Fazia tenção e bem qu' ê cá gostava de l'es amostrar os presepos tôd's que p'r 'í fazeram - ó inda 'tã a fazer - mái atão, uns nã sê adonde eles 'tão, ôtr's inda nã nos tinham armado nesse mê tempo im qu' ê andí a tirar os retratos... É qu' isto, a famila tamém já s' ac'st'mô a dêxar tudo p' à últ'ma da hora e, atão, calham as coisas assim.
De manêras que, nã tenho mái remedo nenhum senã gov'rnar-me com os que dí tirado, e olhem qu' os retratos podem nã ser grande coisa - e nã sã, qu' ê sê que nã são - mái os presepos, se lá os irem ver ô lugar deles, sã do mái bonito que possa ser. Cada qual à su manêra, 'tá bom de ver...
E o pr'mêro que l'es amostro é duma parenta ali das bandas do Pomar Velho, que, méme ela me contô, désna de moça-pequena semp'e teve aquela queda p' ôs presepos. Des qu' aquilo não era só uma queda, era, béque-me, um viço qu' ela tinha, qu', em chigando o mês da festa, desatava logo a andar p'r 'qui e p'r 'lí à prègunta de coisas p'a armar o Menino Jasus e dêxá-lo bem infêtado.
Panhava tudo q'onto podia de coisas bonitas. Ele era levas de musgo, gilbrabêro, fêtos daqueles mái jêtôses, pedacinhos de côrcha, pedrinhas airosas e ê sê cá que más... E, uma vez im casa, inq'onto os ôtras s' ad'vertiam, c'miam f'lhózes e coisas assim, ela levava lá de roda a pôr tudo im ordem e a rever-se no que tinha fêto.
Nesse tempo, tôd's se tinha pôca coisa ó quái nada, e, atão, tudo servia p'a pôr lá. Era os bonèquinhos da Sagrada Famila - repáirem bem qu' este até tem dôs Meninos Jasus... - os rês magos, o anjinho e a estrela, o burro e a vaca, as borreguinhas e os moirales, casinhas e bonecos de toda a q'ôlidade.
E, c'mo este, havia um im quái todas as casas. Tôd's se tinha uma presunçanita d' amostrar o nosso a quem s' apròchigasse da nossa porta. E, quái nunca, faltava lá um pratinho p'a quem qu'sesse pôr uma moeda de cinco destõs p'a convindar os m'çalhos-pequenos que tinham ajudado a acartar as coisas p'a lá e a pô-las no lugar.
E aqui vão mái uns q'ontos.
Este é do maior negociante de fruta da estrada do Alferce e arredores - diz ele, o amigo Carlos...
Se qu'rerem ver este presepo, vã ali à Carrêrinha das Moças, àquela casa que vende fruta e ôtras coisas. O dono gosta qu' a gente l'e chame o "Rê da Fruta"....
Logo, mái prebaxinho, adonde há chôriças, morcelas, mólhes e ôtras coisas do melhor, tudo fêto à nossa manêra p'a senhora Fátima, tamém há um presepo de se l'e tirar o chapéu.
Inq'onto vêem este presepo, apr'vêtem a comprar uma chôricinha ó coisa assim. Que, na D. Fátima, há tudo do melhor im chôriças, morcelas, mólhes, presuntos e o que mái quêram....
E, agora, aqui vã dôs, assim mái p' ô moderno ó, sem ofensa, p' ô estrambólico. Qu' eles até que 'tão os dôs munto bem caçados e t'veram que dar munto trabalho e despesa... E fiquem sabendo que nã desgosto de nenhum, que tôd's têm o mémo fito d' amostrar o narcimento dum Meçalho-Pequeno, há mái de dôs mil anos.
Se foi assim c'm' se diz ó não, inda munta famila 'tá p'ra saber, mái c'm' o respêtinho é munto bonito, quem acradita, acradita, e os que nã 'tã assim tã certos ficam calados. Tanto dum lado c'm' do ôtro tem qu' haver boa-vontade p' à gente s' aturar uns ôs ôtr's.
O pr'mêro é do Alferce. 'Tá fêto com bonecos quái do nosso tamanho e é munto ad'v'rtido. Até um molêro tem, a caminho do moinho com o sê burro, de cabresto - com arreata mái sem entrólhos - carregado de talegos de trigo, bem albardado com um belo aparelho - com atafazes, arrabicha e tudo - cilha, sobrecarga, baraço de carregar e garrôcho.
E, se nã 'tô atribuído - que nã l' olhí bem e no retrato nã se vê - até tem b'quêra tanto na cilha c'm' na sobrecarga. Serrilhão, béque-me, tamém nã tem. Mái, c'm' o bicho é mansinho, o alm'creve fez munto bem im nã l' o pôr, p'a nã ferir o pobrezinho do animal, já que de barbilho tamém nã tem míngua que nã incontra nada de jêto p'a jogar a boca no caminho...
P'a f'car inda más ô queres, só gabava que tamém l'e t'vessem posto um paninho d' ancas e um pindurico de cascavés, p'a ir 'scalhando p'o caminho... Tinha logo ôtro ar de festa. Mái nã façam caso qu' isto é só uma conversa, qu' o bicho 'tá bem arrenjado, sa senhora, c'm' ê cá nunca pensí de ver...
Este presepo do Alferce já o fazeram mái do q' uma vez. E tem fama p'r cá....
O ôtro, tamém com figuras bem grandes, 'tá na Bica Boa.
Dé-se o caso d' ê cá ter ido lá p' àquelas bandas e, aquilo, uma pessoa, méme que nã quêra, passa na estrada e dá logo com olhos nele...
O da Bica Boa tamém é vistoso ô bem fêto....
E agora, mês belos amig's, despôs de l'es amostrar estes presepos, só gostava de l'es d'zer mái uma coiséca. Cá na nossa casa já nã se faz nada disto. Só a minha Maria é qu' inda põe p' aí uns bonecalhos - sem ofensa - que sã umas amençõs de presepos, só com mêa-dúiza de figuras, e acende um pavio, à nôte, q'ondo a gente 'tá p' ali a fazer tempo p'a se dêtar.
Des qu' o Natal é q'ondo a gente munto bem le dar nas ganas. Mái cá p' ô Parente, béque-me, nã é bem assim, qu' a vida, despôs de muntos anos de trabalhos, vai fazendo a gente alcançar qu' a famila nã é o que se cuda qu' ela é, e a paga de se fazer bem é, as más das vezes, arreceber o mal.
Atão, este tempo, qu' havera de ser de contentamento, nã me dá gosto nenhum. Que só vejo é fingimento e falsetas.
Premode, a famila cuda que comprando tudo o que 'tá drento das lojas e dando ôs ôtr's 'tá a fazer uma grande figura... Nã 'tá nã senhora, qu' o d'nhêro é um ingano.
O qu' os ôtr's têm precisão e 'tã à espera nã é disso. É dum palêzinho dum amigo daqueles de verdade, dum abraço de quem nã tem a coraja do dar, dum desagravo de quem nã nos dá incarado de frente - e lá sabe o perquém - ó uma menção, méme que desapercebida, de c'm' quem diz m't'ôbrigado. Qu' o resto dá-se fêto nôtra altura quasequer, havendo vontade...
Nã se desqueçam que, c'm' dizia o Meçalho que vai narcer dia 25, há os que andam vestidos de borreguinhos - e borregas - p'r fora mái p' drento sã lobos e lobas do pior...
Atã assim, fico em ferros p'ra que vomecês tôd's passem um Natal que dure tanto c'm' 365 dias, sim tirar nim pôr.
E qu' o Meçalho l'es traga o que mecêas munto bem l' es dê cobiça.
Munte obrigade parente! Pôs ê cá deseje-le o même a si e á sua Maria. Aqui nem preséps fazem, nem se encontra nada pa os fazer nas lojas, tá visto que nã acreditan même cu meçalho que narceu era o menine Jesus. É cá atão munte pouc d'nhêre dou ás lojas, même nesta altura, mái sempre góste d'fazer a árvore de Natal. Feliz natal aí pa esses lades pa tod'agente e aqui para todes os nosses blogueros. Quonde será que dãn uma esprêtadela no mês blogs, que tenhe logo dôs.
ResponderEliminarAproveito para lhe desejar também um Bom Natal e um Ano Novo muito feliz para si e para todos os seus.
ResponderEliminarUm beijinho grande
Emoção de ler as simples palavras de quem gosta de coisas simples. É assim como dizes, amigo. Nada compra "Amor" uns pelos outros. Abç
ResponderEliminarUm bom Natal para si e para a sua Maria, e continue a deliciar-nos com as suas aventuras.
ResponderEliminarParabéns pelo site que é do melhor que se pode encontrar neste mundo da internet.
Rui Rosa
Dés l'es pague a tôd's.
ResponderEliminarE p' ô mê belo parente Rui Rosa cá vai um grande abraço e que seja munto bem par'cido p'r 'qui.