Uma saúde à Fêra dos Inchidos cá de Monchique, que nã há ôtra c'mo esta!...
Já tenho ôvisto pr' aí d'zer que na fêra dos inchidos é os dias que vem mái famila cá à Vila im tôd' ô ano. Pôs se nã é, nã s' hã-de inganar p'r munto. Mái, p'a d'zer a verdade, ê cá tamém cudo que é e era quái capaz de 'postar, que, calhando, nã perdia.
Im chigando aí umas certas horas, aquilo é um correpio de carruaja e de famila qu' uma pessoa, béque-me, até se sinte assim p' ô inzamboado. Tem ocasiõs qu' um homem, p'a passar p' ô lado de lá, ó tem munta conta ó, atão, afitura-se a vir algum desingalgado e l'e dar um incontrão qu' o dêxe p' aí todo derrengado.
Mái, c'm' à gente já sabe disso, qu' ele já há catorze anos qu' eles cá veêm nestes dias, é d' adregue haver qu'im s' astreva a passar sim pr'mêro aparar e olhar munto bem se vem alguma coisa dum lado ó dôtro. E vá lá que nã dí p'r se dar nenhum caso ruim nestes dôs dias.
Pôs, mês belos amigos, isto é que foi andar no coçáiro. Só quim nã quis é que nã enché o papinho... Olhem, bons dec'meres, munta famila, cantorio qu' aquilo era tocar modas as tardes entêras, uns solvinhos d' ora inq'onto, o qu' é que qualquer um havera d' enxigir más?...
'Tá bem qu' ê cá agora, inda hoje, nã dô intendido munto bem a minha Maria, qu' em me qu'rendo d'zer seja lá o que ser, farta-se d' arrulhar e ê nã na percebo nada. Despôs, arrulho ê cá e é ela que 'tá semp'e a prècurar:
- O quem?... O quem?... Ó homem, fala de rijo que nã te oiço...
- Ó m'lher, mái atã, daquem nada, dô cabo das goélas com arrulhar...
- Nã me t'vesses levado lá p' à fêra dos inchidos... Com o ôrío qu' eles faziam lá com aqueles alt'-falantes, béque-me nunca mái f'quí a ôvir nada de jêto...
Surdos já a gente, mái, é certo e sabido, qu' inda se f'cô piores...
- Ai, agora, ê cá é que tenho as culpas... Mái inq'onto aquilo durô e 'tavas lá espècada a ôvir o Zé Cid, nã deste p'r barulho nenhum. Ó pensas qu' ê nã te 'tava a ver lá ô canto do palco, méme ali p'r baxo daqueles grandes caxotõs d' adonde saía a mús'ca, que toda t' abanavas ô consoate da moda qu' ele cantava...
- Atã, 'tavas lá na barreca do homem da aguardente a emborcar neles e inda tinhas tempo p'a me ver?... Já 'tavas más era a ver a más...
- Olha, nã digas agora que não, qu' ê cá bem te vi, sa senhora...
E é verdade, nã 'tô certo se foi daquele banzé se do qu' é que foi, tanto ê cá c'mo ela, béque-me se 'tá a ôvir um coisinho menes. Mái isto pode ser méme do tempo. Ó da idade... ó coisa assim. Vomecêas tamém l'es par'cé aquilo, barulho a más?... Ó acharam que nã teve dúv'da?
Já falí nisso ô mê compad'e Jôquim do Barranco, mái ele, p'r o jêto, inda é mái surdo do qu' ê cá e, atão, des que nã notô assim grande coisa. Mái nisso, ele nã é munto de fiar que, logo no sáb'do, panhô uma pelhega que nã havera d' ôvir era coisíssema nenhuma... E, d'mingo, foi só l'e b'ber mái um ó dôs porretes, inda tinha a vasilha quente, assim f'cô no mémo.
Mólhes, morcelas, chôriças e morcelas de farinha. Melhor nã há. Só s' igual...
Que nã foi só ele. Hôve p'r 'í munto quem t'vesse fêto figuras par'cidas ó piores... Se dar tempo p'ra isso, ê já l'es conto a parte qu' o v'zinho Manel Mansinho fez, qu', aquilo, a minha Maria nem qu'ria crer no que via.
Mái voltando méme à fêra, teve graça qu' ê cá e quem ia com-migo - a minha Maria e os nossos compadres do Barranco - entrô-se p'r aquela porta cá do lado da Vila, 'tavam logo p'a lá umas a cantar e a tocar com uns foles daqueles qu' é de ligar à elecsidade, f'cô logo tudo ali imbasbacado um belo pôco.
Qu' ê nã aprecêo assim munto aquela aparelhaja toda... Gosto mái daqueles harmóinos d' ôtr's tempos ó méme até uma concertina daquelas bem pequenalhas de duas escalas. Foi uma coisa que m' ac'st'mí désna de moç'-pequeno e estes foles m'dernos nã gosto tanto, o qu' é que mecêas querem...
De manêras que, 'tavam elas munto entretidas ôvindo o cantorio da moça, dí logo um sinalinho ô c'pad' Jôquim, fazemos-se assim desapercebidos e fomos-se arradando p' à banda de trás, c'm' quem nã quer a coisa, a ver s' elas f'cavam ali mái um pôcachinho p' à gente ir lá tratar da nossa vida. Más a c'madre C'stóida, que 'tá semp' com a pulga na orelha, salta logo com a gente:
- Ó Jôquim, mái atão adonde é que vocêas já vã com essa pressa toda?!... 'Perem lá aí qu' a gente vai tamém. É só más esta...
- Atã, venham... Quem é qu' as 'tá pr'ivindo?...
- E se querem vir, nã demorem... Qu' ê cá já nã aguento tamanh' ô barulho e tamém tenho as goélas tã secas que parêcem corcha. Até arranham, punhana!...
Ramordí ê cá p' a defender o mê compad'e Jôquim qu' é um amigo dos bons. E vá de dar voltas ô miolo a ver c'm' é a gente, agora, se via livres delas p'a se bober uma rodadinha ó duas à nossa vontade.
Qual o quem, assim vieram logo p' ô pé da gente que nã despegavam de manêra nenhuma...
Diz logo a minha Maria, qu' é mái g'losa p'r coisas doces qu' um texugo p'r mel:
- Vamos lá aqui ôs bolos. Ai que lindos fritos, aqueles... E bolos de tacho... Olha, b'scoitos, tamém...
- E aquelas f'lhóses... Cada uma é quái do tamanho duma capacha... Ai, que 'tã méme a ch'mar p'r a gente...
Nã faltava nada naquela fêra dos inchidos. 'Tava lá tudo, pronto...
- Se t'vessem aí um calcesinho dela p'a desembaçar, inda vá lá... Nã é verdade, compd' Refóias?... Agora c'mer aquilo im seco... um home até se pode ingasgar...
- Tal e qual, c'pad'. E com a secura qu' ê cá tenho... infrascava logo.
E volto-me p'a elas:
- Mái, atã, vocêas vieram aqui p'a c'mer bolos ó p'a comprar chôriças e morcelas?!...
- Ó homem, ist' é uma fêra de tudo... Todas as coisas que se faz cá im Monchique eles apresentam aqui. Nã vês? Verga, cadêras de tisoira e coisas de madêra, bolos, pão e as morcelas e mólhes e essa coisa toda...
E p' às dar arrencado dali?... Foi uns trabalhos, home...
Tamém, q'ondo se chigamos lá p' ô lado do madronhito, foi um regalo...
- Amigo Zé, ponha lá aí uma copadinha p'a mim, ôtra p' ô mê compad' Jôquim... fazendo favor.
- Isto aqui é só provas, de manêras que, só há mosquitos, ti Refóias...
- Nã me diga... Atã e um homem nã s' hab'lita a ingolir o copo e tudo?...
- Ó ti Refóias, se vê qu' isso se pode dar, resolve-se já o caso. Ê vô b'scar ali uma tamicinha e ata-se o copinho aí no pé, já uma homem, s' o ingolir, pux' ô otra vez p'ra fora...
E o mê compadre:
- Esses cudados ê nã tenho. O que me faz espéce é qu' uma coisalha tã pequena mal me dá p'a molhar a boca que nem ôs gragomilos há-de chigar... Olhe ponha más é logo dôs p'ra cada um...
Na barreca do madronho nã faltava freguesia...
- Eh, c'pad' Jôquim, nã faça coisas dessas qu' iss' é uma vergonha!... Quem ver uma acção dessas inda chama esgalfetados à gente... Tenha p' aí manêras, cachamorra...
- Dêxe-os da mão... S' eles t'vessem incalmados c'm' ê cá, com o sol que panhí p'ro caminho, logo viam...
- Atã beba lá esse qu' o homem já despejô, que manda-se logo vir ôtros a seguir. Mái, dôs ô méme tempo, nã senhora. E dêxe-se 'tar caladinho qu' é p'ra elas nã darem p'r nada, senã inda é pior p' à gente.
Qu' as m'lheres, nesse entrementes, já tinham passado p' à frente e 'tavam d' olho nos bolos de torresmos, folares, batatas-doces assadas e isso tudo que p' ali 'tava.
E foi a nossa sorte. Dá-me até quái vergonha de d'zer, más olhem que baldeamos logo ali uns belos mosquitinhos. Qu' ê nã nos contí, mái sinti ela me chigar logo aqui à cabeça. Ná é que f'casse escarado, mái que dé um r'morzinho, deu. E nenhum ingoliu o copo qu' a gente sigurava-l'e bem assim p'r baxo no pèzinho...
Mái, tã penas elas sintiram a nossa falta, foi logo um castigo. Vá de ch'marem p'r a gente im q'onta força tinham e lá t'vemos qu' abalar. Tamém, só assim é que se foi lá p' ô canto dos inchidos. Se nã fosse isso, 'tá-me cá a par'cer que nã se tinha chigado àquela ponta. E, d'zer a verdade, pôco precisão ê tinha disso. O comprar lá o qu' era preciso 'tava a carrégo delas...
Que lá nisso, a minha Maria carrega até mái não. Ele é tudo o qu' ela veja, 'tá logo a mandar pesar. Nessa altura, já levava uns três sacos d' alsas chêazinhos que nã cabia lá nem mái um cabelo. E inda l' e faltava as morcelas de farinha, uns m'lhinhos aferventados e béque-me tinha tenção de levar tamém dôs ó três folares duns que lá 'tavam méme sem ovo.
Ah... água-mel, isso, comprô logo uns dôs frascos. E inda 'tava jogada a um tamém de pólen - ê béque-me tenho ôvisto ch'mar tarro àquilo... - p' ô levar tamém, mái a m'lherzinha dé-l'e um coisinho a provar, desatô a fazer miécos, cuspinhô, des qu' era munto infastiadiço, já nã quis.
A seguir, damos com as zêtonas - umas britadas ôtras d'água, mái nã repáirí bem s' eram curtiladas ó entêras - tarmôç's e fêjã' calote. Vá mái uma teca...
Estes dôs varás de chôriças tinham uma bela carga...
- Ó Maria, mái atã compras a fêra toda à famila?... Nã vês que, parte dessas coisas, fazem-te é mal?... Tens a atenção alta, o co'strol tamém bem ôviste o qu' a senhora dôtora disse, tens que ter munta conta...
- Eh'q, em 'tando pior, faç'-'e uns chàzinhos daqueles qu' ê cá sê, ponho-me logo melhorzinha...
- Algum dia, inda te dás mal... Ê cá tamém gosto de bober um chàzinho uma vez p'r ôtra, nã digo que nã gosto, mái 'tar cá muntas mèzinhas p'a isto e p' àquilo, béque-me nã me dá munto jêto. É melhor ir logo ô senhor dôtor, qu' ele, agora, já há reméd'os p'ra tudo...
- Pôs ê cá dô-me munto bem com as minhas mèzinhas. E méme que tenha qu' ir ô dôtor, os mês chás ninguém m' os tira...
Aquilo, lá p' drento, no d'mingo, 'tava tudo chêo, méme com tempo de chuva...
E, com esta conversa, ela lá mandô imbrulhar o que munto bem intendeu, qu' ê, atão, nã me meto nada nisso... E se me qu'sesse meter, havera de me servir de munto... Qu' isto, m'lheres... já se sabe c'm' é que é...
Aí, tive qu' alancar com os sacos quái tôd's e lá se foi correndo o resto. C'm' já l'e doíam as pernas de 'tar d' em pé, andô, andô, lá lombrigô um lugarinho numa mesa p'a elas as duas e toca d' a gente ir p' a lá.
Ê e o mê compad' Jôquim nã se tinha lugar, tã penas se c'mé' uma bucha - uns coisinhos de presunto do nosso com panito do bom e uma cervejalha cada um - dêxamos-as ali e foi-se dar mái uma voltinha e falar ôs amigos.
E assim se passô o resto da tarde, ora paleando com os amigos que p'r lá parceram, ora baldeando uns mosquitinhos, ora fazendo as duas coisas ô méme tempo.
'Tá bom de ver que, inda bem não, 'tava a nôte à porta e já se tinha as orelhas bem quentinhas... Pior o mê compadre do qu' ê cá, qu' ele é mái graganêro... Mái nã falta ô respêto a ninguém, isso que se diga. Fica só assim um coisinho más alegre do qu' é c'stume...
E sabem o qu' é que dé na cabeça à gente?... Ir-se ali p' ô pé da porta da saída panhar uma aràjazinha na fronha. E foi-se. Ora, foi méme à medida. 'Tava lá uma rifa dum bacorinho qu' era p'a ajudar os mecinhos da escola a irem dar um passêo nã sê bem p' àdonde, mái béque-me é assim p' a um sito que 'tá p' ali p'a Espanha, qu' é numa ilha mágica.
O pobrezinho do bicho, com o cagaçal da aparelhaja, até se escondia p'r trás da pia e béque-me pedia p'a abaxarem aquilo...
S' eles vã de barco ó s' é d' avião, isso é que nã sê, mái, seja lá c'm' ser, hã-de ter qu' arrenjar munto d'nhêro. Digo p' ô c'pad' Jôquim:
- O melhor qu' a gente fazia, era comprar uma rifazinha cada um... E quem sabe lá s' isto nã sará uma hora boa e mecêa usa a tem mái sorte qu' um cã de caça, até l'e podia sair o bacoralho...
- Ê cá nã gasto d'nhêro im rifas!... Inda se fosse alguma coisa p' ac'mer e bober...
O homem nã tinha intendido bem p'ra que era aquilo, senã nã me respondia daquela manêra, tenho a firme certeza. Pertí com ele, ôtra vez:
- Ó mê belo amigo, atã nã vê qu' isto é p'a ajudar os mecinhos da escola a irem fazer uma viaja p'a aprenderem mái coisas?!... Temos que ser uns p'r os ôtr's...
- Ah, é p'ra isso?... O caso assim já ôtro jêto...
- Olhe, inda l'e digo más. Faz-se já aqui uma sociedade. Cada qual dá um ero, compra-se dôs b'lhetes e, s' o pórco sair à gente, é de mêas, trata-se dele uns tempos e, despôs, faz-se uma pangalhada p' à gente e p' ôs amigos que se quêra convindar... Que tal acha?...
- E mecêa tem lá curral p' ô pôr? Olhe qu' os mês p'cilgos 'tá tudo chêo, que nã basta os mês porc's senã qu' a minha C'stóida apr'vêtô um qu' ê tinha de vago e pôs p'a lá uma rabanhada de pintos qu' uma galinha-da-índia dela, tirô...
- Nã seja essa a falta, que lugar tenho ê lá com fartura... Vá puxe lá da cartêra.
- Ó menino, atã que idade tem o b'chinho?... Lá bonito é ele. Nã vê, de cabelo preto, todo luzidio, méme c'm' ê cá gosto deles.
- Nã sê, ti Jôquim. Mái, 'pere aí qu' ê vô ali prècurar.
- Mái atã, o qu' é que l' ent'ressa q'ontos meses é qu' o bicho tem ó nã tem?... E tamém, olhando p'ra ele nã se vê logo qu' isto é animal p'a ter os sês... quatro p'a cinco meses?...
- O qu' é que vomecêa diz?!... Ele nã tem mái de três, q'onto más cinco...
Nisto, vem o mecinho, todo contente:
- Olhe, ninguém sabe bem, mái des qu' ele há-de ter 'í p' ô lado dos cinco meses.
- Ê nã l'e disse...
- Ai cinco meses... Ponha-l'e lá três e... e... e...
Bom, a idade do pórco dé p'a levar ali a rançar, um que toma e ôtro que dêxa, uma preçanada de tempo. Até o meçalho já 'tava infastiado com a conversa...
- Olhe lá, am'guinho, arrasgue lá aí os dôs b'lhetes, qu' ê pago um e o mê compadre paga ôtro. E dêxe-o falar...
No fim de contas, inda nã ôvi d'zer a quem é qu' o pórco saíu, mái à gente nã foi. O meçalho f'cô lá o numbre do telefone e des que telefonava logo s' ele saísse à gente e nã telefonô...
E, passado um pôco, já se 'tava a caminho de casa, tôd's quatro carregados de sacos de plástico que nem que t'vesse ido às compras ô Continente a Vila Nova.
O marafado do Bác'ro até se punha a jêto p' à gente l'e passar a mã p'lo pelo...
Mái a festa nã acabô aqui, nã cudem... Ô entrar im casa, nã sê c'm' é que se fez aquilo, dêxô-se a porta da rua incostada e tanto ê c'm' à minha Maria nã se repáirô. 'Tava-se munto bem a palear os dôs na casa de jantar, inda bem não, vê-se uma sombra ô corredor adiante...
Nisto, sem más esta nem más aquela, o v'zinho Manel Mansinho p'r a casa adentro, munto insarampantado, com a cara mái incarnada qu' um p'mento, que mal se sustinha im pé, nem 'tejam com Dés nem coisa nenhuma...
- Ó v'zinhos, ê nã tinha precisão de d'zer isto, mái atã a minha m'lher dêxô-me na rua...
Vi logo qu' ele vinha com uma cadela nos cascos que nã dava conta do recado, mái nã disse nada. A minha Maria é que prècurô logo:
- O qu' é que mecêa diz, v'zinho? A v'zinha Zabel foi à dos filhos e levô-l'e a chave, sem querer? E vomecêa, agora, nã dá antrado.
- Qual o quem!... Levô foi p'r qu'rer... Foi-a b'scar lá ô sito adonde ê a uso a pôr e levô-me-a. Já corri lá tudo e ela nã 'tá lá...
- Atã, isso, a m'lher há-de 'tar p' aí perto, calhando foi à fêra dos inchidos, e nã há-de demorar...
- Olá!... 'Tá longe e bem longe. P'r menes uns cinquenta ó sessenta quilómetros. E já abalô ontem. Aquilo, ela é munto rija. É malina até de más. Olhe que já nã é a pr'mêra vez que me faz uma parte destas...
- Atã e agora c'm' é que vomecêa se governa? Se nã dar antrado im casa, nã s' aborrêça que come aqui qualquer coisinha com a gente. Mái atã e a v'zinha Zabel Carrusca fazia uma coisa dessas?... Dêxá-lo na rua...
Aí, meti-me tamém na conversa:
- Ó v'zinho, veja lá isso bem, qu' a chave há-de 'tar p' ali im qualquer banda... Q'ondo é que mecêa a pôs lá?
- Pus hoje, perto do mê-dia.
- Hoje?!... Atã des qu' a v'zinha tinha abalado ontem. C'm' é qu' ela l'e tirô a chave dali, hoje?... Há aí qualquer coisa que nã bate certo...
- Mái que dia é hoje? Sará qu' ê já 'tô p'a qui a atribuir isto tudo?... Atã q'ondo é qu' ê abalí de casa?
E desata a d'zer coisas que nã batia nada certo. Foi q'ondo ê cá vi bem qu' o homem 'tava méme empeçado com a grandessíss'ma talega que tinha panhado.
- Olhe, v'zinho nã é qu' a su m'lher nã seja capaz p'a l'e fazer isso, que p'r o que mecêa me tem contado, já l'e fez ôtras piores, mái, s' ê fosse a si, ia ôtra vez à prègunta. Calhando, a chave 'tá no lugar e mecê é que nã vi' bem... E, despôs, se nã dar com ela, venha cá qu' a gente dá-l'e aqui poisada até a v'zinha vir.
Lá catarruô p' ali mái um pôcachinho até que pegô nele e abalô.
Só l'es sê d'zer é qu' ele nã voltô e, até agora, inda nã o vi. Prècurí esta manhã à v'zinha Zabel Carrusca por ele, mái ela nã adiantô nada, só disse, assim com uns modes munto de má cara:
- 'Tá p' ali p'a casa!...
Pobrezinho, há-de-se 'tar a curar da bob'dêra. Se nã ser más alguma coisa... que m'lher é ela p'a l'e ter dado algum camaço q'ondo o panhô naquele estado... Ê logo sê, qu' o desinfeliz dá-se bem com-migo e, em precisando, vem aqui clamar as desfortunas dele.
E pronto. Fica-se p'r 'qui. Despôs, logo me contam se gostaram das coisas que compraram cá na fêra. Os que vieram, 'tá bom de ver...
E Dés l'e pague a tôd's, que pr' ô ano há más...
Tenham munta saúde.
Boas, compadre!! Mas que belas fotografias dos produtos da feira! Infelizmente, no foi fim de semana de ida à Terra (agora só no finzinho do mês...) mas já deu para perceber que a festa foi rija! O que eu não dava por um pãozinho de torresmo ou um folarinho caseiro... Hummmm!! Para não falar no belíssimo aspecto das chouriças, morcelas, farinheiras, molhos... Mosquitinhos é que ainda não posso retomar para não deixar a minha moça pequena desnorteada!!
ResponderEliminarCumprimentos para a D. Maria, que fez muito bem em encher os sacos todos e mais alguns! Não se queixe! Afinal, quem é que se vai deliciar com aqueles pitéus, quem é?!
Beijinhos
Carla e Zabelinha
Quem enchia os sacos era eu se tivesse ido á feira é que já há 6 anos que lá não vou!
ResponderEliminarQuem enchia os sacos era eu se fosse á feira, é que já há 6 anos que lá não vou!
ResponderEliminarOlá amigo, algarvio!
ResponderEliminarUm post fantástico. Nunca é demais divulgar o que de bom se faz na nossa terra.
Beijinhos
Meu caro Parente
ResponderEliminarParabéns pela iniciativa. Partilho da ideia de "bom dia isabel". Não há nada melhor do que aquilo que é nosso.
Um abraço
Olá Parenti!
ResponderEliminar"Voltê faz tempe p´ra junte da nha gente. Aqui é quê me sinte bem".
Amigo o cheirinho do campo " apega-se" e reconhecemos logo o povo que lava no rio, como diz um parente de outra serra que eu, por aqui, encontrei. O Cusco. Podes ir ao blog dele através do meu. Continuo analfabeta nesta matéria mas , quanto ao teu blog, vejo-o em franco progresso. Gosto destas fotografias tiradas entre serrenhos. Gente do meu Algarve, que continuo a adorar.
"Olha vou-me andande, agorinha mesme, mas dêxe-te um bêje.
Voltarei para olhar os enchidos e "aguar".
Ai que saudades eu tinha, da tua bela casinha...
ResponderEliminarE mais um conto de encantar, comer e chorar por mais! Abç (fico banzada com tanto mundo!)
cada vez gosto mais do blogue parente da refoias. estou já ansioso do próximo tema, para me poder deliciar com as lindas fotografias.
ResponderEliminarAi parente! O qué daria agora por uma blinho de torrésmes e uma tjalinha de café!!!
ResponderEliminarSaudinha da boa Parente!
Béqueme quer parecer que aquele sujeito que está na barraca a brindar a gente com um cálice de medronho é mecêa. Será que estou emnganado?
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