10 junho 2007

O passêo do Corpo de Deus

Passeio do Corpo de Deus - Monchique
Entes da abalada, hôve quem desse o derrijo, p'a ninguém s' inganar...

Dia de Corpo de Dés, fazeram p' aí um passêo a pé p'a quem qu'sesse ir. Foi a Câmara que se meté nisso - e fez muntíss'mo de bem, qu' ele há p'r 'í famila que já quái que nã tira, com l'cença da palavra, as nalgas da cadêra - e, p'r o jêto, já nã é a pr'mêra vez que faz tal coisa, que já hôve ôtro nôt' ocasião.

Tã penas sube, mái õ menes à mêa-nôte da béspra, que foi q'ondo me fui assomar lá ô site da Câmara, pus-me logo a fancos p'a m' alevantar cedo e dar de vaia à minha Maria p'a ela s' alevantar e ver se s' achava com coraja p'a ir tamém e, ô méme tempo, arrenjar um farnelinho p'a se buchar a mê do caminho.

É que vê-me logo à idéa qu' a Câmara, c'm' anda assim um coisinho de cartêra vazia, nã havera de dar nada a quem lá fosse. Ó atão, vá lá que desse - c'm' deu - p' ali uma garrafeca d' água a cada um. E méme assim, calhando, nã teve nada im ser alguma lembrança lá deles das Caldas...

Isto, agora, tamém, já sará um coisinho de má-língua, qu' ê cá nã sê, ô certo, se foi se nã foi. A gente, quái sempre, tem-se p'r c'stume de d'zer mal das coisas sem mái nem quem e, d' ora im q'onto, só saem é parvoêras da boca de cada um.

Passeio do Corpo de Deus - Monchique
Logo ô prencipo, era a decer, nã custava nada...

De manêras que, falando verdade, só tenho a d'zer bem, que foi uma bela idéa dos da Câmara e, em fazendem mái alguma coisa daquelas, digam, qu' ê cá e a minha Maria só s' a gente nã saber ó nã se dar ido p'r qualquer r'zão é que nã se vai.

E p'a se saber, nã saria má idéa pôrem p'r 'í uns editás, mái que nã fosse, ali no Largo dos Chirõs e anunciarem na Rádio Fóia - qu' é uma coisa que toda a gente ôve - e méme até na missa. Calhando, pedindo-l'e com jêtinho, o senhor Prior era capaz de nã se furtar a fazer esse favorzinho...

Mái, dêxemos isso e vamos ô resto.

O dia 'tava do melhor p'a tal serviço. Bem munto infarruscado, mái, d' ora im q'onto, par'ceia um coisinho de sol. Fresquinho, com uma arajazinha ali do lado da Fóia, andava-se qu' era um incanto.

Ô prencipo, até ali p' ôs lados da Amorosa, era a decer, tudo andava qu' até zunia, mái im se voltando p'ra cimba, aí, a coisa t'mô ôtro jêto, qu' as canoiras d' alguns deram im fraquejar... É qu' aquilo, p'a quem nã tenha grande fôl'go, inda é uma ladêra marafada...

Passeio do Corpo de Deus - Monchique
No Corte Perêro, via-se montes com uns belos assentamentos de casas. Famila de posses, 'tá bom de ver, mái inda tudo a dormir...

P'a alcançar o Corte Perêro, más a más já vindo a pé désna da Vila, nã é qualquer um que , sem que nã l'e escorram umas bagas de suor p'r a cara abaxo e tenha qu' aparar a mê do caminho p'a tomar fôl'go...

Más, im chigando ô canto de cima da ladêra, dá-se com uma vista bonita. Uns belos assentamentos de casas - de famila com posses, 'tá bom de ver... - e uns belos cantêros, tudo tratadinho.

C'm' dava ares à famila inda 'tar tudo a dromir, que nem r'môr davam, inda hôve quem l'e viesse à cabeça panhar p'r 'lí uma laranjinha ó duas, qu' elas 'tavam méme a pedi-las e calhava bem ingolir quasequer coisinha. Mái foi só um derrepente que nã passô dali, nã fosse a famila l'e par'cer mal.

E lá s' abalô, ôtra vez, d'rêto à Nave, com os santos tôd's à ajudarem, qu' era a decer e de que manêra. S' um homem nã metia travõs a fundo, abalava à mecha toda, nã sê adonde é qu' o iam panhar. Drento d' algum balsedo, calhando...

Passeio do Corpo de Deus - Monchique
Na decida p' às bandas da Nave, dé-se com esta vista. De fêa que é, até fica bem no retrato...

E, com os tacõs das botas semp'e bem afincados no chão, nã tardando nada, já se 'tava a ver a pedrêra da Nave. Aquilo, cá p' à serra, é c'm' uma chaga qu' a gente tenha na nossa orgada. E daquelas que nunca mái se curam, das bem malinas... Mái p'a tirar retratos, dá semp'e jêto.

Um destes dias, em tendo jêto, logo l'es falo p' aí desta pedrêra com mái tempo, qu' isto é uma coisa que tem que se l'e diga. Mái, d'zer a verdade, inda ando a dar voltas ô miolo p'a ver c'm' é qu' ê cá vô-me fazer a coisa, de manêra a nã d'zer muntas alarvêrices. Qu' aquilo s' é ruim p'r um lado é bom p'r ôtro, e, atão, tem-se que ver bem o que se diz.

Ora, passando do em par da Nave já a gente levava mái de mê caminho fêto e, agora, era só manter aquele passinho compassado e aguentar até à Vila. Sim, que ninguém 'tava p'a dar parte de fraco e meter-se na carrinha qu' andava atrás da gente, carregada de garrafas d' água.

Méme uma senhora, que des que p'a lá ia com umas infias nos pés, aguentô-se até ô fim que nem uma valente. E olhem qu' isso nã é calçado capaz p'a se fazer, assim, uma viaja à pata. É certo e sabido que se fica com umas roeduras... Ela, pobrezinha, nã há-de ter grande prát'ca de coisas destas, más agora já f'cô sabendo que, p'a s' andar um belo pôco, tem-se que levar calçado im condiçõs.

Passeio do Corpo de Deus - Monchique
Ô fim, inda s' ajuntaram uns q'óntos p'a f'carem no retrato...

Ô certo, ô certo, é que, pôco passaria do mê-dia, já tudo 'tava a chigar ô Largo dos Chirõs. P'r menes ê cá, qu' os pr'mêros, calhando, chigaram uma mêa-hora entes.

E falo da minha Maria que, a seguir à subida do Corte Perêro, pôs-se a andar, mái l'gêra que nem sê o quem, nunca mái l'e pus as vistas im riba. Só a panhí na chigada, mái já ela 'tava assantada naqueles bancos, todos bonitos, que p' ali 'tão.

E nã sê s' é verdade ó não,mái já hôve p' aí uns zum-zuns qu' iam mexer naquilo ôtra vez p'a mudar o Largo. Más ê cá nã acradito nisso.

E, c'm' ê uso a fazer, aqui l'es dêxo mái uma manchinha de retratos do passêo do Corpo de Deus. Querendem ver, é só acalcar aqui im retratos que vã parar adonde eles 'tão.

Fiquem-se com Dés e até que se faça ôtro passêo destes.

3 comentários:

  1. Iniciativa de louvar por parte da Câmara que pecou por ter poucos participantes. Infelizmente, as pessoas gostam pouco de se mexer, o que não é o caso da minha mãe, que participou neste e no anterior passeio. Espero que no próximo, se houver, eu esteja em Monchique para participar.

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  2. Eu já sabia que o compadre estava em boa forma física, mas dá para ver que o compadre fez o percurso em duplicado, com tanta foto que tirou. Teve que parar e depois ultrapassar o pelotão. Oh compadre, essa de montes com belos assentamentos de casa, era piada para alguém? Olhe que eu sempre sonhei com uma casa naquele local. Será que o compadre utilizou outros meios de transporte? Foi de cavalo, foi de mata-velhos, ou foi simplesmente a pé como todos os outros? Ou aproveitou a boleia do carro da distribuição de água? Diga-me compadre qual foi o segredo, porque para a próxima eu também quero ir numa viagem dessas!

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  3. Belo passeio, sim senhor! De repente senti saudades do ar da serra...

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