Já faz 15 anos qu' esta fêra c'm'çô. Punhana!... Parêce qu' inda foi ontem...
Da pr'mêra vez que fazeram esta fêra, foi uma coisa assim, béque-me, quái a medo, mái par'cé logo tanta famila - uma coisa méme de rompante... - que hôve menino que perdé a tarde toda aparado ali na estrada de Portimão e quái que nã dava cá chigado.
P'r menes, as amigas da minha Maria que moram lá p'ra baxo p' ô pé de Vila Nova, contaram isso à gente. E inda más... Des qu' aquilo era uma chusma de carros e de famila que p'a cá chigarem foi um castigo e, despôs, os que vieram mái tarde nã panharam nada d' inchidos p'a comprar qu' eles já tinham marchado todos...
Tã penas elas contaram isso, disse logo à minha Maria:
- Maria, ôviste bem o qu' elas d'zeram. D' hoje p' à frente, nã vã eles fazer a parte à gente e comprar tudo ôtra vez, vai-se logo lá assim qu' aquilo abrir. No pr'mêro dia... E, da parte da tarde, aí das três im diante, logo se vai, atão, p'a bispar tudo bem, ver a famila de fora e algum tocador de fole ó fadista que p'a lá 'tejam.
D'zer a verdade, com estes óculos de pó, quem é que nã cuda qu' o homem é cego...
Ela béque-me fraziu os sobrôlhos um belo coisinho, mái dé-se p'r o mê conselho e inda nã 'tá repesa. Até ô dia d' hoje, nunca se f'cô a juar. Vai-se bem cedinho, q'ondo aquilo inda 'tá im sossego, escolhe-se o que se quer, cá à nossa manêra, sem marafundas e vai-se logo pôr tudo im casa. É um descanso...
Foi o que fazemos Sáb'do passado. E atão que 'tava lá um a cantar qu' aquilo era d' a gente s' arrabolar a rir. Ai homem marafado!... Aquilo era com cada bojarda... Dichote p'a um lado, chalaça p'a ôtro e as puas qu' ele metia no entremêo?!...
Era um Raxinol Faduncho qu' eles falam pr' aí, qu' ê cá q'ondo vi o nome anunciado, d'zer a verdade, nem dava nada p'r aquilo, mái, visto ô vivo, o estapôr é munto bem caçado...
Logo, que 'tá vestido duma tal manêra qu' uma pessoa olha p'ra ele, dá-l'e, logo, graça. E, despôs, com aquele jêto dele e os miécos que faz à acompanhar as chalaças, quem é que se aguenta sem incher uma barrigada de rir...
E ê cá, atã, a certa altura inda me ri mái do qu' ôs ôtres. Logo assim qu' antrí, ô pé duma barrequinha daquelas que vendiam aguardente, dô com o Tóino Luzicuco que já havera de 'tar a imborcar neles désna de mái cedo e, nã é que nã se desse lembido, mái que já 'tava antradote, 'tava.
Aquilo era uma chusma de gente naquela Fêra dos Inchidos...
De manêras que, inda paguí p' ali uma rodadinha ó duas e ele tamém, e f'cô-se a ver o Raxinol Faduncho ô pé um do ôtro, no mê daquela matula toda que quái um homem nã se dava mexido. A minha Maria, essa já tinha ido lá bem p' à frente, com as amigas dela, qu' era p'a verem o cantorío bem d' ô pé.
Ora, o Tóino, com aquela pòzêra toda qu' eles fazem lá no palco - nã sê s' é pó, s' é fumo, s' é o quem... - e com os porretes que já tinha baldeado, nã dava visto quái nada do que se passava lá p' à frente. Mái, a certo passo, lá l'e par'ceu qu' o fadista tinha uns óculos de pó. E era verdade. Diz logo, de chofre:
- Mái atão, o pobrezinho é cego!... Nã vês, Refóias, usa óculos de pó p' a nã se l'e ver olhos!... Olha o pobre do homem...
- Que jêto?!... Ê cá nunca ôvi falar...
Aqui, mete-se o parente Zé Caçapo na conversa, que 'tava ali, quái arrumado à gente, logo da bandinha de lá, e inda nã se o tinha visto:
- É cego, sim, é!... É cego dum olho...
- Ê nã te disse, Refóias, qu' ele havera de ser cego... Se nã fosse, p'a qu' é qu' ele usava aqueles ólicos, com as lentes pretas daquela manêra, drento de casa?... 'Tava-se méme a ver...
. ?!...
A Rádio Fóia e o Jornal de Monchique nã faltaram. E que belos amigos que lá tinham...
- Sim, Tóino, tens toda a r'zão. Ê seja cego, do mémo olho, se nã ser verdade!...
- E c'm' é que mecêa sôbe disso, ti Zé? Anunciaram aí na aparelhaja ó lé nalgum lado?
- Ê cá nã tenho preciso de ninguém me d'zer isso. É uma coisa qu' ê sê munto bem e afianço. Se nã queres crer, faz-se já aqui uma aposta. O que perder paga uns copos...
E ê cá, já a ver qu' aquilo tinha malandrice, pus-me calado que nem um rato...
- Que jêto postar?!... Atã ê tamém digo qu' o homem é cego... Mái, agora tem de d'zer c'm' é que vomecêa sôbe disso.
Pensí, cá p'ra mim:
- O Raio do velho Caçapo semp'e com as dele... Inda o Toino se vai p' aí marafar, escorvado c'm' 'tá...
Más, ele arredondô a coisa:
A aguardentinha de madronho, só de s' em-maginar, dá logo festa...
- Olha, Tóino, ele é tanto cego c'm' tu... Nã vês qu' aquilo é p'a par'cer más ingraçado? Cego só do...
Cort' ê, logo, a conversa:
- Eh, môces, vamos más é lá beber aqui mái um mosquitinho cada um!... Paga o ti Zé qu' é o que morêce ser castigado...
- Ê cá?!... Quem falô é que paga!... Que jêto ê cá pagar?!...
Ê já sabia... O homem, p'a pagar um copinho, é só lá q'ondo ele 'tá de munto boa avêa...
- Ti Manel Luís, ponha lá aqui três mosquitinhos, fazendo favor. E béba-l'e um tamém, vomecêa. Se nã pagar aqui o ti Zé, pago ê cá, nã tenha medo...
E, nesse mê tempo, o Raxinol Faduncho lá acabô o cantorío e aquela matula de gente abalô tudo, uns, caminho de casa, e ôtres, a dar mái uma voltinha lá p'r a fêra.
Bobí, paguí os calcesinhos e digo p'ra eles:
- Mês belos amigos, vô-me, tamém, ver o resto da fêra qu' isto, mái logo, fecha e inda me falta ver umas coisas. Se qu'rerem, venham daí com-migo...
Inda pensí qu' isto eram os Pacanherros, mái, calhando, nã eram...
Más eles nã qu'seram e ê abalí, à espera d' incontrar a minha Maria im qualquer canto.
Passí àquelas barrecas todas - da Rádio Fóia, do Jornal de Monchique, da Apagarbe, os homens que já podem fazer aguardente de madronho, e tal e tal... - e inda dí com quatro môces vestidos de estudantes. Lá bem tratados iam eles, sa senhora...
Logo, cudí qu' eram uns môces lá de baxo d' ô pé de Vila Nova - do Parchal, se nã 'tô im erro - que põem umas coisas munto ingraçadas na internet e já se meteram com-migo uma vez ó ôtra, mái, calhando, nã eram.
E ê já l'es digo o jêto de ter atribuído uns com os ôtros. É que des qu' os pais deles os puseram no estudo e, atão, é certo e sabido qu' eles, agora, hã-de andar tamém vestidos desta manêra. Ora, um homem, atribói-se...
Mái, querendem ver os videos qu' eles fazem, acalquem aqui im pacanherros que vã dar ô Youtube e logo vêem s' eles nã fazem umas partes do mái ad'vertido que possa ser. Ê cá, cada vez que lá vô-me, é uma barrigada de rir im forte.
E foi assim a minha Fêra dos Inchidos. Sim qu' ê cá, no D'mingo, já nã m' aprochiguí p' àquelas bandas. Pus logo à idéa qu' havera de ser uma chusma de gente inda maior e nã m' inganí. A minha Maria é que nã gostô lá munto disso. Queria ir ver os "Anjos"...
- Oh, m'lher, alguma vez ê cá ia ver uma coisa dessas?!... S' os mês amigos sabessem disso, o qu' é qu' eles nã m' iam ch'mar... Ai os "Anjos"... Isso nã é coisa capaz cá p'ra qualquer um...
Bom... Dés l'e dê saúde, mês belos amigos.
Môçe cadê us enchides? Mostras munta coisa mai quemer é que nada!
ResponderEliminarMê belo amigo Zé de Fare
ResponderEliminarTem toda a r'zão. Nã l' amostrí aqui coisíss’ma nenhuma de dec'mer.
E isto premode quem? É qu’ o dôtor tirô-me essas coisas, agora p'r uns tempes... e ê cá nã tive coraja d’ ir lá p’ ô pé delas…
Mái, dêxando de rir p’a mangar, ê já tinha amostrado os inchidos quái tôdes aí nôtres posts mái atrasados e nã quis 'tar a impertenecer a famila ôtra vez.
Fazendo favor, vá aqui à Fêra dos Inchidos do ano passado e às Coisas de Mortepórque 2ª pagela e 1ª pagela.
Dés l'e dê munta saúde.
Ora saúde i vida longa! Já la vi as suas fotos da quemida. Ui que nem le digue nada... Na era mal pensade linkar o arraial do ane passade no fim da escrita deste ane.
ResponderEliminargostei muito do seu blog...muito bom sim senhor... 5 estrelas
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