20 outubro 2008

As cabrinhas anôas do mê compadre

Cabrito anão
Tudo o qu' é piquenalho é ingraçadalho...

Hoje 'tava a fazer conta de l'es falar nôtra coisa, mái passí ali na casa do mê compad' Jôquim p'a ver que tal 'tavam as zêtonas qu' a gente panhô da tal vez, mormente, umas qu' ele britô logo na nôte e pôs na água.

E nã é qu' ele prantô mêa-dúiza numa t'jala e já 'tavam im boas condiçõs?!... Ó, p'a d'zer a verdade, 'tavam inda um coisinho ásp'ras, mái já se comem bem...

E, atão, conversa puxa conversa, dig'-l' ê cá:

- C'pad' Jôquim, ontem ó ontontem, já nã m' alembra bem, béque-me par'cé ver o Mest' Zé Carnêro ir ali prêarriba, nã me diga qu' ele vê aqui à su casa...

- P'r acaso até vêo... Tive precisão dele me fazer aqui um serviço. Mái vomecêa, tamém, 'tá semp' à coca... É que nã dêxa passar nada...

- Nã é 'tar semp'e à coca. É que calhô... Mái nã foi coisa de cudados... ó foi?

- Foi e nã foi. Ali a minha cabrinha anôa teve ch'binhos, más o bichalho vi-se im traquetes, qu' eram logo três e ela é munto piquenalha, e, atão, mandí ch'mar o homem nã fosse se dar o caso do bicho me morrer p' ali e perder aquilo tudo...

Cabras anãs
A cabra anôa do mê compadre pariu ontontem...

- Fez mecêa muntíss'mo de bem... Olhe qu' o homem tem salvo pr' í munto gado...

- Cá p'ra mim, é c'm' se fosse veter'náiro. Só l'e falta ter ido estudar, mái percebe do assunto c'm' pôcos... Se nã fosse ele...

- Lá nisso dô-l'e toda a r'zão. Uma vez, a minha canita Brab'leta tamém 'teve p' ali mal com uma coisa quasequer, qu' até ravirava os olhos, ch'mí-o, ele fez-l'e um tratamento, aquilo foi remédo santo. Im menes de nada, o bicho f'cô bom.

- Ele, agora, tamém vêo pr' aí uma veter'náira nova - uma mecinha qu' inda é filha duma parenta sua - que des qu' é munto intendida. Tenho ôvisto falar munto bem dela...

- E ê cá tamém... Des que vai a tod' ô lado e 'tá semp'e pronta p'a acudir ô que ser preciso. 'Tá tudo munto contente com ela, sa senhora...

- É tamém o qu' ê cá tenho ôvisto...

- Veja lá qu' a minha Maria até anda-me semp'e a zucrinar os ôvidos que quer levar aquela galinha preta qu' ela tem - a Bicosa - à consulta, premode o bicho andar p' ali com uma gosma qu' aquilo não é nada...

- E, lá pr' isso, tem alguma precisão d' ir logo à veter'náira?!...

Cabras anãs
E o b'chalho é danado p'a mamar...

- Atã, q'ontas vezes é qu' ê cá já l'e disse que não?!... Ela que l'e dête p' ali uma gota d' azête p'as goélas abaxo qu' aquilo passa-l'e logo...

- Foi o qu' a minha C'stóida fez aí no prencip'o do verão a uma franganita que 'tava nesse estado... Não há melhor mèzinha...

- Atã, e os sês ch'binhos anãs, 'tá tudo vivo?

- Cale-se aí, c'pad' Refóias, 'tã ali qu' até dá gosto. Ande cá aqui qu' ê cá mostre-le-os...

E lá me levô à arramada.

Mái, nã l'es digo nada. Aquilo é um gado... Os b'chalhos tã piquenalhos que sê cá se serã maiores qu' o mê gato, o Caça-ratos... E tôd's branquinhos...

- Mái, atã, que jêto os ch'binhos serem assim tã branquinhos, c'pad' Jôquim?... A cabra é toda castanha...

- Saiem ô pai, hóme... Atã, inda nã conhece ali o mê chibato anão?... Olhe-o lá ali. Nã vê, é branco assim c'm' ôs filhos... De castanho, só tem aquela malha além à roda do olho.

E pus-me a olhar p' ô bicho. Só qu' o marafado é esquivo c'm' um raio, nã aparava sossegado nem um 'stante... Inda l'e tirí p'a li um retrato mái foi só q'ondo ele se panhô fora do curral, no cantêro da pastaja. Sim, qu' o dono solt' ôs tôdes dias p' ôs bichalhos c'merem uma pastajazinha e espàircerem um coisinho.

Bode anão
O paisano é qu' é esquivo c'm' raio...

- Ó c'pad' Jôquim, mái mecêa havia d' amansar o raio do bode... Nã vê aquilo?... Já pregô uma marrada na cabra...

- Alguma vez?!... Quem é que dá conta duma peste daquelas?!... Inda vomecêa nã vi nada... Em ele l'e dando p'a dar marradas a precêto, cuda de partir aqueles cornos. Leva tudo a êto...

- Veja lá s' ele parte algum e fica com o chapéu defêtuoso...

- E ê cá que m' emporta munto com isso... Ele qu' os parta ôs dôs, se qu'rer. O mal é dele...

- Eh'q, mái semp'e fica mái desfêado...

- Que mal é qu' isso faz?... Só o tenho p' a ele cobrir a cabra... Désna que nã estrague o resto... E aquilo, tamém, nunca me dá lucre nenhum. É só p'r fazer gosto im p'ssuir...

De manêras que, f'cô-de p'r 'lí mái um pôco vendo os b'chinhos, o homem inda panhô umas bejoarias p' à c'mad' C'stóida fazer p' à cêa e dé-me um rábano dos dele, qu' os mês 'tã tôdes b'chôses, e uma alfaiça duma q'ôlidade munto boa qu' ele tem, e fui caminho do monte.

E, vomecêas, passem munto bem. Até qu' a gente se veja.

09 outubro 2008

Descuidí-me um coisinho, mái atão...

Apanha da azeitona
Cá a gente inda escolhe as zêtonas à moda antiga...

Esta semana, nã tinha assim serviçalho nenhum p'a fazer d' urgente, tirí p'a dar uma manita ali ô mê compad' Jôquim do Barranco a panhar umas três ó quatro zêtonas qu' ele p' ali tinha numas ol'vêras, logo prebaxinho da casa.

D'zer a verdade, logo, cudí qu' aquilo nã dava p'a tirar a jorna, mái, tã penas a gente os dôs e más o filho dele - o Zé Manel - se jogamos ô trabalho, vi logo qu' o homem inda apurava p' ali qualquer coiseca. Mái que nã fosse, umas q'ontas p'a britar e outra manchinha delas p'a alagar na água.

Nã sã assim lá grande coisa, qu' isto o tempo nã chové que passasse bem a terra e, atão, elas nã ingradaram quái nada, mái olhando a que nã l'e deram despesa - nem calda nenhuma l'e deu... - inda nã se pode quêxar munto...

De manêras que, pusemos-se a panhar nelas, levamose-as p'ra casa e vá de escolhê-las c'm' se fazia nôtres tempos, com um tab'lêro e três vasilhas: uma p' às de britar, ôtra p' às d' água e ôtra p'ô rafugo que sã as que se mandam p' ô alagar.

Tava-se munto bem nesse serviço, salta o Zé Manel com-migo, fêto esperto, qu' ê cá nã sê quem, nã sê quem, já tinha dêxado o blog da mão, que esta e qu' aquela, toma abaxo e toma arriba... e vá de fazer porra de mim.

Apanha da azeitona
Ele, este ano, há umas zêtonecas, mái nada que se parêça com o ano passado...

Ora ê cá nã digo qu' ele nã t'vesse um coisinho de razão... que, verdade se diga, descuidí-me um belo pôco com isto, mái tamém nã era caso p' ô marafado se pôr p' ali a rançar daquela manêra, que nunca mái se calava...

- Vomecêa já se l' acabô foi a coraja... Já nã tem assunto, é o que é... E o blog do Parente da Refóias dé o carepo...

- Ai, sim?!... Atã e tu não esp'r'mentas a fazer um premode quem? S' és assim tã descreto... Faz lá um qu' ê quero ver o que sai daí, ó...

- Ê cá não... Tenho alguma coisa a me meter nisso?... Mái tamém l'e digo, se me metesse, nã fazia a figura que mecêa tem 'tado a fazer... Anda já aí tudo a d'zer coisas... que se calou, que nunca mái dé vaia a ninguém, que perdé o pio... 'Té, lá im Vila Nova, já me prècuraram se vomecêa tinha esticado o pernil...

Punhefra!, aí dé-me cá um géno marafado!.. Béque-me me assubi o sãingue às ventas, quái que dêxí de ver e pensí:

- 'Pera aí qu' ê já te digo... Ê já te faço ver c'm' é que é...

Mái, abrandí e inda l'e disse:

- Atã nã vês qu' isto foi um Verão ruim qu' ê tive, par'ceram-me impendiclos até mái não e andí p' aí metido tamém nôtras coisas... E nã te desqueças que "almocreve que toca muntas bestas, alguma l'e fica p'a trás"...

Apanha da azeitona
E inda s' aprevêta bem munta p'a alagar...

Más ele teve-se barimbando p'ra isso e lá foi d'zendo parvoêras, umas atrás das ôtras, até l' aborrecer. E ê cá, o qu' é qu' havera de fazer?... Nã l'e dí mái reposta nenhuma...

De manêras que, ô lusco-fusco, arredondô-se o serviço e ê cá abalí, sem d'zer nada a ninguém, joguí-me ô comp'tador e vá de escrev'nhar ôtra vez... Até a minha Maria estranhô, vejam lá...

Qu' ê cá, atão, nunca tinha pensado im largar isto da mão, 'tá bom de ver... As coisas é que nã me correram lá munto a mê jêto nestes meses tôd's... E em a vida nã correndo de fêção, má da volta...

E, já agora, mês belos amigos, apr'vêto a ocasião p'ôs comprimentar e l'es pedir desculpa de ter dêxado passar tant' ô tempo sem l'es d'zer coisíssema nenhuma. Tenham pacência que mecêas têm a r'zão toda do sê lado, mái nã se parêçam mal qu' ê cá nã fiz isto d' a prepósito. Calhô assim...

Atã, fiquem-se com Dés.