Ele há coisas qu', ô longe, nã dã bem ares àquilo que são...
Ele ali na Fóia, no vertente voltad' ô norte, em chovendo qualquer coisinha, forma-se umas quedas d' água que sã um incanto. Até um dia destes, inda só me tinha assomado às mái fraquinhas, qu' a mái bonita nã sabia bem adonde ela f'cava.
Mái, no prencíp'o desta semana, uns amigos bons que usam a 'par'cer aqui p'r o blog do parente e se pélam p'r a nossa Serra, desafiaram-me a ir devassar a mái bonita de todas - a do Barbelote - qu' eles sabiam muntíss'mo de bem qu' ê cá inda nunca lá tinha posto os pés.
Ora c'm' é qu' ê havera de lá ter ido se só há bem pôco tempo é que fazeram p'ra lá uma carr'lêra e ela bem impinada?!... Saber adonde é o Barbelote qualquer um sabe... Agora adonde a água que vai no barranco pula lá p'ra baxo, era bem má de dar com aquilo entes d' haver caminho que prestasse.
Pôs, bem posso agradecer - e munto l' agradêço - a estes amigos de me terem levado lá. Aquilo, este enverno, nã chové assim coisa de maior, mái méme assim, com quái água nenhuma, dá gosto uma pessoa olhar p'ra lá.
E, atão, qu' a Câm'bra pôs logo lá ô fim da carr'lêra uma gradessíss'ma pedra, destas cá das nossas de granito, toda munto lisinha qu' aquilo há-de-l'es ter custado os olhos da cara, a fazer de banco p' à gente s' assantar inq'onto se olha e se tira retratos.
A idéa até que foi boa, nã se pode d'zer que não foi, mái atã aquilo tã lisinho lá nuns córgos daqueles, béque-me quái que acho fino de más. É qu' ê cá nã 'tô ac'st'mado a pôr os quartos im riba duma coisa assim...
Gosto mái de m' assantar num balôiso mái grossêro p'a nã descorregar no assento. E, d'zer a verdade, tamém achava, béque-me, mái bonito se fosse uma pedra assim qualquer c'm' aquelas adonde a água pula p'ra baxo...
A queda d' água do Barbelote, méme com quái água nenhuma, nã dêxa de ser bonita, nã senhora...
Mái tamém l'es digo uma coisa. Quem qu'ser ver aquilo bem visto tem qu' ir lá méme ô pé. Que, se f'car ali assantado na pedra, aquilo parêce-l'e uma coisa com pôca emportâinça e passa adiante. Nã 'tô a qu'rer d'zer que nã seja bonito na méma, mái astrevam-se a ir lá méme adonde ela cai que logo veêm...
Olhem, ê cá nã me dí contido e abalí p'r aquela chapada abaxo. Inda p'ra más, nã sabia p'r donde havera de passar que melhor fosse, im vez d' ir de través, abalo prêabaxo à rôpa toda qu' era p'ra, e depôs, assubir ô córgo acima. Mái, qual o quem?!...
Q'ondo dô p'r mim, aquilo era impinado até mái não e tudo chêo de cascalho arrabolado que nã se via o chão. D' ora inq'onto, um rabôlo assim mái valente, que, s' ele m' arrabolasse p'r cimba, descadraçava-me todo... E voltar p'a trás, nem pensar, que nã dava...
Olhava p' ôs lados, nem tampôco tinha adonde me sigurar, que q'ondo hôve os fôg's aquilo ardé tudo. Ch'mado p'r os ôtr's nã dava, qu' a urrada qu' a água fazia nã dêxava a gente s' ôvir. Vejo o caso mal parado, dig' p'ra mim:
- Mái atão, o qu' é qu' ê faço, mê Dés?!... Senhora dos Aflitos me valha!...
E vê-me logo uma coisa à idéa. Qu' isto nã há nada c'm' à gente fazer as coisas ô consoante do que se precisa. Q'ondo 'tamos imp'çados, pede-se a quem nos à'x'lê. Pensí:
- Olha, dêxa-te ir p'ra baxo, toma conta com a mànicazinha dos retratos nã vá ela p' aí f'car fêta im fanicos - e custô-te um belo d'nhêrinho - vai-te sigurando nas canoiras p' a nã arrabolares, e, em chigandes ô barranco, logo t' amanhas duma manêra ó d' ôtra... E assim fiz.
Méme nã os vendo nem dando ôvido nada p'r mode o barulho da água a correr, nã pensem que nã tinha no sentido a barrigada de rir qu' os amigos que lá 'tavam com-migo haveram de ter panhado de me ver nuns traquetes daqueles. Aquilo foi mái que certo qu' eles até esfregavam a barriga com tanta carcachada que deram às tenças cá do Parente...
Eles des que não, más ê cá é que nã vô nessa que bem nos conhêço. Ora, os dôs ali munto bem afincados no chanito d'rêto a marcar os bate-cus tôd's qu' ê dava e nã se desmanchavam a rir... Olhem qu' até d' àrrôjo fui... Nã foi más, ia arrompendo os fundilhos das calças!... Ehq!... Ê, no lugar deles, tamém me dava festa...
P'a chigar lá ô pé é que nã é qualquer um que s' astreve. Olhe qu' ê vi-me bem empeçado...
Mái vá lá qu' aquilo, à rés do barranco, nã tinha dúv'da. Munta rabaça, munta ervaria, uma manchinha de balsas p'a cravarem uns bicos numa pessoa, mái, inda assim, dava-se passado mái ó menes. O mato maior ardé todo nos fôg's e béque-me inda nã teve tempo de desenvolver ôtra vez.
De manêras que, lá fui assubindo, parte das vezes, mái a engram'nhar qu' a andar, sigurando as mãs no que podia, até que panhí uma v'redazalha, nã sê se fêta p'r um ó dôs qu' ali t'vessem passado entes de mim, ó p'r escalavardo ó zôrra qu' inda p'r 'lí andem a governar a vida.
Nesse mimento, oiço uma fala:
- Atã, parente, isso 'teve p' aí ruim, hen?!... Vi jêt's de vomecêa nã se dar posto aqui...
Era um deles que, mái fino do qu' ê cá, tinha vindo p'r cimba, assim de través, tornejando p'r essa dita v'reda, e já ali 'tava quái ô pé da água, todo limpêro, sem trabalho quái denhum e sem precisão d' arrojar as nalgas p'r o chão c'm' se dé com-migo.
Já nã falando das picadas de balsa qu' ê panhí na lombêra e a mot'ficação de decer e assubir p'r aqueles charavascos sem saber no qu' é qu' aquilo ia dar...
- Eh, pôs atão ê nã repàirí nessa v'reda, meti-me foi p'r a barrêra abaxo e, q'ondo dí p'r mim, p' à frente é qu' é caminho que p'a trás mija a burra!...
- Pôs, ê bem o vi ali um coisinho empeçado com uma balsa a l'e sigurar aí na manga da blusa e vomecêa já assim béque-me inzainado com ela...
E voltô-se assim p' ô lado c'm' quem faz uma risadinha de gozo e nã quer qu' o ôtro veja.
- Qual o quem?!... Um homem nunca s' empacha!... Se quer que l'e diga, nem tampôco sintí nada...
Qu' isto, uma pessoa, nã se pode dar parte de fraco. Senã nunca mái se calam com aquilo e ficam a fazer pôrra dum homem o resto do tempo.
Vista d' ô perto, tem logo ôtra áira. Até o arco-da-velha se via...
Más olhe que valé bem a pena, méme indo p'r o caminho mái ruim. Em passando ali p'r baxo daquele alv'redo todo que 'tá lá méme já quái drento d' água - nã olhí bem, mái, s' inganado nã 'tô, eram saìcêros e amiêros - aquilo parêce logo ôtra coisa.
Com pôca água que levava - o que faria se t'vesse chovido p' aí uma gotinha dela na semana entes... - era duma pessoa f'car insampada a olhar p' àquilo. Até o arco-da-velha se via. E a fresquidão q' um f'lano sintia, escorrendo im suôr c'm' ê cá ia do puxo que tinha fêto até lá...
Em tendo ocasião, tenho que convindar a minha Maria p'a ir lá com-migo qu' ê sê qu' ela tamém gosta de ver coisas destas.
Nã sê é s' ela tará foiteza, p'a nã d'zer pernas, p'a chigar lá ô pé. P'ra baxo, inq'onto há carr'lêra, nã me dá muntos cudados. Agora na volta p'ra cimba, com aquelas ladêras todas, íngres qu' é uma coisa temente, nã sê lá munto bem s' ela s' aguentará.
E mecêas, se pensarem em ir lá alguma ocasião, vão, más o melhor é levarem uma buchazinha p'a c'merem entes de voltarem p'a trás, qu' é p'a terem força p' assubir a ladêra.
Vã com tempo e nã se desqueçam de nã estragar nada do qu' incontrarem, tratem bem as arvezinhas e tudo o más que lá haja, nã joguem prequêras p' ô chão - sacos plástico, papés, garrafas, copos e bodegas dessas - e aprecêem aquilo c'm' deve de ser que 'tá lá uma coisa bonita ô bem fêto.
E, querendem, na méma viaja vã tamém ô Chilrão, ô Penedo do Buraco e ô Barranco dos Pisõs qu' aquilo tamém tem que ver.
Nã sará uma coisa tã vistosa c'm' no Barbelote, qu' os penedros donde a água pula nã sã assim tã altos, mái coisas daquelas sã sempre bonitas. Más a más, que sã cá na nossa serra e quem é qu' há-de gostar mái da noiva senã o noivo...
Pôs atão, aqui l'es dêxo tamém uns retratinhos dessas bandas e, querendem ver mái uns q'ontos, acalquem aqui nesta ligação que vã parar a um sito adonde 'tá uma bela pagela deles.
No Penedo do Buraco e no Barranco dos Pisõs tamém há coisas bonitas p'a se ver...
E, pensando bem, nã há nada c'm' vomecêas irem, um dia, a um lado e dôtra vez logo vã ô ôtro. Qu' aquilo inda tem de se dar umas belas voltas. E, atão, o melhor é irem com mái tempo, devassarem tudo munto bem devassadinho e nã andarem lá com grande mort'ficação p'a despacharem entes qu' anoitêça. E quem tenha bichos p'a tratar, inda munto menes...
E, já agora, inda l'es digo más. Calcem umas botinhas daquelas mái grossêras e uma farpela que nã faça munto mal ela s' arrasgar, qu' assim, semp'e se safam do qu' ê cá ia ôvindo, ô chigar a casa.
Ora a minha Maria já lá 'tava toda desastinada, sem saber de mim a tarde intêra. P'a d'zer a verdade, despôs do passêo, inda fui molhar a goéla com quem foi com-migo - nã precisa de s' alomear os nomes... - e palear um pôcachinho.
Mal ê dí r'môr, apresenta-se logo à porta d' antrada com cara de pôcos amigos - p'a melhor d'zer, os olhos dela até esfaìscavam... - punhana!, nem tive tempo d' abrir a boca, ôvi logo daquelas qu' os cãs nã gostam... E bem de rijo...
- Mái atão, que pôca vergonha é esta?!... Desparceste de casa inda mal tinhas c'mido, nã d'zeste nada a ninguém e, agora, inda parêces num estado desses?!...
Ela panhô logo qu' ê vinha um coisinho alegre e, tã penas me mirô do canto de cima ô canto de baxo, dé logo p'r o lindo trabalho qu' as balsas me tinha fêto à fatiota. É qu' as marafadas arrepelaram-me bem munto a camisola. Pensando bem, nã havera de ter levado aquela rôpa, qu' ela, méme nã sendo a do D'mingo, é uma qu' ê uso a levar à Vila q'ondo quero ir um coisinho mái bem apresentado.
- Vejam bem c'm' este homem chega a casa!... Mái atã, caíste p' aí p'a drento dalgum balsedo?... Nã m' admirava nada, no estado em que tu vens...
- Ó m'lher, isto fui ê cá que m' ajuntí com uns amigos e, assim sem más esta nem más aquela, foi-se ver uma coisa que tu inda nã conheces. E nã penses lá qu' ê 'tô escarado, que nã 'tô...
E, sem l'e dar tempo a pegar na conversa, disse-l'e, logo, de chofre:
- Olha, Maria, até pensí, toda a tarde, qu' aquilo é um bom sito p'a te levar lá um dia destes... Que tu és uma pessoa que gosta de ver coisas bonitas e tenho a firme certeza qu' haveras de gostar de lá ir...
Aqui, desarmí-a logo. Assim fez um entervalo e abaxô o tom de voz... Mái semp'e ramocô:
- Atã e nã podias ter dado uma vaiazinho entes d' abalar? Ó atão, voltares um coisinho mái cedo?...
- Nã vês, Maria, isto q'ondo se 'tá com ôt'a famila, nã se pode fazer tudo à nossa manêra. Tem lá p' aí pacência que já sabes qu' ê nã sô homem p'a fazer parvoêras... Atã, e já trataste dos bichos? Se nã trataste, ê vô fazer isso de boa mente, e, nesse mê tempo, tu vás acabando o dec'merzinho...
- A estas horas é qu' inda ia tratar dos animazes... Já eles c'meram tudo e, se nã fosse de nôte, 'tavam a pedir más... Ó tu pensas qu' ê passí o tempo de mãs a abanar?!...
- Lá nisso, dô-te o valor todo. M'lher de g'verno c'm' tu há pôco p'r 'í...
E lá me safí desta... Mái fiquem sabendo que, um destes dias, nã demorando munto, sô homem p' à levar lá ô Barbelote. Ah isso sou...
E passem tôd's munto bem, até qualquer dia.
Ai que belo passeio parente! Aqui há coisa de uns 12 anos também o fiz. Já o tenho querido repetir, aquele caminho é que me deixou sem vontade... mas um dia destes tenho que lá ir outra vez tirar mais umas fotografias e ver aquilo melhor.
ResponderEliminarÓ compadre, com muita pena minha não consigo avistar cascata nenhuma.
ResponderEliminarDeve haver aí qualquer enramolho porque vejo as outras fotografias e não vejo essas.
Eu volto. Não as quero perder.
Um abraço.
Já as vi. Já estou mais consolado.
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