25 outubro 2006

Hoje é dia só de lamúrias que retratos nã tenho...

Ele há dias bons e dias cabr... - melhor d'zendo - isto dá-se cada uma qu' um homem, certos dias, nem s' havera d' alevantar da cama...

Vomecêas que me perdôiem, mái, hoje, só o que m' ap'têce é falar mal...

Ó fado dum ladrão!... Vinha ê cá tã sast'fêto, mái-la minha Maria, do nosso passêo - que foi uma coisa c'm' à gente inda nunca se tinha panhado - e, mal se chigô a casa e se dromiu uma nôte descansados na nossa caminha, dá-se um caso qu' ê até custo a falar nele.

Já agora, 'tejam com Dés e que tenham passado p'r cá muntíss'mo de bem, que falar ôs amig's tamém se usa...

A gente, lá pr' adonde andô, tirando a chuva qu' ia arrasando aquilo tudo, o vento que nem dêxava uma pessoa dromir de nôte, o navoêro que nã se via nada naquelas serras e os trovões que lá fazeram qu' até estramecia, - serví' de tanto a encomenda qu' a minha Maria fez à Senhora das Candêas c'm' coisíss'ma nenhuma... - corré tudo do melhor.

Mái q'ont' ô resto, aquilo teve que se l'e diga.

E, já agora, cont'l'es, pr'mêro, as coisas ruins. Despôs logo se vai às boas.

E as ruins nã sã só ruins, sã malíss'mas... Olhe qu' ê tinha p'r lá tirado tant's c'm' qu'nhent's e tal retratos, im sitos c'm' ê nunca tinha visto tal coisa na minha vida. E sabe q'ontos é qu' ê tenho agora?... Nem tampôco um p'a uma amostra!...

E sabem d' adonde é qu' eles eram? Nã sabem qu' ê inda nã l'es contí. Mái vô-l'es d'zer. Tirí-os tôd's, mái ó menes, lá na Bêra Enterior, assim à roda da Serra da Estrela, nuns pôv's que l'e chamam aldêas medievás, aldêas históricas, aldêas do xisto e p'r 'í fora.

Só p'a l'es dar uma idéa, vô alomear umas três ó quatro: Monsanto, Sortelha, Piódão, Minas da Panasquêra, Penha Garcia, Idanha-a-Velha, Castelo Bom, Castelo Rodrigo, Almeida, Pinhel e ôtras tantas que nã adianta 'tar p' aqui a d'zer, mái qual delas a mái bonita.

Pôs, o badalo do mê comp'tador, Dés Noss' Senhor me perdoe, mái béque-me foi bruxedo... Tã penas l'e passí os retratos p'a drento, já nã nos dé gravado numa coiséca daquelas que l'e chamem CD e DVD. E, c'm' isso nã l'e chigasse, aterrô duma tal manêra que nunca mái disse ai nim ui. Pronto, charinguí-me.

P'a lá 'tão, agora, os homens de roda dele, a ver se l'e dã posto um disco novo qu' o qu' ele tinha f'cô fêto im nada.

De manêras que, lá pedi aqui a um amigo bom que m' imprestasse o dele um pôcachinho p' ôs pôr ô corrente do que se passa, nã fossem vomecêas p' aí cudar qu' ê tinha des'parcido ó se tinha dado alguma coisa inda mái ruim com-migo.

Ele é bem verdade qu' ê inda 'tô bem munto enzamboado com o que se deu, mái já 'tô um coisinho melhor do qu' ô que 'tive. Olhe que, nos pr'mêros dôs dias, nem palavra ê d'rr'gia à minha Maria, que nã sabia o que l' havera de d'zer...

Atã e ela, pobrezinha?!... Q'ond' ê l'e dí a novidade, fazia uma clamada que dava dó... E nã qu'ria crer no qu' ê l'e d'zia.

- Nã pode ser!... Isso, os homens, inda hã-de dar arrenjado o comp'tador p'a se f'car com os retratos...

- Ó Maria, atã s' o homem já me disse que nã dava fêto nada daquilo... Tem-se que ter pacência, m'lher.

- Qual o quem!... Vô-me já fazer uma reza à Santa Rita dos Empossíveles, qu' ela há-de ajudar a gente. Inda nã há munto tempo, ê cá l'e pedi uma coisa e ela acudí-me...

- Atã faz a reza qu' há-de-te servir de munto. S' o homem já me disse qu' aquilo 'tá tudo marafado que nã s' apr'vêta de lá coisíss'ma nenhuma... Pifrô, foi o que foi. Dé o carepo.

- Más ê nã posso pensar nisso... Ai que pàxão!... A culpa é tua, qu' andas semp'e a besôirar de roda do comp'tador! Tens de 'tar semp'e a esp'nicar...

- Bom, bom, bom... Já ê 'tava a estranhar que nã me pusesses as culpas im riba. Ora que culpa tenh' ê cá qu' o raça do disco se t'vesse arrasado?!... Tal 'tá a conversa, hã?!...

- Pôs, 'tás semp'e ali a mexer, sa senhora!...

E, c'm' às coisas já nã me 'tavam a chêrar lá munto bem, dí-l'e as costas p'r reposta e abalí fui p' ali mondar uma lêra de cinôiras qu' ê samií uns dias entes de s' abalar. E bonitas qu' elas 'tão, lá isso 'tão.

Com respêto à reza qu' a minha Maria fez à Santa Rita, o resultado foi o mémo da qu' ela fez à Senhora das Candêas. Isto, os santos tamém já 'tão cansados d' aturar a famila... Ele é rezas p'a isto, é rezas p' àquilo, o qu' é qu' a famila cuda... Só s' alembram de Santa Barb'a q'ondo faz trovôs?!...

Desta vez, nã l'es dô apresentado retrato nenhum e fic'-me p'r 'quí que 'tô a trabalhar com ferramenta imprestada e 'té tenho medo de dar tamém cabo dela.

Prestes, em tendo o mê comp'tador a foncionar, - eles d'zeram-me qu' aquilo era coisa só p'a mái um dia ó dôs - logo l'es digo mái quasequer coisinha.

Atã, até despôs, qu' ê vô-me ver se dô desquecido esta pàxão de f'car sem os retratos.

Dés l'e dê saúde a tôd's.

6 comentários:

  1. Mas que raio de desgraça, compadre!
    E eu aqui este tempo todo à espera de visitar esses sítios, que felizmente conheço, mas queria agora reconhecer através desse seu olhar.
    Paciência!

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  2. Que trágica notícia nos dá, parente. Já me sucedeu algo do género, após uma visita de estudo a algumas das mais belas igrejas de Lisboa, que normalmente estão encerradas, e que tive o privilégio de lá entrar. Assim que cheguei a casa para passar as fotos para o computador, não estavam na memória da máquina digital. Raça de máquina, dali a uns tempos comprei a bichinha que me tem acompanhado nestes últimos tempos, e ainda não me deu um único desgosto :)

    Voltando à sua sina, quem sabe os seus amigos não voltam a convidá-lo novamente, e não tem oportunidade de recuperar aquilo que perdeu?
    Se as rezas da sua Maria não têm funcionado, eu cá vou apelar ao Santo Expedito para lhe dar nova oportunidade de voltar aos belos locais que visitou, de preferência com o céu limpo :)

    Um beijo para si e sua Maria.

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  3. Amigo Refoias, ás vezes é possivel comprar um disco novo e com um software próprio passar tudo do disco velho para o novo. Se ainda fõr a tempo pergunte aos técnicos se é possivel fazerem isso. Eu já fiz no meu e computador e perdi só umas quantas fotografias. beijinhos

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  4. Amigo Parente

    Pelas terras que "alomeou", Monsanto, Penha Garcia, Idanha-a-Velha, o meu amigo andou pelas bandas de Toulões, minha terra natal e "mai linda ca todas" as terras de Portugal.

    Lamento as fotos, mas siga o conselho da comentadora anterior poderá ser que tenha sorte.

    Bom resto de semama

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  5. 'Tejam com Dés mês, belos amigos.
    Já tenho este estapor deste comp'tador arrenjado, mái os retratos foram-se.

    De manêras que, tenho-l'es a agradecer, a tôd's vomecêas, a coraja que me deram e cá 'tamos a andar p'ra diante. Nã faltarão ôtras ocasiõs.

    E p' ô amigo Chasneco, fique sabendo que nã foi só andar lá perto da su linda terra. Passí p'r Toulões e corri-a duma ponta à ôtra.

    De carro, que chovia que Dés a mandava e nã dí visto nem uma pessoa na rua com quem falar.

    C'm' im quái tod' ô lado, a igreja 'tava fechada, só a vi p'r fora (já a conhecia dum retrato no sê blog A Arca Velha).

    Aquela idéa do nome dos becos 'tá ingraçada:
    Beco nº 1, Beco nº 2...

    Muntas rec'mendaçõs p'a tôd's e Dés l'e pague.

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  6. Parente

    Nunca gostei muito destas máquinas...não são nada de fiar...de vez em quando, sem mais nem menos, "deitam tudo por água abaixo"...

    Tenha paciência, parente.
    O que não tem remédio...remediado está...
    Quanto aos santos...estes já estão a ficar com muito trabalho, não dão conta de tantos pedidos.
    Será que se lhes mandar um mail, eles atenderão os pedidos da sua Maria?:):)
    Parece-me que estas coisas de informática já chegaram ao Céu...:):):):)

    ~*Um beijo*~

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