15 dezembro 2009

A Feira das Velharias de Vila Nova

Feira das Velharias de Portimão
Com o Sol inda p'r narcer já a Fêra das Velharias 'tava nisto...

S' ê cá l'es contar adonde é que fui um dia destes com a minha Maria, mecêas, calhando, nã têm nada em inda incherem o papinho de rir à minha conta, mái c'm' nã me vem, agora, ôtra coisa à mimóira p'a l'es falar, riam-se ó não...

Faz, béque-me, agora quinze dias, D'mingo que vem - quinze dias ó três semanas, jã nã m' alembra bem... más isso tamém o tempo que há ó que nã há nã tem assunto... - fui até Vila Nova. E fui até Vila Nova premode quem?

É qu' a minha Maria já há uns belos tempos qu' andava a brigar im forte com-migo p'a ê cá ir com ela lá, a uma fêra qu' eles, nã sê qual a rezão, fazem quái todos meses p' à famila ir vender as trugias que tenham im casa e já nã tenham míngua delas.

Entes de me resolver a ir, inda disse à minha Maria p'a falar à c'mad'e C'stóida s' ela nã gostava ir tamém com a gente qu', assim, o compad'e Jôquim tamém havera de ir p'a me dar companha e ê semp'e 'tava lá mái advertido.

Feira das Velharias de Portimão
Nã há nada c'm' um belo toque de corneta p'a chamar a freguesia...

A C'mad'e C'stóida, p'ro jêto, disse logo que sim, qu' aquilo é moça que nã dêxa passar nada, mái atão e o marafado do compad'e Jôquim qu' imbirrô que nã queria ir?!... E, em ele d'zendo que não, é munto má de se l'e dar fêto voltar com a dele atrás. Aquilo é bicho que nã dá orelha, 'tejam certos...

Ora ê cá já tinha dado a intender à minha Maria que ia, tamém nã quis dar o dito p'ro nã dito dôs ó três dias despôs qu' o incontrí ali nos cantêros dele. O homem tinha p'ali uma quadra ó duas de batatas-doces, inda nã as tinha arrencado e 'tava, naquele dia, a acêfar a rama. O qu' é que se esperava... antrí logo com ele:

- Compadre, atão elas 'tavam com sede, calhô bem aquela aguinha que chové antes d' ontem...

- Lá 'tá vomecêa semp'e com as suas parvoêras... Se nã nas arrenquí mái cedo, foi que nã ... Ó cuda qu' ê cá nã tenho mái nada que fazer?...

- Dêxe lá... Assim, vêem mái aguadinhas, têem menes açucre, nã fazem mal a quem tenha os diabetes...

Feira das Velharias de Portimão
Agora, já pôco se vê o gado com campas destas...

É que, nã sê se mecêas sabem, mái s' uma pessoa dêxa as batatas-doces na terra até despôs de chover, aquilo ficam deslavadas que nã têm gosto nenhum. E foi o qu' ele fez...

- Mái dêxa-se isso da mão. O qu' ê cá l'e queria falar era ôtra coisa. A minha Maria des que mecêa nã quer ir com a gente a Vila Nova à Fêra das Velharias...

- Pôs nã vô... Aquilo tem alguma coisa que ver?!... Uma ocasião, inda fui a uma que faziam aqui im Monchique, aquilo ajuntavam-se p' ali três gatos pingados com mêa-dúiza de coisas velhas sem virtude nenhuma...

- Isso foi aqui, logo no prencipo... Agora 'tá tudo mái desinvolvido. Des qu' im Vila Nova ajunta-se p'a lá um poder de famila a vender qu' é uma coisa temente...

- Calhando sã mái a vender do qu' a comprar...

- Isso é o que mecêa cuda. Prècure ô sê Zé Manel qu' ele já há-de ter ido lá e sabe-l'e d'zer bem c'm' é que é... A mim, d'zeram-me qu' a comprar, atão, aquilo é uma chusma de famila que parêce um inxame d' abelhas.

Feira das Velharias de Portimão
Nôtros tempos, p'a nã se cortar os dedos com a fôce, tinha que se pôr estes canudos nos dedos da mão...

- Há-de ser, há-de... Olhe, atão, o melhor é mecêa nã ir p'ra lá. Já viu que, com essa idade que já tem, inda algum s' ingana, cuda que se trata d' alguma peça antiga e quere-o comprar?...

- Olhe lá, compad'e Jôquim, dêxe-se de alarvidades e pense más é im ir com a gente. Nã dê essa pàxão à Comadre...

E fui andando até ô monte. Nunca pensí foi que o homem f'casse a ramoer naquilo, mudasse de idéa e fosse p'ra casa já resolvido a ir tamém com a gente. Mái foi o que se deu.

De manêras que, nesse tal D'mingo, logo bem cedinho - des qu' aquilo abria logo às sês da manhã... - lá abalamos todos quatro carregados com aquelas òcharias todas - tudo tranquitanas que já nã serviam p'ra nada, 'tá bom de ver - e pusemos-se lá no mêo dos ôtros a ver c'm' é aquilo corria.

Vinha um, punha-se a olhar, précurava (à minha Maria, 'tá bom de ver, qu' ela é que era a negocianta...):

Feira das Velharias de Portimão
Ferramentas antigas nã faltavam...

- Q'onto é que vale esta bomba?

Era a bomba duma pedalêra que me rôbaram há uma data d' anos.

- Olhe, p'ra si, vá lá um ero e mêo... Más isso é material do bom. Vale bem uns três eros à vontade...

- É munto caro!... Vá lá cinquenta cênt'mos e já é munto...

- Cinquenta cênt'mos?!... Cinquenta cênt'mos nã é nada, criatura!.. Vá lá p'r um ero... Mái nã conte nada a ninguém!...

Da quem nada, vem uma, joga-se a uma mala de mão qu' a minha Maria tinha comprado no Chinês e já 'tava a largar as pegas. Aquilo tinha-l'e custado tuta e mêa, mái tinha p' ali uns desenhos e umas letras béque-me duma marca estrangêra qu' ê cá nã sê o nome - mái as m'lheres sabem isso tudo...

Feira das Velharias de Portimão
Désna de relójos de parede até às máquimas de costura, tudo lá par'ceu...

- Sã três eros, minha senhora. Más olhe qu' isso vale munto mái do drobo... Nã vê os fechos? 'Tã um coisinho ferrugentos mái foncionam todos do melhor. Querendo, pode-os alimpar com um coisinho de vinagre qu' eles ficam a luzir c'm' nôvos.

A ôtra apresentô dôs eros, a minha inda se 'tava a fazer esquerda, dí-l'e logo um toque entes qu' a freguesa s' arrependesse. É qu' ê cá já 'tava a ver era qu' a gente nã dava arrenjado d'nhêro p'a pagar os bilhetes da carrêra... P'a já nã falar do aluguel do lugar que foram mái quatro eros e mêo p' à Cam'bra de Vila Nova...

De manêras que, a coisa, no que respêta ô d'nhêrinho, foi fraca. Mái, q'onto ô resto, corré tudo bem. Vi p'r lá um amigo ó ôtro cá da Serra e aprevêtí p'a tirar mêa-dúiza de retratos que mecêas, querendem, podem ver s' acalcarem aqui na Galeria da Feira das Velharias de Portimão.

E passem todos munto bem.

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