P'r uns dôs ó três meses, quem qu'sesse ver flores, era no Alferce...
Este ano fazeram pr' aí um concurso, ó uma coisa assim, que cada concelho tinha um povo que se inchia de flores até mái não, p'a ver se ch'mavam a famila de fora assim a estas terras mái piquenalhas.
Cá im Monchique, calhô ô Alferce.
De manêras que, tã penas o enverno acabô, a famila ali do Alferce desatô a despôr flores p'r tudo q'onto era sito e, nã sê se tã lembrados, mái, já no dia de Maio, q'ondo se foi o passêo e às provas do bolo de tacho, aquilo 'tava que dava gosto. E assim f'cô até agora.
Andí p'a l'es amostrar isto este tempo todo, mái nã tive jêto, e, atão, só agora é que 'tô a falar no caso, e um coisinho à pressa, que ando aí a tratar d' ôtras coisas que logo l'es digo o que é.
Dessa manêra, vô-me falar pôco - qu' é p'a nã d'zer muntas parvoêras - e dêxo-l'es aqui uma manchinha de retratos que tirí às flores do Alferce, a aldeia em flor de Monchique.
Esta quái qu' até parêce de plástico, mãi nã cudem, é uma flor de verdade...
Más é verdade, em as coisas 'tando p'a nã correr bem, há-de par'cer sempre algum impendiclo p'a empeçar uma pessoa. Ora era que chovia, ora qu' aventava, e, ô certo, é que nunca dí tirado retratos cá a mê gosto... E méme p'a escrever mêa-dúiza de patacoadas havera d' haver sempre qualquer empecilho que nã me dêxava tratar do caso.
E, d'zer a verdade, andí, andí, nã me dí safado sem panhar com umas gotas d' água im cimba dos cascos, já p'a nã falar da ventania que fazia nesse dia im que lá fui, qu' andava tudo p'r aqueles ares.
Até o mê casquêro, se nã m' aprecato, nã sê adonde tinha ido parar, uma vez qu' uma manga de vento o panhô p'la aba e o estrapôs p' ô mê da rua, a caminho do Povo de Baxo. Vá lá qu' ê cá já 'tava contando com aquilo e salto-l'e logo im cima com a ponta da bota. Foi méme rès-vés... S' ele nã calha a ter a aba um coisinho tã larga - assim quãi c'm' um abirum - já nã no tinha panhado...
No Largo, parte eram flores de vaso e, aqui deste lado, puseram as ervas de chêro quái todas as que há cá...
E méme nessa altura, oiço uma voz, béque-me conhecida, assim além adiante, a meter-se com-migo:
- Olha quem 'tá além... O Refóias todo descrapuçado e com a coisa na mão...
A coisa era a máquina dos retratos, 'tá bom de ver... e o mariola que 'tava a qu'rer entrar com-migo era o Tóino Luzicuco, um diebo além das bandas de S. Marcos, que vê pr' aí parar, ora 'tá num lado, ora 'tá nôtro, mái, agora, ôvi d'zer que tem parado mái tempo é ali pr' ô Alferce.
- Ah, grande badalo, vê lá se deste uma manita a panhar aqui o chapéu, entes qu' ele abalasse aí prê adiante...
- Dêxasses-e-o vir, qu' ê logo o cercava aqui...
- Com um vento destes?!... Sê cá s' ele nã alevantava voo e o menes qu' ia parar era ô Barranco do Demo...
- E o mal qu' isso me fazia...
- Nã te fazia a ti, mái fazia-me a mim, que f'cava sem ele...
- G'ande prejuízo... Um casquêro desses já todo debôto e, béque-me, até roto ele já 'tá aí no debrum...
- Qual roto nem roto!... Inda o comprí, o ano passado, na fêra de Vila Nova... E bem caro qu' ele foi que me ia custando os olhos da cara...
- Nã te chores, que tu tens munto... Ó pensas qu' ê nã te conheço?...
P'r tod' ô lado puseram umas florinhas. Méme singelas que fossem...
- Já que 'tás com essa conversa, era p'a te pagar um calcesinho ali à do Càxinha, já nã te pago...
- O qu' é qu' isso t' adianta?... Pago eu...
- Assim, 'tá bem... Dêxa-me lá tirar aqui mái uns dôs ó três retratos, que vai-se já ali...
- Vai-se, não... Quem é que te disse qu' ê pagava p'ra ti?!...
- Dêxa lá que nenhum há-de ficar im seco... Olha, 'tive cá a pensar e, se nã te portares mal, inda pode ser que mande vir alguma coisa p'ra ti...
Inda bem nã tinha acabado de falar já ele 'tava a fazer um cigarrinho... Puxa duma onça d' Àguia, um livro de papel daqueles das mortalhas mái largas e vá d' enrolar. O Homem tem uma prática daquilo que, nã demorô um foguete, já ele tinha o cigarro nos quêxos...
- Ó Tóino, atã assim é que te portas bem?... Nã sabes qu' ê cá nã gosto de fumarem ô pé de mim?!...
- Mái tens de t' aguentar... Ê cá, atão, sem um cigarrinho é que nã dô passado...
- Olha que já ôvi muntos d'zerem o mémo e, partes deles, já nã fumam. Uns, que t'veram méme de se dêxar de fumar premode a falta d' ar que sintiam, e ôtros, que já morreram, parte deles, na desgraça...
- Eh'q, mái atão, quem me tira o tabaquinho tira-me tudo...
- Bem fez o que te baptizô p'r Luzicuco... Andas semp'e de luzinha a acender e a apagar...
- S' ê cá sabesse quem foi o grandessíss'mo filho da pucra, logo l'e dava o arroz... E tu tamém nã te descudes munto com a língua qu' ê nã gosto de me ch'marem isso...
- Isto nã era p'a te ch'mar, era só p'a fazer a amenção... E já sabes que q'onto mái t' enfezas, mái eles te chamam. Se nã fazeres caso, vã, vã, desquecem-se...
Já qu' o YouTube 'tá na moda, vejam lá os retratos tamém aqui. Querendem...
Agora, se gostarem de ver os retratos mémo ô sério, acalquem aqui na galeria do Alferce, aldeia em flor.
E p'r 'qui me fico.
Sáb'do e D'mingo que vêem, nã percam a fêra do presunto. Ê cá, Sáb'do, tenho um baptiso, se lá dar chigado só se no D'mingo, mái quero ver se nã perco tal coisa.
Atã até um dia destes e saúde da boa.
Simplesmente espectacular!
ResponderEliminarO parente da Refoias não pára de nos surpreender. Fazer um filme sobre o Alferce e as suas lindas flores não estava no imaginário de qualquer um, e metê-lo no You Tube. O que será que vem a seguir? Do parente já nada me surpreende!
E ainda dizem que somos “serrenhos”,”monchiqueiros” e outros termos apelativamente pejorativos!
Que Deus lhe dê muita saúde para nos ir brindando com coisas bonitas, que só o Parente da Refoias sabe, tão bem, fazer. É o desejo deste seu amigo e conterrâneo.
Só para agradecer e avisar que estamos a ficar mal habituadas. Queremos mais...
ResponderEliminarAi compadriiiiiiii e parente...é lindo de se ver...fiquei sem palavras...lindo..lindo...
ResponderEliminarSaudinha compadri até um dia destes...ah pois....é nós já nã passamos sem as suas h'torias, os seus retratos...sem si...
Um bêjo daqui de beja
Papoila