04 agosto 2006

Marmelete: A Fêra do Artesanato - Sigunda arrencada

Jorge Coisinha

As engerócas do sr. Jorge Coisinha foncionam todas...

Nã precisô dar más que três ó quatro passos, f'cô-se logo em par das engerócas do sr. Jorge Coisinha. C'm' ele tem cabeça p'a em-maginar tantas coisalhas e pôr aquilo tudo a foncionar é que me dá que pensar...

Inda se passô tamém ô pé dumas coisas d' abelhas. Tudo munto bem apresentadinho, com mel, água-mel, favos de mel e, p'a convindar o frèguês, uma garrafinha d' aguardente. A fazer caso no estado qu' a garrafinha 'tava - já quái vazia - hõ-de ter tido munta freguesia inda entes d' ê cá lá chigar...

Produtos apícolas

Que belo favo de mel p'a uma pessoa se consolar a chupar...

Diz logo a minha Maria:

- Ai, homem. Tanto que m' apetecia levar um frasquinho d' água-mel p'a casa. Gosto tanto daquilo, de manhã ô café. Põe-se um coisinho drento duma t'jalinha e vai-se molhando lá umas sopinhas de pão. Nem posso pensar...

- Ó, m'lher, atã, se t' apetêce, compra... Nã te disse já que se nã t'veres d'nhêro àvonde, podes tirar aqui da minha pataca?... Olha, e calha bem qu' ê cá tamém nã desgosto de molhar um pedacinho de pã-de-rolão na água-mel. Q'ond' era moço e o mê pai tinha p'a lá um cortiço ó dôs d' abelhas, usava munto a fazer isso.

De manêras qu' a m'lher lá comprô um frasqueco d' água-mel, bem pequenalho, p'r sinal. Nã fosse ela gastar cinco eros num grande, mandô vir um de dôs eros e mêo qu' aquilo é pôco más q' um didal... Semp'e quero ver o tempo qu' aquilo dura...

Isto, a minha Maria é assim. Int'ressêra até mái não... P' à gente l'e ver luzir, nem que seja um destanito, lá dos ovos das galinhas dela, é uns trabalhos... Mái, vá lá, ela inda ter comprado méme o mái pequeno, sem m' ir à pataca, já foi uma grande coisa...

Inda l' of'reci se nã qu'ria chupar um coisinho do favo, más ela pôs-se-me com coisas, que nã quer engordar, que faz mal ôs diabêtes, méme p'a quem nã os tem, que nã sê quem que nã sê que más, e nã quis. Ah, nã queres, atã más apôpo...

E lá se foi andando mái um coisinho até adonde 'tavam os homens da verga. E nã desatem p' aí a pensar em coisas ruins qu' ê 'tô a falar dos que trabalham com vimes. Os cestêros ó lá c'm' é l'e chamam, que fazem canastras, cestos e coisas assim.

Ora repáirem lá bem na obra do mest' Jôquim Braz:

Mestre Joaquim Braz - Cesteiro Mestre Joaquim Braz - Cesteiro

O mest' Jôquim Braz faz désna de cestos de verga descascada até canastras-de-carregar...

E agora vejam o que se faz na cestaria do mest' V'rgil'o:

Mestre Virgílio - Cesteiro Cestaria

O mest' V'rgil'o já tem um ajudante que nã l'e fica atrás...

Mestre Virgílio - Cesteiro

Este mecinho, um dia, inda há-de fazer canastras tã bem com-m' o mest' V'rgil'o. Dig' ê cá...

E inda 'tavam p' ali mái umas coisalhas em verga, mái o homem - moço inda novo - nã me dé l'cença de tirar retratos, nã l'es posso amostrar. Era assim umas garrafinhas, de tôdes os fêtios, empalhadas com verga fina. Verdade se diga, uma coisa tamém bem trabalhada e bonita ô bem fêto.

'Tava ê cá munto bem nesta entretenga dos retratos e de desenferrujar a língua com esta gente tã hab'lidosa, qu' é um consolo tramelar com eles, desata a música a tocar. Era méme ali à rés d' adonde os homens 'tava com a verga.

Pronto. Deram-me cabo do mê arranjinho todo. Nã hôve mái conversa, nã hôve mái retratos, nã hôve mái nada...

Tive que desòpilar dali e bem depressa. E sabem perquém? Nã é lá qu' as modas nã fossem bonitas, qu' elas eram, má é qu' aquilo tocavam-as cá com uma força qu' até estramecia tudo. Tinham p'a lá umas caxas pretas, quái da altura d' um homem, aquilo saía de lá uma urrada qu' até...

E, despôs, a famila, em ôvindo barulho, acode tudo... Ora, prantam-se tôdes ali duma manêra, quái im cimba uns dos ôtres, que mái retratos, viste-se-os...

Mái, ô fim de contas, aquilo foi uma festa do melhor. F'quí munto contente com o dia que lá passí e com tudo o que lá vi. Bençoado quem se dá ô trabalho de fazer aquelas coisas.

E 'tô a falar tanto dos artesãs com-mo dos que lá vão ver. E tamém de quem dá alguma coisinha p'a pagar as despesas daquelas coisas todas, que, calhando, há-de ser a Junta de Freguesia.

Fiquem-se tôdes na paz.

4 comentários:

  1. Bençoado Parente que tem o prazer desta entretenga dos retratos.

    Sem dúvida! Marmelete: A Fêra do Artesanato foi uma festa do melhor!

    Gente tão habilidosa, a de Marmelete e o Parente!

    ~*Um beijo*~

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  2. Fiquei com uma curiosidade danada de ver essas "engerocas".

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  3. Foi uma festa fantástica...

    Eu é que não apanho disso...

    Um abraço parente.


    O Fisgas

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  4. Mês belos amigues:
    Desculpem de já há alguns dias nã par'cer p'r 'qui, mái nã foi p'r mal. É que nã tenho podido.
    P'a tôdes m't'ôbrigado.
    Bêjinhes p' à Rosmaninho e abraços p'ô Fisgas - seja munto bem par'cido - e p' ô v'zinho António. E olhe, o sr. Coisinha, já tem ido aí p' ôs sês lados, à Fatacil, nã sê s' este ano vai ó não, que nã m' alembri a l'e prècurar.

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