P'a espáircer das minhas ap'quentaçõs, assentí-me no miradoiro de S. Sabastião e desatí a ôlhar p' ô bico da Picota...
Ô fim duma preçanada de dias, cá 'tô, ôtra vez, em par do escamungado do mê comp'tador a ver se dô escrevido p' aqui alg'ma coisa de jêto.
Más olhe que, méme as sôidades sendo muntas, béque-me nã 'tô lá de munto boa avêa. É que, logo, o conserto foi bem munto caro - quái que m' ia custando o coiro e o cabelo... - e, despôs, até qu' esta prequêra desta engeróca dé-se im foncionar cá à minha manêra, foi uns trabalhos.
E, agora, tenh' é a l'es agrad'cer até mái não, de, méme sem par'cer aqui nada de novo, tôd's dias virem cá. E, ô méme tempo, que vomecêas me perdôiem disto ter-se dado assim, qu' ê tamém nã 'tava à espera duma coisa destas.
F'quí tã descorsoado com os retratos tôd's que se me foram, qu' inda quái que nã tive coraja p'a tirar mái nenhuns. Só désna que arrecebi o comp'tador ôtra vez im casa e fui até ali ô miradôiro de S. Sabastião, já assim ô entardecer, é que, béque-me, lá despáirci um coisinho.
É qu' aquilo é um sito do mái bonito que se tem cá im Monchique. Ê cá pélo-me p'r m' assentar ali uns pôcachinhos e o'servar aquelas vistas todas à roda. Desta vez, voltí-me p' a nascente, pus-me a ôlhar p' ô bico da Picota e f'quí ali espècado, nã sê que tempos, ramoendo cá nas minhas coisas.
Nesse mê' tempo, inda p'r 'lí par'ceu um amigo ó ôtro, mái c'm' béque-me cudaram qu' ê 'tava assim p' ô embosnado - e nã nã s' enganaram p'r munto - mal me falaram e lá foram andando assim c'm' quem nã quer a coisa.
Só o ti Zé Caçapo - o mê amigo "Verruma" - é que, com aquele jêto dele semp'e a qu'rer antar com qualquer um, apr'vêtô logo p'a se meter com-migo:
- Eh, Refóias, atã o qu' é que tens? Nã me digas que panhaste p' aí alguma pelhega e inda andas aí tonto a engavelar com ela?...
- Olhe lá, ti Zé, seja bem-criado e, pr'mêro, fale às pessoas... E, despôs, calhando, escarado, vem vomecêa. P'a fazer uma conversa dessas, há-de já ter antrado aí nas vendas todas da Vila. Ó, atão, enché o papo logo im casa, inda entes d' abalar...
- Nã bobi nada, mái, p'a que saibas, tenho da boa lá im casa e, querendes, anda daí com-migo qu' ê dô-te lá um porrête ó dôs passa-te logo esse géno todo... E nã leves a mal qu' ê 'tava só a mangar contigo.
- Pôs, pôs. Se mecêa panhasse a rabana qu' ê cá panhí, qu' o mê comp'tador variô assim sem
más esta nem más aquela, logo falava assim...
- Já ôvi falar... E é só p'r mode isso que 'tás tã enfèzado?!... Barimba-te nos retratos...
- Barimbar-me nos retratos, ê cá?!... Nã tardando nada inda l'e falo mal. Atã iss' é coisa que se diga?!...
- Olha lá, tu já prècuraste bem lá drento da caxa do comp'tador, nã 'tejam eles caídos p'ra lá, prebaxo daqueles fi's tôd's?
- O qu' é que mecêa diz?!...
- Olha qu' ê cá, uma ocasião, cudava que tinha perdido uma nota de vinte mem rés e, passados bem uns sês meses, fui dar com ela no fundo duma caxa adonde a gente gôrdava uma preção de tranquitanas. E isto já despôs de ter dado volta a tudo nã sê q'ontas vezes...
- Ó ti Zé, mái atã vomecêa faz lá uma idéa do qu' é um comp'tador, p'a d'zer uma alarvidade dessas?...
- Calhando, nã sê, más olha que tu há-des saber munto más...
- Que saiba que nã saiba, nã digo patochadas dessas. Aquilo, lá drento da caxa só tem fios e p' ali umas peças que l'e chamam discos e nã sê quem nã sê quem, assim quái c'm' uma t'l'fonia. Os retratos e as ôtras coisas vã p'r os fios e ficam gôrdadas lá drento desses discos...
- Atã s' os abrires, p'r mái nã seja com um alicate ó uma truquês, ó méme à martelada, há-des incontrá-las lá. S' os gôrdaste, 'tá bom de ver...
- Pôs olhe, nã nas aibro à martelada, más ele há uns lá p' às bandas de Lisboa, béque-me im Almada, qu', as má's das vezes, inda dã apr'vêtado alguma coisa dos discos, q'ondo eles s' avarêam.
- Atã, manda isso p'ra eles...
- E paga vomecêa?... Ôvi p' aí d'zer qu' eles nã s' ensaiam p'a pedir p' ô lado duns mil eros p'r um trabalho desses...
- Olha, atã o melhor é tu trazeres isso e a gente põe-os lá a tocar numa grafenola qu' ê tenho de q'ondo era novo e se fazia uns balhos lá na minha casa de fora e, q'ontas vezes, na minha rua. Nã tocarã umas modas boas?...
E a conversa nunca mái tinha fim s' ê cá nã t'vesse mudado d' assunto. Qu' o "Verruma", tirando samear batatas, sabe men's, seja lá do que ser, qu' ê cá sê dum lagar d' azête. Mái 'tava-se a fazer inda mái parvo do qu' ô que é, só p'a me zucrinar.
Más olhe, aquela conversa até que me fez ficar um coisinho quái ad'vertido e dé-me assunto p'a d'zer umas patacoadas, essa qu' é essa...
E assim me despeço. Mái nã se desqueçam qu' o mês dos Santos c'meça quarta-fêra, qu' é o dia de se fazer os magustos cá na nossa terra.
Ê cá 'tô governado que panhí lá umas castanhitas na Serra da Estrela, puse-as ali ô sol e já 'tã bem aveladas. Aquil' é só panharem um calorzinho, assim 'tã assadas.
E tamém inda tenho aqui nã sê q'ontos bicos d' ôriço cravados nos dedos que nã nos dô tirado, qu' as minhas vistas já nã alcançam e a minha Maria 'tá no mémo...
Más inda l'es digo mái uma coisa. Se qu'rerem c'mer castanhas à farta e ad'vertirem-se até mái não, vamos tôd's p' ôs magustos de Marmelete e do Alferce, que sã os dôs no méme dia e à méma hora - dia 1, às 3 da tarde.
Ora digam-me lá c'm' é um homem pode 'tar em dôs sitos ô méme tempo? Nã pode... Lá tarê qu' apr'vêtar só um... E agora, qual é o qu' ê cá vô escolhêr?!...
Olhem, ad'virtam-se e comam muntas castanhas, seja ele adonde ser.
Tenham munta saúde e até a gente se ver.
Bom dia.
ResponderEliminarPara apresentar os meus cumprimentos neste blog, que descobri por acaso quando pesquisava na Net à procura de 'marafado'.
Mo meu blogue, a maior dificuldade foi escolher um conjunto de frases representativo. Perante lista tão extensa foi bastante dificil.
Os meus parabéns pelo excelente trabalho que tem aqui.
Cumprimentos.
mr.anderson
ResponderEliminarM't'ôbrigado, m't'agradecido e Dés l'e dê saúde e sorte cá nesta coisa dos blogs é o que l'e desejo daqui da Serra aí p' ô Algarve.
Sint'-me até quái um coisinho maniento de vomecêa ter usado no sê blog aquelas coisas qu' a gente fala p'r cá.
E se qu'rer c'mer umas castanhitas assadas, venha, amanhã à tarde, ôs magustos de Marmelete e do Alferce qu' a gente vai-se ad'vertir p'r cá munto.
Passe munto bem, mê belo amigo.
Gostei muito dessa hipótese dos retratos estarem caídos por baixo dos fios do computador.
ResponderEliminarAinda estou a rir enquanto escrevo.
Um abraço, Parente!
Brilhante! Um documento! Parabéns!
ResponderEliminarTamém l'e mando um abraço p'a si, Sr. Pr'ssôr António, e munto l'a agradêço as sus risadas.
ResponderEliminarSeja munto bem par'cido cá p'r estas bandas, amigo chicodabatuta, e Dés l'e pague.
ResponderEliminarParente
ResponderEliminarMuito gostei eu de ver que o parente até com as suas "desgraças" sabe brincar!
É assim mesmo! Piores coisas não venham ao mundo...
Fotografias há muitas!...:):):):)
É certo que os momentos que registou já não voltam atrás mas, com jeitinho, o parente ainda lá volta àqueles lugares e a Serra da Estrela não desaparece assim tão depressa (penso eu...):):):).
~*Um beijo*~