Sem ser esperado, fui à Fêra Medieval de Silves, um lugar qu' ê semp'e gostí, désna de moçe-pequeno, pre mode aquele castelo qu' é uma classe e aquela ingreja que tamém é de se l'e tirar o chapéu.
Q'ondo o Zé Manel me vêo, ôtra vez, com conversinhas, p'a s' ir com ele a uma fêra, qu' aquilo era coisa qu' a gente havera de gostar, voltí-me p' a ele e dig'-l'e:
- Ó Zé Manel, mái atã isso nã sará já demás?... Inda, ontordia, se foi a Vila Nova ô arjamolho, hoje já queres que se vá caminho de Silves?...
- 'Teja calado, ti Refóias, que vomecêa, despôs de lá ir, até m' há-de agradecer... Olhe qu' aquilo é uma coisa qu' eles fazem uma amenção do tempo dos rês e já hôve quem me d'zesse qu' é do mái lindo que pode ser.
- Más é qu' ê tenho p'r 'í o mê g'vermo munto encambulhado e nã posso andar fora de casa assim tantas vezes...
- Já o mê pai tem a méma mania... Venha más é daí e dêxe-se de coisas, que vomecêas, um dia destes, já nã podem com as botas e, aí, quero ver o qu' é que fazem... E se mecêa e a ti Maria nã vão, a minha mãe e o mê pai tamém não. E ê gostava dos levar lá...
- Atã, s' ele é isso, 'tá bem. Podes d'zer ô compad'e Jôquim que, s' eles irem, a gente tamém vai.
Vô-me p' à minha Maria, dig'-l'e do combinado com o Zé Manel, p'a ela s' aviar, salta-me, logo:
- Ó homem, isso nã é novidade nenhuma p'ra mim... A c'mad'e C'stóida já me tinha falado no caso e ê cá, p'lo sim, p'lo não, já tenho tudo adiantado. É só a gente se vestir e pronto.
- Ah, m'lher marafada... Atã e nã me d'zeste nada?...
- A c'mad'e C'stóida pedi-me segredo...
- E já arrenjaste alguma buchazinha, p'a se c'mer lá?
- Nã qu' o Zé Manel disse logo à mãe que nã se levava nada. 'Tã lá a fazer dec'mer de muntas q'ôlidades. Des que até coisas qu' eles c'miam naquele tempo dos rês...
- Ah, isso há-de ser uma bela travia...
De manêras que, inda ê 'tava a ab'toar os cordõs das botas, lá vinha já o Zé Manel a apitar o carro, ô canto da rua do pai. Isto, já com o sol quái a se pôr.
Chigô-se a Silves, já ô lusco-fusco... Más a nôte 'tava boa. Nem frio nem calor demás. Ora, só se via uns a tocarem ôtres a balharem. E um chêrinho a assadura, que a gente custava-se a aguentar...
Dá-se em ver famila vestida à moda antiga a tocar e a balhar p'r tod' ô lado - e olhe qu' havia lá umas belas moças, assim com uns véus a amostrarem a barriga... Mái elas nã tinham, béque-me, vergonha nenhuma disso. Aquilo, ó eram soltêras ó os homens delas, calhando, f'caram em casa e nã sabem nem da missa à metade...
Mái dêxando de rir p'a mangar, f'quí com os olhos arregalados de ver assim tanta coisa bonita.
Lá os da Cam'ra puseram nã sê q'ontas barrecas p'a, quem qu'sesse, s' enfarpelar com aquelas rôpas qu' eles usavam nôt'es tempos. E nã faltava quem já se t'vesse empinòcado. Agora, p'a chigar lá drento das barrecas é qu' era uns trabalhos. A gente bem qu'ria, mái só se passasse lá o resto da nôte...
Há quem diga - e se diz é que sabe - que, nesses entrôxes e na fêra toda, faltava lá umas coisinhas e ôtras 'tariam lá a más, mái qu' aquilo era bonito, lá isso era, sa senhora.
Expr'mentem a acalcar aqui no Local & Blogal que logo vêem o que aprendem a respêto de Silves e desta fêra. Vê-se qu' o dono é uma pessoa que estudô, sabe munto da terra dele e gosta dela até mái não.
E p'a verem ôtras coisas tamém bonitas daquela cidade e tudo o qu' há p'r lá em redor, acalquem aqui no Rosmaninho qu' a dona é uma mecinha que tamém se perde p'r a terra dela.
E mand'-l'e daqui as minhas recomendaçõs ôs dôs qu' hô-de 'tar tôdes presunçôses de terem fêto uma coisa tã emportante na terra deles.
E p'a nã nos empertenecer munto, só l'es vô contar o que dé com a nossa jolda, nessa nôte, lá na Fêra Medieval de Silves.
Olhe, a gente, nem que se t'vesse combinado, comé-se tôdes blancia entes de s' abalar de casa, qu' isto o tempo 'tava quente e com a blancia semp'e se rafresca um coisinho. Vai dái, chega-se a Silves, inda se l'e bebe uma cervejalha cada um. Os homens, qu'as m'lheres boberam p' ali um áiceti... Ora, passado um pôcachinho, aquilo c'meça tudo a dar efêto.
Ê cá encolhia-me p'r um lado, o mê compad'e Jôquim p'r ôtro. As m'lheres p'a li d'sfarçavam c'm' podiam. Vai-se p'r um lado, vai-se p'r ôtro, retretes... qual o quem!... Nã se lombrigava nenhuma...
Digo p' ô mê compadre, sem os ôtres ôvirem:
- Compad'e, vomecêa nã 'tá já p' aí, tamém, com precisão de s' al'viar?
- Ora se 'tô...
- Mái atão e adonde é qu' a gente vai verter águas aqui num sito destes, com famila p'r tôd' ô lado, senhor?... Já olhí se via alguma retrete, nã vejo nada... Nem tampôco uma arvezinha aí a um canto p'a gente se esconder p'r trás...
- E qu' havesse... Com este gentío todo nã servia de nada... Mái, 'pere aí qu' ê prècuro ali o mê Zé Manel.
Vai falar com ele, o moço salta logo, em voz alta, no mêo daquele gentío todo:
- Ah, 'tão aí pertados e nã se desenrascam?... Vã ali p'r trás daquela fragonete e governem-se, qu' ê já fiz o mémo...
Dig'-l'e:
- Ó Zé Manel, ê cá e o tê pai nã se faz uma coisa dessas... Iss' é uma vergonha. Atã e nã vês qu' a tu mãe e a minha Maria tamém é certo e sabido que 'tã na méma...
- Olhe, atã venham daí tôdes com-migo, qu' ê resolvo já o caso.
E abala d'rêto a um café que 'tava da banda de lá, méme quái em par d' a gente. Mái p'a se chigar lá, nã cudem, t'vemos qu' arrodear a praça toda e levar meia-dúiça de pisadelas nos calos cada um...
Ele antra no café, munto limpêro, chega ô balcão:
- Ponha lá aqui três emp'riais, fazendo favor. Bebe-se méme aqui ô balcão qu' a gente nã pode perder nada da fêra...
A m'lherzinha lá aviô as emp'riais, o Zé Manel ia puxar da cartêra, más ê nã dêxí, qu' ele já tinha pagado as ôtras.
Enq'onto ê 'tava p'a arreceber o troco, diz ele p' à impregada:
- Diga-me lá uma coisa, adonde é a retrete?
- Aqui nã temos casa de banho. Se qu'serem podem ir ali à rua. A dos homens é dum lado, a das m'lheres é do ôtro...
- Já perdé três eros, ti Refóias... S' a gente sabesse, nã se tinha precisão de vir aqui...
- Eh'q, nã se bobia aqui, bobia-se adonde calhasse, era o mémo...
E lá se foi tôdes à prègunta das retretes, qu' a vontade já era bem munta.
As pobrezinhas das m'lheres é que foi uns trabalhos p'a se darem governado. Aquilo 'tava lá uma chusma delas à porta que 't'veram de esperar quái uma hora. Coitadalhas, até já 'tavam marelas...
Andava tudo bem enfarpelado com rôpas d' antigamente. Cá p'ra mim, este, d'sfarçado de pobrezinho, era o mái bem-caçado...
Com a famila toda que 'teve lá desta vez, tenho a firme certeza que, pr' ô ano, já vã fazer tudo inda melhor e, p'r menes, hõ-de s' alembrar qu' os de fora, em bebendem uma crevejinha ó duas, têm que se governar...
E já agora, inda l'es digo que tamém gostí de ver qu' um museu qu' eles têm lá adonde 'tá o poço p'a eles antigamente gôrdarem a água p'a bober, 'tava aberto méme de nôte. Olhem que já tenho ido a ôt's sitos e nã dô visto nem museus nem monumentos qu' eles fecham-nos logo a mêa tarde...
Pôs este fui vê-lo, nã paguí nada e aquele senhor que 'tava lá a t'mar conta daquilo nã podia ser mái porrêro. Arrecebé a gente tã bem que nem que se fosse da famila dele...
Bem disse o Zé Manel...
Agradêç'-l'e e munto d' ele se ter alembrado de carregar com a gente p'a Silves naquele dia. Pr' ô ano, quem se vai alembrar sô ê cá e, s' ele nã d'zer nada, faç'-me convindado. Sim, que nem ê nem ele s' é prenósticos e somos é francos um pr' ô ôtro até mái não.
Muntas rec'mendaçõs p' à famila toda de Silves.
E vomecêas passem tôdes munto bem.
Fiquei mesmo presunçôse com o que descreve da Feira da minha terra.
ResponderEliminarObrigado!
Parente marafado
ResponderEliminarAndou pelas minhas ruas e não me disse nada... isso não se faz!
Desta vez está desculpado :).
Quem me dera ser uma mecinha como o parente diz! É verdade que gosto muito da minha terra... cinco décadas a ser silvense...
Não tinha precisão de perder três eros, a minha casa recebia-os a todos com muito gosto.
Para o ano já sabe, procure uma rua com o nome Jasmim, anda um pouquinho a pé... e encontrará a "mecinha" Rosmaninho.
~*Um beijo*~
Coisa linda também, Parente, aquela dedicatória da Manuela, dos Dias com Árvores.
ResponderEliminarUm abraço.
Olá, parece-me que por aí são todos arraçados de parentes! Fiquei feliz por ver Silves tão jovem e moça, já não passo lá há mais de 10 anos ...É uma cidade mansa e aquele sol nas pedras vermelhas do Castelo, o rio tão velho e preguiçoso, são inolvidáveis. Obrigadinha ó gentes do Sule (M., Rosmaninho e o A.) e abraços da "nortada"!
ResponderEliminarOlhi mé bele parente, acabi agorinha méme de chigar da fêra mediaval de Castre Marim, é que nã tive manêra d'ir à de Silves, méme aqui tã perte...Achi aquile méme bem caçado e a terrinha tá a fecar munto arrenjadinha, munto melhor duque q'ondé cá tive lá a últema vez há quás uns dõs anes.
ResponderEliminarAinda passi pla Fatacil, q'este ane inda nã tinha poste lá os pés.
Tou a fecar munto casêro, nã sei s'iste é destes grandes calores, s'é dos anes irem passande, mecêa entende...
Um abrace e passe bem
O amigue Campaniço
Atã, mês belos amigues, c'm' é que têm passado?
ResponderEliminarÊ cá tenho andado p' aqui metido nuns enlêos que nã me dêxam escrever coisíss'ma nenhuma...
De manêras que, aqui l'es dêxo o mê m't'ôbrigado a tôdes.
Tã penas tenha ocasião, vô desatar a escrever mái umas coisécas.
Nesse mê tempo, se vomecêas me saberem d'zer s' há alguma manêra d' apagar o qu' este estaporado escrevé aqui (do separatismo, mercenários e Judeus e mái nã sê quem) munto l' agradeço que me digam, qu' isto aqui nã se quer saber de coisas dessas.
Passem tôdes munto bem e Dés l'e pague.
Parente, calhande o amigue Antóino de Silves pode dar-le uma achega p'ÁPAGAR essa perquêra de comentáiro que fezeram. É que d'uma vez, descapelirem-me os dedes e fecarem dôs comentáiros iguaizinhos e atão é cá fiqui tode enrascado e pedi-le desculpas pr'isse. O nosse amigue apagou um e disse que nã valéra a pena é ficar envergonhade e q'u pedide de desculpas tinha side acête...
ResponderEliminarDeseje que já nã teja tã enrascado com a su vida, qu'é bom ler as sus'critas.
Passe bem.
O Campaniço
Foi uma feira espectacular, e para quem quer ver mais fotos elas estão no sitio do costume :)
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