à Junta de Monchique, já soô pr' aí que tamém faziam quasequer coisa c'm' ôs ôtr's anos, mái inda nã vi p'r 'í béque-me rèclame nenhum... Mái é capaz d' inda par'cer alguma coisa. Tenho a firme certeza qu' eles nã se dêxavam f'car p'a trás...

Agora uma coisa l'es dig' ê cá. 'Tô bem munto impeçado com este caso. Atã, é tudo mái ó menes igual, ô mémo tempo e a uma lonjura duns vinte quilómetros ó más... Ê bem que me pelava por ir ôs lados tôd's, mái já vi que nã . Olha que esta, han!... É que se dum lado é bom, do ôtr' nã l'e fica atrás...

Só l'es digo que tenho levado p' aí a matinar e inda nã terminado o qu' é que vô fazer. Mái, até ô Maio, logo se vê. Agora vomecêas, que vã a um lado que vã ôtro, nã se desqueçam de par'cer, senã, nã sabem o que perdem.

Umbria - Alferce
O passêo do Alferce, p'a ir à Fonte Santa, há-de passar bem à rèzinha da Umbria...

E agora, premode festas, vê-me à idéa que 'tamos, hoje, no 25 de Abril. Mê belo 25 d' Abril!... Se nã fosse ele - melhor d'zendo: se nã fossem os que t'veram a foiteza d' o fazer - inda se 'taria p' aí a alancar com aquele crujedo daqueles filhos duma magana que mandavam nisto nôt's tempos.

E inda há p'r 'í quem diga que tem sôidades daquele velho, o tal Salazar, que fez o que munto bem quis inq'onto cá 'teve e inda l'e sobrô tempo. Punhana!... Ó nã no conheceram bem ó 'tã munto desquecidos. Des qu' até hôve p' aí um concurso na tel'visão qu' o puseram im pr'mêro lugar...

Nã sê se puseram se nã puseram, qu' ê cá nã vejo tales bodegas, mái se puseram tamém fazeram uma linda figura... Tenham a firme certeza qu' o mê Jericó, o mê burro, ó mémo o Larga-Traques, qu' é o burro do mê compadre Jôquim do Barranco e inda é mái imparvetado qu' ô meu, nã faziam nunca os donos panhar uma vergonha dessas.

Mái atã, isto tem qu' haver de tudo...

E, despôs do Maio, logo sabem c'm' é a coisa foi resolvida, qu' ê logo l'es conto. Havendo vida e saúde, 'tá bom de ver.

Passem tôd's munto bem.