29 fevereiro 2008

As Tempras de Agosto. E os Dobres.

Barranco dos Pisões, junto ao Moinho do Poucochinho - Monchique
As Tempras d' Agosto bateram certas, sem tirar nem pôr. O Barranco dos Pisõs 'tava nisto...

- Calem-se pr' aí com isso, nã digam mái parvoêras... Ê cá já 'tô más é farto de tanta alarvidade... Ora verem o tempo dum ano entêro p'r o mês d' Agosto... S' isso sésse assim, p'a qu' é que servia aquela famila que dá o tempo na tel'visão?!...

- Tu nã acraditas, mái toda a vida foi assim e os antigos d'ziam que batia semp'e certo...

Isto era uma quesilha qu' o Zé Manel 'tava a ter com a mãe - a minha c'mad' C'stóida - premode a gente - ê cá, o Compad'e Jôquim do Barranco, ela e a minha Maria - se 'tar p' ali a falocar do tempo.

É que, nôtres tempos, a famila levava estas coisas a pêto e, p'r o jêto, batia certo, c'm' disse a c'mad' C'stóida. E ela lá sabe bem disso, que, mémo hoje im dia, inda se rigula mái p'r as Tempras d' Agosto, e os Dobres, que mémo p'r o qu' eles dizem aí na tel'fonia.

E ê cá era p'a ter levado repáiro à Senhora das Candêas p'a ver que tempo é que dava daí im diante, mái desqueci-me, nã leví. Sim, que mecêas conhêcem aquele dito "Candêas a rir, enverna p'ra vir; Candêas a chorar, enverna a acabar", qu' é uma coisa que tamém bate semp'e certo...

Cascata do Barbelote - Monchique
A Queda d' Água do Barbelote apresentava-se assim...

De manêras que, fui p' ô mê compadre Jôquim e prècurí-l'e o qu' é que as Tempras d' Agosto davam p'a este mês, e s' os Dobres tamém davam o mémo. Isso, atão, é uma coisa qu' ê cá, tôdes anos, faço p'r levar repáiro, mái aquilo era bom era apontar num papel e ê cá nunca aponto... pronto. C'm' sô munto desquècediço, barre-se-me tudo. É que, nesta idade, um homem já nã se pode fiar na mimóira...

Nã sê s' os mês belos amigos conhêcem isso das Tempras e dos Dobres... Ora conhêcem... Isso é certo e sabido... E, calhando, melhor do qu' ê cá!... Mái, já agora, p'a algum moço novo que nã saiba e p'a ê, tamém, ter assunto p'a escrever aqui, semp'e l'es digo do qu' é que se trata.

As Tempras d' Agosto é uma coisa do mái certo que há p'a se saber se chove ó se faz sol im qualquer mês do ano. Um homem chega a Agosto, leva bem repáiro ôs dias todos. E despôs, é só fazer as contas. Atã vejam lá se nã é:

Cascata do Chilrão - Monchique
No Chilrão, tamém dava gosto ver a água a pular cá p'ra baxo...

O pr'mêro nã conta, tira p'ra ele. O sigundo arremeda Janêro, o tercêro arremeda Fovrêro e p'r 'í adiante... o sete arremeda o S. João, o ôtro a seguir, o S. Pedro, e vai até ô treze qu' arremeda o Mês da Festa. Isto sã as Tempras.

Despôs, vem os Dobres: O catorze tira ôtra vez p'ra ele, nã conta. O quinze arremeda Janêro e p'r 'í fora até arremedar os ôtres meses tôdes. 'Tá-se a falar dos meses do ano que vem, 'tá bom de ver...

C'm' cada dia d' Agosto arremeda um mês, é só ver s' ele choveu, s' ele fez sol, s' ele 'teve en-nuvlado, ó se fez uma coisa e ôtra... E fica-se, logo, sabendo o que se vai dar im cada mês do ano que vem. Isto p'a quem se rigule dessa manêra, que só acradita quem qu'rer. Mái, des que sim, qu' é verdade...

D'zer a verdade, cá p'r mim, inda nunca dí tirado isto bem a limpo, qu' ê cá desqueço-me sempre do tempo que fez im Agosto... Mái lá que bate certo, 'tejam certos que bate... Atã, s' os antigos d'ziam que sim... E a minha c'madre C'stóida tamém afiança a méma coisa...

O certo, o certo, é que, este mês, tem chovido quasequer coisinha de jêto - mòrmente a semana passada - que já dé p'a chigar bem ôs nascentes. E foi premode isso qu' a gente s' alembrô a convindar o Zé Manel p'a alcançar os quatro ali ô Barbelote e a ôtres sitos adonde haja barrancos que levem uma bela àgu-inha e pulem aqueles grandes penedros, c'm' no Chilrão e no Penedo do Buraco.

Cascata do Penedo do Buraco - Monchique
A do Penedo do Buraco é a mái fraquinha. Mái, com jêto, inda se tira um retrato c'mo este...

E foi nessa viaja qu' o Zé Manel, já infèzado de tanto ôvir a gente os quatro a catarruar nas Tempras e nos Dobres, se saíu com aquela de nã qu'rer crer im nada disso. Qu' isto, a malta nova, agora, nã sabem nada destas coisas... Só aprendem é englês, comp'tadores, a fazer as contas com as mánicas que têm nos telemóvens, que nem da tabuada têm preciso, e p'r 'í adiente...

Ah, más inda tenho ôtra p'a l'es falar. O tempo tamém se pode ver nôtra ocasião... Nas foguêras de S. João...

Um fulano arrenja uma latinha adonde possa pôr doze môitanitos de sal - piqueninos... Pôe-os lá, com munto jêtinho, e marca cada qual com um mês do ano.

Em a foguêra 'tando bem ateada, salta p'r cimba dela nove vezes, com a lata nas mãs, sem intornar nada e, entes d' ir p' à cama, põe a latinha ô sereno, num sito abrigado p'a nã l'e dar o vento. Fica lá a nôte entêra.

Na manhã, em se levantando, logo cedo, vai caminho da lata e assoma-se ôs moitanitos do sal. Os que 'tarem derregados, nesses meses, chove. Os que 'tarem humidôsos, nesses meses dá branduras. Agora, os que 'tarem secos, tal e qual c'm' na béspra, nos meses deles nã cai nem uma pinga e faz uma soalhêra que nã há-de ser brincadêra!...

E foi com esta, atão, qu' o Zé Manel inda mái se marafô...

- Nã pode ser!... Nã me venham cá com isso que ninguém ad'vinha nada...

Barranco dos Pisões, junto ao Moinho do Poucochinho - Monchique
S' o Moinho do Poucochinho inda moesse tôdes dias, água nã l'e faltava...

-Ai ninguém ad'vinha... Isso é o que tu cudas. Más, inda tens munto qu' aprender, filho... Aqui a tu mãe já vi munta coisa com estes dôs qu' a terra l' há-de c'mer...

- Ó senhora, dêxe-se disso!...

- Atã e c'm' é qu' ê cá sabia qu' este mês dava este tempo? Foi qu' olhí bem às Tempras e ôs Dobres d' Agosto, o ano passado. Senã, andava às escuras...

- Atã diga lá - se sabe assim tã bem disso - que tempo é que faz p' ô mês que vem?... Vá, diga!... Semp'e quero ver...

- Olha, Zé Manel, nã tenho aqui o apontamento qu' ê cá t'mí disso, que foi nas costas do Almanaque da Nossa Senhora de Fátima qu' ê tenho lá na menza de cabecêra, mái, im se chigando a casa, logo te digo. E logo vês se nã bate certo...

- Atã nã bate... é o bates...

- Más alembra-te bem que já o tê bisàvó d'zia: "Março, Magarço e Mês de Março!...". Toma conta com ele que, s'o Fovrêro é malino, o Março nã usa a ser menes cão do que ele...

E foi assim qu' a gente corré as Cascatas da Fóia duma ponta à ôtra e inda t'vemos tempo d' ir, tamém, ô Barranco dos Pisõs que, méme com a água só a correr no barranco, nã dêxa de ser uma coisa do mái bonito que há. Mórmente, ô pé do Moinho do Poucochinho e do Plátano.

Parêçam p'r lá, tã penas tenham jêto...

E, agora, vô-me falar com a minha Maria p'ra ver s' a gente, amanhão, se vai à Fêra dos Inchidos, p'r más que nã seja p'a ver o Raxinol Faduncho, que chôriças temos a gente muntas im casa...

E vomecêas? Vã Sáb'do ó D'mingo? Nã percam e comprem o que terem preciso que melhor nã há...

Até um dia destes e tenham munta saúde..

20 fevereiro 2008

A Direcção Geral de Viação

Só lhe mudaram o nome... Em se tendo precisão de tratar de qualquer coisa da carta, tem que s' ir a Faro...

Ali o Zé Manel - o filho do mê compad'e Jôquim do Barranco -, ontordia, panhô uma murta premode aquela mania qu' ele tem d' andar semp'e à rôpa tôda com o carrinho dele qu' aquilo até zone aí p'r essa estrada adiente.

E, p'r o jêto, inda p'r cimba, tinha na carta que morava num sito e nos ôtres papeles que morava nôtro. Inda vá lá, qu' a Guarda l'e perdoô isso... Mái disse-l'e logo:

- Desta vez, tem munta sorte que só paga os cento e vinte eros d' ir depressa de más, mái, da pr'mêra qu' a gente o panhe e que nã tenha já 'í os d'c'mentos tudo im ordem, já sabe, leva ôtra qu' é p'a aprender...

De manêras qu' o pobre do moço, tã penas teve jêto, foi logo tratar do caso. E vá de me convindar a mim, ô pai dele e mái-lo ti Luís Agúida, qu' inda é parente deles e tamém é um bom amigo, p' à gente ir tôdes juntos. E isto premode quem? Já vã f'car a saber tudo, tal e qual c'm' à coisa se passô.

Inda mal nã se tinha abalado, já o ti Luís d'zia:

- Atã, Zé Manel, os saganhetas dos Guardas fazeram-te a parte?...

- Cale-se aí!... Vinha ê cá, munto bem, sa senhora boa vida, caminho de Monchique - que tinha largado o trabalho lá im Vila Nova - 'tava de'jando de chegar a casa...

- E com o tê carrinho novo, agora, que mandaste vir do estrangêro, até dá gosto vê-lo andar...

- Pôs... Foi premode isso qu' ê cá vinha lá às Vendas, mal me descuidí, já ele ia a noventa...

- Uái... E os marafados 'tavam lá?...

- Nã 'tavam, mái tinham lá posto o radar a foncionar... Ora, naquela estrada, nã se pode andar a mái de cinquenta, foi méme à medida...

- Tamém... p'ra qu' é tu andares, assim, à mecha toda dessa manêra?...

- Ó mê pai... à mecha toda?!... Atã aquilo lá é uma estrada com duas faxas p'a cada lado e com uma coisa de cimento ô mêo e nã se pode ir a mái de cinquenta, perquem? Nestas aqui de Monchique, que nã têm coisíssema nenhuma dessas - im certos lados, mal dã passado dôs carros do mémo em par - já se pode andar a noventa... Acha isso uma coisa bem fêta?!...

- Más atão, os homens é que lá sabem...

- E sabem muntíssemo de bem... más é c'm' caçar o d'nhêrinho à gente e fingir qu' é premode nã haver desastres. Munto s' emportam lá eles com os desastres... Os mês cento e vinte eros é que lá se me foram. E munto jêto me davam p'a ajudar a pagar a letra do carro p' à semana que vem...

- Atã, e agora, vamos a Faro que jêto?

Carro importado da Alemanha O Zé Manel comprô um a'tmóvem daqueles que vêm de fora...

- P'a eles me mudarem a minha d'recção aqui na carta, que 'tá mal.

- E valia a pena ires a uma lonjura dessas? Se nã 'tô im erro, uma vez, o parente Cosme da Quinta teve precisão de tratar nã sê o quem da carta dele, foi ali ô Posto da Guarda e eles despacharam-l'e a papelada...

- Tamém ê cá lá fui ontesdontem, cudando qu' isso era assim, más o pior é que já nã é. O Guarda até inché o papinho de rir com-migo. Des qu' isso já há uma preçanada d' anos que tem de ser fêto im Faro, na Direcção Geral de Viação...

- Lá no eroporto, adonde apoisam os aviõs?

- Qual o quem!... Ó ti Luís, nã é aviação, é viação. Uma coisa é d' aviõs, ôtra coisa é de carros...

- Ah, 'tá bem, nã tinha alcançado bem o que tu d'zeste. Tamém, viação ó aviação que d'frença faz? Bem que l'e podiam ch'mar ôtra coisa quasequer que falasse im carruaja... Agora assim, qualquer um c'm' ê cá, pensa logo é im aviõs...

E, com isto tudo, já a gente ia a mê caminho de Faro. E só nã se tinha lá chigado já qu' o Zé Manel, agora, com a cagúifa que tem de ser panhado ôtra vez e f'car sem a cartinha dele, nã passa daquela conta... Vai semp'e olhando p' ôs sinás. E q'ondo os ôtres l'e passam à frente, qu' até fazem vento, o moço até se faz incarnado de nã poder tamém açolarar...

Nisto, c'm' à conversa aparô um pôcachinho, pus-me a devassar bem o carro do Zé Manel, p' drento. E c'm' é qu' ele é... O ti Luís Agúida ia p' ali assantado na ponta de lá do banco, ê ia nesta de cá, inda cabia mái uns dôs ó três no entremêo da gente. O mê compadre, no banco da frente, ô lado do chòfer, par'cia ele qu' ia na camineta da carrêra. Nem no carro-de-besta do ti Armindo da Boavista - que Dés o tenha - a gente 'taria tã à larga...

- Mái que bela via que tu tens, agora, aqui, Zé Manel... - Disse-l'e ê cá.

- Mandí-o vir da Alemanha. Isto, o mercedes é o melhor carro que há...

- Atã compraste-o méme à fábrica deles, novinho im folha? Isso há-de-te ter f'cado munto más im conta...

- Nã senhora, homem!... Adonde é qu' ê cá ia b'scar d'nhêro p'a um carro destes, novo?!... Ist' é um carro im sigunda mão. Já ele tem p'ra cima duns vinte e tal anos...

- Nã me digas... Atã isto parêce novo!... Um espada destes, todo incarnadinho, qu' é uma classe...

- Nã diga isso dele ser novo a ninguém, ti Refóias, senã eles fazem porra de si. Agora, a cor, isso sim, é méme a mê gosto...

Aí, calí-me, p'a nã d'zer mái parvoêras. Só voltí a abrir pio já a gente tinha chigado a Faro, há um belo pôco, e com o pobre do Zé Manel bem impeçado com a papelada toda, im frente duma moça que p' ali 'tava a tratar daquilo, assantada a uma menza.

- Ora temos aqui o requ'rimento, tal e tal, a carta... E o modelo anexo com o retrato e a assinatura?

- Sará isto?

Este veículo dispensa carta de automóvel... Q'onto é que nã vale ter um mata-velhos. Nã se tem precisão de tirar carta nem nada...

- É isso mémo. Dê-me-o lá aí.

- ...

- Mái atão, preenché isto com caneta azul?!...

- Pôs, é o qu' ê cá uso a fazer, nã tenho mái denhuma... Até, dá-se o caso, que a trusse lá do mê trabalho, qu' eles têm lá muntas, no...

- E nã lé o que 'tá aqui?... Prencher com caneta preta... Agora, tem qu' ir comprar ôtro impresso e escrever isso tudo ôtra vez...

Salta logo o ti Luís Agúida, só p'ra mim e p' ô compad'e Jôquim:

- Tal acham esta? Até a cor da tinta tem de ser à vontade deles... Ah, filhos duma magana!...

- D'zer a verdade, p'a uma coisa destas, fazerem uma pessoa vir de Monchique aqui, - isto sã p'ra cimba de cento cinquenta quilómetros, ir e vir, p'ra más que p'ra menes - trazer retratos, papelada e sê cá más o quem, e inda pegam na cor da tinta...

- Cachamorra!... E olhe lá o qu' ela inda 'tá a d'zer... Escute, escute...

- ... e agora a sua carta só l'e vem válida até p'a pr' ô ano. Despôs, tem de vir cá, ôtra vez, e trazer isto tudo e um atestado médico...

- Atã, que jêto? Esta só acaba lá p'ra daqui a uns q'ontos anos...

- Isso, agora, com o novo código, mudô tudo, senhor Zé Manel...

- Ah, fado dum ladrão!... Se nã fosse perquem, ia-me já imbora e barimbava-me nisto tudo... Venho ê aqui perder o mê tempo, gastar o mê d'nhêro e inda fico pior do qu' ô que 'tava?!... Filhos d...

Salta, logo, o mê compadre:

- Ó Zé Manel, tem conta com isso... Tens que ter pacência, homem...

- ... nã basta já a murta que me tancharam e, agora, levar cinco anos inrascado que, se me panham ôtra vez, tiram-me a carta...

E o ti Luís Agúida:

- Olha, nã há nada c'm' ê cá. Tenho lá o mê mata-velhos, nã é preciso carta, nã é preciso nada... Vejam lá s' ê já alguma vez tive de vir a Faro...

- Nem o caminho mecêa sabia, se t'vesse que vir...

- Pôs não!...

- E os sinás aí da estrada, sabe?

- Ehq'... Sê uns, ôtres não. Tamém, p'a qu' é qu' ê preciso d' os saber... Ê cá só ando lá im Monchique e, fora disso, o más que vô-me é a Vila Nova fazer a praça... E o mê mata-velhos nã dá más qu' os cinquenta e tal, sassenta... A decer... A mim nã me murtam eles lá premode ir depressa demás, não...

- Ê cá, se t'vesse uma via p'a guiar, o que me dava, tamém, mái marafunda era os sinás. Atã, uma pessoa vai ali olhando p' ô v'lante, p' à estrada, p' ôs ôtres que vêm de frente...c'm' é qu' inda dá visto os sinás?!...

Bom, calo-me já com isto qu' ê já vi que nã adianta a gente se pôr p' aí a catarruar. Inda pode é ser pior. Quem manda nisto tudo tudo sã eles, esses dos partidos, e a gente que se charingue tôdes.

Passem bem e até ôtra ocasião.

09 fevereiro 2008

O mê intrudo foi na Costa d' Al'zur...

Passeio da Almargem na Costa Vicentina – 02 a 04-02-2008
A água 'tava mái fria qu' ôtra coisa, mái p'a rafrescar os pés...

Ontordia, logo bem de manhão, 'tava ali panhando uma erva-de-febra p' ôs coelhos, dí com-migo a pensar o qu' é qu' havera de fazer este intrudo. E pus-me a falar d' alto, méme sòzinho, qu' isto, nesta idade, um homem, em se descudando, faz cada figura...

- Mái atão, o qu' é qu' uma pessoa vai fazer agora nestes dias d' intrudo?... Nôtres temp's, inda se punha p' aí uns trapos na cara e ia-se fazer umas partes uns ôs ôtres, agora, já nã há quem se meta nisso...

E desatí a fazer uma amenção - só cá p'ra mim, 'tá bom de ver - do qu' isto era no mê tempo e o qu' é agora. Mái, parí logo com isso que me dé cá uma pàxão tã grande ó tã pequena que mecêas nã em-maginam...

Vô-me p'a casa, nã tratí logo dos coelhos qu' a erva 'tava um coisinho molhada e tive qu' a dêxar a inxugar um belo pôco, nã fossem eles impanzinar p' ali e morrerem-me tôd's, c'm' se dé no enverno passado. De manêras que, fui mái foi ô mata-bicho qu' inda 'tava im jum.

É qu' ê cá, logo q'ondo m' alevanto, nã me dá jêto comer coisíssema nenhuma e, quái sempre, só venho ô quebra-jum já despôs de fazer qualquer serviço e me passar o fastio da manhã, e, méme assim, inda uso a l'e bober um calcesinho dela - dos piquenalhos... - que des qu' é do melhor que há p'a quem seja fastiento e quêra abrir o apetite.

Foi assim, já a tarrincar p' ali uma côida de pão com uma rodela de chôriça, qu' ê cá me volto p' à minha Maria e l'e falo no caso:

Passeio da Almargem na Costa Vicentina – 02 a 04-02-2008
As más das vezes, tinha que s' ir tôd's d' infiada qu' a v'reda era bem pertada...

- Nã ôves, Maria, mái atão a gente vai-se f'car aqui atafulhados im casa, fêtos parvos, qu' isto nem parêce intrudo nem parêce nada?...

Foi o qu' ela quis ôvir, mês amigos... Assim saltô logo com as réplas dela qu' ê cá, de mimento, f'qu'i que nem sube c'm' me defender:

- Olha, calha bem vires com essa conversa, qu 'inda ontesdontem, a Bètinha me falô nisso e des que, nos dias tôd's do intrudo, aquela famila lá da Almargem andam a ver se dã fêto um passêo àlém p' à costa d' Al'jur, p'r a aqueles cerros tôd's à rés do mar, désna d' Odecêxe até Vila do Bispo...

- Eh lá!... E nã achas qu' isso é um puxo grande demás p' às nossas posses?!...

- Nã me digas que nã temos mêa-dúiza d' eros p'a pagar o qu' eles levam da gente dar o nome...

- Nã é isso qu' ê digo, m'lher... Ê 'tô falando é d' a gente s' aguentar a andar essa lonjura toda... Atã, andas-te semp'e a quêxar dos calos... e das dores nas cruzes e sê cá más o quem, e inda t' astreves a uma coisa dessas?...

- Más é qu' aquilo é im quatro dias, nã é tudo d' infiada... Ó cudavas o quem?...

- Mái méme assim... Sê cá s' uma pessoa, na nossa idade, inda dá àgu-ento a andar tanto?...

- Tu tens é medo d' arrèlar...

- Olá!... Nâ faltava mái nada... Vê lá se és tu que te vás abaxo...

E, q'ondo mal sube, já ela me tinha inrolado e, méme que nã qu'sesse ir, já nã tinha cara de voltar a trás. De modes que, lá tive que d'zer que sim p'a ela tel'fonar à Bètinha p'a dar os nomes da gente junto ô dela. E, Sáb'do Gordo, lá se pusemos a mexer, caminho d' Al'zur.

Passeio da Almargem na Costa Vicentina – 02 a 04-02-2008
Andava-se, andava-se e só se via era cerros e mar à nossa frente. Mái uma coisa bonita...

Mái, nã l'es digo nada, mês belos amigos!... Aquilo, logo no pr'mêro dia, foi chover até mái não!... Inda a famila se 'tava a ajuntar toda lá na Praia do Odecêxe, já ele pingava. E vento nã se fala... E, no segundo, tamém, nã cudem...

'Tá bem qu' a famila ia toda já a contar com o má tempo, mái nunca ninguém cudô qu' aquilo se sarrasse d' água logo a mê da manhã e só descampasse, de vez, no dia a seguir, já bem lá p' ô lado da nôte... E foi isso que se deu. Olhem que, tanto no pr'mêro c'm' no segundo dia, ninguém se gabô de chigar ô fim sem panhar uma molha, mái daquelas que nem um fio inxuto uma pessoa tinha...

A minha Maria, que nã l'e pode cair uma pinga de chuva na cabeça - nã l'e vá dar cabo da permanente... - fica logo toda alvoraçada, bem que levô uma coisa de plástico p'a se tapar, com capuz e tudo, e mái uma sombrinha e mái nã sê o quem... E de munto l'e serviu... Ora, ali méme à rèzinha do mar e com a ventania que fazia...

E, despôs, nã era só isso. É que, d'ora im q'onto, panhava-se assim um barranco p'a atravessar. Aquilo já nã bastava se vir tôd's molhados p'r cima e méme da centura p'ra baxo premode o caminho 'tar pôco pisado e as estevas e mongariças roçarem nas nossas pernas, inda se tinha que pular dum lado p' ô ôtro im sitos que nã davam condiçõs...

Ora, é certo e sabido qu' aquilo dava sempre má resultado... Quem nã descorregasse dum lado e batesse com as nalgas no chão, nã se livrava de, uma vez ó ôtra, dar um salto, ele sair-l'e curto, e aterrar com os sapatos inda drento d' água.

P'a incurtar de razõs, qu' ê cá desse p'r isso, tanto num dia c'm' nôtro, rôpa e calçado chigô tudo a escorrer água ô fim da viaja...

Passeio da Almargem na Costa Vicentina – 02 a 04-02-2008
Des que naquele penedro àlém drento d' água já hôve um linho d' áiga...

Com a minha Maria 'té que se dé uma parte que foi do mái ingraçado qu' ê já vi. Olhem que me fartí de rir com aquilo. Sem ela ver... que s' ela visse, 'tava a coisa torta cá p' ô mê lado...

Foi ali já p' ô fim da tarde, se nã 'tô im erro, lá ô pé daquela rocha adonde um casal d' áigas pesquêras t'veram linho até há uns dôs ó três anos - a Pedra da Agulha, na Arrifana. E olhem que foram as últ'mas que par'ceram cá im Portugal. Morreram as duas, coitadinhas, acabô-se-l'e o inço. Agora quem quêra ver bichos desses só s' ir ô estrangêro...

Más a gente assantô-se os dôs ali im cimba duma pedra daquelas de talisca, lisinha, e vá de comer uma bucha que trazemos de casa, qu' a fome já pertava e a fraqueza 'tava a qu'rer t'mar conta duma pessoa. A minha Maria, p'a nã s' inganar, descalça os pés, d'zia ela qu' era p'a arejar... Ê cá f'quí assim um coisinho imbatucado, dig'-l'e:

- Ó Maria, vê lá o qu' é que 'tás a fazer... Volta lá isso ali mái p' ô lado, nã vá chêrar p' aí mal dos tês pés à famila...

- Qual chêrar mal, qual quem... 'Tã aqui mái lavadinhos que lavadinhos!... Atã tenho vindo com os sapatos chêos d' água désna desta manhã... O dia entêro de molho nã tará avondo p'a f'carem limpinhos?...

- Ó m'lher, mái atão que parvidade é essa?...

- Parvidade?!... Olha lá bem pr' aqui... Nã vês?... 'Té os calos despar'ceram... Este, atão, qu' ê tinha aqui na sola do pé, levô sumiço que nã no sinto já pelo menos. E este aqui no dedo miminho, só já se vê o sito adonde ele 'tava...

- Lá cudas que m' indròminas assim sem mái nem menes. Atã, nunca dás conta deles, andas semp'e a d'zer que vás à calista, que vás à calista - mái nunca vás - e, agora, só d' andares um pôcachinho a pé passava-te os calos sem más esta nem más aquela... Vai inganifar ôtro...

- Cachamorra!... Atã 'tô-te a falar verdade e tu nã queres crer no qu' ê te digo?!... Olha lá bem pr' aqui!...

Passeio da Almargem na Costa Vicentina – 02 a 04-02-2008
Andar descalço im cimba deste cascalho?!... É más é melhor molhar o calçado...

E prantô-me com o pé méme à rés do nariz p'a ê cá ver bem. Q'ondo me vejo naquele empeço, inda me sustive um belo coisinho sem tomar ar com medo de nã me vir p' ali alguma baforada de má-chêro, mái, d'zer a verdade, o pé dela até que nã 'tava nada sujo, nã senhora...

E os calos... era tal e qual c'm' à m'lher 'tava a d'zer. Já vomecêas viram?!... Aquilo, com o andar e os pés semp'e molhados, foram roçando no sapato, foram roçando... desparceram. Agora o resto da pele, nã quêram saber c'm' é qu' ela 'tava... Tudo inrrugado, tudo marafado... Nã l'e doía, já era bom.

Más olhem, aquilo, ô tercêro dia, dêxô de chover, foi um consolo. Qu' ele, a Costa Vicentina é semp'e uma coisa do mái bonito que pode ser e haver, agora, fazendo um sòlinho c'm' fez, uma pessoa sinte-se um coisinho mái sast'fêto.

E inda l'es digo. Abalô-se uns trinta - p'ra más que p'ra menes - do Odecêxe, e, ô Castelejo, só se chigô pôco mái de mêa-dúiza... Uns que f'caram sem fio inxuto e nã tinham rôpa p'a mudar, ôtres que tinham de trabalhar na Sigunda-Fêra Gorda, ôtres que nã s' aguentaram nas canoiras...

Mái corré tudo do melhor. Aquela famila da Almargem nã é só serem boas pessoas - que são - é que fazem tudo tã bem fêto que ninguém tem nada que l'es d'zer... Melhor nã há.

E fic'-me p'r 'qui, senã levava a contar as passajas todas do passêo e nã saía daqui senã lá pr' amanhã...

Em tendem ocasião, vã até àquelas bandas que mái bonito nã incontram im lado nenhum. E, já agora, vejam uns q'ontos retratos qu' ê cá tirí p'r lá - só uma pagela pequena - aqui na Galeria da Costa Vicentina.

Fiquem-se com Dés e nã abusem munto na carne qu' a q'ôresma já antrô. Nôtres tempos, inda havia as bulas, agora já nã há nada disso...

Até qu' a gente se veja.

28 janeiro 2008

Im Portimão 'tá lá uma récita de carnaval...

Revista carnavalesca do Boa Esperança 'Bicha a dar com um pau'
'Tá uma récita de carnaval im Vila Nova, punhana!, qu' é duma pessoa se desmanchar a rir...

Este ano, inda mal nã se passô o Dia de Festa e o Ano Bom, já o intrudo aí 'tá tamém. Isto p'a nã falar nas mortepórques que se fazeram nos entervás. Más um nada e pegava tudo umas coisas nas ôtras d' infiada qu' uma pessoa nem tampôco tinha tempo p'a desmoer as f'lhózes e os piques de fresneco...

E nã bastando já isso, uma amiga e conhecida da minha Maria e da minha c'madre C'stóida - a 'Zabel V'tóira - que mora lá p' ô Vale das Hortas ó ali perto, más é cá destas bandas, desafiô-as p'a s' ir ver uma récita qu' eles fazem lá im Vila Nova tôd's anos.

P'r o jêto, q'ondo elas as três eram novas, usavam a ir fazer o V'rão todas juntas lá p' ô Algarve, numa côrela muntíss'mo de grande que des que tinha tantos figos e farrôbas ó tã pôcos que nem uma dúiza de m'lheres as davam panhado a tempo e horas, trabalhando de sol a sol. E foi daí qu' elas f'caram amigas e adonde a 'Zabel arrenjô casamento e f'cô p'r lá. Mái já inviuvô, pobrezinha...

De manêras que, em elas tendo falado tal coisa, quem é qu' as dava sustido sem irem lá... Foi-se e foi-se mémo!... E vomecêas, se t'verem ocasião, tamém nã percam de ver uma coisa tã ingraçada. Aquilo é uma récita de carnaval que 'tá p'a lá num sito ch'mado "Boa Esperança" - méme logo ô pé da Ingreja Matriz. Más é dum homem se desmanchar a rir, nã cudem!...

Revista carnavalesca do Boa Esperança 'Bicha a dar com um pau'
Ist' é a Claque dos Marafados qu' andam sempre atrás do Portimonense...

E nã é qu' a coisa calhô logo a gente ir no dia qu' eles se estreavam e nem se pagô b'lhete nem coisa nenhuma?!... Nã sê c'm' é qu' ela, a 'Zabel V'tóira, s' arrenjô, levava p'ra lá uns papeles que l'e tinham dado nã sê adonde - calhando, na Junta ó na Cambra ó coisa assim... - o que vi foi ela apresentar aquilo lá a uma meçalha que 'tava logo à antrada e ela mandar a gente passar...

Más ele hôve uma coisa que me fez espéce... Já lá se tinha ido, ôtro ano, ver aquilo e béque-me só lá incontrí foi famila assim c'm' ê cá e a minha Maria e nada de dôtores ó fosse lá o que fosse. Desta vez, fado dum ladrão!, aquilo era só Pres'dentes... E tudo munto ingravatado...

Ele era o Pres'dente da Cambra dum lado, o Pres'dente da Cambra dôtro, - o de cá de Monchique tamém lá 'tava, sa senhora... - os Pres'dentes desta e daquela Junta, Dôtores Advogados, Dôtores Juízes, ê sê cá!... Atã, até o Pres'dente da Rádio Fóia tamém lá o incontrí... vejam lá bem s' aquilo nã tem que se l'e diga...

'Tá bom de ver qu' esses pagaram bilhete e há-de ter sido bem caro... À uma, que têm posses, qu' ê sê que tem, e à ôtra que, cada vez qu' algum antrava, vinha logo uma impregada, toda munto bem vestida e com os bêços qu' até luziam d' incarnados, e levav' ôs, quái de braço dado, até ô lugar deles.

O pior é qu' ê cá, olhando bem p'r àquilo, f'quí assim um coisinho p' ô imbatucado. Levava o mê chapelinho do d'mingo, tirí-o logo da cabeça e p' ali o descondi no colo da minha Maria. O mê compad'e jôquim, esse, nem abria pio. Tive que l'e dar uma catovelada, bem dada, nas costelas p'a ele tirar o dele e intregá-lo à c'madre C'stóida.

Agora as m'lheres... 'tá bem dêxa... p'a elas é c'm' se nã fosse nada. 'Tarem ali ó 'tarem im casa pelando um cesto de batatas p' ô nosso jantar e p'a dar ôs animazes, era a méma coisa... Nã se calaram nem um 'stante!...

Revista carnavalesca do Boa Esperança 'Bicha a dar com um pau' - António Calvário
Quem m' havera de d'zer qu' o Antóino Calváiro 'tava lá im pessoa...

Mái dêxamos lá isso.

Lá q'ondo eles munto bem intenderam - e olhe que foi logo à hora... - apagaram as luzes e vá de começarem com as partes im cimba do palco. Ê cá ria p'a um lado que nem m' aguentava, o mê compad'e Jôquim do Barranco ria p'ra ôtro. As m'lheres, atão, descancaravam-se... Aquilo riam às carcachadas, batiam palmas... era um banzé que nã l'es dô incarecido!...

Nisto, desata a música a tocar, oiço um a cantar, digo p' ô mê compadre:

- Mái atão, béque-me conheço esta cara...

- O quem?... - O homem já nã ôve munto bem, e com aquele barulho, atão...

- Aquilo nã é o Antóino...

- É o Antóino Calváiro, sa senhora!... - Diz logo a minha Maria que tem a mania de nã me dêxar falar nada até ô fim.

- Ai, se faz tant' ô tempo qu' ê cá nã no ôvia cantar!... E, más e más, assim im pessoa... Que coisa tã bonita!...

- Mê belo Calvarinho! Era o qu' ê cá mái gostava d' ôvir naquela tel'fonia Pilips - uma ainda a pilhas - qu' o mê Jôquim comprô, uma vez, lá à do parente Vintura, qu' aquilo durô quái uma vida!...

- Nã s'alembram daquela vez qu' ele ganhô o festival da Erovisão?... A moda era tã bonita e, vejam lá, até se ch'mava "Oração". Mái que bem qu' ele inda canta!...

- Ó 'Zabelinha, cudo qu' ele nã ganhô essa coisa da Erovisão... Ele ganhô foi cá im Portugal e, despôs, foi, atão, à Erovisão.

- Se nã ganhô, bem qu' o mor'cia... Qu' a mái bonita era a dele!... As ôtras era tudo im estrangêro e ê nã intendia nada daquilo... E uma qu' ele tem, agora, qu' é a "Mocidade"?!... Ai que coisa mái bem caçada!... O estilo é bonito. Atã e a letra?!... É do melhor que possa ser e haver!...

E desata quái a cantar:

Revista carnavalesca do Boa Esperança 'Bicha a dar com um pau'
Nã vêem qu' até a Rádio Fóia lá 'tava a intrevistar um...

Mocidade, mocidade
Porque fugiste de mim?
Hoje vivo de sôidade
É triste perdermos a mocidade
E sentirmos qu' é o prencípo do fim

- Ó m'lher cale-se pr' aí!... Atã nã vê qu' o homem 'tá a cantar ôtra?!...

- Mái ê cá gosto tanto desta...

E p' ali s' ac'm'dô um pôcachinho. Mái, tant' ela c'm' às ôtras, 'tavam tã variadas da cabeça a olhar p' ô homem que, tanto se faz ê cá c'm' o mê compad'e Jôquim, já nã se 'tava más era a gostar munto das figuras qu' elas faziam...

Aquilo nã foi coisa que tardasse tempo quái nenhum, parêce uma no palco, com os cabelos munto amarelos, com aquela coisa qu' eles falam nas mãs e vá de falar p' ali no jogo da bola. Salta logo o mê compadre:

- Olhe lá, olhe lá, compad'e Refóias... Nã vê, nã vê?!... Veja lá s' isto nã é uma coisa emportante qu' até a Rádio Fóia 'tá ali...

- Rádio Fóia?!... Que jêto?!...

- Sa senhora!... Lêa lá além o que diz naquilo qu' aquela tem nas mãs... Rá-di-o Fó-i-a... Nã sê é s' aquilo é a senhora Fátima Peres ó a senhora Idalete Marques... Nã nas conheço de cara, só das ôvir na tel'fonia...

- No microfone?... D'zer Rádio Fóia, diz, mái nã vê qu' aquilo é de faz-de-conta?!... É eles a brincarem com Rádio Fóia, compadre!...

- Ai, home, quái que me dava ares a ser uma coisa de verdade... Mái, calhando, mecêa é capaz de 'tar com a r'zão. Agora que 'tá munto bem fêto, nã me diga que nã 'tá...

E a coisa lá foi andando.

Revista carnavalesca do Boa Esperança 'Bicha a dar com um pau'
Ô fim, até o Presidente da Cambra foi ch'mado ô palco...

Ô certo, ô certo é que, q'onto mái coisas eles apresentavam im riba do palco, mái a gente se fartava de rir. Se quer que l'e diga, chigô ali a uma certa altura qu' ê cá até já me doía a barriga. Se nã calha a terem fêto um entervalo, nã sê munto bem c'm' à coisa saria...

Mái c'mo hôve esse entervalo, ê cá e o mê compadre semp'e se fomos aliviar e já se aguantamos até ô fim sem problema. As m'lheres é que nã sê c'm' é qu' elas fazeram aquilo que levaram toda a nôte com o - com l'cença da palavra - trazêro na cadêra, sem s' alevantarem, e, p'r o jêto, nã l'e fez falta.

D'zer a verdade, eles tinham aquilo tudo tã bem estudado e d'ziam umas chalaças tã ingraçadas que mecêas nã calculam... Atã e as puas qu' eles infiavam p'ra este e pr' àquele?!... Quem nã queria se ver na pele dos Pres'dentes e dessa famila emportante sê ê munto bem quem era...

Ôviram muntas e das boas... Aquelas orelhas deles haveram de 'tar mái incarnadas qu' um p'mento quem-moso... Qu' os homens, tamém, já 'tão tã fêtos a ôvir tanta coisa que pôca d'f'rença ó nenhuma l' há-de fazer... Inda eles se riem... méme sem ter vontade...

Pôs atão, se querem um conselho, vã p'r mim qu' ê nã nos incaminho mal. Tirem um dia p'a paróida, comprem um b'lh'tinho lá no "Boa Esperança" e vã ver a revista "Bicha a dar com um pau" que nã vã dar o tempo p'r mal impregue e panham uma barrigada de rir até mái não.

Passem munto bem e advirtam-se à farta com a revista e com o intrudo. Ê cá e a minha Maria vamos más é dar uma volta a pé além p' àquelas bandas d' Odecêxe.

19 janeiro 2008

Uma manita ôs Três-Setes

Jogo dos três-setes Este jogo nã é lá grande espingarda... Más inda podia ser munto mái ruim...

Nã sê se vomecêas sabem, mái, cá im monchique, uma mortepórque p'a ser mortepórque tem que se fazer, p'r menes, uma manita ó duas de três-setes. Ê cá, com a idade que tenho, dig'-l'e já: até ô dia d' hoje, inda nunca fui a mortepórque nenhuma que nã se fazesse uma jogatana dessas...

Calhando, quem é de fora e calhe a ler isto há-de f'car um coisinho assim p' ô imbasbacado a ôvir falar im tal jogo, mái, tamém ê cá, q'ondo calho a ir lá p'ra baxo p' ô Algarve e m' ajuntar com alguns amigos que joguem à carta, fico espècado a olhar p' ô jôgo qu' eles jogam.

Chamam-l'e, béque-me, sueca e des que tem umas certas par'cenças com os três-setes. Más ê cá veje-os jogar e nã intendo nada daquilo... E, despôs, apontam tudo num papel com um láp's e coisa assim...

Ora a gente, aqui, nã se tem míngua cá de nada disso... Pega-se num punhado de milhos e puxa-se à medida dos pontos que se faz... Cada ponto, um bagulho. Nã há nada qu' inganar. Em chigando ôs q'ôrenta, ganha-se. Mês belos três-setes!...

Uma ocasião, 'tive numa mortepórque - nã vô-me aqui alomear os donos da casa - e ajuntaram-se lá uns belos amigos, todos bem danados p'a jogar à carta. Olhe, um era o mê parente Zé Caçapo, todos o conhêcem p'r Verruma; ôtro era o Tóino Luzicuco, que nã é da famila e nã sê c'm' é qu' ele foi lá dar; ôtro era o mê compadre Jôquim do Barranco, que pensa qu' é um jogador do melhor; e o ôtro era ê cá.

Jogo dos três-setes - Dêxa-me lá más é puxar os bagos, entes que me esqueça. Des qu' isto no apontar é que vai o ganho...

Despôs do serviço 'tar p'r lá bem incaminhado e já se ter desgotado um garrafanito d' aqueles piquenalhos, impalhados, que levam mái ó menes um litro d' aguardente - más olhem qu' ele hôve m'lheres que tamém boberam... - o mê compadre desafia a gente p' ôs três-setes.

- Atã e cartas? Ê inda nã vi aí nenhumas... - diz-l'e logo o t' Zé Caçapo.

- Nã seja essa a falta qu' ê tenho aqui umas na als'bêra...

- Atã vamos a isso!... S' o dono da casa dar l'cença, 'tá bom de ver...

- Atã nã há-de dar... Ele, calhando, tamém joga uma partidinha com a gente...

- Nã jogo nada qu' ê inda tenho ali os dôs presuntos p' àrredondar e ôtros serviçalhos p'a fazer... Joguem lá vomecêas qu' ê, mái logo, logo faço tamém uma manita...

- Atã e nã quer ajuda?

- Nã senhora... Ist' é coisas que ê gosto de fazer cá à minha manêra e, atão, dêxem-se 'tar pr' aí intretidos qu' ê cá desinrrasco-me sòzinho. Ó Maria, traz lá aí mái uma aguardentinha e uns piquinhos e umas f'lhòzinhas p' ôs homens irem acompanhando com o jogo...

Ora, foi o qu' a gente quis ôvir. Aquilo foi um foguete inq'onto nã s' ac'modamos ali a um canto, fêtinhos p'a batê-las c'm' manda a lê. O pior foi o parente Verruma que imbicô qu' havera de ser parcêro do Tóino Luzicuco, que, há quem diga, que joga munto bem ôs três-setes, más ôtros cudam qu' ele faz é bem munta trafulha...

Jogo dos três-setes - Ai que bela vaza, parcêro!... Dôs bagos e uma figura...

- Atão, s' ele é isso, vamos más é a rêses... Assim, já ninguém pode clamar... - salta o mê compad' Jôquim do Barranco.

- Tamém acho... - disse ê cá. - Qu' isto, é c'm' o ôtro que diz, em elas vindo tôd's sabem jogar bem, agora sem elas na mão, ninguèm dá ganhado...

E lá se foi a rêses. Mái, com tanta sorte ó tã pôca, os dôs saíram logo ô Verruma e ô Luzicuco, tal e qual c'mo eles munto bem qu'riam. 'Tá bem que quem dé as cartas foi o Luzicuco e ê sê cá s' ele nã fez, logo ali, trafulha?... Mái, 'tá bem... Ê, tamém, 'té gosto de jogar com o mê compadre que já l'e conheço as manhas... E desata-se a jogar.

- Ó compad' Refóias, nã posso jogar... Atã, quái que nã tenho uma carta d' apultana...

- 'Teja calado, home... Atã, assim, eles ficam logo sabendo que mecêa nã tem nada, jogam à vontade...

- Ôlhe qu' é melhor intregar o jogo p'r dez qu' eles acusarem e darem logo um capote à gente d' intrada...

- Atã dêam ó não... Ê cá nã gosto de m' ir abaxo. Jogue lá que logo se vê...

Punhana!... Nã foi mái nem menes. Os marafados acusaram sês - duas apultanas - e largaram um capote na gente qu' até foi lendo... S' ê cá tenho ido na conversa do mê compadre, só faziam dez, assim, fazeram dezassete. Mái atão... ê tinha p' ali um terno e um duque nunca pensí de nã dar fêto, p'r menes, uma vaza ó duas...

Más olhem que, naquela partida, as cartas béque-me 'tavam imbruxadas... Os homens chigaram ôs cu'renta sem a gente passar duns cinco ó sês, vejam lá. E capotes foram dôs. Um p'ra cada um...

E, com uma coisa assim, quem é qu' os dava aturado, senhor?!... D'zia o Verruma:

Jogo dos três-setes No jogo da carta, d' ora im q'onto, dá semp'e jêto meter qualquer coisinha na boca...

- Parente Refóias, frio já vomecêa nã panha nenhum, este enverno... E, qu'rendo, inda se l' arranja p' aí mái algum p'a mecêa dar à su Maria...

- Veja lá nã seja más é vomecêa a ter que vestir um, agora logo a seguir... Olhe qu' ê cá nã gosto de bons começos... Vamos más é batê-las mái um pôcachinho e pôca conversa.

E lá se foi jogando. Mái as estaporadas das cartas béque-me nã qu'riam nada com-migo nem com o mê parcêro... Enqu'libraram um coisinho, mái nã se l'e dava alevantado uma partida. Só despôs d' eles terem impurrado mái nã q'ontas partidas e dôs ó três capotes é que lá calhô a vir um joguinho à gente que se d'zesse benza-te Dés.

O mê parcêro acusa três ternos, ê cáacuso nada, mái tinha dôs ases p'a l'e dar e dôs duques bem gôrdados, pensí:

- Com jêtinho, s' o mê parcêro saber jogar, é desta qu' a gente l'e faz a parte...

E toca a jogar.

Más o parente Verruma que pôco mái tinha qu' um ás, e só com uma guarda, q'ondo o mê parcêro joga o terno, ele joga a guarda e fica com o ás descalço. A seguir, o mê parcêro vem p'ra mim, ê jogue-l'e o duque, o mê parente nã 'tá com mêas medidas, faz uma ronciadela... Im vez de jogar o ás p'a debaxo do mê duque, joga uma pele dôtro naipo.

Pensí:

- Mái atão adonde é que 'tá o ás, senhor?!...

E fui exp'r'mentá-lo ôtra vez. Aí, o badalo já o sôbe jogar... cudando qu' ê cá nã dava por ela. Más o mê parcêro tamém viu munto bem o que se passô, salta, logo, p'ra ele:

- Eh!... Vomecêa, inda agora, nã jogô oiros!... Fez uma ronciada!... Jogo abaxo!...

- Joguí, sa senhora!... Qu' ê sê munto bem que joguí...

- Nã jogô nada!... Ronciô. Atã veja lá aí na últ'ma vaza... Most'e lá aí...

Café de Morteporque - Õi!... Munto bem que me calha uma t'jalinha de café, agora...

- Atã veja... Ê sê que joguí oiros...

- Aqui 'tá! Mecêa jogô este pau!... O duque era do mê parcêro, ê joguí este ás e o sê parcêro jogô uma copa... Ponha lá aqui o azinho d' oiros, vá... Isto se nã quer qu' o jogo vá abaxo e perde logo a partida... qu' a gente joga a nove.

- Õi, que bela vaza, parcêro!... Dôs bagos e uma figura... - Dig'-l' ê cá.

- E ê que me par'cia que tinha jogado oiros, home... - Ramordia o Verruma.

- Ah, par'cia-l'e?!... Mái nã jogô. O que mecêa queria sê ê cá munto bem. Era livrar o capote... Mái nã no livra, nã senhora!... Ora ponha lá aí o resto das cartinhas...

- Capote!... - Diz logo o mê parcêrinho, mái contente que nem uma pega sem rabo.

- Este é p'ra si, parente Zé... É im troca do que me dé inda agora... Já pode ir de nôte p'ra casa que, com um subretudo destes, nã panha frio nenhum!... E vá lá mái uma rodadinha, às tenças.

Nisto, vinham as m'lheres com uma escolatêra chêazinha de café de mortepórque que dêtava um chêrinho qu' até corria água da boca.

- Munto bem me calhô!... Uma t'jalinha de café e um calcesinho dela... Sim, qu' isto o café sem tempero nã tinha graça nenhuma... Nã é verdade, c'pad' Refóias?...

- Isso sabe-se... Era munto preferívem um copadinha dela sem café do qu' ô café sem um calcesinho dessa boa que há aí na casa...

E lá se b'bé o café e mái um caláiço de madronho cada um que foi um consolo. Com respêto ôs três-setes, aquilo durô até à hora do fresneco, ora levavam uns o capote ora ôtres, e, à medida qu' a aguardente ia abaxando no garrafanito, o cagaçal era cada vez maior. C'm' sempre, em elas vindo, ganha-se, em elas nã vindo, perde-se.

Atã, em tendem ocasião, vã a uma mortepórque e exp'r'mentem a fazer o mémo qu' à gente, que logo vêm se nã s' ad'vertem até mái não.

Até um dia destes.

11 janeiro 2008

Im Monchique, inda se canta os Rês...

Jolda cantando os Reis
Em
chigando a casa de qualquer um, a jolda pede l'cença p'a cantar.

Inda agora aqui ch'guí
Já l'es vô a prècurar
'Tã bonzinhos de saúde,
Dã l'cença d' ê cantar?

É mái ó menes desta manêra qu' as joldas de Rês e de Janêras usam a cantar, em chigando à porta de qualquer um, qu' é p'ra ver s' a famila l'es dêxa fazer o resto da cantoria.

Nôtres tempos, tamém usavam a bater à porta e d'zer assim:

- É famila!... Canta-se ó reza-se?...

E esperavam um pôcachinho a ver se, de lá de drento, l' acudiam e l'e davam orde p'a desatarem a cantar o resto dos versos, qu' eles gôrdavam dum ano pr' ô ôtro e os que, muntas vezes, faziam d' aprepósito p'a certas casas.

Que, lá de q'ondo im vez, tamém se dava o caso da famila da casa nã l'e dar ancas... Uns que tinham alguém doente, ôtres que l'e tinha morrido alguma pessoa de famila... E ôtres que d'ziam que l' aborrecia de serem acordados. Mái, quái sempre, esses já 'tavam munto vistos e tôd's se sabia munto bem qu' o qu' eles l' aborrecia era a dar a esmola...

Pôs, mês belos amigos, na nôte de Rês deste ano, 'tava-se a gente, ê cá mái-la minha Maria e uns q'ontos amigos - dos bons!... -, num certo sito, a retraçar uns pedaços de pórco e c'mer neles - já ele era bem de nôte - desata-se a ôvir cantar os versos, qu' ê cá pus ali ô prencip'o, do lado de fora da porta.

Pusemos-se tôd's à escuta, era uma jolda de cantadores de Rês.

Jolda cantando os Reis
Calhando a 'tar a chover ó que faça munto frio, há quem os mande entrar...

Tã penas eles acabaram de pedir l'cença, o dono da casa, p'a nã s' inganar, dé logo ordem que podiam cantar à vontade. E, c'm' ô tempo 'tava assim p' ô fresco e, inda p'r cima, nuvrinhava um coisinho - era uma penujazalha que nem se dava p'r ela, mái, ô fim dum certo tempo, já se sabe que semp'e molha... - mandô-os antrar p'ra casa. Ora, aquilo foi o bom e o bonito...

E, más a más, qu' eles eram tôd's mecinhos nôvos, qu' é um caso p' à gente inda levar maior repáiro, qu' é p'ra ver s' eles se vã semp'e alembrando destes c'stumes antigos e nã dêxam des'pâr'cer estas coisas que se faziam munto e agora já se fazem pôco ó nada.

Mái olhem qu' aquilo até que foi uma coisa méme bem caçada... Era uns mecinhos e umas mecinhas inda nôvos - à vista da gente, qu' era quái tudo velho c'm' ê cá, 'tá bom de ver... -, mái cantavam do melhor.

Quás sã os três cavalêros
Que fazem sombra no mar
Sã os três do oriente
Qu' a Jesus vã v'sitar

E, ô méme tempo, tocavam... Olhem qu' eles traziam um fole, uma guitarra e uns ferrinhos... Aquilo pôco f'cava atrás da banda que vem tocar cá a Monchique, q'ondo calha. E 'tava tudo tã bem afinadinho qu' até dava gosto...

Só l'es sê d'zer qu' a famila qu' ali 'tava pôs-se tudo imbasbacado com os olhos cravados na jolda que nem s' ovia mái coisíss'ma nenhuma. As m'lheres que 'tavam a picar carne, com mintira e tudo, até dêxaram cair as facas p'a drento do alguidar... E foi melhor assim ó, atão, inda s' hab'litavam a cortar p'a lá a ponta d' algum dedo...

'Té uns que 'tavam a jogar ôs três-setes ali na ponta duma mesa - calem-se aí!... - apararam o jogo a mêo, puseram p' ali as cartas de qualquer manêra e tamém nã viam mái nada qu' os janêrêros... Ê nã havera de d'zer isto, mái ele hôve um, mái sabido, - qu' ê cá nã digo quem foi - que fez a parte ôs ôtres.

Jolda de Cantadores de Reis recebendo a 'esmola'
Im certos sitos, afituram-se a arreceber umas boas esmolas...

Inq'onto eles 'tavam tôdes emprensados a ôvir o cantorío, assim c'm' quem nã quer a coisa, foi-se chigando, munto devagarinho, p' ô lado do parcêro contráiro e vá d' ingrilar p' às cartas qu' ele tinha na mão, todas destapadas. Vi-l' o jogo todo...

Ora, q'ondo voltaram ô jogo, fez-l'e uma espera, papô-l'e os dôs ases qu' ele tinha. Inda os 'tô a ver... Um era a espadilha e o ôtro era o bastos. Só ali foram logo dôs milhos... E, p'r o jêto dele, nã sê munto bem se tamém nã l'es fez a parte ôs bagos de milho qu' eles tinham a marcar os pontos im cimba da menza...

Olhe qu' eles béque-me já iam nos vinte sete ó vinte e oito e, despôs, só já se viram com vinte três... Dôs bagos da banda de cá da faquinha e três da banda de lá. Nã posso afiançar, mái ó ê cá m' ingano munto ó, atão, hôve ali coisa...

Mái, nesse mê tempo, já a jolda tinha cantado tudo e 'tava a arreceber a esmola. E olhe que, naquela casa, nã f'caram nada mal... Vejam aí no retrato e logo sabem. Até uma garrafinha de madronho l'es calhô... Mái mor'ceram, lá isso, mor'ceram.

E puseram-se a agradecer...

Quem tã boa esmola deu
Dés l'e pague, obrigadinho
Dés quêra que vá p' ô céu
Ô colo de Dés Menino

E nã se f'caram p'r 'qui, que, logo a seguir, era a despedida. F'cava mal eles abalarem, assim sem mái nem menes, e nã cantarem mái um verso ó dôs. E, atão, foi assim:

Fiquem-se com Dés, senhores
Qu' ê com Dés me vô tamém
Dés l'e dê munta saúde
Até pr' ô ano que vem

E assim abalaram p'r aquelas sobrêras adiante, no mê do escuro, qu' im menes de nada despar'ceram. Nem a luz do focse qu' um levavam pindurado na presilha das calças a gente dava lombrigado. Só o que s' ôvia era as vozes deles charolando uns com os ôtres.

E ê cá tamém vô-me andando a ver s', esta tarde, inda panho p' ali umas três ó quatro cagumelas p' à minha Maria fazer com uns piquinhos de pórco p' à cêa. Ele já nã deve haver grande coisa, más ê sê dum certo sito ali ô pé dumas acáiças... até pode ser que 'teja p'a lá alguma.

E, dando-se o caso de quererem ver mái alguns retratos da jolda, acalquem aqui na Galeria dos Reis.

Atã que Dés l'es dê tamém munta saúde.