Aí o ôtro dia, vêo uma g'tinha d' água e, c'm' ê cá l'es disse, foi mém' ô queres p' às zêtonas e p' ô madronho. Ela até que podia ter vindo um coisinho mái cedo qu' as ol'vêras mái temprôas semp'e tinham apr'vêtado p'a engradar, mái tamém nã se pode a gente qu'rer tudo.
De manêras que, um destes dias, peguí em mim, amontí-me no mê Jericó e fui caminho da Refóias ver c'm' àquilo p'a lá 'tava. Nã que tenha p'a lá algum madronho ó zêtonas que vá nem venha, mái atã, o qu' é que mecêas querem, gosto de ver aquilo e andar p'r lá...
Desta vez, nã tive companha, qu' o mê compad'e Jôquim do Barranco nã l'e dava jêto e a minha Maria béque-me l' aborrêce a andar lá p'r aqueles cerros e des que tem o g'verno da casa p'r fazer e ôtras coisas má's. Calhando, algum romance p'a ver na tel'visão...
E, p'a d'zer a verdade, f'quí sast'fêto com o que vi, méme nã tendo madronho que chegue p'a ser panhado, qu' aquilo nã dá más qu' uma estilação ó duas, e, assim, pôco, deslóze-se todo. Olhe, c'mi foi p'r lá uns q'ontos, já bem madurinhos qu' até chêravam, e despedi-me deles até pr' ô ano.
Pensí cá p'ra mim:
- Vir p' aqui perder o mê belo tempo, f'car todo arranhado dos tojos e das mongariças, ter qu' andar a desmoitar estevas e urzas de cepa e, despôs, nã dar fêto aguardente que preste nem que se veja, o melhor é dêxar os piscos andarem pr' aí àvontade que tamém precisam de comer qualquer coisinha...
E fui-me caminho dumas ol'vêrinhas, que tamém arderam no tal fogo, mái já 'tão bem arrebentadinhas e dá-se o caso de 'tarem carregadinhas de zêtona.
E 'tavam méme na conta. Aquilo, p'a britar, era esta semana ó atão amaduravam de más e ê cá gosto delas é assim p' ô verde.
Vô-me b'scar um balde plástico, jog'-me a elas, aquilo era só ripar zêtonas com as duas mãs e jogá-las p'a drento da vasilha. Até entoavam no fundo do balde...
O que me calhô mal foi que 'tavam lá umas duas ó três qu' arrebentaram no brabo e as zêtonas que tinham nã eram capazes p' apanhar. Aquilo eram pôco más qu' a cabeça dum alf'nete. Mái, méme assim, amaduram, home, e, calhando, p'a azête, nã tinha nada em dar alguma coisa...
E uma maçanilha que lá 'tava, que dava uma zêtonas qu' era uma classe, essa perdé-se dum todo. Más ê cá, méme só com estas galegas, já f'quí que me dã p'ô gasto da casa, tamém nã 'tô p'a m' apequentar.
Atã nã vêm qu', em coisa de pôco mái dumas duas horas, panhí três baldes, bem chêazinhos, delas e inda c'mi uma bucha, nesse mê tempo, assantado méme ali im cimba dum bajôlo, assim sobrecomprido, que 'tá atanchado naquele combro qu' eles fazeram p'a end'rêtar a carr'lêra.
Mái tamém l'es digo. Q'ondo cheguí ô pé das ol'vêras, inda pensí duas vezes. É qu' aquilo tinha caído umas pinguinhas, logo ô alv'rcer, e, mal uma pessoa tocava na ramaja, panhava logo com uma preção de pingos na rôpa.
Mái, méme molhando as mangas todas da camisa, lá fiz o g'verno e nã f'quí repeso. Já elas 'tã britadas e drento d' água a endossar. E, nã tardando nada, a minha Maria logo l'e faz ali os temperos c'm' ela sabe, qu' aquilo ficam com um gostinho a orég's e a alhos qu' é um consolo...
E, hoje, fic'-me p'r 'qui, qu' isto foi só p' ôs entreter. É que nã tenho tido vagar denhum e, inda p'ra más, neste mê tempo, fui ô vinte nove e à descasca de Marmelete. Tirí p'a lá uns retratos e tenho qu' os amostrar e contar-l'es c'm' é tudo se passô.
Qu' ê, no site, já pus p'a lá umas q'ontas. Mái foi só do banho do vinte nove que da descasca inda nem ê cá as vi bem.
Atã até um dia destes e tenham pacência.
Meu caro amigo
ResponderEliminarQuero felicitá-lo pelos textos que nos mostram o linguajar genuíno da sua região, o Algarve.
Gostei, para mais que o seu blog se enquadra no espírito daquele em que também vou contando umas histórias.
Cumprimentos aqui da raia.
Parente
ResponderEliminarOnt'ánôte, qu'ônde li a sú hestóira, fiqui tôd'encantade com os beles madronhes que nos'amostra. Nã haja dúveda qu'a últema chuvinha vêo engrandá-los munto.As azeitonecas támem sã melhores qu'as do ane passade, nã tã tã bechosas.
Má o pior de tud'iste é que nã nos dêxam estilar, têm umas desijecências marafadas, que ninguém cá da terra le pode chigar, nã pudemes dêxar morrer tude ó qu'é bom e tradição desta santa terrinha...
Um abrace
O Campanico
Parente
ResponderEliminarHá muito tempo que não via medronho!...
Tive saudades de um ano passado na serra, lá para os lados de S.Marcos da Serra. Assisti à sua colheita e transformação (destilação)...
Para mim, o "pior" de tudo foi, quando logo pela manhã, a caminho para o trabalho, todos faziam questão que tomasse um cálice de "água" que ardia como fogo:):):). Para aquela gente aquilo era um ritual, ao pequeno almoço... muito "sofri" quando dizia que não podia aceitar :):):):.
Bons tempos!
~*Um beijo*~
P.S. Vou procurar medronheiros nos meus lugares, o parente "abriu-me o apetite"...:):):)
Que lindo é tudo isto! Mais uma vez se acende a luz da sua graça, mesmo para nos entreter! Abraço
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