Enq'onto as m'lheres 'stendiam as toalhas ali p'r cimba dumas pedras, méme ô sol, - sombras nã havia qu' o alv'redo ardeu todo nos encêndios - fui-me al'viar ali ô lado dum balsedo, perto duma corguinha que dá fresquidão ô terreno tôd' ô ano. Aquele balsedo adonde ê tinha dado com umas adelfas em botão, um dia destes. Aquilo, nalguns pontos, até resume um coisinho d' água, méme de V'rão.
Do lado de lá 'tava um crap'têro todo carregadinho de flores brancas, que se via bem ô longe, e umas q'ontas mongariças já com uma cor desmaiada e com pôca graça. Ponho as vistas no balsedo, chama-me logo a atenção as flores da adelfa, roxas, acabadas d' abrir (assome-se aqui). Até f'quí ensampado. S' há tempo qu'ê nã via tal coisa...
'Tava ali munto encrençado a olhar p' àquilo, nisto, q'ondo mal m' aprecato, umas pedras a cairem no balsedo. Logo, nã alcançí bem o que era. Oiço rasmalhar, salta uma perdiz de lá, dá um avoão, pequeno, e apoisa logo na chapada do lado de lá. O bicho havera de ter ninho ali e, quái de certeza, que 'tava a pôr. O perdigão desata a cantar logo preciminha, ch'mando por ela. Dé-me graça...
O que nã me dé graça nenhuma foi q'ondo vi qu' era o ti Zé Caçapo que tinha jogado as pedras. O marafado fazia-se despercebido, mái, tã penas ê l'e tirava os olhos de cimba, jogava logo ôtra. Assim ali p'a perto de mim, nã era p'a m' acertar... Era só p'a se meter com-migo.
- Atã, Refóias, já foste escorrer a água ô presunto?... Ôvi p' além rasmalhar, o qu' é que foi aquilo, home?...
- Ó sê mariola, atã nã sabe o que fez?!... S' ê cá nã me desvio a tempo, tinha-me dado com uma calhàzada nos cascos qu' ê, a estas horas, já ia caminho do hospital...
Mintira minha, qu' as pedras bateram todas bem desviado de mim. Aquilo é um c'stume qu' a gente tem aqui, q'ondo algum se vai governar no mê do campo, joga-se-l'e pedras lá p' ô pé só p' ô zucrinar. E diz-se um palavreado qu' ê nã conto aqui, qu' é vergonha.
- Anda más é daí e vê lá o qu' é qu' a tu Maria traz ali drento da cesta p' à gente c'mer, qu' ê já 'tô com grísea...
Respondé-me ele a rir, com ar de gozão.
- Vá contando com isso, qu' há-de ter munta sorte... Se qu'ria dec'mer, trazé-se-o... Nem, pelo menos, uma garrafinha d' aguardente trôxe p' à gente, sê grande fònica?...
- Ai, nã trusse... Olha lá o que 'tá aqui na alsebêra da minha jaqueta...
E abre assim a aba da jaqueta e amostra uma garrafinha, aí duns três mê-côrtilhos, inda chêazinha, com uma rolha de cortiça munto mal amanhada. E dé-me a provar num cocharrinho, munto pequenalho, qu' ele tamém trazia p' ali.
- Ah, assim 'tá bem. Já somos amigos ôtra vez. Venha daí e nã conte nada a ninguém, qu' essa fica de parte p' à gente os dôs. E isto se quer provar p' ali uma côida de bolo de tacho qu' a minha Maria traz p' ali...
Com isto tudo 'tava-se a chigar ô pé dos ôtr's. Já havia dec'mer p'r tôd' ô lado. Ele era f'lhós de pol, sardinhas albardadas, pêxinhos da horta, chôriças, morcelas, pedaços de presunto, ê sê cá... Até morcela de farinha e piques da banha encarnada ê vi ali à d'scr'ção. Atã e bolos de tacho, b'scoitos, fritos e f'lhós de mortepóque... Aquilo era dec'mer até mái não...
Más o qu' inda dava mái nas vistas era um garrafanito de v'nhito casêro qu' o parente Tóino Choça fez dumas uvas qu' ele tinha lá nos cantêros dele, qu' aquilo era uma especialidade. Prantô-o ali méme no mê de tudo p'a se ver bem. E o garrafanito até tinha graça, home. Manêrinho, empalhado com saíço descascado, e com um lencinho branco, com um cachinho d' uvas bordado a roxo, atado na asa.
Nã l'es dô encarecido... Q'ondo a gente se joga tôd's a c'mer, aquilo foi um vê se t' avias. O v'nhito do parente Tóino nã durô tempo nenhum. Teve-se que apr'vêtar méme um qu' o ti Manel dos Pôrtos tamém trôxe, más era um coisalho mái manhoso. As uvas dele panham pôco sol. Nã era qu' ele nã t'vesse bem agraduado, mái, p'ra isso, ele teve que l' ajuntar um litro ó dôs de bagacinha e já nã é bem a méma coisa que ter só o suminho das uvas.
O certo, o certo, é que ele com'çô a fazer efêto e aquilo era já lá um cagaçal que par'cia uma fêra. Tudo a falar de rijo e ô méme tempo, que ninguém s' entendia. Até as m'lheres, algumas já 'tavam com uma bagadinha... Inda me quis meter com o Verruma, mái aquilo nã dé nada qu a gente custava-se a ôvir um ô ôtro. Mái ad'vertimos-se ô bem fêto lá p' aqueles matos...
Dali a um coisinho, ôve-se o urrar de carros logo más aciminha, num arramal que passava ali perto e vai até à estrada da P'rtela da Viúva. Apararam, era malta lá de baxo. Conhecé-se logo p'las falas. Vai-se a ver, conhecidos do Zé Manel.
Conversa p' aqui, travessura p' ali - eles tamém já vinham espingardados - o qu' é que haveram de s' alembrar? Ir à prova de bolos de tacho da Junta, a Monchique. Ê cá vi-os assim béque-me alegres de más, nã qu'ria ir.
- Anda daí "parente" malsoad'... Atã, tens medo d' ir com a gente, diéb'?... O que faria se t'vesses qu' andar no mar, mom!...
D'zia um, com aquela manêra de falar deles lá de baxo. E olhem qu' ele ch'mô-me parente p'rque eles, lá no Algarve, têm esse c'stume de tratar a famila aqui de cima assim...
A verdade é que, com tanta coisa, foi-se b'bendo más uns calcezinhos dela e lá s' abalô, os que caberam nos carros, caminho da Vila. Ora, foi só homens. As m'lheres f'caram lá nas conversas delas e a afêçoar as coisas p'a se voltar p' ô monte, lá más à tardinha.
E, amanhã, logo vejo se l'es dô contado o resto, qu' esta tarde, inda tenho munto serviço p'a fazer.
Até despôs e fiquem-se com Dés.
Ai amigo! Fiquei a aguar com o vosso d'comer... Aos anos q n como sardinhas albardadas!! E vinhozinho caseiro, daquele q "amaranha" por nós acima... Ui!
ResponderEliminarFico à espera do resto da história!
Compadre,os seus termos são fantasticos,de facto são muito utilizados em monchique.O seu blog é visitado muitas vezes cá pelo pessoal da Radio,de tal forma que até já colocamos um link na nossa página.Bem aja.
ResponderEliminarI say briefly: Best! Useful information. Good job guys.
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