As Tempras d' Agosto bateram certas, sem tirar nem pôr. O Barranco dos Pisõs 'tava nisto...
- Calem-se pr' aí com isso, nã digam mái parvoêras... Ê cá já 'tô más é farto de tanta alarvidade... Ora verem o tempo dum ano entêro p'r o mês d' Agosto... S' isso sésse assim, p'a qu' é que servia aquela famila que dá o tempo na tel'visão?!...
- Tu nã acraditas, mái toda a vida foi assim e os antigos d'ziam que batia semp'e certo...
Isto era uma quesilha qu' o Zé Manel 'tava a ter com a mãe - a minha c'mad' C'stóida - premode a gente - ê cá, o Compad'e Jôquim do Barranco, ela e a minha Maria - se 'tar p' ali a falocar do tempo.
É que, nôtres tempos, a famila levava estas coisas a pêto e, p'r o jêto, batia certo, c'm' disse a c'mad' C'stóida. E ela lá sabe bem disso, que, mémo hoje im dia, inda se rigula mái p'r as Tempras d' Agosto, e os Dobres, que mémo p'r o qu' eles dizem aí na tel'fonia.
E ê cá era p'a ter levado repáiro à Senhora das Candêas p'a ver que tempo é que dava daí im diante, mái desqueci-me, nã leví. Sim, que mecêas conhêcem aquele dito "Candêas a rir, enverna p'ra vir; Candêas a chorar, enverna a acabar", qu' é uma coisa que tamém bate semp'e certo...
A Queda d' Água do Barbelote apresentava-se assim...
De manêras que, fui p' ô mê compadre Jôquim e prècurí-l'e o qu' é que as Tempras d' Agosto davam p'a este mês, e s' os Dobres tamém davam o mémo. Isso, atão, é uma coisa qu' ê cá, tôdes anos, faço p'r levar repáiro, mái aquilo era bom era apontar num papel e ê cá nunca aponto... pronto. C'm' sô munto desquècediço, barre-se-me tudo. É que, nesta idade, um homem já nã se pode fiar na mimóira...
Nã sê s' os mês belos amigos conhêcem isso das Tempras e dos Dobres... Ora conhêcem... Isso é certo e sabido... E, calhando, melhor do qu' ê cá!... Mái, já agora, p'a algum moço novo que nã saiba e p'a ê, tamém, ter assunto p'a escrever aqui, semp'e l'es digo do qu' é que se trata.
As Tempras d' Agosto é uma coisa do mái certo que há p'a se saber se chove ó se faz sol im qualquer mês do ano. Um homem chega a Agosto, leva bem repáiro ôs dias todos. E despôs, é só fazer as contas. Atã vejam lá se nã é:
No Chilrão, tamém dava gosto ver a água a pular cá p'ra baxo...
O pr'mêro nã conta, tira p'ra ele. O sigundo arremeda Janêro, o tercêro arremeda Fovrêro e p'r 'í adiante... o sete arremeda o S. João, o ôtro a seguir, o S. Pedro, e vai até ô treze qu' arremeda o Mês da Festa. Isto sã as Tempras.
Despôs, vem os Dobres: O catorze tira ôtra vez p'ra ele, nã conta. O quinze arremeda Janêro e p'r 'í fora até arremedar os ôtres meses tôdes. 'Tá-se a falar dos meses do ano que vem, 'tá bom de ver...
C'm' cada dia d' Agosto arremeda um mês, é só ver s' ele choveu, s' ele fez sol, s' ele 'teve en-nuvlado, ó se fez uma coisa e ôtra... E fica-se, logo, sabendo o que se vai dar im cada mês do ano que vem. Isto p'a quem se rigule dessa manêra, que só acradita quem qu'rer. Mái, des que sim, qu' é verdade...
D'zer a verdade, cá p'r mim, inda nunca dí tirado isto bem a limpo, qu' ê cá desqueço-me sempre do tempo que fez im Agosto... Mái lá que bate certo, 'tejam certos que bate... Atã, s' os antigos d'ziam que sim... E a minha c'madre C'stóida tamém afiança a méma coisa...
O certo, o certo, é que, este mês, tem chovido quasequer coisinha de jêto - mòrmente a semana passada - que já dé p'a chigar bem ôs nascentes. E foi premode isso qu' a gente s' alembrô a convindar o Zé Manel p'a alcançar os quatro ali ô Barbelote e a ôtres sitos adonde haja barrancos que levem uma bela àgu-inha e pulem aqueles grandes penedros, c'm' no Chilrão e no Penedo do Buraco.
A do Penedo do Buraco é a mái fraquinha. Mái, com jêto, inda se tira um retrato c'mo este...
E foi nessa viaja qu' o Zé Manel, já infèzado de tanto ôvir a gente os quatro a catarruar nas Tempras e nos Dobres, se saíu com aquela de nã qu'rer crer im nada disso. Qu' isto, a malta nova, agora, nã sabem nada destas coisas... Só aprendem é englês, comp'tadores, a fazer as contas com as mánicas que têm nos telemóvens, que nem da tabuada têm preciso, e p'r 'í adiente...
Ah, más inda tenho ôtra p'a l'es falar. O tempo tamém se pode ver nôtra ocasião... Nas foguêras de S. João...
Um fulano arrenja uma latinha adonde possa pôr doze môitanitos de sal - piqueninos... Pôe-os lá, com munto jêtinho, e marca cada qual com um mês do ano.
Em a foguêra 'tando bem ateada, salta p'r cimba dela nove vezes, com a lata nas mãs, sem intornar nada e, entes d' ir p' à cama, põe a latinha ô sereno, num sito abrigado p'a nã l'e dar o vento. Fica lá a nôte entêra.
Na manhã, em se levantando, logo cedo, vai caminho da lata e assoma-se ôs moitanitos do sal. Os que 'tarem derregados, nesses meses, chove. Os que 'tarem humidôsos, nesses meses dá branduras. Agora, os que 'tarem secos, tal e qual c'm' na béspra, nos meses deles nã cai nem uma pinga e faz uma soalhêra que nã há-de ser brincadêra!...
E foi com esta, atão, qu' o Zé Manel inda mái se marafô...
- Nã pode ser!... Nã me venham cá com isso que ninguém ad'vinha nada...
S' o Moinho do Poucochinho inda moesse tôdes dias, água nã l'e faltava...
-Ai ninguém ad'vinha... Isso é o que tu cudas. Más, inda tens munto qu' aprender, filho... Aqui a tu mãe já vi munta coisa com estes dôs qu' a terra l' há-de c'mer...
- Ó senhora, dêxe-se disso!...
- Atã e c'm' é qu' ê cá sabia qu' este mês dava este tempo? Foi qu' olhí bem às Tempras e ôs Dobres d' Agosto, o ano passado. Senã, andava às escuras...
- Atã diga lá - se sabe assim tã bem disso - que tempo é que faz p' ô mês que vem?... Vá, diga!... Semp'e quero ver...
- Olha, Zé Manel, nã tenho aqui o apontamento qu' ê cá t'mí disso, que foi nas costas do Almanaque da Nossa Senhora de Fátima qu' ê tenho lá na menza de cabecêra, mái, im se chigando a casa, logo te digo. E logo vês se nã bate certo...
- Atã nã bate... é o bates...
- Más alembra-te bem que já o tê bisàvó d'zia: "Março, Magarço e Mês de Março!...". Toma conta com ele que, s'o Fovrêro é malino, o Março nã usa a ser menes cão do que ele...
E foi assim qu' a gente corré as Cascatas da Fóia duma ponta à ôtra e inda t'vemos tempo d' ir, tamém, ô Barranco dos Pisõs que, méme com a água só a correr no barranco, nã dêxa de ser uma coisa do mái bonito que há. Mórmente, ô pé do Moinho do Poucochinho e do Plátano.
Parêçam p'r lá, tã penas tenham jêto...
E, agora, vô-me falar com a minha Maria p'ra ver s' a gente, amanhão, se vai à Fêra dos Inchidos, p'r más que nã seja p'a ver o Raxinol Faduncho, que chôriças temos a gente muntas im casa...
E vomecêas? Vã Sáb'do ó D'mingo? Nã percam e comprem o que terem preciso que melhor nã há...
Até um dia destes e tenham munta saúde..
Já tinha ouvido dizer que o tempo que faz durante o mês de Agosto revela como será o do ano seguinte, mas não sabia como se fazia o cálculo.
ResponderEliminarSe o hábito de o fazer subsistiu e se repetiu ao longo de tantos anos, é porque terá tido a sua eficácia, caso contrário teria sido abandonado.
Pela observação dos fenómenos da Natureza, os mais antigos conseguiam descobrir relações lógicas de causa-efeito, úteis às suas actividades de subsitência. É, portanto, provável que haja fundamentos científicos nas Tempras e nos Dobres de Agosto. Porque não?
Até dá gosto ver as quedas de água caudalosas, e recordar o som relaxante que produzem!
Cumprimentos meus e da D. Arminda.
Uma treta, compadre. E os ultimos 4 dias do mês arremedam os 4 trimestres. Havia meia-duzia de"pensadores" antigamente que não tinham mais nada para fazer. Então faziam rimas. Umas batem certo, outrs não. Mas rimam. Já tomei atenção às temperas e não bateram certas. Mas para os defensores dessa teoria batem sempre. Se disseres: Afinal no dia 2 esteve bom tempo e este mês(janeiro) choveu! Dizem assim: Não, não! Nesse dia de manhã esteve o dia um bocadinho murcho.
ResponderEliminarMeu caro Parente
ResponderEliminarHá uns tempos que não passava por aqui mas verifico que o meu amigo continua imparável na divulgação da sua região (vejo que já não se resume à sua terra). E com fotos de se lhe tirar o chapéu.
Quanto às Tempras de Agosto e aos Dobres, nós na Raia chamas-lhe Canículas de Agosto ou só Canículas(no plural porque são a primeira e a segunda, tal como as Tempras e aos Dobres).
O funcionamento era exactamante o mesmo. Diziam os velhotes que funcionava, mas com as alterações climatéricas dos últimos anos não sei se a fiabilidade se mantém.
Há um pormenor (isto dito de memória). Era raro não haver uma trovoada no 25 de Agosto, dia de S. Bartolomeu.
Um abraço aqui da Raia
O pessoal daqui chama-lhe "doblas".
ResponderEliminarTalvez alguma influência Espanhola. eheheh!