Já nã é coisa que me dêa munta influén-inça, qu' as fêras agora pôca áira têm ó nenhuma, mái umas amigas, qu' a minha Maria tem p'ra lá, convindaram a gente se nã se qu'ria ir à fêra de Vila Nova e ela tanto pertô com-migo qu' ê lá me resolvi a abalar.
E, no fim de contas, até que f'quí contente de lá ir, que, só assim, dí visto o qu' os homens têm p'a lá, agora, no largo adonde fazem a fêra. Qu' aquilo 'tá tudo bem composto, lá isso 'tá. E, logo à porta, puseram a l'cença qu' o rê D. Afonso VI l'es passô p'a eles fazerem a fêra. Fazeram bem qu', assim, a guarda já nã precisa de l'es pedir os papés.
E tamém 'tá lá uma coisa nova, que, béque-me, parêce um armazém, assim sobre-comprido, todo tapado com latas, qu' ê nã dava alcançado que serventia é qu' aquilo tinha.
Mái prècurí a uma m'lherzinha, já mái velhota do qu' ê cá, que 'tava lá ô pé a assar castanhas, p'a qu' é qu' eles qu'riam aquilo e ela dexplicô-me da melhor vontade:
- 'Teja com Dés. Atã, que tal vai aí o negóiço da castanha, tem vendido muntas dúizas delas?
- Eh'q, isto 'tá ruim, menino. Nã se vende quái nada. Ele há muntos aí a assar nelas e a famila parêce que tem pôco d'nhêro ó nã sê...
- Pôs é... Tamém lá p' às minhas bandas, neste tempo, nã parêce ninguém a prècurar assim p'r umas bejoarias, uns peros, umas batatas... Nã se faz um destão im coisíss'ma nenhuma.
- E inda tem ôtra coisa. Parte delas vêm podres ó b'chosas e ê tenho qu' as pagar todas ô mémo preço. E, inda p'r cima, tenho o trabalho das escolher e jogar fora...
- Pôs é, o méme se dá com-migo q'ondo as batatas carregam de brab'leta. Tenho o trabalho todo das samear, tratar delas, acartá-las p'a casa, pôr-l'e os pózes e, despôs, jogar parte delas p' ô monturo. E o fadorum qu' aquilo dêtam q'ondo apodrêcem lá na pilha...
- Quentes e boas!... Olha a castanha assada! É do norte, é doce c'm' mel!... Vá freguês.
E, coitadalha, lá vendé um cartuchinho delas a um homenzinho qu' ali passô e nã se dé contido com o chêrinho que vinha de drento do assador.
- Atã, mái diga-me lá. P'a qu' é qu' eles fazeram esta coisa aqui, 'tã grande? Quái que dá ares a um avião sem asas... Nã me diga qu' é p' ôs fêrantes dromirem ali drento... Sará?
O qu' eles alomeam de pavilhão multi-usos, a mim, quái que m' alembra um avião sem asas...
- Ó mê belo amigo, os fêrantes se qu'serem dromir têm que trazer adonde se dêtar ó ir p' à pensão... Aquilo ali é um pavilhão multi-usos.
- Um pav'lhã quém?...
- É p'a fazerem ali tanta coisa qu' ê nem l'e sê d'zer tudo. Vã ali artistas cantar, vã ôtr's fazer ginástica, tamém podem fazer runiõs, dexposiçõs e coisas assim. 'Tá a comprender?
- 'Tô, sa senhora. Mái atã isto há-de ter custado p'a cima dum d'nhêrão... E p'r o jêto que l'e vejo, 'tá quái semp'e fechado. Ó 'tarê atribuído?
- Nã 'tá atribuído, nã senhora. Isto é só lá de q'ondo em vez é que serve e mái no v'rão que no enverno. Agora, na fêra, béque-me o abrem da quem nada, que têm p' ali uns carros e umas barrequinhas de bolos.
Nesse mê tempo, já a minha Maria me tinha fugido, qu' ê olhí tudo à roda e nã na via im banda nenhuma. Pensí:
- Adond' é qu' aquela m'lher se tará metido? Com um gentío destes c'm' é qu' ê, agora, a dô p' aí lombrigado...
Mái pus-me a ramoer só cá p'ra mim, dé-me uma c'm'chanita na cabeça, coçí, coçí, e vê-me logo uma idéa:
- Atã, adonde é qu' ela há-de 'tar?... É certo e sabido que só pode ser num lado. Adonde haja trapos, sapatos ó tranquitanas dos chineses...
Abalo à rôpa toda d' ô pé da m'lherzinha das castanhas, nim tampôco l'e comprí um cart'chinho delas nim nada, vô-me d'rêto ali a um sito adonde 'tava um mulherío qu' era uma coisa p'r demás, dô logo de frente com ela a mexer numas blusas.
- Ó Maria, atã fazes-me uma coisa destas... Abalas assim sem d'zer nada e ê fic' ali sem saber o que fazer?!..
- Ó homem, ê cá 'tava-te aqui a marcar, nã te dêxava ir imbora... E tamém nã tenhas medo qu' ê cá nã fujo...
- Mái tinhas-me dado uma vaiazinha p'a ê nã f'car em cudados...
Quái masturadas com essas blusas, 'tava uma preçanada d' ôtras rôpas, daquelas agora m'dernas p' às m'lheres vestirem p'r baxo. Nã l'es digo nada - mecêas já hã-de ter visto - aquilo, só dum homem olhar p'a lá, fica logo a l'e luzir o olho, q'onto más s' as visse no lugar...
Atão, nã têm quái nada p'a tapar as vergonhas, tanto faz de frente c'm' de trás... Aquilo é só uns fizinhos com uma rendinha e umas penujas que dêxa ver tudo... E da cor que se quêra...
- Maria, vê lá se compras p'r aí alguma coisa dessas, qu' isso era uma vergonha s' alguém sabesse...
Disse-l' ê cá, im segredo, ô ôvido.
- Ó homem, tem p' aí tento... Alguma vez ê cá usava umas coisas daquelas!... Aquil' é p' às moças novas d' agora, qu' os môç's, a nã ser assim, já nã s' ent'ressam p'r elas...
E lá se foi andando prê afora p'r aquelas barrecas todas, qu' a minha Maria nem p'r nada perdia de ver uma. Inda se comprô p'ra lá uns q'ontos sarengonhos, um coisinho de torrão d' alicante, qu' a minha Maria àguava se nã se jogasse a essas g'lusêras, e pôco más.
O qu' a gente enfêrô pôco mái foi qu' umas farturas e um coisinho de torrão d' alicante...
Na ôtra banda, q'ondo ê era môç'-pequeno, usava a 'tar um carrossel ó dôs. Agora, 'tá uma chusma de bodegas qu' ê cá, nem qu' inda me pagassem p'r cima, ia andar lá. Aquilo há de todas as manêras e fêtios.
E nã sê c'm' é qu' a famila nã tem medo... Uns rodam p'a um lado e p'a ôtro, ôt's dã pinotes, aparam lá no alto de cabeça p'ra baxo, ê sê cá!... E barulho nã se fala... Vem um homem de lá que nã ôve quái nada.
Inda andí à pregunta, mái nã vi - e já faz muntos anos que nã vejo - foi do carrossel oito, qu' era uma coisa qu' ê, nôt's tempos, q'ondo ia à fêra com a minha mãe, l'e pedia semp'e p'a dar uma voltinha.
Mái um amigo bom, o Sr. Dr. Baeta Oliveira, de Silves, que tem o blog Local & Blogal, uma coisa do melhor que há em blogs, qu' ê 'tô semp'e a ir lá aprender coisas, mandô-me este retrato dum carrossel oito que foi à fêra de Silves. Vejam lá se nã é uma lindeza...
Munto l' agradêço ô Sr. Dr. Baeta Oliveira, que m' imprestô este retrato do carrossel oito, p'a l'es amostrar aqui.
E assim corremos a fêra de Vila Nova toda, nã s' enfêrô quái nada, mái aquilo teve graça e ê cá dig'-l'es que gostí d' ir ô bem fêto, méme ela nã sendo já tã adv'rtida c'm' nôtr's tempos.
Q'ondo se vinha já chigando à porta da saída, o qu' é que m' havera de vir à cabeça. Os tempos qu' a famila abalava cá da serra a pé p'a ir às fêras quem diz a de Vila Nova diz a de Lagos, alomeada p'r fêra franca, e voltava-se p'a casa ôtra vez a pé. Quái semp'e no dia a seguir.
Nisto, dé-me um derrepente, volt'-me p' à minha Maria:
- Olha Maria, amanhã, vô-me a pé p'ra casa... 'Tive aqui a pensar numa coisa e é o qu' ê cá vô fazer. Queres ir com-migo?
A minha Maria olhô assim de lado p'a mim, logo, béque-me quái que nã ligô. C'm' quem diz que nã tinha ôvido bem. Ó nã quereria acraditar no qu' ôvia...
- Atã, vás ó nã vás? - Dig'-l'e com a voz assim já mái grossa.
- Ó homem, mái atã tu sabes bem o que 'tás a d'zer?... Tu inda t' alembras o que custa andar uma lonjura dessas a pé? E, más a más, na tua idade...
- Sê munto bem o que digo, sim. E vô-me.
- Nã 'tás bom da cabeça...
- Esta nôte drome-se ali à das tuas amigas, c'm' 'tá falado, e, amanhã ô amanhecer, logo p'a fresquinha, abalo caminho de casa aí p'a estrada adiente. Tu, já que nã te sentes com pernas p'a isso, vás na carrêra e fazes lá um dec'merzinho daqueles bons, qu' ê lá 'tô p'r esse mê-dia em diante, uma hora da tarde.
- Ai o qu' havera de dar neste homem... Atã nã vês qu' isto é uma lonjura parva?!... Tu nã aguentas. Q'ond' eras novo, 'tá bem, agora...
- Pronto, nã se fala mái no caso.
E até daqui um dia ó dôs, qu' ê logo l'es conto o que dé a seguir.
Passem munto bem.
Olá amigo. Passo tantas vezes por este seu cantinho e nunca o cumprimentei. Pois não passa de hoje. Queria dizer-lhe que é sempre um momento de grande prazer ler os seus post. Na escrita surgem muitas parecenças com a maneira de falar do Baixo Alentejo do qual ainda tenho uma costela. Mas sei que depois no falar se afastam bastante. E é tudo. Era só para lhe dizer que sou uma visitante quase diária que não perde por nada este momento de bom humor e de tanto carinho que demonstra pelo seu sítio e suas gentes. Um grande abraço
ResponderEliminarOlha a fêra da minha terrinha! O ano passado fui mas este ano adiantei-me e já nã dê ido. Mas este ano com aquele grande avião sem asas deve ter tido munta gente, quanto mai na fosse pa ir ver o avião. Até á próxima ti Refoias!
ResponderEliminarEu já n vou à feira de S. Martinho, sei lá bem há quanto tempo... Mais de 10 anos, à vontade! Ehehhehe depois de ter chegado aos 30 parece-me tudo tão longe lá p trás! Mas adorava era os carrinhos de choque! Ui! Outra feira q não perdia era a de todos os Santos em Silves... Desta tenho mais recordações pois ia c o meu avô adorado! Aquele cheiro característico a farturas, castanhas, polvo assado e tantas outras coisas... Hummmmmmm Já me está a crescer água na boca!
ResponderEliminarSaudações cá da margem sul p o homem q nos dá as mais belas imagens das nossas terras!!