Que belo torno d' água que dêta a bica da Fonte da Caraça
Ali p' ô Pomar Velho, quái no caminho da magnólia, 'tá ôt'a fonte que dêta um torno d' água qu' é um consolo. Com a água que tem e no sito adonde fica, s' a Junta de Freguesia a arrenjasse f'cava uma coisa linda...
Méme assim, ô dés dará, ela é bonita e vê-se qu' a famila d' ali d' ô pé despuseram lá umas florinhas e ôlham p'r elas. Mái qu' aquilo murcía uma coisa melhor, essa ninguém me tira. E já levando em conta qu' a água nã 'tá capaz p'a bober... Qu' isso é ôtr' caso que dá munto que pensar.
Q'ond' ê era moço-pequeno, p'r tôd' ô lado havia fontes nesta serra e a água era boa. A gente bebia até naquelas córgas que gemiam água tôd' ô ano e f'cavam assim mái desviadas . Era toda boa...
Despôs, puseram-se p' aí a despôr calitros - alguns, até nos cantêros, fazeram esse trabalho - uma àmetade ó más das nascentes secaram-se, os barrancos, grande parte deles, acontecé-l'e o mémo. Más a qu' havia inda era capaz p'a se b'ber...
Daí em diante, par'ceram os porcos brancos, aí é que deram cabo do resto... Tôd' ô bicho-careto tinha uma malhada de porcos, despejavam a porcaria deles fosse p'a donde fosse, ia tudo parar ôs barrancos e às rebêras.
Más, entes, parte daquela nata ia-se metendo na terra até que chigô ôs nascentes. E pronto. Agora 'tá a Fonte da Caraça naquele estado. Nã vêem aquela chapa azul pregada na pedra a d'zer qu' a água nã presta?!...
Mái, se fosse só aquela, inda vá que nã vá. O pior é que 'tá quái tudo assim. Vai-se à estrada do Alferce é o mémo, à estrada da Fóia igual, à estrada de Marmelete nem se fala...
Isto até custa meter cá na cachimóina. Atão uma terra com uma água tã boa que nã conheço adonde possa haver igual e já nã se pode b'ber uma sede d' água quái em banda nenhuma, que 'tá toda ruim?!...
Olhem, logo preciminho da Fonte da Caraça 'tá ôtra, e essa, c'm' nã é da Câmb'ra, já nã tem chapa nenhuma. Sará que nessa, desviada p' aí uns cinquenta ó cem metros, já se pode b'ber? Calhando, não. Ê cá, nã m' afituro a isso qu' ê tenho medo de panhar algumas febres e inda ser obrigado a ir ô dôtor...
Qu' ela é bem fresquinha e até apetêce, é verdade, mái vá lá uma pessoa se descudar e despôs ver-se em traquetes... A minha Maria tem munto cudado com coisas dessas.
Des qu' uma ocasião, em pequenalha, b'beu uma água ruim dum rego que passava lá à rés da casa da avó dela, teve umas febres tã grandes ó tã pequenas que 'tava na cama e só via tudo a arder. Contô-me ela que, dessa vez, se vi' bem empeçada.
Ora se já se teve uma água do melhor que pode ser e haver e hoje nã se tem, há-de haver alguma r'zão p'a isso. Ê cudo que sê qual é, mái os engenhêros e dôtores é que conhêcem disso e haveram de ter já fêto seja o que for p'a ver s' isto melhora.
Bem se tem ôvido falar em fossas, numa estação de tratamento e tal e tal... Nã se vê é nada fêto. E os m'lhêros de porcos qu' há aí p'r tôd' ô lado, tôd's dias, a estrumarem e a porcaria deles a dar cabo da nossa bela àgu-inha.
E fic'-me p'r 'qui. Vamos a ver s' inda chigará um dia que se dê bobido água nas fontes todas sem cagufa de panhar as tás febres.
Dés l'es dê saúde.
Ainda bem que existe quem inventarie os recantos pitorescos da nossa serra; desconhecia a existência da singela fonte da Caraça, mas registo-a desde já no roteiro das minhas próximas férias em Monchique (como apertam as suadades), e que o seu alerta sobre os problemas nos recursos hídricos do concelho sirva para que algo seja feito na defesa daquele bem tão precioso!
ResponderEliminarAi os termos: calitros, corgos, os moços-pequenos...
ResponderEliminarMoça-pequena ia eu à escola da Rua Nova, à catequese a Marmelete, à mercearia à Boavista, ou ao Corgo do Vale.
Ainda hoje, vou à Fóia, aos Casais, às Caldas, ao Pé da Cruz, comprar chouriços daqueles bons...ou à feira dos enchidos, ou ao mel do bom...
Saí criança de Monchique mas, minha terra e meu sotaque são sempre aí e daí!