21 abril 2006

O pr'mêro retrato que tirí

Encontrí esta erv'lhaca na Foz dos Barrancos, já ô lusco-fusco

Hoje é p'a d'zer m't'ôbrigado a quem tem vindo ler as minhas mimóiras. Sim, qu' a maior parte destas coisas deram-se, más ó men's com-m' ê conto aqui e quái todas já nôtros tempos. Más os nomes de parentes e compadres sã intrujice minha. Nã liguem a isso.

Mòrmente, vomecêas qu' andam aqui quái todos os dias de roda disto a fazerem comentáiros e a mandar emails, nã sê c'm' l' agradecer. P' à semana, faço tenção de falar más da Vila.

E atão, aqui l'es dêxo umas umas duas ó três f'tografias p'a mecês s' entreterem a ver. Nã sã grande coisa, mái atão, tanto ê cá com' á mánica, somos de fraca quôlideza. Mái olhem, faz-se aquilo que se .

P'r ca'sa disso, 'tô-me a alembrar da pr'mêra vez que tirí uma f'tografia. Olhava p'a drento da mánica, p'r aquele buraquinho, e nã via nada. E o qu' é qu' ê fiz? Fui, sem ninguém ver, exp'r'mentar com o mê Jericó.

Ora, pusemos-se lá os dôs, ê disse-l'e:

- Aí, chó! Queto. Queto qu' o dono vai aqui fazer uma f'neza.

Pus-m' a olhar p'r o buraquinho, nã via nada. Voltí aquilo p' ô ôt' lado, inda men's. E o Jericó a olhar de lado, com as orelhas munto espetadas, já farto de esperar. De vez em q'ondo, abanava o rabo p'a enxotar uma mosca que l' andava ali a picar nos quartos. Vá lá que nã era um atabão, senã nem ele s' aguentava ali tempo nenhum...

Lá fui, lá fui, vi ali aquele botanito, pus o dedo, olhí ôtra vez p'r o buraquinho, vi béque-me uma coisa azul, carreguí com o dedo, aquilo dé um estralo:

- Pronto, já 'tá. - Pensí.

Exp'rimentí mái umas três ô quatro vezes. Inda disse ô Jericó:

- Olh' ô passarinho! - Qu' ê, uma ocasião, ôvi um parente meu, que mora em Almada, d'zer isso.

Uma das vezes, ele até abanô a cabeça, mái nã ch'guí a alcançar s' aquilo era a mosca que l'e tinha picado nas orelhas ó s' era ele a fazer pôrra de mim. Ô certo, ô certo, é qu' o leví p' à pastaja e inda exp'rimentí ôtra vez. Más, o marafado, 'tava ê cá a l'e tirar uma assim de trazêra, sem más nem quem, desata a fazer bonicos.

- Ah, grande lavajão! Atã fazes-me uma acção dessas, méme qónd' ê 'tava a carregar no botão?... Tamém há-de f'car bonita, esta...

Inda quái que me dé assim um gé-n'zinho, agarrí num torrão, fiz que l'e jogava atrás, más ele dé uns passinhos à frente e f'cô logo a c'mer uns sivalhos num combro que 'tava um coisinho más adiante. Ele, tamém, já sabe qu' ê nunca l'e faço mal. Gosto do bicho quái com-mo s' ele fosse da famila.

Bom, vim-me embora, dêxí-o lá preso p'r uma pata a um baraço bem comprido, qu' é p' ô bicho poder andar à vontade, e fui logo tratar de pedir ô Zé Manel, o filho do mê compadre Jôquim do Barranco, p'a me mostrar as f'tografias no comp'tador.

Más o saganheta começô logo a judear com-migo...

- Ó ti Refóias, atã mecêa, agora, já tira f'tografias?... Mecê errô no òfício, homem. Em vez d' andar p' aí a esgravatar nos cantêros, havera de ter abrido uma casa de retratos...

D'zia isto e desmanchava-se a rir. Mái, lá pôs p' ali aquilo. Par'cé logo quásequer coisa na tel'visanita do comp'tador. Era béque-me duas coisa pretas espetadas e o resto tudo azul.

- Põe lá isso bem, Zé Manel, qu' ê nã vejo aí nada que preste!...

- C'm'é que mecêa há-de ver alguma coisa de jêto se só panhô a ponta das orelhas do burro. Más um nada e só se via o céu, que nem uma nuvem tem p'a d'sfarçar...

- Ah, fado dum ladrão, aquilo par'cé-me tã mal... Só me dé vontade d' aventujar a mánica p'r aquela barrancêra abaxo que 'tá logo em par da rua!...

Ele passa p' à ôtra, o burro a fazer bonicos...

Atã é qu' ele enché' ô papinho de rir...

- O Jericó, agora 'tá-l'e a dar o presente, ti Refóias? E apr'vêtô-o bem? Sã gradinhos, de boa qôlidade...

Ê já 'tava a f'rver. Olha o que m' havera d' acontecer, han?!... Dá-me uma veneta, abalo caminho da porta, saio à rua, passo a toda a mecha p'r o Gargaludo, que 'tava ali com as galinhas dele, o bicho até dé um avoão com o medo que panhô.

- Ó ti Refóias, venha cá, nã se marafe, homem. Ist' é só uma brincadêra. Venha ver as ôtras que 'tã boas.

Bem podia ser verdade, mái lá p' ô lado dele é qu' ê já nã fui, nã.

- Olha lá, Zé Manel, dêxando de rir p'a mangar, anda cá aqui, qu' ê tenho ali uma garrafinha dela, na casa das batatas, e bebe-se-l'e aqui um calcezinho.

A ver s' ele dêxava aquilo e nã caçoava más com-migo.

Até qu' ele lá vêo e pronto. Foi assim a pr'mêra vez que tirí retratos.

Passem todos munto bem e que l'es saia o èromilhõs, mái-logo.

3 comentários:

  1. Ola.
    E sempre bom encontrar coisas da nossa terra ainda mais kuando estamos longe do outro lado do oceano, tou aki a 7 meses e ja tenho umas saudades enorme da serra k sempre irei amar.
    Continua o bom trabalho de divulgacao da nossa terra k ela merece.
    Um abraco
    Carlos "Mariano"

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  2. Deus o oiça! se me saísse o Euro-milhões abalava logo daqui pra fora, comprava uma quinta aí na Serra e reformava-me. Aí que bem que sabia!!!

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  3. mmmm um calcezinho dela é que era! :)))

    beijinhos e bom fim de semana!
    lena

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