Já há uns belos dias qu' ê 'tava à espera disto. A Cochina, a minha porca branca, andava-me já a dar sinás qu 'tava prestes a ter os bác'ros e ela nã usa a enganar. Já teve umas q'ontas barrigas e tem batido semp'e certo.
Aquilo é agente l' apolgar uma teta do mêo, em dêtando um pingo de lête, 'tá p'r horas... Foi o que se deu. A marafada tem é o c'stume de fazer aquele trabalho sempre de nôte. Lá tem uma pessoa de f'car ali ô pé dela até às tantas, d' alenterna acesa, panhando frio e batendo o quêxo.
Desta vez, a luz começô-me a fraquejar, ê bem dava ô resisto, mái atã sem pitrol, qu' o dêxí acabar, até a torcida ardeu quái toda. Toca d' ir a casa, a mê da nôte, encher a alenterna ôtra vez...
Mal voltí, já a Cochina tava-se a espremer p' ô pr'mêro bacorinho sair. E, inda assim, despachô-se em men's de nada. Só o últ'mo é qu' ê pensava dela já nã ter mái nenhum e inda par'cé aquele, passado um belo pôco.
Mái nã posso clamar munto qu' ela nã dá encómado nenhum. Aquilo é só panhar os b'chinhos do chão, alimpá-los méme com palha ó ôtros panascos e gôrdá-los drento duma casnastra, nã vá a mãe pisá-los enq'onto os ôtros narcem. Despôs, é só prantá-los ô pé da barriga da mãe p'a eles começarem a mamar.
Ô prencípio, custam a acertar, mái, em vendem com-m' é, até dá gosto vê-los a mamar. Q'ondo 'tão na apòjinha, atão, nã se fala...
E a Cochina trata bem deles. Vê-se os b'chinhos cr'cer de dia p'ra dia. É boa criadêra. Assim ela fosse em tudo o resto. Mái nã é. Q'ondo 'tá sòzinha é danada. O bicho parêce que tem azôgue...
Na última vez qu' ela andô de maré, enq'onto nã a leví ô varrasco, afossô-me aquele curral todo, nã parava nem um 'stante, empinava-se, ê sê cá o qu' é qu' o bicho fazia... Uma porca escrav'lhêra sem tirar nem pôr. O chão f'cô todo lavrado. Inda pensí em l'e pôr um anel, mái nã encontrí o alicate e passô-me. Aquilo foi a minha Maria qu' o usô p'a qualquer coisa e, q'ondo ela mexe numa ferramenta, já se sabe...
E q'ondo ê soltí a Cochina?!... Tã penas se viu na rua, punhana!, enfia-se p'r aquele caminho adiante a fugir, par'cia ela que já sabia adonde era o pecilgo do mê compadre Jôquim do Barranco... E, calhando, inda s' alembrava, qu' ela já tinha ido lá, q'ondo ressaíu a pr'mêra vez. E o mê compad'e tem lá um belo varrasco, lá isso tem. É o Trombão. Cada porca que lá vai nunca pare men's de dez bác'ros, é certo e sabido.
O mê compadre alomê-ô assim p'r ca'sa qu' ele tem o focinho munto comprido e revirado p'ra cima. E desta vez, o Trombão portô-se bem com' ele usa fazer. Fez lá o sê serviço dele, como deve de ser. Pobrezinho, via-se que já 'tava cansado, com a boca chêa de escuma a pingar p' ô chão e a afègar, más isso é o c'stume e dé bom resultado.
Más a velhaca, despôs, nã qu'ria abalar. Inda tive qu' arranjar uma varinha de vime p' à tocar. E foi, a bem d'zer, tod' ô caminho ela semp'e a qu'rer voltar p'a trás. Tém-mosa que nem um pórco...
É sempre assim, mái do resto nã me posso quêxar. Come tudo o que se l'e dá, é boa criadêra que nem tampôco inda matô um bacoréco, nunca se teve precisão de ch'mar o alvêtar qu' ela nunca f'cô doente... O qu' é que se quer más?
Bom, e com isto tudo dêxa-me lá ir ver com-m' é qu' os b'chinhos 'tã p' ali qu' ê já ôvi gornir. Nã há-de ser nada, más é semp'e bom m' assomar p'a ter a certeza. Tamém eles gornem p'r tudo e p'r nada, méme só p'r um irmão o empurrar da teta p'ra fora.
Até ôtro dia e Dés os ajude.
Absolutamento lindo, deve ser uma grande experiencia asistir a tudo isto, os meus parabéns, e que estes porquinhos tragam um dia mais porquinhos e alegria para todos ai na serra.
ResponderEliminarUm abraço
E cond´é qu'é a morte-porc'? Lá ver se sobra uma choriçínha pá gente assar com um coisinhe d'alcool. hahaha
ResponderEliminarA propósito da mãe porca e seus lindos bacorinhos: eu vivi em Corta Porcas e não gostava nada do nome; mesmo ao lado era o Vale do Linho e esse sim, ja achava um nome bonito.
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