28 maio 2009

Dia da Espiga - 2009

Quinta-Feira da Espiga 2009 - Barranco dos Pisões - Monchique Tal acham esta cruz com um lindessíssemo ramo da espiga?...

Nã sê premode quem, este ano, tanto se faz ê cá e minha Maria c'm' os mês compadres, pusemos-se a pôco com o Dia da Espiga, chigô-se às béspras e inda nã se tinha combinado coisíssema nenhuma com respêto ô que fazer.

A gente usa a ir tôdes juntos à missa campal do Barranco dos Pisõs e, este ano, tamém tinha ôvisto d'zer qu' havia lá festa. Mái nunca liguí cá a isso e contava qu' a minha Maria e c'mad' C'stóida t'vessem combinadas e arrenjassem uma buchazinha, a tempo e horas, p' à gente c'mer lá.

Mái as marafadas, c'm' ê cá e o mê compad'e Jôquim do Barranco nã se falasse no caso, tamém nã t'veram p'a moer a cabeça com isso e, já na quarta bem de nôte, inda a coisa 'tava munto tremida.

Mái a minha c'mad'e C'stóida havera de 'tar já im cudados e, atão, quái c'm' quem nã quer a coisa, dé uma fugida aqui ô mê monte, 'tava a gente a cear, bate à porta e dá de vaia:

- C'mad'e Maria!...

Diz a minha:

- Antre, c'mad'e C'stóida. O pestigo 'tá só incostado... Ponha o braço p' drento que chega à tramela...

De manêras que, a m'lher lá antrô, falô à gente e desata logo a prècurar:

Quinta-Feira da Espiga 2009 - Barranco dos Pisões - Monchique Na missa campal, inda assim, 'tava bem munta famila...

- Mái atã, amanhão mecêas nã vâ a banda nenhuma?... Dia da Espiga...

- Atã, meceas nã d'zeram nada... A gente cudava que se ficava tôdes ô monte...

- Qual o quem!... Quinta-Fêra d' As-sunção nã se pode fazer coisíssema nenhuma de trabalho... É o dia mái santo do ano, c'madre... S' os passarinhos sabessem, nem ô ninho iam nesse dia!...

- Sempre tenho ôvisto d'zer...

- Olhe, ê cá inda nã tenho nada im orde, mái, nem que nã me dête esta nôte, vô-me arrenjar ali qualquer coisinha e im casa é que nã fico... O qu' 'e que me diz, c'mad'e Maria?...

- Ê cã... tamém nã tenho assim nada a jêto, mái nã hê-de dar arrenjado tamém p' aqui quasequer coisinha p'a nã se passar fome?...

- Atã e mecêa, compd'e Refóias, nã l'e parêce qu' ê tenha r'zão?...

- Tem, sa senhora, tem c'madre...

D'jando 'tava ê cá qu' elas dessem ordes à vida e arrenjassem uma bucha... Mái calí-me munto bem caladinho qu' aquilo era caso p'a m'lheres nã era p'ra mim... Ô certo, ô certo é qu' elas lá arrenjaram o que munto bem intenderam e, Dia de Espiga, semp'e se foi até ô Barranco dos Pisõs.

D'zer a verdade, este ano, béque-me nã 'tava lá assim tanta famila c'm' jã tenho visto d' ôtras vezes. Mái o mê compad'e Jôquim nã 'tava lá munto certo nisso. Nã falando no ti Manel dos Pôrtos, qu' é um coisinho tem-môso, e des que nã era nada assim.

Quinta-Feira da Espiga 2009 - Barranco dos Pisões - Monchique Despôs da missa, jogamos-se a c'mer, foi até mái não...

- Ó ti Refóias, que jêto d'zer uma coisa dessas?!...

- Pôs digo. Acho aqui pôca famila, este ano. P' ô que era uso 'tarem...

- Cale-se pr' ai, parente!... Atã isto 'tá aqui quái o drobo do que já tenho cá visto...

Esta conversa passava-se já munto despôs da missa campal ter acabado, q'ondo a gente já tinha batido quái uma àmetade do decomerzinho qu' elas tinham levado. E tamém já se tinha despachado uns belos copinhos do tal casêrinho qu' ê cá e o mê compad'e se usa a fazer tôdes anos.

Isto, p'a nã falar duns porrêtes dela qu' o Tóino Arraúl andava sempre a despejar p' à malta toda, que, q'ondo chigô à hora de c'mer os bolos já tinha a garrafa munto p'ra menes de mêa. E o ti Manel nunca f'cava no rastolho. Aprevêtav' ôs tõdes...

E, calhando, premode isso o homem já via a dobrar. E, atão, tem-mava a pés juntos que nunca tinha visto aquilo tã chêo. E fosse lá uma pessoa l'e d'zer o contráiro...

Mái, que 't'vessem muntos ó que t'vessem pôcos, a gente ad'v'rti-se ô bem fêto. Chigô a uma altura qu', aquilo, era velho e era novo, tudo balhava. E nã era p' a admirar. 'Tava lá um conjunto, ch'mado "Dupla Geração" - môces méme aqui de Monchique - que tocava qu' era um consolo. Aquelas modas assim inda do nosso tempo. Nã era cá aquele batuque d' alguns que quái qu' arrebentam com os cascos duma pessoa...

Com isto tudo dé-se foi uma parte escamungada qu' ê cá nã 'tava à espera. C'm' vomecêas sabem, a festa é logo ali preciminho do Moinho do Poucochinho e a Junta põe sempre aquilo a foncionar p' à famila ver c'mo é que se fazia a farinha nôt'es tempos.

Quinta-Feira da Espiga 2009 - Barranco dos Pisões - Monchique Em se vendo com a barriguinha bem chêa, vá de balhar...

Põs, com aquele alvriamento todo, q'ondo dí por ela já o moinho tinha moído e já 'tava tudo aparado. Farinha de milho - p' às papas, 'tá bom de ver - tamém já nã havia nenhuma... Inda fui lá rabiscar, mái nem p'a umas papas p' ô mê gato "Lá Bechana" aquilo dá q'onto mái p'ra mim e p' à minha Maria...

Qu' ê cá f'quí desconfiado qu' eles tamém tinham ajuntado pôca água na presa e ela desgotô-se im menes de nada. Ora, com a presa vazia as mozes nã moem, nã l'e parêcem?... Mái ê cá já tenho visto aquilo ôs ôtres anos, dêxa-se isso da mão...

Méme assim, inda tirí lá uns retratos ô que 'tá lá drento do moinho - e olhem que 'tã lá umas coisas ent'ressantes... - um destes dias logo l' es falo nisso e amostro-as a todos.

Agora querendem ver mái alguns retratos da Dia da Espiga, é só acalcarem aqui na Galeria do dia da Espiga.

E até qu' a gente se veja.

04 maio 2009

Minha bela Via Algarviana!...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
A Via Algarviana, punhana!, é andar e andar p'r esses cerros fora...

Fui andar na Via Algarviana quái duas semanas e já cá 'tô há uns belos dias, mái c'm' voltí de lá todo desmastreado e tinha um poder de coisas p'r fazer premode nã ter 'tado ô monte aquele tempo todo, só inda agora dí tirado um pôcachinho p' ôs comprimentar e l'es d'zer c'm' é aquilo foi.

Pôs atão, 'tejam com Dés e sejam munto bem par'cidos. Calhando, 'té já havia p'r 'í quem cudasse qu' ê cá me tinha barimbado nisto. Nã senhora!... Posso-me atrasar assim um belo coisinho c'm' agora, mái largar isto de mão sem más esta nem más aquela, isso é que tinha que ver...

Pôs é verdade, abalí ôtra vez caminho da Via Algarviana e a coisa este ano até que foi duma manêra qu' ê cá nã 'tava munto à espera. Logo no pr'mêro dia, ajuntô-se uma data de famila que foi uma coisa p'r demás...

Só de Lisboa vieram tantos ó tã pôcos que nem os cheguí a dar contado. Mái, sigundo me contaram, menes de sessenta nã eram. Ora, contando tamém os de cá de baxo, formô-se um ajuntamento duns oitenta. À vontade!...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
Q'ondo calhava, aquilo era c'm' nos tempos da tropa: vá de marchar!...

Vá lá qu' aquilo só durô dôs dias, qu' eles, despôs, t'veram que s' ir imbora, senã c'm' é qu' ê cá dava àgu-ento um passo daqueles, senhor?!... Os marafados nem p' ô lado olhavam. Aquilo era andar à rôpa toda até mái não, a ver qual era o que chigava im pr'mêro...

Mal alembrado, 'tá bom de ver, vêo-me à idéa que só faltavam ali os burros - só no últ'mo dia é que t'vemos dôs - p'a se tratar duma escavalhada. Isto sem ofensa. Nã se parêçam mal, aqueles que lá foram...

É qu' ê cá 'tava acostumado a andar com um passo um coisinho mái compassado e ir devassando tudo o que me 'par'cesse p'r aqueles cerros fora e, assim, quái a cem à hora, um homem mal tinha jêto era de tomar ar, q'onto más olhar p' ô lado e ver tanta coisa bonita qu' ele p'r 'í há...

Bom, mái dêxando isso da mão, que já se passô, a Via Algarviana, ô fim de contas, foi, c'm' no ano passado, uma coisa do melhor. Aquilo era homens, m'lheres, estrangêros... e, é verdade, já me desquecia, um cão!... O "Pantufa".

Olhem, aquilo, o "Pantufa" era um canito do mái bem caçado que pode ser e haver. Piquenalho, cacenho, coxo - que nã dava dobrado uma perna de trás - mái atão, rijo que nem l'es sê incarecer. É que nã parava nem um 'sntante...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
Uma ocasião, p' ali pus a máquina mémo no chão e ela tirô o retrato à gente, sòzinha...

O b'chalho, posso afiançar, q'ondo chigô ô fim, teve que ter andado bem uns dôs drôbos de qualquer um da gente. Atã ele fugia atrás de tudo o que mexia p'r aquelas estevas e balsedos, córgos e barrancos que nem uma seta...

Uma ocasião, afia atrás duma perdiz, joga-l'e a boca às penas do rabo, o bicho panhô um cagáiço tã grande ó tã pequeno, alevanta vôo d'rêto a mim, passa-me rente ô nariz, até me fez vento ô chapéu, vejam lá... P'r o sim p'r não, até dí um rafujão assim de repente p'a trás e agachí-me todo ô pé duma mongariça que p' ali 'tava.

D'zer a verdade, um destes dias, 'tive a contar isso ô mê compad'e Jôquim do Barranco, más o marafado béque-me nã f'cô lá munto certo... Qu'ele, atão, parte das vezes, p'a crer no qu' ê cá l'e digo, é uns trabalhos. Em nã vendo as coisas, 'tá semp'e desconfiado qu' os ôtros 'tã a antrar com ele.

- Ó c'pad' Jôquim, vomecêa tem cá um fêtio... Só acradita no que vê?!...

- Nã sabe que "gato escaldado d' água fria tem medo"?... Já me têm indròminado tanta vez!...

- Maí o qu' ê cá l'e digo é semp'e a pura da verdade, compadre...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
Muntos caminhos nã se dá ido dôs a par. Cá p'ra mim, sã os mái bonitos...

- Sê cá... Tanta coisa que mecêa me diz da Via Algarviana, até me dá que pensar s' isso sará tudo bem assim... Olhe, d'zer a verdade, - mái, veja lá, nã se parêça mal... - ê cá até nã sê se 'tô bem certo de vomecêa ter ido lá e andar esse dias todos c'm' diz pr' aí...

Ele bem disse p'a nã me par'cer mal, más olhem, tenho que d'zer qu' aquilo nã me caí foi nada bem... Inda 'tive p'a l'e responder ô consoante, mái, despôs, assobií assim p' ô ar, e lá me contive sem me marafar com ele...

- Compad'e Jôquim, atã ê cá ia-l'e d'zer uma coisa que nã fosse verdade?!... Fui, andí aqueles dias tôdes, nã fui dos mái ingònhados e, inda l'e digo más: cheguí ô fim, 'tava pronto p'a ôtra!...

Mintira minha, já se vê, qu' ê 'tava era todo escadraçado que mal me sustinha d' em pé...

- 'Tava, tava... Ê bem vi c'm' é que mecêa andava aí a arrojar as botas nos dias a seguir a ter chigado ô monte. Da perna esquerda, atão, até coxeava...

- Eh'q... Isso nã era bem assim... 'Tá bem que, já quái no fim, par'cé-me p' aqui uma borrefa ô pé do dedo grande, mái aquilo nã foi nada. Tanchí-l'e logo com uma agulha e uma linha das d' alhinhavar da minha Maria, pronto, foi um ar que l'e deu...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
A Travessa das Guerrêras foi munto gabada p'r os que lá passaram...

- Ai já viu?!... Ê bem me parcia...

- Atã, havera de ver ôtres que p'r lá andavam... Tinham os pèzinhos numa chaga pegada. Nem sê c'm' eles os davam mexido!...

- E os seus 'tavam na mesma... Ó pensa qu' ê cá sô assim tã trôxa que nã tenha visto isso tudo?...

Aqui, achí melhor mudar de conversa...

- Compad'e Jôquim, sabe-me d'zer s' eles deram água p' amanhão? Inda queria ver se sameava ali umas duas quadras de batatas empérias...

- Na Rádio Fóia nã deram, mái nas ôtras estaçõs nã sê, qu' ê cá nã oiço mái nenhuma.

- Calhando, vô-me cortar ali uma manchinha delas...

- Calha bem que, inq'onto as corta, vai-se falando mái um pôcachinho da Via Algarviana... A C'mad'e Maria des que mecêa vi-se lá foi um coisinho impeçado p'a dromir. Era a cama que tinha pôco cómado?...

E ele a dar-l'e!...

- Lá qu' a cama nã era grande coisa, nã era... mái, inda o pior era a roncadêra qu' alguns faziam. É qu' até aquilo estramecia tudo...

- Nã me diga...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
quái no fim, até burros a gente tinha. Nã fosse algum ter míngua de via...

- Ai nã digo... Havia menino que, tã penas se panhava espòjado na cama, inda mal tinha tempo de ter fechado os olhos, já roncava qu' até metia respêto... P'r menes uns dôs ó três, nã l'e digo nada...

- Mái, é certo e sabido que nã hôve assim mái nada que l'e calhasse mal a nã ser passar uma noite ó ôtra acordado. Tinham sempre os ôtros cómados todos...

- Lá isso é verdade... Tirando ter que tomar banho com água fria, uma vez ó ôtra, qu' isso até faz bem...

- Pôs, inrejece os ossos...

- ... e ôtras coisas sem emportância por 'í além.

- E o caminho, que tal? Andavam assim só p'r v'redas ó quem?

- Só-se!... Era p'r onde calhava. Tanto s 'ia p'r carr'lêras c'm' p'r v'redas ou ôtres caminhos qualqueres. Mái dig'-l'e já, 'tava tudo im boas condiçõs.

- Nã me diga!...

- Tirando um ó ôtro... Dé-se até um caso ali q'ondo se vinha de Silves pr' aqui p'a Monchique - perto dum sito ch'mado Romano - qu' hôve um entel'gente que se dé ô trabalho de pôr umas correntes atravessadas no caminho, presas a uns pilares de cimento, p' à famila nã dar passado...

2ª Grande travessia da Via Algarviana 2009
quái no fim, até burros a gente tinha. Nã fosse algum ter míngua de via...

- Mái vocêas passaram ô lado p'r o mêo do mato e pronto...

- Más é qu' ele, já contando com isso, derrubô tamém os calitros que tinha na berma e feze-os cair de manêra a f'carem a travessados no caminho...

- Mái isso, tamém, p'ra si e p'r ôs ôtres, um calitro ó dôs pôco trabalho l'es dé a arradar...

- Ai um calitro ó dôs... Era uma remessa deles!... E arves já de cinco, sês anos. Quem é que podia com aquilo?!... T'vemos que passar p'r baxo e eles lá f'caram atravessados.

- Im todo ô lado, há semp'e uns espertos desses...

- Sã c'm' ôs cãs da palha, compad'e Jôquim. Nã comem nem querem dêxar c'mer...

- Dêxe lá, compad'e Refóias, em eles morrendem, logo há-de haver quem l'e ponha as propriedades todas drento do caxão...

- Se lá cabessem, havera d' haver alguns que dêxavam isso im testamento...

E nã digo mái nada que fartos de tanta conversa já vomecêas 'tão. Nã falí nos que fazeram a Via Algarviana amontados im b'cicletas e im cavalos. E foram bem muntos!... Mái, p'a chigarem ô farol de S. Vicente ô mémo da gente, abalaram uns dias mái tarde d' Alcoutim. Fica p' à ôtra.

Agora querendem ver mái alguns retratos da 2ª Grande Travessia da Via Algarviana 2009, é só acalcarem aqui na Galeria da Via Algarviana.

E Dés l'e dê munta saúde ôs da Via Algarviana e a vomecêas todos.