20 junho 2007

A Biblioteca de Monchique

Biblioteca de Monchique
A Biblioteca de Monchique tem o nome do homem que mái fez por ela: António da Silva Carriço.

Um destes dias, fui até à Biblioteca à prègunta dum livro qu' ê cá fazia gosto de ver. Foi até a menina Ana Pinto me disse qu' ele 'tava lá e valia a pena gastar um coisinho de tempo a desfolhá-lo.

É um livro que trata das imajas quái todas de santos que cá há, tanto se faz na Vila, c'm' im Marmelete ó no Alferce, e chama-se Inventário Artístico do Algarve - A Talha e a Imaginária - XIV - Concelho de Monchique.

Quem no fez foi um amigo bom, qu' ê cá conheci im moço-pequeno: Francisco Lameiras. Só l'es sê d'zer que ele creceu, moé a cabeça, encrençô-se com aquelas coisas da arte e, agora, ninguém dá conta dele... Pro jêto, nã há ôtro, no Algarve, que saiba tanto de igrejas, imajas e tudo o que seja de monumentos e coisas assim...

E a menina Ana Pinto, ó ê cá 'tô munto atribuído - que nã 'tô - ó vai p'r o méme caminho. Atã, a mecinha 'tá lá p' àquelas bandas de Lisboa, béque-me no Barrêro, e sabe tudo o que diga respêto aqui ôs monumentos de Monchique... E d' ôtres lados, tamém, nã pensem...

E a tirar retratos nã é qualquer um que l'e tira a palhinha. Se nã acraditam, vejam lá aqui no site dela que se chama "Aranni"... Vã lá que dã o tempo p'r bem impregue.

Biblioteca de Monchique
A Biblioteca fica nos altos da casa, mái tem lá uma famila tã porrêra a atender a gente...

Mái, voltando à Biblioteca, p'a l'es d'zer a verdade, é um sito adonde tenho ido pôco ô nada, que nã tenho tido munto vagar - dá semp'e jêto a gente dar assim uma boa r'zão p'a se fazer as coisas, qu' é o caso de nã se ter vagar... 'Tão a comprender, nã 'tão?...

E, atão, nesse dia, lá arrenjí um vagarinho e fui até lá.

Pus-me às escadas prê acima, de vagarinho p'a ver bem c'm' é a coisa era. Chego ôs altos da casa, nã sabia o qu' havera de fazer, f'quí assim um coisinho incolhido a olhar desapercebido p'a todos os lados a ver o qu' é qu' a coisa dava.

Nã tardô nada, uma senhora que 'tava p' trás do balcão, munto fina, prècurô-me o qu' é qu' ê cá queria.

- Eh'q, pôs vinha ver se me podiam emp'estar p' aí um livrinho qu' uma pessoa me disse qu' era jêtoso...

- Atão e que livro é? É qu' a Biblioteca pode tê-lo, mas não estar cá...

- Ah, pôs, más essa pessoa des que viu na internet e mecêas, ontem, tinham-no...

- Atã diga lá o nome...

- Ê cá sô ali daquela famila da Refóias... Sou o...

- Nã é isso qu' ê quero saber... É o nome do livro...

- Ah, s' é o nome do livro tenho aqui neste papelinho, qu' ele é bem munto comprido e ê tive medo nã me fosse desquecer...

E lá passí o papelinho p' às mãs daquela senhora tã bem falante - uma pessoa que nã era só ser bem par'cida, era tamém do melhor que podia ser e haver, qu' isso via-se logo p'r o jêto dela.

E, olhem, acalcô p' ali num botão do comp'tador, assim me disse logo:

- Temos cá, sa senhora.

'Tá bom de ver qu' ela nã falava assim c'm' ê cá 'tô a d'zer, qu' ela até béque-me nã sê s' é cá de Monchique se não é, mái, calhando, nã é.

- Atã, e trôsse o sê cartanito? Dê-mo lá aí, fazendo favor...

- Cartanito...

- Ah, nã tem nada im ser a pr'mêra vez qu' aqui vem...

- Agora é que mecêa acertô im chêo... Inda nunca tinha aqui antrado. Mái, o b'lhete d' identidade, tenho aqui na pataca...

Cartão da Biblioteca de Monchique

- Atão, 'tá tudo bem. Com esse, faço-l'e já aqui o ôtro.

E aquilo foi um foguete. A Senhora p' ali escrevenhô no comp'tador, prècurô-me adonde é qu' ê cá morava, adonde é que nã morava, e tal e tal, e assim me dé um cartanito do mái bonito que possa ser. Olhem bem p'ra ele...

Agora, disse-me ela, cada vez que lá vá, é só levá-lo qu' ela incost'-ô ali àquele aparelho, assim parêce logo o mê nome e os livros qu' ê tenho imprestados e essa coisada toda.

E lá me mandô ir escolher os livros qu' ê cá munto bem intendesse, désna que nã fossem mái do que três. Mái, p'a ê nã m' inganar, foi-me insinar adonde é que 'tava aquele qu' ê levava d' incomenda e disse-me logo:

- Olhe, esta estante aqui é tudo livros que dizem respêto a Monchique. É só escolher. Mái nã traga os da bolinha incarnada, qu' esses sã só p'a se lerem aqui drento!...

- Sa senhora, 'teja descansada qu' ê já intendi... E m't'ôbrigado, m't' agradecido...

Más, ê cá, logo, até quái que f'quí p' ali insampado, a olhar p' àquilo tudo, tant' ô livro, tanta estante, tante coisa... Olhava p'a um lado, só via estantes e livros. Olhava p' ô ôtro, a méma coisa... Chegô a um ponto, até já nã sabia bem p'a que lado é que 'tava voltado...

Mái, passí assim os dedos p'r as vistas, abaní a cabeça, dí dôs passos p' à banda de lá, cocí uma com'chanita que me deu aqui na cova do ladrão, e a coisa foi ô lugar. E lá me pus a ingrilar a ver se dava com algum livro que tamém me calhasse trazer, já nã falando do qu' ê ia b'scar d' apr'pósito.

Biblioteca de Monchique
Só vendo é qu' a gente sabe a livraria que p'ra lá 'tá...

Mái, nesse mê tempo, 'tavam p 'ali uns meçalhos e umas meçalhas assantados a umas mesas, cada qual com o sê livro na mão, béque-me falando baxinho uns com os ôtros. Pus-me a olhar p'ra eles, todo imbasbacado, qu' até me desqueci do que 'tava a fazer.

Más olhem qu' aquilo até dava gosto ôvi-los falar. Eram já c'm' dôtores im ponto pequeno!... Um porque assim e ôtro porque assado, e más isto e más aquilo, e despôs metiam p'r 'lí uns nomes im estrangêro, e vá de escrevinharem nuns cadernos... Coisa bonita...

Até qu' eles viram qu' ê cá nã l'e tirava as vistas de cima, puseram-se tamém a olhar p'ra mim. F'quí p' ô imbatucado, mái, passado um 'stante, desatô tudo a rir e cada qual voltô ô sê serviço. Eles puseram-se lá a ler os sês livrinhos deles e ê cá fui à prècura dos mês.

Jogo a mã, assim, à sorte, olhem no qu' ê cá agarrí logo. Mal o aibro, vejo uma cara conhecida... Digo p'ra mim:

- Mái atã isto nã é aquela rapariga, filha da D. Maria Laura e do senhor Dôtor Ventura, que faz uns quadros do mái bonito que há e trabalha com teares e tudo?!... Pôs é!...

E era. Era a senhora Zé Ventura, qu' é uma artista munto conhecida cá e im munta banda, mémo no estrangêro, e tem este livro com uma bela manchinha de coisas qu' ela fez. Ora, trusse-o logo... D'zer a verdade, ia-o era logo lendo todo lá, que 'tava ali uma mesa perto e apr'vêtí p'a m' assantar um pôcachinho...

Agora, aqui im casa, até a minha Maria, mal acaba d' arrumar a cozinha, assanta-se logo ô pé de mim e vá de l'e passar as folhas duma à uma. Ela, atão, fica emprensada é com aqueles lindos trabalhos fêtos no tear. Ê cá gosto tamém desses, mái os quadros acho-os béque-me inda mái bonitos...

Zé Ventura:
Mal olhí p' à estante, assim f'quí com este lind'ssíss'mo livro nas mãs...

- Nã ôves, atão esta mecinha nã é de cá de Monchique? Béque-me 'tô lembrada da ver p'r 'í im meçalha-pequena... - prècurô-me a minha Maria, uma nôte destas.

- Foi criada cá, até ser já uma bela rapariga... Atã nã t' alembras?!... Despôs é que foi estudar e já nã voltô p'ra cá. Agora 'tá lá p'ra baxo p'a Vila Nova.

- Ah, pôs...

- Mái tenho a firme certeza qu' ela gosta de Monchique tal e qual c'm' s' inda morasse cá... Nã há ninguém que tenha narcido ó morado nesta terra e se vá imbora que nã fique sempre com umas soidades marafadas disto...

- Ê cá, atão, às vezes, já m' aborrêce de certas coisas... Há famila que, béque-me, só sabe é s' emportar com a vida de cada um...

- Ó m'lher, isso é im todo ô lado... Dêxa isso da mão... Isso, agora, já é mái os qu' andam metidos na política, ó se querem meter nela, qu' andam sempre com p'lémicas... Há p'r 'í um ó ôtro que, méme nã valendo nada, pensa qu' é munto esperto e vá d' ingraxar os que lá 'tão ó os que pensa que vã a seguir...

- Nã digo que nã tenhas r'zão, sim... Mái já m' aborrêce dos ôvir... Uns e ôtros...

- S' ires p'a ôtro lado, é igual. Todos andam à cata do mémo, m'lher...

- Lá isso é verdade...

- Olha lá, mudando de conversa, q'ondo é que vás tamém lá à Biblioteca dar o nome?

- P'ra quem?...

- P'a teres um cartanito c'm' ô meu e trazeres tamém uns livrinhos p'a se ler...

- Isso, bastas tu... Trazes p' ôs dôs.

- Más é qu' aquilo tamém se pode ir e ler lá, que mesas e cadêras nã faltam... E nã cudes que só lá têm livros...

E, p'a quem nã conhece, semp'e l'es digo qu' ele há lá muito mái coisas do que isso... Olhem, revistas, jornás e coisas assim nã faltam. E p' ôs que gostam de comp'tadores e internet, isso nã se fala... Têm lá um cantinho méme ô queres. É só chigar, assantar-se e ver o que se quêra, à nossa vontade...

Biblioteca de Monchique
P'a quem goste da internet, tem este cantinho com comp'tadores...

Atã, mês belos amigos, em tendem um coisinho de vagar, façam c'm' ê fiz, ontordia. Vã caminho da Biblioteca, se nã saberem bem que livros é que lá 'tão ó quás são os mái bonitos, prècuram lá àquelas senhoras qu' elas dizem-l'e logo. E elas, béque-me, até fazem gosto d' ajudar a gente...

E, despôs, logo me dizem se valé a pena ó não...

Fiquem-se com Dés e até a gente se ver.

3 comentários:

  1. Fez muito bem em dedicar este post à biblioteca municipal, ainda por cima nesta época do ano, ao mostrar o seu potencial enquanto local de actividades lúdicas, como a leitura de livros ou publicações, e podendo ali aceder-se à internet. Nesta altura de férias de Verão a biblioteca será bastante útil na ocupação dos tempos livres do mais jovens, ao mesmo tempo que contribui para a sua formação e cultura. Igualmente, os mais velhos têm acesso a esta alternativa para se manterem intelectualmente activos, e passarem umas tardes de leitura agradáveis, abrigados do calor.

    No entanto, para tudo isto, é necessário que haja mais iniciativas como a sua, de mostrar e sensibilizar a população de Monchique para a importância do contacto com os livros e as novas tecnologias de informação. Bem-haja.

    Agradeço-lhe o encorajamento das suas palavras amigas, e espero um dia vir a corresponder (nem que seja só um pouco) às suas expectativas!

    Cumprimentos meus e da D. Arminda.

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  2. É bom saber que a cultura está ao dispor de todos sem quaisquer discriminações. Pena é que nem todos saibam dar valor, e aproveitar um bem, que a democracia colocou, gratuitamente, à sua disposição.

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  3. Por acaso nunca fui mas fico contente por saber que foi uma coisa bem estudada!

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Obrigado por visitar e comentar "O Parente da Refóias"