04 abril 2006

Alferce - A Igreja de S. Romão

Igreja de S. Romão no Alferce

Um destes dias, passí p'r o Alferce. Q'ondo lá vô, tenho semp'e qu' ir à igreja de S. Romão qu' é uma coisa qu' ê gosto méme de devassar.

Pequenalha, toda caiadinha de branco, com aqueles dôs traços p' ô cinzento e uma entrada qu', ô ê m' engano munto, ó tamém é do tempo do Rê D. Manel, qu' é, como quem diz, más ó men's dessa era, q'ondo os portugueses andavam a descobrir ôt's sitos e a acartar aquelas riquezas lá da Índia e do Brasil cá p'à gente. Nã vêem qu' os alizares? Acabam em bico tal e qual com-m' faziam nesse tempo...

Nesses tempos é qu' isto era obra. Portugal era um país com teres, tinha nome aí p'r essa Êropa. Agora, só s' a jogar à bola...

P'r ca'sa disso, fui à prègunta de coisas na internet e dí com estes contos do Alferce, fêtos p'r um senhor cá de Monchique, que sabe munto e escrev' inda melhor. Ele chama-se Antóino Manel Venda e ê cá, béque-me, até me sinto um nadinha embatucado de nã no conhecer em pessoa, mái atão, inda nã calhô... Agora qu' ele é um monch'quêro que sabe escr'ver ô bem fêto, ninguém diga que não.

Mái, voltando à igreja de S. Romão, tanto qu' ê gosto dela, dé-me até paxão d'a ver, assim tã bonita, e, q'ondo olho lá p'ra cima, vejo a cruz mê a desandar p' ô lado...

Abaní a cabeça, pus-me a cismar, e, logo, cuidí qu' ê cá é que 'tava de lado. Mái, despôs, end'rêtí-me bem, esfr'guí as vistas, olhí ôtra vez e 'tava a ver bem.

Sai-me da boca, em voz alta:

- Mái, atão, nã há quem veja isto, senhor? Esta é qu' ê nã esp'rava...

Ô méme tempo, parêce p'r trás de mim o mê amigo Chico Bôicinhas, que mora lá no Povo de Baxo, ôve-me falocar sozinho, mete-se, logo, com-migo:

- Eh, ti Refóias, 'tá a falar com quem?... - Charolô. Más sabia ele que nã 'tava ali mái ninguém...

- Nã é nada, nã é nada... 'Tava só aqui a o'servar a cruz da igreja, toda torta... Atã vomecêas nã end'rêtam aquilo, perquém?

Más ele nã se f'cô e respondé-me logo ô consoante:

- Atã nã vê qu' aquilo foi, esta nôte, qu' hôve aí uma g'ande besaranha e fez aquele trabalho...

- Ó Chico, nã faças cachamôrra de mim qu' ê tenho quái idade p'a ser tê pai...

- É verdade!... Passô 'í uma manga de vento, ia levando tudo nos ares. - E voltava-se p'ô lado e desmanchava-se a rir.

Ê ia-l'e dar já uma répla c'm' devia de ser, ele nem me dá tempo, agarra-me a centura, puxa p'r mim e diz, munto lampêro:

- Olhe lá, dêxamos isso e vamos más é b'ber ali uns porretes à do Càxinha...

- Essa foi a pr'mêra palavra certa que tu d'zeste désna que chigaste. Vam's imbora qu' ê pago tamém uns...

O resto nã l'es conto, mái mecêas já calculam. Dêxí anoitecer na venda, ora pagas tu, ora pago ê cá e só abalí às tantas. O pior foi a minha Maria q'ondo cheguí a casa ôs lóres e custí a dar com a aldraba da porta...

Atã até um destes dias.

1 comentário:

  1. Então não ha ninguém que ponha a cruz da igreja direita? Será que o padre está à espera de um milagre?
    Ė pena, uma igreja simples, mas muito bonita, a porta de entrada é lindisima.

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