16 maio 2006

Marmelete: No Cerro dos Picos inda há carvalhêras

Carvalhêra com as su's carvalhas - uma velha ôtra nova

Désna que me conheço, semp'e foi o sito adonde más carvalhêras vi foi no Cerro dos Picos. Inda naquele dia que lá fui com a minha Maria, f'quí incantado com elas. Vejam lá qu' aquilo ardé' tudo nos encêndios e elas já arrebentaram. E 'tã bonitas. Com carvalhas e tudo...

Quem tamém havera de gostar de ver aquilo, calhando, era aqueles senhores dum blog qu' ê já uma vez falí aqui - o Dias-com-árvores - que sã lá das bandas do Porto e, tôd's dias, põem retratos de flores e arv'es p' à gente ver. Uma coisa que dá cobiça... Sã famila que estudô e sã munto crusidôsos. Cada vez gosto mái de devassar o blog deles. Assomem-se tamém lá que nã ficam repesos.

Mái, voltando ôs Picos, naquele dia que lá andí, alembrô-me dos mês temp's de môç'-pequeno, inda bem pequenalho, q'ondo corria aqueles cerros tôd's sòzinho ó com uns q'ontos amigos em companha, qu' era um espàircemento qu' a gente tinha. Tudo servia d' entretenga p' à gente...

Olhe, as carvalhas tanto eram bolas com-m' serviam p'a jogar ô belindro. Os madronhos, os martunhos, as samôcas e as amoras das balsas c'miam-se, nem tinham precisão de ser lavados nem nada... D'zia a gente:

- Bich' qu' ê com-mo nã me come ele a mim!... - E vá p'ra baxo. E era uma risada.

Neste tempo, mái ó men's do Maio até S. João, tamém se tinha c'stume d' ir à prègunta de maios p'a se c'mer. Era umas coisécas p' ô marelo e encarniçado que narcem das raízes das estevas e têm umas maminhas pequenalhas chêas assim duma lisga branca quái sem sabor. E c'mia-se aquilo. Nã sê s' era bom s' era ruim.

Uma ocasião, demos com um poder deles numas estevas que p'a lá 'tava, fartam's-se de c´mer. Despôs, o Zézinho pôs-se p' ali a esmigalhar uns q'ontos com duas lajas de pedra. Cudava-se qu' era p' a ele c'mer. Eh'q!... Q'ondo o Fernando mal s' aprecata, pega naquela m'stela e esfrega-l'e na cara...

Ai menino, o Fernando, q' era assim pequenalho e rab'ludinho, mái munto gènudo, logo, f'cô assim ensampado sem saber o que fazer, mái, despôs... C'meça a fugir atrás do Zézinho p'r aqueles matos abaxo, aqui caio além m' alevanto, panhô-o, já lá do ôt' lado, assim numa vagazinha, caiem os dôs enfelpados p'a drento dumas carvalhêras, c'meçam a engav'lar, foi o bom e o bonito...

Se nã é os ôt's os irem lá desapartar, nã sê o qu' aquilo dava. Méme assim, f'cô lá um espòjêro tã grande ó tã pequeno, que qualquer um que visse aquilo, pensava que tinha 'tado lá uma vaca dêtada... E munta sorte t'veram eles, que p'r um nadinha nã batiam com a cabeça num bajôlo que 'tva logo ali à banda de lá.

Nã l'es digo nada, q'ondo o Zézinho chigô a casa com a cara toda labuçada, a rôpa toda suja e um arrasgão num joelho das calças, ia levando uma remessa da mãe, que já tinha levado a tarde intêra a bràdar por ele e ele nunca acudiu. Dum sermão bem dado nã se livrô. E inda viu jêtos duma varinha de lentisco, qu' a mãe tinha lá, trabalhar...

Despôs de me passar isto tudo p'la cabeça, olhí à minha roda. E olhem que f'quí embasbacado ô ver com-m' aquilo tudo se tinha refêto tã depressa. Veja bem qu' inda há só dôs ó três anos qu' a serra ardé toda e já 'tá tudo verde ôtra vez...

Ele é carvalhêras, madronhêros, lentiscos, traviscos, mongariças, jastras, rasmonos, bom, nunca mái aparava... E tudo apertado no mê de calitros, qu' esses marafados adonde se despôem nunca mái desparêcem. Só o qu' ê vejo mái empeçado sã as sobrêras. Essas, pobrezinhas, perderam-se muntas... E as qu' inda deram uns arrebentos, umas perderam-se a seguir e ôtras nunca mái são nada.

E inda me dé tempo p'a devassar aquela linda vista p' ô lado da Fóia, mái f'quí logo descorçoado q'ondo repàirí naquela gradessíss'ma p'rquêra qu' a TMN fez p' ali. Nã vêem?...

O qu' é que faz ali aquele cas'nhôto branco sem jêto nenhum?... Nã bastava a entena senã inda más aquilo... Malsoado d'nhêro, que quem no tem faz o que l' apetêce...

E pronto. Q'ondo calhando logo se fala mái um coisinho, qu' ê hoje béque-me 'tô desnoitado, qu' a minha Maria ontem à nôte nã me largava, só qu'ria era conversa, e q'ondo acarrí no sono já era p' aí uns dez horas. Ó nã sê se nã saria mái tarde ainda...

Até ôtro dia e Dés os ajude.

2 comentários:

  1. Obrigada por estes pequenos momentos que nos dá, é lindo relembrar um pouco de tudo o que via e sentia quando vivia em monchique! Embora tenha estado aí há pouco tempo, tive muito que fazer e não consegui saborear os melhores momentos, de ver paisagens ou o pôr do sol...

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  2. o que eu estava procurando, obrigado

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