Dia da Espiga, a minha Maria ganhô este lindessísss'mo ramo, panhado logo ô romper d' arora...
Dia da Espiga faz quái uma pessoa s' alembrar do Dia de Maio. Vai-se 'í p'r esses charazes, 'tá tudo verdinho im flor e, quem aprecêa uma bela sombra e gosta de missa ô ar livre, abala caminho do Barranco dos Pisõs e passa lá um dia qu' é uma classe.
E agora, atão, qu' a Junta dé im mandar vir lá um conjunto tocar qu' é p' ad'vertir inda más a famila, nem se fala... Levando-se um farnelinho c'm' deve de ser, cá à manêra, uma pessoa assanta-se numa menza daquelas, dá im c'mer e bober, é até má de s' alevantar de lá assim sem más esta nem más aquela.
Pôs, na Quinta-Fêra d' Às-sunção, aquilo 'teve duma manêra qu' os que lá foram tenho a firme certeza que nã f'caram repesos do caminho que fazeram. P'r menes, cá p' ô mê lado e da minha Maria, a coisa corré méme ô queres.
Ajuntamos-se com os nossos compadres dali de baxo d' ô pé da Nave e uns af'lhados e mái uns amigos bons que foram par'cendo, aquilo foi um dia de espàircemento c'm' há já uns belos tempos a gente nã panhava.
Pr'mêro, foi a missa campal. Aí, tem que se 'tar com munto respêtinho. E olhe que, no mê de tanta famila e assim ô ar livre, 'té me dé que pensar de ver tudo com tanto precêto, que nã havia quem fazesse barulho nem desencaminhasse os que 'tavam perto.
Méme assim, inda s' ajuntô bem munta famila p' à missa campal...
De manêras que, o senhor Prior lá fez o sê papel - e munto bem fêto, qu' o homem faz umas prègaçõs que tem semp'e ali as palavras todas debaxo da língua - e aí lá p' ôs lados da mêa-hora ó pôco más, já 'tava tudo fêto p'a ir c'mer qualquer coisinha. E, calhando a haver uma gotinha do tinto, molhar o bico p'a impurrar o decomer p'r as goélas abaxo.
Nesse entrementes, e entes qu' o pessoal infiasse todo p'r o moinho adrento, já ê cá lá tinha ido tirar uns retratinhos, qu' aquilo 'tá ali uma coisa c'm' ê cá tenho visto pôco. Olhe qu' a Junta de Freguesia arrenjô o moinho do Poucochinho duma tal manêra que só o que faz lá falta é um molêro p'a ir b'scar o grão e levar a farinha...
Sim, que farinha ele faz... Mái, nôt' ocasião ê logo l'es falo disso e logo l'es amostro dôs ó três retratos daquilo tudo a foncionar. Hoje é só do resto, da gradessíss'ma pangalhada qu' a gente fez, que durô quái a tarde entêra. E olhe qu' havia menino que, por eles, calhando, só a nôte é qu' os tirava de lá...
E nã m' admiro nada... Se vomecêas provassem um casêrinho qu' o mê compadre Jôquim apresentô lá, logo viam o qu' era bom. Bom, mas bom!... Inda l'es digo más. Bom c'm' àquele pode ser qu' incontrem. E méme assim, nã sê, nã sê... Mái melhor, atão, posto que nã há aqui tã perto.
O mê compad'e Jôquim Mela apresentô um garrafanito dum casêrinho qu' ele fez, qu' até as m'lheres se lembiam...
Ê cá c'm' nã tenho uvas que prestem e nã sê fazer nada de jêto delas, levava ali umas garrafinhas dum alentejano ali das bandas de Pias, coisa tamém jêtosa, que me trôxe um amigo, uma ocasião.
Mái, q'ondo o mê compadre apresenta aquela especialidade, que, só d' olhar p' à cor dele, um homem f'cava-l'e a luzir os dôs olhos, nunca más m' alembrí d' ir à prècura da cesta de verga adonde leví as minhas.
Só l'es sê d'zer é qu' a gente desata a c'mer, à rôpa toda, o qu' as m'lheres p'r 'lí puseram im cimba da menza, qu' o mê compad'e quái que nã dava àgu-ento a incher cop's p'ra este e p' àquele...
E olhem qu' ele béque-me até fazia tanta presunção im s' apresentar com um artigo assim de tã boa q'ôlideza que 'tô cá desconfiado que nã s' insaiava nada p'a infiar umas pelhegas ôs que nã t'vessem conta e fossem imborcando neles à medida qu' ele os inchia...
Foi o que se dé com o mê amigo Arraúl Vàlise. Assim l'e chamam qu' ele, im mái novo, 'teve um ano im França e des que, q'ondo voltô, desquecé-se duma mala da rôpa na carrêra de Sabóia p'a Monchique, e atão, mái tarde, foi lá à Agência à prègunta da vàlise, que já nã s' alembrava c'm' se d'zia mala im português. Ora, esta malta aqui im Monchique nã pode ôvir nada, f'cô o Vàlise... Más ele, tamém, nã s' emporta nada.
Pôs o amigo Arraúl chigô lá já um coisinho atrasado, que nã sê o qu' é que teve p'ra fazer de manhã e atão, q'ondo par'ceu, já o garrafanito ia p' ô lado do mêo. Mái isso nã o enfèzô nada qu' ele nã é moço p'a s' acanhar e emborcô logo uns dôs ó três d' infiada.
Nã tardando nada, já ele 'tava im pior estado qu' ôs ôtr's... E p' ô qu' é qu' havera de l'e dar?... P'a balhar. D'zer a verdade, nã era coisa que nã me t'vesse já alembrado, nã senhora. Mái isto c'm' "ovelha que berra, bocado que perde" e a coisa inda 'tava no prencíp'o, disse cá pr'a mim:
- Olha lá, enche más é pr'mêro a barriguinha, entes qu' eles te façam a parte e te dêxem p' aí im seco, e, despôs, logo vás p' ali arrojar as botas atrás da tu Maria, s'acuáso nã arrenjares uma moça mái nova, qu' é o mái certo que tu tens é nã arrenjar...
Quem havera de d'zer que, nuns barrancos daqueles, 'tava um conjunto a tocar modas do melhor...
Ô certo, ô certo é qu' os moços que 'tavam lá tocar acertavam bem e as modas eram boas, home... Já assim do mê p' à fente, hôve ali uma parte qu' aquilo era só coisas do nosso tempo. Aí, já o garrafanito 'tava-se a ver bem o fundo, vem o ti Manel do Fojo e dá as provas do madronho dele, duma garrafinha que trazia na alz'bêra do casaco.
Ê cá, p'a nã f'car atrás, vô-me à cesta de verga e jog'-me a uma garrafinha dela qu' ê tinha lá posto ô abalar de casa sem a minha Maria dar notiça. Vá uma rodada tamém p'a tôd's...
Diz o Arraúl:
- Lá ver 'í um coisinho de bolo de tacho qu' é p' à gente tapar estes e l'e b'ber só más um cada um e, a seguir, vai-se tôd's balhar. Seja cão o que nã ir!...
Ora, nã foi coisa que se d'zesse a surdos... Más as m'lheres 'tavam com o olho na gente, viram que já se 'tava um coisinho escarados, fugiram todas e vá de balhar umas com as ôtras.
Digo p' ô Vàlise:
- Atã e agora?...
- Agora?!... Anda lá dái com-migo qu' a gente vai àlém e desmancha aquilo tudo. Vá!...
E lá se foi. Cada um pegô na sua, mái 'tava má de s' acertar alguma coisa de jêto. E as pobrezinhas, calhando, algumas inda levaram foi uns incontrõs e nã sê munto bem se vieram com os calos a latejar duma pisadela ó ôtra que panharam...
Mái, ô fim de resto, foi tudo uma charola im forte e inda t'vemos sorte qu' a brigada nã sê p'r donde é qu' andô que nã na vimos nessa tarde.
Em desatando a trabalhar, o moinho do Poucochinho enche uma tulha de farinha im menes dum farol...
Dêx'-l'es aqui este retrato do moinho do Poucochinho p'a s' irem consolando. Em havendo jêto, logo l'es amostro mái uns dôs ó três e conto-l'es o que passí p'ôs dar tirado.
E aqui na galeria do Dia da Espiga podem ver mái uns q'ontos, se qu'rerem.
Até qu' a gente se veja.
Obrigado parente, pelo seu voluntarismo, para nos mostrar uma 5ª. Feira de Ascensão com sabor a 1º de Maio. Quem não pôde estar presente tem agora a oportunidade de constatar, como os Monchiquenses são uma comunidade unida, e sabe receber com altruísmo, todos os que gostam de nos visitar.
ResponderEliminarFaço votos que as tradições continuem com o mesmo fulgor, patrocinadas por uma Junta de Freguesia, que sabe conhecer, como ninguém, os anseios do seu povo.
Obrigada parente, por me mostrar o moinho que foi do meu avô e depois do meu tio, assim: novinho em folha. Bem haja pelo trabalho que desenvolve e por nos matar as "soidades".
ResponderEliminarMinha bela amiga
ResponderEliminarNã sê s' a conheço, mái, se me d'zesse o sê nome, f'cava todo contente.
Se nã qu'rer d'zer aqui, pode mandar p' ô email refoias@refoias.net que mái ninguém fica a saber.
E se qu'rer d'zer mái alguma coisa a respêto do moinho e da su famila, diga, qu' ê cá inda l'e vô amostrar mái uma manchinha de retratos do moinho do sê avó e contar c'm' àquilo 'tava a moer uns baguinhos de milho naquele dia.
E olhe qu' a pessoa que fez aquele trabalho morêce bem um gabanço, que 'tá munto bem aconchigado.
Dés l'e pague p'r passar cá p'r o Parente da Refóias.