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03 dezembro 2010

Galeria de Santo António nã se nega ô puxo...

Exposição Retrospectiva Rui André na Galeria de Santo António - Monchique
Im Ôtubro, foi o Sr. Presidente Rui André qu' amostrô os sês lindessíssemos trabalhos dele...


A Galeria de Santo Antóino, agora, dé im pôr lá desenhos, bonecos, retratos e coisas assim p'a toda a gente ver, que nã se passa quái mês nenhum que nã parêça quasequer coisa de novo. É c'mo ôtro que diz, 'dé-l'e p' ali e nã se nega ô puxo'...

Agora o que mái me dêxô imbasbacado foi que, aí em prencipos do mês passado - ó saria inda entes do Banho do Vinte Nove, nã m' alembra bem - arrecebi um convite, lá p'r mêo daquela coisa que 'tá agora munto na moda - o Facebook - p'a m' apresentar lá, num certo dia, premode uma inaguração.

Mái nã cudem. Nã era uma inaguração p' aí dum artista qualquer... Logo, até béque-medí bem p'r ela, mái a minha Maria, que nã dêxa passar nada, q'ondo ê cá l'e li aquilo im voz alta, voltô-se p'ra mim, toda munto pespeneta:

- Rui André?!... Foi Rui André que tu d'zeste? Olha lá, atã isso nã sará o Presidente da Cam'bra? Ó home, olha que nã tem nada im ser ele mémo... Rui André, Rui André... Nã dô p'r haver aí mái ninguém com esse nome... Lê lá ôtra vez...

Exposição Retrospectiva Rui André na Galeria de Santo António - Monchique
E falô um belo pôco p'a quem l'e quis ligar. E era-se uma bela manchinha deles, nã cudem...


Ê cá, assim de mimento, f'quí um coisinho insarampantado, que nã 'tava a contar. E tamém, parvo, nã li logo aquilo tudo até ô canto de baxo. Que, s' ê cá t'vesse lido désna do prencipo até ô fim, 'tava tudo logo lá d'zendo... Qu' era o Senhor Presidente da Cam'bra de Monchique, um moço inda assim p' ô novo, que nã há ôtro nas Cam'bras todas com menes anos, que gosta munto daquelas coisas da arte, e más isto e más aquilo, e coisa e tal...

De manêras que, a m'lher terminô, logo ali naquele mimento, c'm' é qu' as coisas haveram de ser. A pr'mêra foi que chovesse ele ó qu' aventasse, nã passava sem ir lá nesse tal mémo dia da inaguração. E, em ela pondo uma coisa à idéa e d'zendo, tenham a firme certeza qu' é assim que tudo se vai dar...

Más a más, qu' aquilo, p'ro jêto, prantam sempre lá alguma coisinha p' a dar ô dente. E p'a molhar o bico tamém. E, aí, já nã é só ela que 'tá ent'ressada. Tamém ê cá 'tô... E quem é que nã 'tá, ham?!...

E, d'zer a verdade, foi-se os dôs e a coisa passô-se tal e qual c'm' 'tava pensada. E p'ro jêto qu' ê cá vi lá na famila toda, f'cô tudo imbêçado com o que lá viram. Foi retratos do melhor, foi desenhos, foi tudo...

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Com respêto à Amália, hôve quem d'zesse logo: "C'mo isto nã há..." ...


Passado um mês, eles ôtra vez de roda de mim e da minha Maria p'a s' ir a ôtra inaguração lá no mémo sito... E com respêto ô quem? Desta vez, li logo tudo e fui ê cá que disse, de rompante:

- Olha, Maria, agora temos ôtra. E vamos tamém!.... É da Amália Rodrigues, m'lher!...

- Da Amália?!... Que bela lembrança qu' eles t'veram!... Ai s' ê cá gosto d' ôvir a Amália... E a c'madre C'stóida tamém de perde p'r ela.

- Mái que conversa é essa, Maria?... Bem sabes qu' a m'lher já morreu faz mái de dez anos. Aquilo vai ser uma coisa p' à gente s' alembrar dela.

- Atã e nem tampôco põem lá umas cantigas dela?... Uns fadinhos, uma coisa assim?!...

- Ah, isso, calhando, põem. Nã digo que nã ponham, nã senhora... Ô méme tempo qu' uma pessoa vê os quadros, vai-se ôvindo umas modas. É de c'stume eles pôrem música im quái tudo, tamém nã há-de ser desta vez que nã põem...

E puseram. Puseram, qu' a gente foi-se lá os dôs e más a c'madr'e C'stóida e, ainda s' ia a assubir as escaidas da antrada, já ele soava p'ra lá p'a drento a Amália a cantar um fado qu' era um consolo.

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Ajuntô-se um poder de famila na inaguração...


Mái uma coisa l'es digo ê cá. Até f'quí quái abismado com o que lá vi. Logo, qu' as coisas que lá 'tavam p' à gente ver tinham que se l'e d'zesse, e, depôs, a chusma de famila que lá s' ajuntô p'a ver aquilo.

E isso tanto se faz da pr'mêra vez, q'ondo foi o Senhor Presidente a apresentar as suas coisas dele, c'm' da sigunda, qu' eram p' aí coisa duns vinte artistas, perto ó certo, todos a amostarem qualquer coisa que fazesse a Amália Rodrigues vir à nossa mimóira.

E, p'ro jêto, inda lá 'tão!... Qu' ele des que aquilo vai durar até p'rô ano que vem. Na 'Agenda de Monchique' vem d'zendo que só acaba no dia nove de Fevrêro, vejam lá! Dá bem tempo p'a ninguèm se poder quêxar de nã ir lá. Qualquer um, querendo, vai. Inda p'r cimba, nã se paga nada, que, na Galeria de Santo Antóino, é tudo d' amor em graça.

E nã l'es parêce bem assim? A mim parêce-me. E à minha Maria tamém. Já o ti Zé Caçapo, aquele mê parente que tem o anexim do 'Verruma', que tamém lá par'ceu mái nã aprecêa nada daquilo, cuda que não. P'ra ele, aquilo devia de ser de paga à antrada:

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Ele até havia quem f'casse um belo pôco im frente de cada desenho...


- Atã isto tem algum jêto, agora, a Câm'bra 'tar a gastar, todos dias aqui uma remessa de d'nhêro só p'a esta estrangêrada vir aqui se fazerem d' emportantes?!...

Esta conversa passava-se cá fora, ô pé da porta da rua, qu' ê cá e a minha Maria tinha-se vindo cá fora panhar ar e o ti Zé Caçapo, chigô naquele mimento, já atrasado, c'mo é uso dele.

- Qual o quem, primo Zé!... - d'zia-l'e a minha Maria.

- Ai qual o quem...

- A Cam'bra nã gasta quái nada com isto. Foi méme o Senhor Rui André, o Senhor Presidente, que me disse. A Cam'bra só dá a casa, o resto é com os que organizam a exposição. Atã e diga lá, isto é só estrangêros?!... Ê cá o que vejo ali é tanto estrangêros c'm' famila de cá. Assome-se lá bem ali p'a drento...

Ele assomô-se. Olhô, olhô e lombrigô aquela menza qu' eles usam a pôr lá com uns comes e bebes, coisa pôca, mái, c'm' ê cá disse logo no prencipo, semp'e se molha o bico e dá-se um coisinho ô dente. Aí o homem mudô logo de fêção.

Exposição Colectiva 'Amália Meu Amor' na Galeria de Santo António - Monchique
Em 'tandem pôcos a ver, aprecêa-se melhor...


À uma, que 'tavam lá umas garrafas de vinho branco que ele atribuíu que sariam de madronho, qu' é o qu' ele gosta más, e, à ôtra, que tamém viu logo que nã era só estrangêros que lá 'tavam.

E isto p'a nã falar do garreão qu' ele ôviu da minha Maria, logo a seguir, premode ter antrado assim, de rompante, caminho dos comes e bebes. Nem falô a quem lá 'tava, jogô-se a c'mer de tudo o que viu im cimba da menza e bobida foi até mái não. A m'lher f'cô méme inzainada...

Más isso, agora, nã enteressa. O que l'es posso d'zer é que, aquilo, 'tão lá coisas que nã se podem perder de ver. Méme quem ande com o governo munto impeçado, qu' isto, neste tempo, já anda tudo a afêçoar o sapatinho p' ô Dia de Festa, nã dêxe de tirar uma bêradinha de tempo p'a dar lá uma fugida. Despôs, nã digam qu' ê cá nã nos avisí...

E, querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria dos Vídeos do Parente da Refóias ó nas Galerias da Exposição Retrospectiva Rui André e da Exposição Colectiva Amália Meu Amor.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

E até qu' a gente se veja.













28 agosto 2010

A Galeria de Santo António

Galeria de Santo António - Monchique
Logo na inaguração da exposição, a Galeria de Santo Antóino tinha munta freguesia...

Ontordia, d'zeram-me que des qu' ia haver p' aí uma exposição na Galeria de Santo Antóino. Béque-me de quadros e estátuas. Mecêas, calhando, nã vão acraditar, más olhem qu' até arrecebi um convinte. Mandaram-mo por esta coisa da internet...

De manêras que andí uns dias a ramoer naquilo, vô nã vô, sem saber o qu' havera de fazer. Mái, nisto, dé-me assim um derrepente, pensí:

- Atã que jêto nã?!... Vô-me más é falar com a minha Maria, a ver o qual é a idéa dela e nã perco aquilo...

E assim fiz.

E o qu' é que se resultô dali? 'Tá bom de ver qu' ela dé logo os àmens todos. Parvo era ê cá se cudasse o contráiro. Atã s' a m'lher 'tá semp'e fêtinha e de'josa p'a ir aqui e ali, seja ele p'a donde for...

Galeria de Santo António - Monchique
O Senhor Presidente da Cam'bra tamém lá par'ceu. E devassô tudo de fio a pavio...

- Já qu' ele é isso, im que dia é qu' a gente vai lá?

Prècurí-l'e ê cá p'a poder terminar a minha vida e fazer os mês preparos a tempo e horas.

- Ó homem, isso é prècura que se faça?!... Atão, se te convindaram p' à inaguração... A inaguração nã usa a ser logo no pr'mêro dia?... E que nã fosse... Candêa que vai à frente alumia duas vezes... Nã há nada c'm' à gente par'cer lá tã penas se possa. Nã vã eles vender p'a lá os quadros todos e a gente ficar a fazer-l'e cruzes...

- Ah, pôs... Já nã m' alembrava. Foi p' à inaguração, foi. O convinte era p' à inaguração. Era isso mémo...

- E, más a más, qu' ali a comad'e C'stóida já me contô que l'e d'zeram que, nessa dita nôte da inaguração, é certo e sabido que vai haver lá comes e bebes e tudo!...

- O quem?!...

Galeria de Santo António - Monchique
A famila 'tava tudo emprensado a ver coisas tã bonitas...

- Sim!... Des que umas coisinhas p'a dar ô dente e umas bobidas p'a molhar o bico. Há-de ser assim umas provas c'm' à gente, q'ondo calha, usa a fazer.

- Eh'q!... C'm' à gente usa a fazer... Isso, nã tem nada im ser uma coisa assim p'ô fino e ê cá, e tu tamém, nã se tem condiçõs p'a se metermos im coisas dessas...

- Que jêto não?!... Lá cudas qu' os estrangêros são mái descretos do qu' à gente. Sim, qu' aquilo, a maior parte dos que p'r lá parêcem hã-de ser estrangêros...

- Há-des ter r'zão, sim. Nestas coisas, os que parêcem é quái tudo estrangêros. A famila de cá, nã sê o que têm, s' é p'r serem vergonhôsos ó s' o qu' é que é, béque-me nunca parêcem...

- Pôs atão, qu' eles vão que nã vão, a gente vai. Nã te parêce? Isto é só uma conversa. Que tu é que mandas...

- Sim, m'lher... Que jêto nã s' ir?!...

E a coisa f'cô assim terminada.

Galeria de Santo António - Monchique
Quem qu'sesse ver as pinturas, assubia até ôs altos...

Chigados ô dia, inda 'tive vai nã vai p'a dar uma vaiazinha à C'mad'e C'stóida e ô compad'e Jôquim, mái, despôs, pus-me a cismar qu' eles nã tinham sido convindados e des que "a casamento e batizado nã vás sem ser convindado" e, atão, achí melhor f'car calado.

Que, d'zer a verdade, ele, o mê compad'e Jôquim do Barranco, nã é moço munto dado a essas coisas e ê cá já sabia munto bem que m' afiturava era a ele d'zer logo que não e, em ele embrutando com uma coisa, é má de mudar d' idéa. Agora a c'mad'e C'stóida, essa sim, tenho a firme certeza que 'tava-se pelando p'a ir. Mái dêxamos lá isso...

De modes que, à hora marcada ó um coisinho entes, apresentí-me lá com a minha Maria, os dôs bem arrenjadinhos com a rôpinha do Domingo, qu' a coisa nã era p'ra menes. Uma pessoa sabia lá quem é que p'r lá 'tava?...

Olhem, e inda bem. P'mêro, só vimos engleses. A minha Maria des qu' uma que 'tava lá era alemoa, qu' ela sabia que era, e os ôtros c'm' 'tavam a falar com ela, calhando, tamém sariam, más ê cá c'm' intendo tanto duma fala c'm' da ôtra, nã l'es sê d'zer ô certo d' adonde é qu' eles todos eram.

Galeria de Santo António - Monchique
Digam lá se nã é uma coisa im condiçõs...

E, atão, o qu' é qu' a gente fez. Fomos logo caminho do senhor Rolf, qu' é o dono lá da Galeria da Porca Preta, na Cerca da Rita, que ele a gente sabia que fala cá a nossa língua... O homem, munto porrêro, prècurô logo o qu' é que a gente queria p'a bober. Ê cá gosto mái do tinto, a minha Maria gosta mái do branco. Mái p'a nã me tornar munto empertinente, pedi os dôs copinhos mémo do branco...

Nisto, a minha Maria dá-me uma pisadela, d' apreposito, num calo, cudí qu' era premode ê cá 'tar a olhar assim de ravés p'a uma moça estrangêra que 'tava ali toda incalorada, com pôca rôpa im cimba do pelo. Mái nã era. Era o Senhor Presidente da Cam'bra que 'tava a chigar, que tamém ia ver aquilo.

Tã penas o vi, pus-me logo mái d'rêtinho que nem um fuso e arrumí o copalho de vinho, inda a mêo beber, ali no parapêto da janela, qu' o respêtinho é munto bonito... Más o homem, sem ofensa, o Senhor Presidente, nã esperô fogo, assim vem d'rêto a mim e à minha Maria e vá de falar à gente. Ora, foi o qu' a gente quis...

Qu' ê cá já me tinha soado uns zum-zuns qu' ele era uma pessoa munto dada e 'par'cia sempre im toda a banda. Verdade se diga, vê-se mémo qu' ele gosta destas coisas até mái não. E, em vendo lá munta famila, inda mái contente fica. Vê-se logo.

Galeria de Santo António - Monchique
Nos baxos, quem l' apetecesse podia molhar o bico...

O que l'es sê d'zer é qu' o homem, sem ofensa, o Senhor Presidente, devassô aquilo tudo de fio a pavio que nã dêxô nada p'a trás. E ê cá, 'tá bom de ver, aprevêtí logo o atôpo. Tirí retratos todos q'ontos pude com ele lá. Tenha pacência Senhor Presidente e nã leve a mal que vomecêa morcia era que 't'vesse lá um que sabesse tirar retratos c'm' deve de ser. Mái, na falta de melhor, acontente-se méme com estes cá do Parente.

Agora, mês belos amigos, vejam lá se nã vão visitar a Exposição de Pintura e Escultura de Vera Christians e Jean Brown, na Galeria de Santo Antóino... Olhem que aquilo é uma coisa que morêce ser vista e, inda p'r cimba, uma Galeria daquelas tã jêtosa tem que 'tar sempre a foncionar. Mái s' a famila nã vai... 'tá-se méme a ver o qu' é que se ...

Querendem ver más alguns, acalquem aqui na Galeria de Santo António e desculpem lá serem tã pôcachinhos.

Até um dia destes e Dés l'e dê saúde a todos.

19 dezembro 2008

"Memória das Coisas" do senhor Carricinho

A Memória das Coisas - António da Silva Carriço
Mái um livro do senhor Carricinho

Sáb'do passado, fui até à Biblioteca. D'zeram-me qu' iam dar p'a lá uma festa, com comes e bebes e tudo, p'a amostrarem um livro com uns contos qu' o senhor Carricinho escreveu e ê cá nã me dí aguentado sem par'cer p'r lá.

D'zer a verdade, isso nã era coisa qu' ê fazesse ô homem. Atã s' ê sô amigo dele, gosto tanto de ler o que qu' ele escreve no Jornal de Monchique... e nã par'cia lá numa ocasião destas?!... Más a más, qu' o tempo 'tava infarruscado que nem o diacho e, a nã ir lá, p' adonde é qu' ê cá ia...

Pôs atão, fiquem sabendo que fui e nã dí o tempo p'r mal empregue. Aquilo foi uma coisa munto emportante, nã cudem. Se vissem o gentío que lá s' ajuntô...

A Memória das Coisas - António da Silva Carriço Punhana!... ô lado do homem só 'tavam dôtores...

Olhem, aquilo era Dôtores, era Professores, era os dos partidos - os que 'tã na Câm'bra e os que nã 'tão, mái querem ir p'ra lá - a famila do Jornal de Monchique e da Rádio Fóia, ê sê cá o que más... E despôs, era ê cá e mái uma mêa-dúiza assim c'm' ê cá.

O mê compad'e Jôquim do Barranco nã foi, o marafado... Des que sabe ler pôco e, atã, agora, com a falta de vista que tem, inda menes. Méme com uns óc'les qu' o Zé Manel trôxe lá d' adonde ele trabalha - foi um estrangêro qu' os dêxô lá, uma vez, desquecidos - e l'e deu, já nã se defende.

Qu' ele, d'zer a verdade, podia munto bem ter ido, que nã tinha precisão de ler lá nada. Aquilo era só p'a se os ôvir - e olhe que cada qual falô q'onto pôde... - e, os que t'vessem um coiséco mái de vergonha, comprarem o livro p'a o lerem im casa com mái vagar...

A Memória das Coisas - António da Silva Carriço
...e um lindessíss'mo ramo de flores...

Mái, dêxando de rir p'a mangar, gostí munto d' ôvir a conversa dos homens. Tôdes falaram munto bem - cada qual à su manêra, 'tá bom de ver - a começar no Sr. Presidente da Câm'bra que, com perdã da palavra, 'tava de munto boa avêa, c'm' quái sempre, e a acabar no Senhor Carricinho que tamém 'tava contente, mái, ô méme tempo, im certa altura nã se livrô de quái se l' arrasarem os olhos d' água.

E nã era caso p'ra menes. Com tanto coisa bonita que d'zeram a respêto do homem - tudo verdade, nã cudem! - quem é que nã f'cava naquele estado?... Olhem, um professor-dôtor que vêo de Faro d'apr'pósito, ch'mado Antóino Mendes se nã 'tô im erro, nã l'es digo nada. Aquilo só com um agravador qu' ê cá nã l'es dô incarecido o qu' aquele homem p'a lá pintô com respêto ô livro do senhor Carricinho e ôtras coisas lá da vida dele.

De manêras que, à uma, 'tava já d'jando de me vir imbora p'a desatar a ler aquilo tudo qu' o senhor Carricinho escreveu, mái, à ôtra, 'tava-me tamém luzindo o olho p'r umas coisas de comer qu' eles puseram lá im cimba duma menza, qu' aquilo tinha aira de ser coisa boa. E ninguém tinha ordem p'a tocar lá inq'onto nã acabassem tôdes de falar. Foi o que se deu.

A Memória das Coisas - António da Silva Carriço
Q'ondo chigô a vez dele, o senhor Carricinho falô c'm' só ele sabe...

E, ôtra coisa, o senhor Carricinho, despôs do faladoiro, inda se pôs a escrever dedicatóiras nos livros dos que compraram. Más, aí, vêo a mê favor, que f'quí com um livro do mái bonito que possa ser e haver, e bom, e com a letra de quem no escreveu a me mandar um abraço.

Ô certo, ô certo, é que aquilo só acabô já era de nôte e de nôte bem cerrada. Mái vá lá qu' a chuva já tinha abrandado e tamém nã me tinham limpado o mê chapé-de-chuva qu' ê cá dêxí logo à porta da antrada. E, verdade se diga, leví toda a tarde a catarruar só cá p'ra mim s' ele inda lá 'taria à saída...

Mái, voltando ô livro "Memória das Coisas", chego a casa, já nã me dé jêto rapimpar-me com o decomerzinho qu' a minha Maria p'a lá tinha fêto - des que "quem nã come p'r ter comido, nã é doença de p'rigo"... - e joguí-me foi logo a ler aquilo tudo d' infiada. Foi até às tantas...

A Memória das Coisas - António da Silva Carriço
E, ô fim, p' ôs que qu'seram, inda pôs uma dedicatóira no livro. Ê cá quis logo...

'Tá bem qu' ê cá já tinha lido aquilo tudo, ó quái tudo, no Jornal de Monchique, mái ler, assim , no livro béque-me dá ôtra enfluêinça, o qu' é que mecêas querem... E inda ôtra: o homem fala lá de coisas d' ôtres tempos que, quem conheceu, c'm' ê cá, até fica insampado.

Assim, de chofre, vem-me à idéa o Viva à Rússia, o Zézinho Bartolomeu, o Ti Arraúl, o Jôquim Inês, o Zé Lôrenço e ôtres tantos.... Fala neles tôdes e im munto mái coisas ainda. Comprem o livro "Memória das Coisas" e logo veem se nã morêce bem o d'nhêro que custa. É de ler uma vez e ôtra, fiquem sabendo, e um bom sapatinho, agora p' ô Natal...

Olhem que só foram fêtos mil!... E p'r o caminho qu' a coisa levava no dia da apresentação, im menes de nada se vã acabar. C'm' já se dé na pr'mêra edição. E despôs nã digam qu' ê cá nã nos avisí...

Até qualquer dia e bom Natal p'a mecêas tôdes.

03 outubro 2007

António Manuel Venda, 'O Mágico Velhinho'

'O que Entra nos Livros' - António Manuel da Venda
Quer saber o qu' é isso do Mágico Velhinho? Atã, lêa este livro...

Inda hoje, 'tô parvo c'm' é que se dé uma coisa destas. Atã nã querem lá que vieram ali à Fóia apresentar um livro novo dum escritor cá de Monchique - e olhem qu' o homem, méme novo c'mo é, já escrevé uma boa mêa-dúiza deles - e t'veram a lembrança de me convindar p'a par'cer p'r lá?!...

Ora, ê cá, que nunca tal coisa tinha visto, q'ondo arrecebi o tel'fonema, nem tinha reposta p'a dar à pessoa que 'tava com aquele encómado. Fui panhado assim de chofre e, nessas ocasiõs, um homem nem sabe c'm' se defender.

Mái lá dí uma no cravo ôtra na ferradura e disse o senhor Dôtor que gostar d' ir, lá isso gostava, nã sabia era se podia, e, atão, ia pensar bem no caso. Se t'vesse jêto, logo lá par'cia.

- P'r mái que nã seja, p'a matar a c'rusidade... - Pensí só cá p'ra mim.

- Mái venha, amigo Refóias, e traga tamém a su Maria, qu' a senhora há-de gostar tamém de ver aquelas coisas. Olhe que nã se vã arrepender... - Pertava o tal Dôtor com-migo.

- Pôs, sa senhora, ê cá vô-me conversar com ela e, despôs, logo se vê...

- Olhe qu' a gente até se l'e mandô um email e nã servi de nada, que vê de volta.

- Ai, m't' ôbrigadinho e quêra desculpar, senhor Dôtor, mái, parte das vezes, aquilo 'tá p' ali tudo chêo que nã cabe lá mái coisíss'ma nenhuma e, atã, dá-se isso. É qu' ê cádô àgu-ento a ler tanta coisa que me mandam lá p'a drento daquilo. Q'ondo calha, inda peço à minha Maria p'a ela me dar uma manita, mái, méme assim, nã se dá conta, veja lá...

- Atã, pronto, ficam convindados agora p'r o telefone e lá espero p'r os dôs. Agora veja lá se nã vão...

Apresentação do livro 'O que Entra nos Livros' de António Manuel da Venda
Quem l'e comprasse um livro ele escrevia lá uma dedicatóira...

Despedimos-se um do ôtro e abalí, fui d'zer à minha Maria. Ela, logo ô prencípo, inda béque-me desconfiô de mim. Calhando achô munta fartura 'tarem a convindar dôs parvos c' m' à gente p'a uma coisa assim tã emportante. E vá de me exp'r'mentar:

- Isso nã sará conversa tua p'a te safares aí p'a alguma banda com os tês amigos e ê cá ficar aqui im casa, sòzinha, cudando que tu 'tás lá nessa coisa do livro e dos dôtores?... Vê lá, vê lá!...

- Ó m'lher, atá s' ê já te disse que tu tamém vás... O homem disse mémo p'a ê cá levar tamém "a minha senhora"...

- Lá 'tás tu com pastelêrices...

Respondé-me ela a fazer que nã acraditava, mái ê cá bem vi qu' ela f'cô foi toda inchada p'r mode o Dôtor l'e ter ch'mado senhora... Que mecês nã cudem, aquilo, q'ondo ela se resolve a inpinocar, é um cu d' asnêra que só ê cá é que sê...

A verdade que se diga, o certo, o certo é que, em chigando ô dia, foi ela que me disse, logo bem cedo, p'a ê cá me despachar com o mê governo que, da parte da tarde, tinha-se qu' ir, lá ô bico da Fóia, ver c'm' àquilo era.

- Ai, já!... Atã, inda ontem 'tavas com umas caganêrices tã grandes que nã sabias o qu' haveras de vestir p'a par'cer lá ô pé daquelas senhoras e qu' o melhor era nã ir e nã sê quem nã sê quem, e, agora, já 'tás com essa pressa toda?!...

- Eh'q, já incontrí p' ali um vestidinho, qu' ê nem m' alembrava qu' o tinha, e, agora, vô-me ali à D. Helena arrenjar o cabelo e tu vestes aquela rôpinha que levaste ô baptizo do meçalho-pequeno do tê sobrinho, o ano passado...

E assim foi.

Apresentação do livro 'O que Entra nos Livros' de António Manuel da Venda
Na mesa 'tava tudo gente de estudos. Alguns sabem mái qu' o dicionáiro qu' ê aqui tenho...

Chigados lá àquele café que 'tá lá Fóia - fazia um vento qu' até assobiava e chuva 'tava-se méme a ver que, nã tardando nada, tamém par'cia -, pusemos-se a olhar p'a donde é que se havera d' ir. Mái, tã penas olhí p' ô piso de cimba, vi logo qu' era lá, com toda a certeza.

E isto p'r mode quem. É qu' ê lombriguí logo lá uma preçanada deles a andarem, assim devagarinho, dum lado p' ô ôtro, tudo de copo na mão que mal provavam a bobida que lá 'tava dentro, munto dirêtinhos, tudo munto sério e a tramelear uns com os ôtros, em se cruzandem...

Pensí logo, só cá p'ra mim, que nem disse à minha Maria:

- Agora é qu' ê 'tô bem aviado... Mái atã, tarê que fazer a méma figura?!...

Más, isto era visto cá de fora. Lá drento, a coisa nã era bem assim. Semp'e 'tava quái tudo gente conhecida e a famila falavam uns com os ôtros desafrontadamente.

Ê cá e a minha Maria, logo, f'camos assim um coisinho imbatucados, mái, ódespôs, perdé-se tamém o acanho e vá de se dar tamém à tramela com quem par'cia e pronto. Qu' isto, nã adiantava nada 'tar-se p' ali incolhidos a um canto... E até f'cava mal.

De manêras que, cada qual pegô no sê calcesinho de vinho do porto e desatô-se a beber assim uns sôlvinhos. D' ora im q'onto, vinha uma mecinha, tazia uns coisalhos de pão espetados num palito e um conduto qualquer - tã bem era presunto, c'm' uma coisa que sabia a pêxe, c'mo ôtras qu' ê nunca tinha provado...

Mái, c'mia-se tudo, nã cudem. Qu' ê cá e a minha Maria, bicôsos, atão, nã somos. O qu' apar'cer p'r a frente, désna que 'teja im condiçõs, baldeamos tudo. E más a más, nestas condiçõs... d' amor im graça...

E, olhem, até uma homem a tocar umas músicas assim munto lentinhas, num saxofone, lá 'tava. Andava p'r um lado e p'r ôtro, no mê daquela famila toda, qu' era p'a acontentar todos.

E isto tudo, p'a chigar ô qu' int'ressa.

Apresentação do livro 'O que Entra nos Livros' de António Manuel da Venda
Logo no prencípo, 'tava tudo quái sem saber o que fazer...

A pásnas tantas, lá s' assantô tudo e, os de lá da menza, vá de falarem dum livro qu' um escritor cá de Monchique - um mecinho inda novo, mái com uma cabecinha que tomara muntos, ch'mado António Manuel Venda - escreveu.

É um româinço, que lá o senhor de barbas que 'tava assantado ô mêo da mesa - que des qu' insina os môços na Universidade de Faro, e, p'r o jêto dele falar, calhando, nã passava sem ser o que mái sabia deles todos - disse qu' era um româinço.

E é um romãinço, sa senhora. Qu' ê cá, agora, já o li todo com a minha Maria e vi-se que era. E nã é qu' aquilo fala lá de coisas qu' à gente os dôs béque-me faz até lembrar famila conhecida?... Isto p'a nã falar nos bichos e nos caminhos e terras e por 'í diente, qu' o homem escreve aquilo e a gente, ô ler, até parêce que 'tá ver tudo na frente dos olhos...

Pôs o qu' ê l'es sê d'zer é que aquilo durô até já bem noite - p'r menes lá na Fóia, qu' aquilo çarrô-se de navoêro que nã se via um palmo à frente do nariz - que todos os que 'tavam lá à frente t'veram que falar. 'Tá bem qu' inda nenhum tida lido o livro, a nã ser o tal senhor das barbas, mái falaram...

E gostí munto d' os ôvir. Méme nã panhando parte do qu' eles d'ziam, 'tá bom de ver... Nã qu' a aparelhagem nã 't'vesse bem alta, más ê cá é que nã sabia o qu' aquelas palavras queriam d'zer.

P'r mode isso, inda gôrdí umas q'ontas aqui na cachimóina p'ra, despôs, ver s' as incontrava num dicionáiro, já de folha a folha, que pr' aqui tenho, mái de munto me serviu...

Abalô-se dali, foi-se p' à descasca de Marmelete, aquilo desatô a chover, nã se descascô nada de maçarocas que fosse nem viesse, levô-se foi o tempo todo a impinar copos p'r as goélas abaxo, lá na Casa do Povo, desqueci-me tudo que já nã m' alembro de nenhuma.

Apresentação do livro 'O que Entra nos Livros' de António Manuel da Venda
'Tava tudo munto emprensado a ôvir o qu' os que sabem tinham p'a d'zer...

Mái, voltando ô livro O que Entra nos Livros, qu' é c'mo ele se chama, nã percam de lê-lo. Aquilo, em se começando, só se descansa q'ondo s' o acabar... É qu' o marafado do Mágico Velhinho e o livrêro Sapinho Júnior nã dã descanso à gente, home...

Um - o Mágico Velhinho - andava a escrafunchar nos livros todos do ôtro qu' era uma desgraça, o ôtro - o livrêro Sapinho Júnior - já 'tava desalvorado com aquilo tudo que nã sabia o qu' havera de fazer, e o que escrevé o conto - o Antóino Venda - foi foi, foi foi, inda vá lá que deslindô aquela cachamorra toda p'a contar à gente...

Mái do qu' isto já ê cá nã l'es posso d'zer, senã nã tinha graça nenhuma q'ondo mecêas fossem ler o livro.

A minha Maria é que anda um coisinho descorçoada com o fim qu' o Mágico Velhinho teve. Já uma preçanada de vezes que me diz que, no dia a seguir à gente ler o livro, até teve sonhos com o pobrezinho...

D'zer a verdade, nessa nôte, a m'lher dé voltas na cama até mái não e, às tantas da madrugada, num de repente, dá-me um rafujão d'rêto a mim, infia-me com um cot'velo na espinha qu' ê cá até me faltô o ar. Inda ando pisado aqui duma costela e tudo...

Mái qu' ela tem andado um coisinho até p' ô abismado com aquilo, lá isso tem. Já tive qu' a sossegar, a ver s' ela p' aí l'e passa aquela pàxão, e nada...

- Ó m'lher, dêxa lá isso da mão. Atã nã vês qu' aquilo é uma coisa que 'tá só na idéa de cada um...

- Ai, coitadinho do Mágico Velhinho!...

- Atã, ele, tamém, andava a fazer a parte ô desinfeliz do Sapinho Júnior... O qu' é que l'e esperavas?...

Ela é que nã quer saber lá disso...

Mái p'r 'qui me fico. Em lendem o livro, logo me contam que tal.

E vã, tamém, bispar o blog Floresta do Sul, que pertence à méma pessoa que escrevé O que Entra nos Livros.

E, qu'rendem ver mái alguns retratos da apresentação do livro, lá bem no bico da Fóia, acalquem aqui na Galeria António Venda.

E até qu' a gente se veja.