19 dezembro 2010

O Jornal de Monchique faz anos

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Atã nã é qu', ôs 25 anos, o Jornal de Monchique já saíu 327 vezes cá p'ra fora?!... E 'tá p'a durar...


'Tive aí num certo sito com a minha Maria e, isto, as m'lheres, já se sabe c'm' é qu' elas são. Nã há coisíssema nunhuma qu' elas nã dêem notiça. De manêras que trôve logo uma nova p'a me dar, tã penas chigamos ô monte.

Nã é que seja coisa do ôto mundo, mái, d'zer a verdade, tem que se l'e diga. É qu' o Jornal de Monchique, chigando ô dia 21 deste mês, faz anos. E já tem uma bela conta, nã cudem... P'ro jêto, des que são já vinte cinco.

- S' acuaso isso é assim c'm' tu dizes, Maria, é certo e sabido qu' o chefe lá daquilo nã dêxa perder um atopo desses sem fazer uma festa de tôd' ô tamanho...

- Atã, e nã é caso p'ra menes. Já tenho ôvisto falar qu' ele parceram por 'í muntos jornás, daqueles que fazem lá im Lisboa e nôtras bandas, que nã duraram esse tempo todo...

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Tôdes meses, cá vem ele. Nunca falha...


- Calhando...

- E sará qu' ele, lá o chefe do Jornal, s' alembrará cá da gente? P' a s' ir tamém à função...

- Nã querias mái mel texugo?!... Logo, que o qu' ê cá tenho ôvisto é que o Jornal nã tem lá grandes posses p'a coisas dessas, e, despôs, que, mémo que t'vesse, o senhor dôtor Zé Gonçalo nã no ia consumir com a gente. Atã assim, ia a famila aí toda de Monchique...

- O senhor dôtor Zé Gonçalo?!... Atã é ele que manda lá naquilo?...

- Cudo que sim. P'r menes é o que diz no Jornal: 'Director: Nobre Duarte'...

- Olha!... E ê cá a cudar que era o ôtro senhor dôtor, tamém da méma farmácia...

- Quem? O senhor dôtor Zé Manel?... Esse, béque-me, tamém manda lá bem munto, sim...

- Atã isso sabe-se... Já rapairaste quem é que escreve sempre, logo na sigunda lauda, umas coisas daquelas que têm que se l'e diga? Eles, se nã 'tô atribuído, chamam-l' 'editorial' ó uma coisa assim...

- Mái, nôtres tempos, béque-me nã era ele. Calhando, ora é um, ora é ôtro...

- Dos que mandam, em dôtores, só falta o senhor dôtor Paulo Rosa, qu' o senhor Carricinho, cudo ê cá, nã é tal coisa...

- Pôs não, mái sabe mái que muntos... Foi ele que insinô parte dos que, agora, sã dôtores. Essa é qu' é essa!...

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Mal se vê, mái 'tá ali a famila toda que faz o Jornal de Monchique...


'Tava ê cá e a minha Maria, sa senhora boa vida, no mêo desta conversa, logo pracàzinho da casola dos coelhos, soô, parêceque, uma rasmalhada ali p' trás dumas tôiças. Calamos-se e vá de s' ingrilar p'a lá a ver o que era.

Ora o que era. Era o 'Lanzudo'... O 'Lanzudo' é o canito do mê compad'e Jôquim do Barranco, um b'chinho, aquilo que se pode ch'mar uma coisa bonita. Todo branco, todo cabeludo, azedo do pior em 'tando ô monte, e nã pode ver nada mexer que joga-se logo.

E s'o 'Lanzudo' 'tava ali, era qu' o dono - ó a dona... - tamém nã 'tariam munto desviados. Bem dito, bem fêto, assim chigaram logo os dôs atrás dele.

´Tejam com Dés, venham com Dés, c'm' é 'tão, c'm' é que não 'tão, lá se falamos todos c'm' é dado. Volto-me ê cá p'a eles os dôs:

- 'Tava-se a gente aqui a falar qu' o Jornal de Monchique já há vinte cinco anos que começô. Vejam lá c'm' o tempo passa a fugir. Parêce que foi ontordia...

O Jornal de Monchique faz 25 anos
Faz uns tempos, nã sê o qu' é que l'es deu, desataram a pôr aqui as patacoadas do Parente da Refóias...


- Tó, diacho!... Já vinte e tal anos!... Pôs ê cá, mémo nã sabendo ler quái nada, arrecebe-o désna do prencipo. Gosto de saber aquelas coisas. E a minha C'stóida tamém...

- Sim tamém vejo quái sempre os retratos da famila que morreu e isso tudo...

- Atã e nã tem lido tamém aquelas patacoadas cá do Parente da Refóias qu' eles, faz uns tempos, desataram a pôr lá?

- Ê cá nã tenho vagar pra isso, compadre... Vejo os retratos e já é munto. O qu' é vomecêa cuda?... E p'a ôvir as suas patochadas nã tenho precisão de ler o Jornal de Monchique. É só vir aqui e ôvi-lo falar...

Aí, calí-me, qu' a minha c'madre C'stóida nã vinha de munto boa avêa e nã fosse a gente impinar p' ali os barretes.

Mái, voltando ô Jornal de Monchique, indo gostava dele fazer más ôtros tantos anos e ê 'tar cá p'a ver. Ah isso gostava! E s' isso nã se dar, tenho a firme certeza que nã é p'r o Jornal ter desparcido. Ê cá é que já fui fazer uma viaja só com bilhete p' à banda de lá...

Parabéns ô Jornal de Monchique e à famila qu' o tem fêto désna d' há um q'ortêrão d' anos até agora. Aguentem-no até o mê-cento, p'a nã pedir, logo, até ô moio.

E Dés l'es dê saúde.

03 dezembro 2010

Galeria de Santo António nã se nega ô puxo...

Exposição Retrospectiva Rui André na Galeria de Santo António - Monchique
Im Ôtubro, foi o Sr. Presidente Rui André qu' amostrô os sês lindessíssemos trabalhos dele...


A Galeria de Santo Antóino, agora, dé im pôr lá desenhos, bonecos, retratos e coisas assim p'a toda a gente ver, que nã se passa quái mês nenhum que nã parêça quasequer coisa de novo. É c'mo ôtro que diz, 'dé-l'e p' ali e nã se nega ô puxo'...

Agora o que mái me dêxô imbasbacado foi que, aí em prencipos do mês passado - ó saria inda entes do Banho do Vinte Nove, nã m' alembra bem - arrecebi um convite, lá p'r mêo daquela coisa que 'tá agora munto na moda - o Facebook - p'a m' apresentar lá, num certo dia, premode uma inaguração.

Mái nã cudem. Nã era uma inaguração p' aí dum artista qualquer... Logo, até béque-medí bem p'r ela, mái a minha Maria, que nã dêxa passar nada, q'ondo ê cá l'e li aquilo im voz alta, voltô-se p'ra mim, toda munto pespeneta:

- Rui André?!... Foi Rui André que tu d'zeste? Olha lá, atã isso nã sará o Presidente da Cam'bra? Ó home, olha que nã tem nada im ser ele mémo... Rui André, Rui André... Nã dô p'r haver aí mái ninguém com esse nome... Lê lá ôtra vez...

Exposição Retrospectiva Rui André na Galeria de Santo António - Monchique
E falô um belo pôco p'a quem l'e quis ligar. E era-se uma bela manchinha deles, nã cudem...


Ê cá, assim de mimento, f'quí um coisinho insarampantado, que nã 'tava a contar. E tamém, parvo, nã li logo aquilo tudo até ô canto de baxo. Que, s' ê cá t'vesse lido désna do prencipo até ô fim, 'tava tudo logo lá d'zendo... Qu' era o Senhor Presidente da Cam'bra de Monchique, um moço inda assim p' ô novo, que nã há ôtro nas Cam'bras todas com menes anos, que gosta munto daquelas coisas da arte, e más isto e más aquilo, e coisa e tal...

De manêras que, a m'lher terminô, logo ali naquele mimento, c'm' é qu' as coisas haveram de ser. A pr'mêra foi que chovesse ele ó qu' aventasse, nã passava sem ir lá nesse tal mémo dia da inaguração. E, em ela pondo uma coisa à idéa e d'zendo, tenham a firme certeza qu' é assim que tudo se vai dar...

Más a más, qu' aquilo, p'ro jêto, prantam sempre lá alguma coisinha p' a dar ô dente. E p'a molhar o bico tamém. E, aí, já nã é só ela que 'tá ent'ressada. Tamém ê cá 'tô... E quem é que nã 'tá, ham?!...

E, d'zer a verdade, foi-se os dôs e a coisa passô-se tal e qual c'm' 'tava pensada. E p'ro jêto qu' ê cá vi lá na famila toda, f'cô tudo imbêçado com o que lá viram. Foi retratos do melhor, foi desenhos, foi tudo...

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Com respêto à Amália, hôve quem d'zesse logo: "C'mo isto nã há..." ...


Passado um mês, eles ôtra vez de roda de mim e da minha Maria p'a s' ir a ôtra inaguração lá no mémo sito... E com respêto ô quem? Desta vez, li logo tudo e fui ê cá que disse, de rompante:

- Olha, Maria, agora temos ôtra. E vamos tamém!.... É da Amália Rodrigues, m'lher!...

- Da Amália?!... Que bela lembrança qu' eles t'veram!... Ai s' ê cá gosto d' ôvir a Amália... E a c'madre C'stóida tamém de perde p'r ela.

- Mái que conversa é essa, Maria?... Bem sabes qu' a m'lher já morreu faz mái de dez anos. Aquilo vai ser uma coisa p' à gente s' alembrar dela.

- Atã e nem tampôco põem lá umas cantigas dela?... Uns fadinhos, uma coisa assim?!...

- Ah, isso, calhando, põem. Nã digo que nã ponham, nã senhora... Ô méme tempo qu' uma pessoa vê os quadros, vai-se ôvindo umas modas. É de c'stume eles pôrem música im quái tudo, tamém nã há-de ser desta vez que nã põem...

E puseram. Puseram, qu' a gente foi-se lá os dôs e más a c'madr'e C'stóida e, ainda s' ia a assubir as escaidas da antrada, já ele soava p'ra lá p'a drento a Amália a cantar um fado qu' era um consolo.

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Ajuntô-se um poder de famila na inaguração...


Mái uma coisa l'es digo ê cá. Até f'quí quái abismado com o que lá vi. Logo, qu' as coisas que lá 'tavam p' à gente ver tinham que se l'e d'zesse, e, depôs, a chusma de famila que lá s' ajuntô p'a ver aquilo.

E isso tanto se faz da pr'mêra vez, q'ondo foi o Senhor Presidente a apresentar as suas coisas dele, c'm' da sigunda, qu' eram p' aí coisa duns vinte artistas, perto ó certo, todos a amostarem qualquer coisa que fazesse a Amália Rodrigues vir à nossa mimóira.

E, p'ro jêto, inda lá 'tão!... Qu' ele des que aquilo vai durar até p'rô ano que vem. Na 'Agenda de Monchique' vem d'zendo que só acaba no dia nove de Fevrêro, vejam lá! Dá bem tempo p'a ninguèm se poder quêxar de nã ir lá. Qualquer um, querendo, vai. Inda p'r cimba, nã se paga nada, que, na Galeria de Santo Antóino, é tudo d' amor em graça.

E nã l'es parêce bem assim? A mim parêce-me. E à minha Maria tamém. Já o ti Zé Caçapo, aquele mê parente que tem o anexim do 'Verruma', que tamém lá par'ceu mái nã aprecêa nada daquilo, cuda que não. P'ra ele, aquilo devia de ser de paga à antrada:

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Ele até havia quem f'casse um belo pôco im frente de cada desenho...


- Atã isto tem algum jêto, agora, a Câm'bra 'tar a gastar, todos dias aqui uma remessa de d'nhêro só p'a esta estrangêrada vir aqui se fazerem d' emportantes?!...

Esta conversa passava-se cá fora, ô pé da porta da rua, qu' ê cá e a minha Maria tinha-se vindo cá fora panhar ar e o ti Zé Caçapo, chigô naquele mimento, já atrasado, c'mo é uso dele.

- Qual o quem, primo Zé!... - d'zia-l'e a minha Maria.

- Ai qual o quem...

- A Cam'bra nã gasta quái nada com isto. Foi méme o Senhor Rui André, o Senhor Presidente, que me disse. A Cam'bra só dá a casa, o resto é com os que organizam a exposição. Atã e diga lá, isto é só estrangêros?!... Ê cá o que vejo ali é tanto estrangêros c'm' famila de cá. Assome-se lá bem ali p'a drento...

Ele assomô-se. Olhô, olhô e lombrigô aquela menza qu' eles usam a pôr lá com uns comes e bebes, coisa pôca, mái, c'm' ê cá disse logo no prencipo, semp'e se molha o bico e dá-se um coisinho ô dente. Aí o homem mudô logo de fêção.

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Em 'tandem pôcos a ver, aprecêa-se melhor...


À uma, que 'tavam lá umas garrafas de vinho branco que ele atribuíu que sariam de madronho, qu' é o qu' ele gosta más, e, à ôtra, que tamém viu logo que nã era só estrangêros que lá 'tavam.

E isto p'a nã falar do garreão qu' ele ôviu da minha Maria, logo a seguir, premode ter antrado assim, de rompante, caminho dos comes e bebes. Nem falô a quem lá 'tava, jogô-se a c'mer de tudo o que viu im cimba da menza e bobida foi até mái não. A m'lher f'cô méme inzainada...

Más isso, agora, nã enteressa. O que l'es posso d'zer é que, aquilo, 'tão lá coisas que nã se podem perder de ver. Méme quem ande com o governo munto impeçado, qu' isto, neste tempo, já anda tudo a afêçoar o sapatinho p' ô Dia de Festa, nã dêxe de tirar uma bêradinha de tempo p'a dar lá uma fugida. Despôs, nã digam qu' ê cá nã nos avisí...

E, querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria dos Vídeos do Parente da Refóias ó nas Galerias da Exposição Retrospectiva Rui André e da Exposição Colectiva Amália Meu Amor.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

E até qu' a gente se veja.













13 novembro 2010

O Magusto de Marmelete - 2010

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Os magustos c'meçam inda a famila nã chigô toda...


A gente aqui tem-se p'r c'stume fazer os magustos no pr'mêro de Novembro, Dia de Todos Santos. Nã sê que jêto, nas ôtras terras todas p'r'í' fora, só dia de S. Martinho é que s' alembram de fazer tal coisa. Calhando, é premode eles acompanharem as castanhas com aquela bobida, munto deslavada, que tem memo o nome com ela: água-pé.

Más o qu' eles nã sabem é que com uma castanhita assada calha bem é um calcesinho de madronho, nã é aquilo. Inda p'r cima, num tempo destes, que já faz um belo frio, ir bober água-pé, uma coisa que nem dá p'a um homem aquecer... Isto p'a nã falar im coisa pior ainda... É que se calha a barriga duma pessoa a nã acêtar bem aquela morraça, um f'lano inda s' afitura a l'e dar, com l'cença da palavra, alguma borrêra...

Uma ocasião, isso dé-se aí com um amigo, munto graganêro, que foi a casa dum parente dum compadre dele e, pro jêto, tinham lá um barril de vinho, inda fêto de pôco tempo, por incetar. Ora, o ôtro, nã sê se já por judêria ó nã sabendo bem o que fazia, foi abrir essa tal vasilha e infiô-l'e p'a lá com umas copadas valentes.

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Em o vento pertando, é uma zorrêra que nã se vê quái nada...


O vizinho Manel Mansinho - nã queria alomear o nome, mái agora já disse, pacência... - munto graganêro c'm' ê cá já disse, nã negô carga. Ora, nã é qu' ê cá quêra d'zer qu' ele vêo de lá munto escorvado, qu' o homem des que àguenta munta bobida, mái, inda vinham a mê caminho de volta, t'veram logo qu' aparar o carro, lá num certo sito, p'a ele se governar. E, tã penas chigô a casa, aquilo era de tornêrinha... Mái, nã cudem, andô quái perto duma semana de sôltura...

E quem me contô isso tudo foi méme a m'lher dele, a ti Zabel Carrusca, passados pôcos dias do caso se dar. A m'lher - dizem... qu' ê cá nã me meto nisso... - é malina do pior, inda 'tava toda infèzada com aquilo, descosé-se a contar tudo, qu' ela nã gosta nada qu' ele beba. Máicudem que me contô só a mim. Foi a mim e a quem quis ôvir.

De manêras que, nã hôve bicho-careto que nã t'vesse sabido qu' o ti Manel Mansinho andô dia e nôte de calças na mão... Ele até f'cô aí im moda uma quadra já munto antiga qu' o Adelino da Desmoitada, munto gozão, l'e recitô da primêra vez qu' o viu na Vila, em dia de Domingo, a seguir a isso.

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
A mêo da tarde, ele há magustos p'r toda a banda...


Agora, em vendo o ti Manel, vem-me logo à mimóira essa dita quadra, que nã sê quem é qu' a enventô:


End'rêta-te, Zézinho
sustém-te, ó Micaela
nunca mái se bebe vinho
'té curar esta piela


Mái, uma ocasião, d'zeram isso ô pé da ti Zabel. Punhana!... Dé-l'e um géno tã grande ó tã pequeno, inxovalhô todos q'ontos ali 'tavam duma tal manêra que f'cô tudo caladinho que nem ratos... Nenhum abriu mái pio...

A m'lher, sigundo corre fama, na frente dos ôtros nunca bebe, mái lá na casa dela, sozinha, inda bem não, baldêa umas copadinhas sem ninguém ver. Más isso é lá com ela. Se ser verdade, désna que nã se meta com a vida alhêa, que l'e faça bom prevêto...

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Quem tenha munta prática faz um magusto de tod' ô tamanho...


Mái, premode esta conversa, já quái que me desquecia de falar do magusto de Marmelete. Aquilo, 'tá bom de ver, é, todos anos, mái ó menes a méma coisa. E inda bem. Se é um magusto, é um magusto... E um magusto, aqui na nossa zona, é assar castanhas, come-las, bober uns calcesinhos dela, charolar e tisnar a cara dos ôtros...

Agora, e fazem muntíssimo de bem, tamém assam um pórco, põem umas barrecas com bolos e f'lhozes, vendem cerveja im vez de madronho e até usa a lá 'tar o jogo do bicho com um porcalho da índia a escolher qual é o que ganha a garrafa do vinho porto.

Isto p'a nã falar do palco adonde parêcem a tocar e cantar uns qu' ê cá nã nos conheço de banda nenhuma, mái tenho a firme certeza qu' hô-de ser malta do melhor que há. P'r menes, a minha comadre C'stóida, nã sê s' é verdade s' é mintira, des que 'tava a d'zer à prima Jôquinita, a mulher do Tóino Arraúl, que já os tem ôvisto na Rádio Fóia:

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
À fim dum pôcachinho, olha-se p'a debaxo do fogo e já têm aira de 'tarem assadas...


- Sa senhora, prima. Inda ontontem, 'tava ê cá ôvindo a Rádio Fóia, já nã m' alembra bem é se era a senhora Fátima Peres da Rota do Sol, se era a senhora Idalete Marques do Expresso da Tarde... Ó, atão, saria os Discos Pedidos da senhora Telma Santos?... Olhe, a minha cabeça já nã 'tá capaz... Mái foi na Rádio Fóia quái de certeza. Atã ê cá nã oiço mái nenhuma a nã ser a Rádio Fóia...

- E 'tava lá algum destes a tocar?

- A tocar e a cantar!... Atã, nã tem ôvisto falar qu' aquele àlém é, béque-me, organista-vocalista?!...

- !... Organista-vocalista... E o qu' é qu' é isso?

- Ê cá nã sê... Mái nã tem nada im ser aquele aparelho qu' ele tem àlém... que faz tudo...

- Atã isso, trazê-los aqui, há-de f'car puxado p' à Junta...

- Isso sabe-se!... Ora, puxado... Há-de custar o coiro e o cabelo...

- E vá lá qu' ele desquecé-se trazer aquelas moças que usam a andar ali, quái im pelote, abanar o rabo im cimba do palco. Bem fêta qu' é p' ô estapôr mê Antóino nã vir semp'e p' aqui, fêto parvo, a olhar p'a elas, todo baboso...

- Ó prima Jôquinita, isso nã é só o sê Antóino... Eles sã todos iguales. Atã cuda qu' o mê Jôquim e além o Parente da Refóias nã fazem o mémo?!... Olhe p'ra eles, além im baxo, os três, com o olhos fitos naquelas moças....

- Ah, marafados! E lá vão eles tisná-las!... Dêxa qu' ê, mái logo, logo l'e digo ô meu... Ele que venha cá munto p' ô mê lado, todo meloso, c'm' q'ondo quer certas coisas, que logo vê...

 Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Mal uma pessoa nã s' aprecata, leva logo uma tisnadela...


Mái, inda com respêto ô magusto de Marmelete, semp'e l'es digo que quem nunca cá vêo nã viu o qu' era bom. É qu' isto nã é um magusto, sã dúizas de magustos. Cada qual faz o seu, querendo. Nã querendo, come das castanhas qu' os ôtros assam. E tudo de graça, nã cudem... As castanhas...

Agora bobida, isso, quem querer molhar o bico, ó traz uma garrafinha de casa c'm' ê cá faço sempre e más os mês amigos, ó, atão, tem que a ir comprar lá às tales barrecas. Mái pode ir à confiança qu' aquilo nã é caro e o material é de pr'mêra.

E, assim sendo, mês belos amigos, pr' ô ano, na façam a falseta. Os que já vieram, venham ôtra vez. Os qu' inda nunca cá parceram, parêçam que nã dã o tempo p'r mal impregue.

Querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria dos Vídeos do Parente da Refóias ó na Galeria do Magusto de Marmelete.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

E passem munto bem.













21 outubro 2010

A Descasca de Marmelete 2010

Descasca de Marmelete 2010
Assim é qu' ê cá gosto de ver as maçarocas. Drento duma casnastra de vime, nã é cá im celhas de plástico...


- Isto agora tem sido aí uma belharcada de festas qu' até!...

- Ê cá vô-me a quái todas... Mái, d'zer a verdade, já é uns trabalhos uma pessoa dar conta de tanta coisa...

- Tamém ê cá, amigo Chico. Olhe, inda ontordia, más um nada, tinha-me desquecido duma inaguração dumas coisas que dôs estrangêros puseram lá na Galeria de Santo Antóino. Se nã é a minha Maria dar por ela, nã tinha lá ido. Ah isso nã tinha...

- Pôs com-migo dé-se o caso que tamém nã f'quí a juar da descasca de Marmelete que nã calhô.

- Mái semp'e foi lá, qu' ê bem no vi todo agarrado à maçaroca...

- Já tu 'tás com as tuas... Descasquí até uma bela manchinha delas, se queres que te diga. É um serviço que semp'e gostí de fazer.

Descasca de Marmelete 2010
Inda assim era um belo monte de maçarocas. Mái a famila descamisô aquilo tudo im menes de nada...


- Pôs, mecêa jogô-se a uma preçanada delas... Ê já disse que vi. Era umas atrás das ôtras...

- Hoje, já vejo que nã se pode falar contigo, Chico. 'Tás p' ô gozo e inda t' adiantas pr' aí. Que tu, q'ondo calha, nã és lá munto certo da bola...

Esta conversa passava-se na rua da minha casa, ê cá assantado no pial e o Chico Bôicinhas, d'em pé, qu' ele é moço mái novo e inda s' aguenta bem nas canôiras.

Aí, a minha Maria, qu' andava p' ali a besoirar na cozinha, ôviu conversar, mái c'm' nã conhecesse a visita p'la fala, soô lá de drento:

- 'Tás p' aí a ramocar sózinho ó quem?...

Qe era p'a ê cá publicar quem é p' ali 'tava com-migo.

- Atã nã vês qu' é o Chico Bôicinhas que 'tá aqui com-migo?!... Anda cá aqui mái p' ô pé da gente, Chico!... E assanta-ta aqui no pial. Que precisão é que tens de 'tar aí d' em pé?... Mái, c'm' ê cá ia d'zendo...

Descasca de Marmelete 2010
D'ora im q'onto, par'cia uma ó ôtra maçaroca piquenalha. Mái tinham munta charrafa...


- O que tu ias d'zendo é que se nã fosse ê cá a fazer-te alembrar, tinha-se más era fêto cruzes à descasca de Marmelete, que nã se tinha lá posto os pés. Essa é qu' é essa!...

- Nã posso d'zer o contráiro, nã senhora. E méme assim, chigamos lá já a famila 'tava toda jogada a desencamisar maçarocas, qu' aquilo, p'ro jêto, pegaram ô serviço à hora im ponto.

- Mái só tinham desencamisado p' aí umas duas ó três canastras de milho. Tamém nã foi assim um atraso tã grande c'mo isso...

- E méme que fosse... Atã, com a chusma de famila que p'a lá 'tava que más um que menes um... Ele, méme assim, aquilo despachô-se im que 'stantes...

- Atã e maçarocas de milho incarnado? Par'ceu p'r lá alguma?

- Nã sabes?!... Atã des que foste lá e viste a gente e tudo...

- Pôs fui, mái nã sê se vomecêas deram com alguma maçaroca dessas...

Descasca de Marmelete 2010
A Senhora Presidenta tem semp'e um convindado p'a dar à famila que vai lá...


- Eh'q!... Isso é coisa que já nã há... O milho, agora, é híbr'do. Tomara ê cá incontrar uma...

- Jogava-se logo a abraçar aquelas moças todas...

- Ora nãinques!...

Más a minha Maria 'tava d' ôvido bem à escuta e saltô logo:

- Nã querias mái nada, não?!... Vê lá se te pões no tê lugar... Ó queres partir a pêa, agora já com essa idade que tens?...

- Atã nã vês qu' isto é só a gente a charolar, m'lher?... Ali o Chico é que nã l'e perdoava, tenho a firme certeza. Agora ê cá?!...

- Ê cá?!... Ó ti Refóias, dêxe-se disso... Tomara ê cá que nã faça vento...

- Mái, escuta lá. Atã e adond' é que foram fazer o almêxar? Insacaram as maçarocas todas e puseram-nas na camineta da Junta...

Descasca de Marmelete 2010
... e, im cima dum bolinho, calha semp'e bem um calcesinho dela. E era méme da boa...


- Olhe, isso nã sê. Calhando até que nã t'veram preciso de fazer almêxar. As maçarocas já haveram de ter panhado sol àvonde. Bem secas 'tavam elas. P'a nã d'zer piladas...

- Mái méme que nã nas ponham ô sol, hã-de fazer a dessabuga... Ó tamém não?...

- Dessabuga?!... Isso!... Com as máquinas qu' eles agora têm p'a tudo?!... Aquilo metem as maçarocas lá numa debulhadora e pronto, já está... Ó atão, ratraçam-nas assim e dã-as ô gado.

- Más olha, nã te vás sem reposta qu' ê cá inda gostava de ver assim um almêxar de milho daqueles grandes, tudo estendido ali ô sol e, despôs, em ele 'tando bem seco, fazer uma dessabuga c'm' à gente fazia nôtres tempos.

- Levar ali um belo pôco com um sabugo a esfregar na maçaroca até os bagulhos de muilho saltarem todos p'a drento duma cêra ó duma alcofa...

- Podes gozar à vontade, mái que era ad'vertido, lá isso era... Que tu já pôco conheceste disso ó nada. És moço já munto mái novo...

 Descasca de Marmelete 2010
Inda a descasca ia a mêo já o chão 'tava tapado de folhêrascas. Há quem l'e chame fatana...


- Ai nã, que não conheci!... Leví pôcas nôtes na casa do mê pai a fazer esse serviço... Inda bem não, até me fazia doer os pulsos.

- Inda bem. Assim sabes dar o valor... E inda havia ôtro serviço que se tinha que fazer. Mái no trigo que no milho...

- O quem? Só moê-lo p'a fazer farinha p' às papas. Ó retraço p' ôs pintos...

- Atã nã s' aventujava tamém?!... Sendo munto, era com uma pá na êra; sendo pôco, com duas alcofas, uma no chão õtra ô ombro a despejar, num sito adonde corresse uma arajazinha, lá iam as impurezas todas p'los ares...

E hoje fica-se p'r 'qui, mês belos amigos.

Querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria dos Vídeos do Parente da Refóias ó na Galeria da Descasca de Marmelete.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

E até qu'a gente se veja.











08 outubro 2010

O Banho do Vinte Nove 2010

Banho do Vinte Nove - 2010
No Banho do Vinte Nove, pr'mêro, rapimpamos-se com o decomerzinho qu' a gente leva...

Este ano ninguém teve desculpa p'a nã ir ô Banho do Vinte Nove. Carruaja havia com fartura qu' a Junta e a Cam'bra trataram disso c'm' fazeram ôs ôtros anos. O tempo 'tava do melhor, amoroso qu' até dava gosto, que nem uma arajazinha se sintia. E, méme que muntos digam qu' isto 'tá mau, qu' a coisa 'tá ruim, eles inda vão p' aí pagando as reformazinhas à famila... Que jêto a gente nã s' ir ad'vertir?!...

Foi o qu' ê cá fiz más a minha Maria e uns tantos amigos. E nã dí o tempo p'r mal impregue. Nem ê cá, nem eles. Eles, digo ê cá, que a maior parte era elas. E elas, c'm' mecêas sabem muntíssemo de bem, quái sempre, inda são mái danadas p'à galhofa do qu' ôs homens. E p' ôs que nã querem crer, olhem bem p'ôs retratos qu' ê cá tirí e p' ôs filmes qu' a minha mánica tamém fez que logo vêem s' a r'zão 'tá do mê lado ó se nã 'tá.

D'zer a verdade, já ia p'a uns dôs anos qu' ê cá nã punha lá os pés. Nã que nã gostasse d' ir sempre, mái atão as coisas nem sempre calham a nosso favor... Olhem, o ano passado, nã sê se fui ê cá se foi a minha Maria - ó saria-se os dôs... - 'tava-se com uma catarrêra que nem pensar em sair do monte. De manêras que f'camos p'r 'qui. E há dôs anos, se nã 'tô atribuído, o tempo béque-me 'tava chuvoso que nã deu p'a se fazer nada de jêto.

Banho do Vinte Nove - 2010
... muntas das vezes, méme p' à famila da alta, até umas papas mirôilas dã jêto. E sâ gostosas, nã cudem...

Más olhem, desta vez, as coisas correram-me tã bem que nem tampôco tive precisão da via da Câm'bra. Nas béspras, ó p'a melhor d'zer, quái uma semana entes, tive logo aqui a oferta dum amigo que me levava a mim e á minha Maria e mái os mês compadres. Foi o parente Cosme da Quinta.

'Tá bem qu' a via dele - uma camineta de caxa aberta e já um coisinho usada, ora usada, 'tá quái fêta num caneco - nã é lá grande coisa p'a um serviço destes, mái c'm' àquilo era p'a s' ir de nôte, tapados com o encerado qu' ele tem lá, e a Guarda, a essas horas, calhando, eram capazes de 'tar a comer qualquer coisinha e nã andarem aí na estrada a charingar um e ôtro, pegamos na gente e foi-se todos. E inda mái uma pagela deles...

Iam tantos c'm' dez amalhòfados debaxo desse tal encerado. Tirando o chòfer, o compad'e Jôquim do Barranco e a c'mad'e C'stóida, qu' esses, foram na cabine más a minha Maria. Era ê cá, o Adelino da Desmoitada, um gozão do pior, o Arraúl Vàlise, o ti Luís Agúida que tem um mata-velhos mái nã anda de nôte que tem medo, o Martinho do Almarjão, alomeado p'r 'Pata-Rasa', o Tóino Luzicuco, semp'e de cigarro na boca, o parente Zé Caçapo, 'Verruma' l'e chamam, semp'e a sovinar, e fico-me p'r 'qui qu' os ôtros iam todos acuados ô canto do taipal e já nem m' alembra bem quem eles era...

Banho do Vinte Nove - 2010
... bebe-se-l'e, tamém, um calcesinho dela. Da boa, 'tá bom de ver...

Nôtres tempos, nã era nada disto. O mái que se podia arrenjar era um carro de besta com uns sês ó sete lugares, nã contando com o carrêro. Quem nã t'vesse carro de besta ó d'nhêro p' ô alugar, qu' era o que se dava com quái todos, ia a pé ó, calhando a terem um burro na arramada, amontavam-se nele, à vez, e passadas umas quatro ó cinco horas, chigavam o sê destino deles, na Praia do Vau.

Mái nã cudem, lá por isso, a galhofa nã f'cava nada atrás do qu' a famila faz hoje em dia... Mái p'ra más do que p'ra menes. Nã vêem, é qu' ir désna de Monchique - levem bem repáiro que d'zer Monchique é o mémo que falar na Serra toda. É o concelho duma ponta à ôtra. - até à Praia do Vau de carro de besta ó a pé inda levava umas belas horas e a famila tinha qu' ir logo adiantando algum serviço.

De manêras que, ia-se andando e c'mendo. Uns p'xinhos da horta, uns coisinhos de chôriça, uma f'lhòzinha, umas coisinhas assim... E p'a impurrar isso p'as goélas abaxo e nã imbassar, o qu' é qu' uma pessoa podia fazer?... 'Tá claro, bebia-l'e uns porrêtes... Ora aquilo dava cá uma influêinça!... Nem o caminho custava a andar...

Banho do Vinte Nove 2010
... charola-se e balha-se um belo pôcachinho p'a desmoer a pelharcada...

Esta conversa fez-me vir à idéa o que se deu desta vez. O Tóino Luzicuco, semp'e com a mania do tabaco, que nã pode passar, 'tava-se a gente todos munto bem sa senhora boa vida amalhòfados debaxo do incerado, puxa da sua onça 'Àguia' dele e do sê livro de papel béque-me da méma marca, tira uma mortalha, despeja-l'e um coisinho de tabaco p'a drento e vá d' inrolar. Pensí cá pra mim:

- Nã me digam qu'este saganheta vai-se pôr a fumar aqui mémo num sito destes...

Inrolô, inrolô... passô-l'e cuspinho com a língua na ponta da mortalha, deslizô-l'e o dedo duma ponta à ôtra p' àquilo colar, deu umas batidinhas com a ponta do cigarro na unha do dedo grande - há quem l'e chame o mata-piolhos... - e pôse-o na boca. Pensí:

- Ehq, aquilo, calhando, é só p'a ele matar o viço e nã no acende, se nã a gente cuda de morrer aqui com falta d' ar e desata tudo a tossir.

Qual o quem?!... Tã penas olho ôtra vez p'ra ele, já o marafado tinha tirado uma caxa de forfes da alsebêra e toca de tirar um forfe p' ô acender. Às escuras, o Tóino nã fechô bem a caxa. Ora, nesse mê tempo, o parente Cosme teve que fazer uma travaja a fundo - só mái tarde é que sube que se l' atravessô um bicho na frente da camineta. O Tóino inda riscô o forfe, sa senhora, e acendeu-o, mái atão, com o balanço, os ôtros des'parceram todos da caxa... Desata tudo numa risada:

Banho do Vinte Nove 2010
... e só despôs é que s' afituramos a ir p'a drento d' água...

- Ai Tóino que lá se foram as tuas acendalhas todas!... E, calhando, o cigarrinho tamém...

- Nã queria mái nada!... O cigarrinho 'tá aqui na boca e este forfe inda 'tá a arder. Dêxa-me lá acender o cigarro entes qu' ele s' apague...

- Olha lá nã sabes que nã é atorizado fumar im sitos fechados?!... Nã vês qu' isto aqui é c'm' se fosse lá na venda do Alferce... Eles lá dêxam-te fumar?...

- Nã vejo aqui nenhum papel na parede a d'zer o contráiro. De manêras que nã seponha com coisas. Más a más qu' o sito é bem arejado...

E pôs-se a ver se dava panhado os forfes que tinham caído. Mái atão, com o vento que antrava p'a drento do encerado com o andar da camineta, adonde é qu' eles já 'tavam... Nem um...

- Bem fêta, qu' é p' à ôtra vez respêtares. E, agora, era bem fêto qu' o vento tamém te levasse o cigarro da boca.

E dí uma piscadela d' olho ô ti Zé Caçapo. Ele, p'r alguma r'zão l'e chamam o 'Verruma', intendeu logo, vai assim p' trás do Tóino Luzicuco, c'm' quem nã quer a coisa, dá-l'e um toque de lado com uma mão, ele volta a cara, ô méme tempo, dá-l'e ôtro toque no cigarro com a ôtra mão, lá vai ele p'ros ares...

Otra risada im forte... Más aí, o Tóino f'cô um coisinho sintido e desatô a d'zer alarvidades. Se nã é o ti Zé Caçapo ser um homem duma certa idade, nã sê nã sê... Inda vi jêtos do Tóino se jogar a ele. Mái a coisa lá atamancô e, dali a um nadinha, 'tava-se a chigar à Praia do Vau.

 Banho do Vinte Nove - 2010
... ô fim, volta-se p'ra casa, todos sastefêtos, com a trugia toda às costas...

Do que se passô lá méme na arêa da praia já mecêas hã-de saber. Foi tudo munto ad'vertido, a famila incheu tudo o bandulho até mái não, de coisas p'a bober só f'cô lá a água do mar. Quái todos balharam, cantaram e uns tantos que t'veram mái foiteza sempre se jogaram à água p'a se lavajarem e p' à SIC filmar.

Só o que l'es sê d'zer é que inda pus os caguetes tamém drento d' água e, d'zer a verdade, nã na achí munto fria, mái c'm' à minha Maria se tinha desquecido da toalha im casa e as cirôilas qu' ê cá levava eram novas nã me dava jêto molhá-las logo, só cheguí com a água p'ros artelhos. Mái hôve menino que antrô lá p'a drento e quái que já nem queria sair. Ôtros, atão, ensiavam-se qu' ê bem nos ôvia. E, no mêo daquilo tudo, inda béque-me hôve lá um que vinha a arrabolar inrolado numa onda...

Querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria de Vídeos do Parente da Refóias, na Galeria do Banho do Vinte Nove, e na Galeria do Picasa.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

Dés l'e dê saúde.
























18 setembro 2010

Tocadores de Fole e Artechique 2010...

XXIII Encontro de Acordeonistas - Monchique, 5-09-2010
Tal acham esta concertina? E inda toca melhor que muntos foles modernos...

- Se nã vieste à festa dos tocadores de fole, nã sabes q'onto perdeste!... E à Fêra do Artesanato tamém. Más ê cá, d'zer a verdade, gosto mái dos toques de fole que do resto...

- Ai nã fui... A si é qu' ê cá nã no vi lá. Fique sabendo que nã perdi nem uma moda. Fui bem cedinho, assantí-me numa cadêra e vi aquilo tudo do prencipo ô fim.

- Ai 't'veste assantado... Qualquer um nã tem essa sorte. 'Tá bom de ver que só panha lugares desses quem tenha pazes com a famila lá da Junta... Nã é verdade, Refóias?... - E piscô-me o olho, a ver s' ê cá l'e dava os améns.

Isto era a conversa qu' o Martinho do Almarjão 'tava a ter com o Tóino Luzicuco, uma tarde destas, ali memo no Largo dos Chorõs, q'ondo ê cá lá passí caminho além da loja do chinês a ver se dava lá com uma farramenta qu' ê cá tinha preciso p'a um serviço que já tenho aqui há que tempos p'a fazer.

O qu' ê tinha fêto bem era nã ter levado repáiro neles, fazer de conta que nã nos tinha visto e ir fazer o mê governo, mái as coisas são c'm' são e, atão, lá l'es dí uma vaiazinha, méme me parecendo qu' eles 'tavam os dôs um coisinho escorvados. E 'tavam. Mòrmente o Tóino Luzicuco que abalô do Alferce logo de manhão e, até àquela hora, inda nã tinha comido coisíssema nenhuma. Só bobido.

XXIII Encontro de Acordeonistas - Monchique, 5-09-2010
O amigo Adelino 'Cruzinha' toca cá umas modas qu' até dá gosto...

- Atã, digam-me lá uma coisa: no fim de resto foram os dôs ver os homens tocar os foles ali no Encontro de Acordeonistas ó só foi um ó nã foi más é nenhum?

- Foi-se os dôs, sim, Refóias. Ê cá é que 'tava a mangar aqui com o Tóino, a ver s' ele tinha dado por mim lá, mái vi logo qu' ele 'tava tã emprensado lá na tal cadêra da Junta que nem olhava fosse p'a donde fosse a nã ser p' ôs tocadores...

- Atão?... Queria qu' ê cá andasse a ver s' o lombrigava lá no mêo daquela famila toda?... Era o que faltava!... Ê fui lá foi p'a ver eles tocarem aquelas lidessíssemas modas nos foles...

- E nem repairaste im mim que 'tava ali incostado à parede p'a me furtar à soalhêra. Tu c'm' 'tavas ali à sombra das tilêras...

- T'vesse ido mái cedo que panhava tamém um lugar c'm' o meu. E nã era preciso ter pazes com a famila da Junta qu' ê cá tamém nã tenho...

D'zia o Tóino a fazer-se munto sentido ô mémo tempo que largava a mão do tróço da tilêra adonde 'tava incostado e dava um gangueão tã grande ó tã pequeno que quái que dava uma marrada no Martinho do Almarjão.

XXIII Encontro de Acordeonistas - Monchique, 5-09-2010
Ele há p'r'í uns mecinhos nôvos que tamém já tocam qualquer coisinha...


- Quem nã tem sê eu. Agora tu, nã sê nã sê... Mái chega-te p'ra lá nã me faças pr' aqui bater a apèraja. Nã vês que quái que me ias pisando a bota e ê tenho aqui um calo que nã pode ser trilhado...

Respondeu o Martinho já um coisinho infèzado, béque-me quái com o sãingue a l'e chigar às ventas. Atalhí logo:

- Nã te marafes, Martinho. O homem nã fez isso d' aprepósito... Mái já que vieram os dôs ver os tocadores, que tal acharam?... Ê cá só vi pr' aí uma àmetade. Tive um impendiclo...

- Sê cá se vieste, Refóias. Atã ê cá nã te cheguí a ver p'r'í... E, despôs das modas, inda m' assomí ali às barrecas do artesanato e tudo.

- Tanto que vinhe qu' até tenho lá im casa uma mêa-dúiza de retratos p'a apresentar, mémo ruins... Nã vês, Martinho, aquilo 'tava uma soàlhêra qu' até quem-mava, incostí-me ali a um cantinho à sombra com a minha Maria e dali nã saí senã q'ondo tive precisão disso.

- Atã e nã amostras isso à gente?...

- Olha, pede aí a quem quereres que t' as amostre qu' elas vão ser todas postas na internet. Aquilo dos computadores qu' a gente dá visto lá tudo o que quer e o que nã quer... 'Tá num sito alomeado p'r 'Vídeos do Refóias' e 'Galeria do XXIII Encontro de Acordeonistas'.

- Ó amigo Refóias, atã e ê cá tamém posso ver isso ó quem?...

XVI Artechique - Feira/Mostra de Artesanato de Monchique
Com trapos velhos tamém há quem faça coisas bonitas. C'm' estas da parenta Marí Júlia...

- Olha, Tóino, em te passando essa pelhega tamém dás visto. Agora já, calhando, é melhor não. Sabes que jêto? É que, da manêra c'm' tu 'tás, o mái certo é veres tudo ôs pares e f'cares inda más almareado...

- Almareado, ê cá?!... Olhe p'ra isto!...

E, béque-me, fez a amenção d' alevantar assim o pé, c'm' quem qu'sesse fazer um quatro p'a amostrar que nã 'tava escarado. E o qu' é que se deu?... Más um lóre p' ô lado do Martinho que, se nã é ele l'e jogar a mão à manga da jaqueta, tinha-se espatarrado no mêo do chão...

- Atã e com respêto ô artesanato - que dos tocadores já vi que gostaram os dôs munto, méme sem me contarem - tamém foi alguma coisa de jêto?

- Ora se foi... Tinha ali uma barreca adonde vendiam umas emperiais, 'tava méme fresquinha a marafada da cerveja... Comprí uma chôricinha p'a acompanhar, nã l'e digo nada...

- Ê vi logo qu' era pr' aí que tu imbicavas... P'ô lado lá daquelas coisas tã bem fêtas qu' a famila tinha lá p' à gente bispar, isso, 'tá bom de ver, nã 'par'ceste...

- Atã c'm' é qu' ê cá tinha tempo p'a tudo?... Se 'tava numa banda nã 'tava nôtra. Só se 'tá adonde se 'parêce...

Salta logo o Martinho:

 XVI Artechique - Feira/Mostra de Artesanato de Monchique
O amigo Zé Ilídio tamém impalhô uns garrafanitos aqui na Artechique...

- Nã senhora, ê cá tamém vi lá isso... Até 'tava lá uma parenta tua com umas coisas qu' ela faz com trapos. Umas bolsas, umas toalhas, aventás e tal e tal... E, olha, p'a te falar verdade, aquilo até que 'tava muntíssemo de bem fêto. Nã sê c'm' é qu' ela arrenja pacência p'a tanto...

- Ê cá tamém vi...

- E nã era só ela. 'Tavam lá mái umas duas ó três com o mesmo. Tudo munto jêtoso. E nã era só isso...

- Pôs não...

- Atã se sabes, diz lá tu, Tóino... O qu' é que 'tava lá más?...

- Ora, 'tavam ôtras coisas...

- Ôtras coisas, ôtras coisas... Tu nã passaste da barreca da cerveja p' à banda de lá, c'm' é que tu há-des saber...

- ...

- Viste a verga? As cadêras de tisoira? E p'r 'í fora?...

- Atã nã havera de ver?!... Vi tudo, sa senhora...

- Inda agora d'zeste uma coisa, agora dizes ôtra. Vai más é indròminar ôtro...

 XXIII Encontro de Acordeonistas - Monchique, 5-09-2010
A Senhora Presidenta da Junta é que foi dar as lembranças ôs tocadores de fole...

E a conversa inda 'tava p'a durar s' ê cá nã t'vesse mái nada p'a fazer. Mái c'mo nã 'tava p'a perder o mê governo, despedi-me e fui andando. Tamém, nã tenho precisão nenhuma de falar mái nada da Artechique que mecêas foram lá todos ver aquilo e, atão, é melhor nã nos 'tar a impertenecer. Mái que aquilo 'tava do melhor, 'tava. Nã l'es parêce?

Agora, querendem, podem ver alguns tocadores de fole e más alguns retratos da Artechique. É só acalcarem aqui na Galeria dos Vídeos do Refóias e na Galeria do XXIII Encontro de Acordeonistas.

Ó atão, vejam logo aí prebaxinho e oiçam umas modinhas à manêra.

Fiquem-se com Dés.