22 fevereiro 2007

Estátuas de Monchique - as outras

Im pr'mêro lugar, tenho munto a l'es pedir desculpa qu' isto, nã sê se foi p'r mode ser entrudo s' o qu' é que foi, andô pr' aqui tudo desalvorado. Os retratos, uns par'ciam ôtr's nã par'ciam e ê cá custí a dar conta disto.

É qu', inda p'ra más, os saganhetas adonde os retratos 'tã gôrdados tamém se resolveram p'a lá a mudar os servidores, qu' isto agora já quái ninguém tem trabalho certo a nã ser os empregados do Estado, e atão, calhando, aqueles acabaram o contrato e puseram ôtr's ô serviço.

Ora, os nôvos nã 'tavam bem ac'st'mados, 'tá bom de ver, e inda ajudaram a marafar más isto tudo. Mái a coisa, agora, béque-me,incarr'lhô ôtra vez. E, atão, lá vai o resto das estátuas da Vila.

Esculturas de MonchiqueInda bem o Tóino Pingueta nã se tinha despedido de mim, já ê cá lá ia caminho d' ô pé da farmácia de cima, ali adonde eles puseram um, munto incasacado, a fumar de cachimbo, com ar de munto fino.

E já agora, entes que me desqueça, quem fez estas estátuas foi um artista que nã narcé cá im Monchique, mái, ô fim de contas, é filho de famila de cá. O nome dele é Melício e, p'r o jêt', é um varinha nisto e nôt'as coisas que tem fêto 'í p'r tôd' ô lado.

Vejam aqui, qu' a amiga Mari' Lua mandô-me umas ligaçõs, e ê cá, tã parvo, já tinha dado com isto há uns belos tempos e barré-se-me tudo que, nem p'r nada, m' alembrava. Dés l'e pague, minha bela amiga... E, se prècurarem na internet, inda incontram mái coisas.

E com isto tudo, q'ondo mal dí p'r mim, ia a mê da Rua do Porto Fundo, munto emprensado, já a lombrigar a tal dita estátua que 'tá lá quái ô canto de cimba. Um moço munto jêtoso, com um cachimbo nas unhas a decer a rua, todo emproado, c'm' usa a fazer aquela famila de fora que vem p'r cá de v'sita munt' amiúde, mái no V'rã' que no enverno.

Im chigando ô pé dele, pus-me a o'servar bem aquilo e nã se pode d'zer que nã 'tá uma coisa bem trabalhada. Olhe qu' até parêce quái de verdade. S' ele nã o calhasse a ter pintado desta manêra tã enfarruscado, logo vomecêas viam... Havera d' haver munto quim s' atribuísse qu' aquilo era méme uma pessoa.

E, uma ocasião, 'té l'es posso d'zer qu' isso se deu. 'Tá bem qu' ele era um coisinho já de nôte e inda havia pôco tempo que tinham posto ali aquilo, mái se fosse uma coisa sim jêto nim trambêlho, quim é que s' ia inganar? Só quim viesse já bem escorvadinho...

Esculturas de MonchiqueEsculturas de Monchique Este dá ares a ter um coisinho de presunção. Mái que 'tá bem fêto, 'tá. Lá isso nã se pode d'zer que nã 'teja...

E ê tamém nã l'es vô d'zer que fosse o contráiro, qu' o Zé D'mongues inda hoje gosta de s' intreter na Portela e vinha de lá. E há quem diga qu' ele 'teve na venda a tarde entêra e só àquela hora é que despegô de jogar ôs três-setes im companha d' ôtr's três amig's. E aquilo, ô fim de cada jogo, vem semp' uma rodadinha...

Qu' ele é munto influído a jogar à carta, isso semp' tenho ôvisto d'zer...

Pôs o amigo Zé D'mingues vinha com tanta influên-inça de chigar a casa p'a bater o jantarinho que, nã repàirando qu' aquilo nã era uma pessoa, falô-l'e:

- 'Teja com Dés...

Dé' mái duas ó três passadas p'ra baxo, c'm' nã ôvi' r'posta, pôs o ôvido à escuta e ôlhô assim p'r o canto do olho a ver se dava conhecido a criatura. C'm' nã no conheceu, f'cô imbasbacado sim saber o que fazer.

- Nã tará ôvisto?!... Fal'-l' ôtra vez, nã l'e falo, o qu' é qu' ê faç', senhor?... - Pensô. E num derrepente, volta-se:

- Atã, parente, o qu' é que faz p'r 'qui, umas horas destas?... 'Tá aí aparado p'r mode quem? Quer ir p'a alguma banda e nã conhêce a Vila?

C'm' o ôtro nã l'e d'zesse nim isto nim aquilo, inda béque-me f'cô mái insampado...

- Ó mê belo amigo, veja lá, se t'ver preciso d' alguma coisa, diga lá qu' ê sô pessoa p'a l' e dar uma ajudinha. Désque 'teja ô mê alcance, 'tá bom de ver...

E o ôtro, nada...

- Ai, nã dizes nada?!... Atã 'pera aí qu' ê já te dô. Passe munto bem e até à vista, qu' o mê vagar é pôco...

E abalô caminho de casa.

Q'ondo lá passô ôtra vez, nã sê que tempos despôs, e inda lá vi' a criatura no mémo sito, pôs-se a olhar, fez assim um mòdinho de riso, vi' adonde 'tava e disse p'ra com ele:

- Olha que f'gura que fazeste naquela nõte, Zé... Tal era aquilo, se se dá o caso d' alguém ter visto?!...

Esculturas de Monchique Nã sê pre mode quem, o mest'e Melício béque-me gosta de fazer meçalhas-pequenas que nã se sabe bem s' é môç' s' é moça...

'Tava ê cá a m' alembrar desta passaja e já lá ia, Escadinhas do Adro abaxo, d'rêto à Quinta da Vila, adonde fazeram aquele jardim à roda da araucária e as p'cinas e aquela coisa toda. Nã é p'r nada, mái 'tá ali uma coisa... Quem fez aquilo nã se pode d'zer que nã tenha sido bem ôp'niôso.

Méme agora d' enverno, uma pessoa vai lá e dá gosto ver... Logo, que tem a araucária qu' é uma arv'e c'm' se vê pôco - p'lo jêto, foi despôsta no sito melhor que podia ser, qu' ela prosa lá tã bem que tem crecido aquilo que se vê. Despôs, o jardim 'tá todo bem arrenjadinho com arv'es e flores que nem tampôco têm míngua de dar flores p'a serem bonitas.

E, inda p'ra más, puseram-l'e lá as tales estátuas do mest'e Melício, qu' até um f'lano, méme andando p'r lá sòzinho, sinte-se com companha e, de q'ondo im vez, descuda-se e quái que l'e dá p'a puxar conversa com elas, fêto Zé D'mingues.

Já nã digo qu' isso se com aqueles dôs meçalhos-pequenos qu' ali 'tão, mái com este trabalhador que 'tá aqui jogado a partir pedra, uma pessoa apara ali ô pé dele, põe-se a olhar bem p' àquilo e é, béque-me, tal e qual c'm' se passa de verdade. Tirando o martelo qu' ele tem na mão - qu' isto aqui usa-se é uma maceta - e o pontêro, que nã tem e havera de ter na outra, aquilo nã tem quái d'f'rença denhuma...

E olhem qu' hoje já pôco se vê, mái, nôt's temp's, p'a se fazer fosse o que fosse d' alvenaria, era tudo im pedra. E, atão, quim é que nã tinha ferramenta p'ra isso, mòrmente se sabesse fazer qualquer coisinha de pedrêro?... Que, nesse tempo, a famila sabia fazer quái de tudo. Tanto se jogava a cavar um cantêro com uma inxada c'm' fazia um v'lado de pedra ó uma parede de taipa...

Inda, ontordia, im conversa com o mê parente Joanito do Forno, que tamém inda é Refóias do lado da mãe, se falô nisso. Ele 'tava p'ra lá a arrumar umas trugias no sobrado, saca desenlaca, tomba-l'e uma bróca que 'tava incostada à parede p'r trás dumas tábuas. P'r más um nada nã l'e panhava uma canela...

- Ai, fado dum ladrão, já nã m' alembrava qu' isto 'tava aqui, ia arrenjando a bonita!... Olha s' ela me panha a perna...

- Escraf'lava-te-a toda. Ora uma bróca dessas, quái com um metro de comprimenta e toda farrugenta, a te bater assim dessa manêra...

- Se nã fosse ser uma alembrança do mê falecido pai - que Dés o tenha - só me dava vontade era d' a jogar já ali p'a drento dum balsedo... Isto, tamém, já nã me serve p'a nada.

- Olha qu' às vezes, nunca se sabe... Podes ter precisão d' impurrar p' aí uma pedra assim maiorinha ó um tróço duma sobrêra, e uma barra faz semp'e jêto.

- Eh'q. Isto agora, já nã se faz nada à som de braço. Q'ondo se tem preciso, manda-se vir uma recta.

- Lá isso é verdade, mái ê cá quái que me dá uma pàxanita de ver as ferramentas aí todas a inferrujar. Assim c'm' tu, que tens aí de tudo, désna de barra e marrão até brócas e pontêros, haveras dos conservar isso e nunca as estrapôr...

- Nã... Isso lá estrapôrestraponho. Mái, parte das vezes, nem m' alembro que tenho isto pr' aqui e vai-se tudo estragando.

Esculturas de MonchiqueEsculturas de Monchique Tal e qual c'm' se trabalha na pedra. Só qu' im lugar do martelo havera de ter um maceta na mão.

E p'a nã nos impatar más, uma coisa l'es digo: em vindem à Vila, nã percam de dar uma voltinha p'r este jardim e devassá-lo bem, que nã ficam repesos. P' ôs que já 't'verem fracos das canoiras e nã darem decido munto bem as escalêras, qu' aquilo, d'zer a verdade, é bem munto empinado, vã à roda e passem lá ô pé da Junta de Freguesia que semp'e nã é um caminho tã ingr'e.

E, im chigandem lá im baxo, têm p'r lá bancos p'ra s' assentar à vontade e descansar as pernas.

E isto é tanto p' à famila de cá c'm' p' ôs de fora. Qu' esses, uns já vêem d'apropósito e sabem, e ôtr's nã sabem e aquilo passa-l'e tudo desapercebido. De manêras que, olhem p' à araucária, cá de cimba, e deçam até l'a im baxo p' à ver da ôtra banda, no mê daquele jardim tã bonito.

E Dés l'e dê saúde a tôd's.

3 comentários:

  1. Boas, Compadre! Parecia eu que adivinhava o seu conselho... Domingo de manhã, fomos à "pregunta" das estátuas que faltavam, subimos o Porto Fundo e descemos ao jardim (parece mentira ter ido tantas vezes à piscina e nunca ter ido lá baixo!). E vale bem a pena pois, como diz, o jardim dá gosto de ver, de bem cuidado que está! A Isabel ainda há-de correr muito por ali! Por enquanto foi ao colo da mãe!
    Só foi pena não ter conseguido fazer-lhe uma surpresa! Fica para a próxima!
    Cumprimentos a si e à sua Maria!
    Carla

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  2. Olá Parente!
    Por acaso já tive o prazer de ver esse lindo jardim de perto. Até já fotografei um casamento nesse sitio. Realmente uma coisa que vale a pena ver!!!

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  3. Caro MaD:
    Agradeço que, quando puder, me forneça o seu endereço electrónico para tslz@netcabo.pt
    Um abraço.

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