Se, q'ondo fez esta fonte, d'zessem ô mestre qu' os qu' inda 'tavam p'a narcer l' iam estragar a água, que nem um sede d' água se pode lá bober, tenho a firme certeza qu' ele nã acraditava nessa conversa e, se fazesse caso disso, qu'ria más jogar o martelo, a colher e o fortaço p'a um balsedo do que 'tar a perder tempo e afiturar-se a nã ser respêtado p'a famila d' agora.
Há muntíss'mos anos qu' ê nã ia lá - que me fica fora de volta - e já fazia conta com isto, qu' as fontes da Vila 'tá tudo na méma desgraça, mái méme assim, q'ondo lá cheguí e vi aquela chapa a d'zer qu' a água nã presta, inda se me pôs aqui um aperto no pêto qu' até m' assentí ali na parede do tãinque a pensar.
A todas fontes que vô, lá 'tá aquela chapa escamungada, semp'e a d'zer o mémo. Ora, quem vem de fora o qu' é que vai em-maginar. Qu' isto aqui em Monchique 'tá tudo empèstado com a p'rquêra das malhadas de porc's. Ôtra coisa nã sará de esperar.
E p'r más que pense nã dô alcançado o perquem disto tudo que se passa agora. Em tã pôcos anos, já viram bem com-m' às coisas mudaram... Umas p'a bem, é verdade, más ôtras, punhana!, nã me venham cá com coisas que sô ê cá que 'tô velho... Qu' ê 'tô velho, 'tô, mái inda nã 'tô parvo dum todo.
Atã, vejam bem o que se dé nesta serra em pôco mái de trinta ó q'ôrenta anos:
A água escasseô, nã há nem das dez partes uma.
O alvoredo é o que se sabe. Nã há sobreras, qu' arderam. Os madronhêros foram arrencados e, os que f'caram, nã sã tratados. E vá lá que s' aguentam com os encêndios e arrebentam quái tôd's. Pomares de perêros é coisa que pôco se vê. Castanhêros 'tã quái acabados. E por 'í diente. Mái calitros, isso nã faltam em lado nenhum...
Porcos, nôt's tempos, cada um tinha o seu, ó dôs ó três, consoante as posses, e era p'ô gasto da casa. Agora é o que se vê. Malhadas p'r onde calha, grande parte sem respêtarem coisíss'ma nenhuma. Nem as nacentes, nem os barrancos, nem as barrajas, nem nada...
Mái dêxemos lá isso e vamos más é falar da Fonte da Mata-Porcas, que, se nã fosse a água 'tar estragada, era uma coisa inda mái de se l'e tirar o chapéu. Olhem que já vai a caminho dos 140 anos de ser fêta...
E, tirando a parte de nã na caiarem e ter jêto de 'tar mái p' ô abandonado qu' ôtra coisa, é um trabalho qu', inda hoje, dá gosto ver. Aquilo é tudo bonito. O tãinque, as bicas, a calçada... Atã e aquela sombra p' à gente, agora no Verão, f'car ali uma tarde toda a gozar a fresquidão enq'onto s' aprecêa as camelêras e ôtras arves que lá 'tão, em sossego e sem os roncos de carros e b'cicletas?...
E, nã sê perquem, 'tá-me cá a par'cer qu', a nã ser a famila que veve ali p' àquelas bandas e passa ali, inda bem não, pôca gente vai devassar uma coisa tã bonita e ali tã à mão. 'Tarê enganado? Ó é méme verdade que quái ninguém da Vila, ó d' ôt'a banda, s' alembra qu' aquilo 'tá lá. Olhem que tem jêto de ser pôco pisado...
Pode-se apr'vêtar a andar um belo pôco a pé até lá e, despôs, aparar, descansar as pernas, b'ber um coisinho d' água que se leve numa garrafinha, ó até c'mer uma bucha. Bancos p'a s'assentarem só há p'r trás do tãinque, ô pé da bica da nacente, mái as paredes do tâinque e as calêras da calçada tamém servem munto bem, p'a quem quer f'car mái à vista.
Pôs ê cá, um dia destes, fiz isso com a minha Maria e umas amigas dela lá de baxo do Algarve. Mecêas haveram de ver a sast'fação delas de verem aquilo e ôtras coisas assim c'm' àquilo. As m'lheres, sem ofensa, até faziam quái figura de moças-pequenas...
Uma, a Bètinha, des que tem umas flores, coisa linda, lá na casa dela, drento de casa e no regréss'mo. E atão, 'tá semp'e adorando aquilo e nã vai p'a lado nenhum que nã tenha de levar um braçado delas p'a despôr. Más a m'lher nã sabe o qu' é que são flores e o qu' é que sã ervas ruins ó méme ven'nosas.
Tudo o que vê, panha. Parte das vezes, puxa p'l' aquilo, nem raiz levam. Ora, 'tá-se méme a ver o resultado. Em cada dez nã há uma que pegue...
Nessa ocasião, panhô de tudo. Maldades d' homem, flores da inveja, moitas, jóinas, mongariças, ê sê cá o qu' é qu' ela nã levô. Pôs olhem qu' encheu bem dôs sacos de plástico, daqueles grandes do lixo, e inda levava uma preção delas num braçado. É que qualquer saramago l'e serve...
Inda l'e disse s' ela nã qu'ria tamém uma poda de tójo e ôtra de balsa, mái ela, aí, nã foi nisso. Vi' logo qu' aquilo picava...
É que Monchique tem munta coisa bonita ô bem fêto. E, q'ondo digo Monchique, 'tô a qu'rer d'zer a Vila, a Serra toda, Marmelete, Alferce, Caldas, Casais, tudo o que pertence ô concelho, pronto, seja ele campo ó casas.
Mái, muntas vezes, uma boa parte dos que sã de cá, nã se dã ô trabalho de apreciar, q'onto más de manter essas coisas. E vem-me logo â idéa o qu' a gente sabe: o convento, o colégio, as fontes e ôtras tantas coisas...
Inda l'es digo más. Se nã ser a gente a gostar do qu' é nosso, fica-se à espera que sejam os ôtr's?... Eles tamém hõ-de gostar, mái é preciso a gente ter tudo a dar cobiça.
Vá lá senhores presidentes das Juntas e da Câm'ra, vomecêas já fazeram umas belas coisecas, nã posso d'zer que não, mái nã podem aparar. Há, inda, muntas má's p'r fazer.
Com coisas, com-m' à Fonte da Mata-Porcas e as ôtras fontes todas, arrenjadinhas; com o convento como já havera de 'tar, faz que tempos; com muntas casas, que 'tão a cair de velhas na Vila e nos Pôvos, fêtas de novo ó rabocadas e pintadas...
Ah, mês belos amigos, isto inda pode ser a coisa más envejada aqui do sul. Os estrangêros e méme muntos portugueses pélam-se p'r isto, qu' eles tamém já 'tã fartos daquele lanedo todo adonde andam semp'e metidos.
Méme sem poderem lá bober, nã se fiquem sem ir, um dia destes, à Fonte da Mara-Porcas, qu' hõ-de ver com-m' é que se passa uma bela tarde. Abalem assim das três ó quatro em diante, méme que faça calor. Nã tenham medo ô sol, qu' aquilo tem lá uma sombra do mái fresco que há. E advirtam-se.
Passem munto bem. Até a gente se ver.
Parente! É quer ir e na sê onde fica a fonte. Na me diz ond'équ'é'?
ResponderEliminarP' ô António e p'a mái quem qu'ser lá ir, vô-me dexplicar com-m' se vai p'à Fonte da Mata-Porcas.
ResponderEliminarEla 'tá logo ali à saída da Vila p' ô lado do Peso e do Barranco dos Pisõs.
Nã tem nada qu' enganar.
Abaland'-se d' ô pé da Câm'ra e da Igreja do Senhor dos Passos, assóbe-se uns cem ó d'zent's metr's na estrada do Peso.
Ô passar em par da araucária (a que 'tá p'r cimba do tãinque do povo, nã é cá a do Largo dos Chorõs), vira-se na pr'mêra estrada à d'rêta, um nadinha logo mái preciminha.
Pronto, 'tá-se logo lá.
Façam boa viaja e advirtam-se.
PS: Pedi ô Zé Manel e ele fez-me um desenho. Vejam no fim do post, fazendo favor.
O Parente da Refóias
Obrigado.
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