Q'ondo se chega às estremas de Marmelete é-se comprimentados desta manêra. Quem é que nã fica sast'fêto de ser arrecebido com uma coisa tã bonita e tã bem afêçoadinha...
Pôs ê cá, ô ver isto, dé-me logo vontade d' ir correr aquilo tudo. E fui. Quer d'zer, andí p'r lá a tarde intêra, mái nã vi nem das cem partes uma... E nã f'quí repeso, que, tã penas tenha ocasião, vô correr más. Ah, isso vô...
Aquilo até foi bem caçado. Vinha-se ali daquelas bandas da Varja do Farelo, tinha-se ido ver uns parentes qu' a minha Maria tem p' lá, e 'tava-se quái a chigar à Folga. Mal se vê a estrema da freguesia, vejo béque-me um marco com este desenho im cima.
Parí a b'cicleta a motor e vô-me ver. Gostí tanto qu' até tirí um retrato. E salta-me da boca:
- Maria, ê nã te disse que Marmelete, agora, já é ôt'a coisa? Isto, qualquer um que chega aqui, vê logo 'tá numa terra qu' é uma cat'goria... Nôt's temp's, é qu' eles faziam pôco da gente. Agora?!... Até vêem cá de gosto... E nã te parêce que morêce a pena?
- Sim, home, mái à'xelêa-me lá aqui, qu' ê nã dô posto o capacete bem e assim nã vejo nada com ele todo pendido p' à frente.
Diz-me ela, munto empeçada, p'r ca'sa do capacete l'e ter escorregado p' à cara com a travaja.
- Ó m'lher, atã põ's isto im cimba do lenço e despôs ele desanda-te p' à testa... 'Pera aí... Adonde é que 'tá a fivela? Pronto, já 'tá bem.
- Olha, 'tá bonito. Quem fez isto é crusidôso...
Ô meme tempo, olhí assim p'a norte, qu' ê tenho c'stume d' olhar ô astro p'a ver que tempo é que se vai ter, 'tava bem munto embrulhado mái ele nã chove. E o que vejo? Vejo o Cerro dos Picos, lá munto ô longe, inda desviado da gente mái duma hora a pé, bem umas duas. Mái de b'cicleta a m'tor é coisa aí duma mêa hora. P'a nã ir munto desengalgado aí prê acima...
Pensí:
- Vô-me lá agora, que já nã m' alembro q'ondo lá fui a últ'ma vez...
- Maria, atã e s' a gente se fosse até além ôs Pic's ver aquilo? Ist' é d'mingo, inda é mêa tarde, os dias já sã grandinhos, que dizes?...
- E a gente dará lá chigado com a b'cicleta?...
Responde-me ela, toda acagaiçada, qu' aquilo a carrelêra é bem munto enpinada.
- Ora damos, atã com tantos anos qu' ê tenho d' andar de b'cicleta, inda nã dêxí d' ir a sito nenhum... E já alguma vez ela jogô a gente p' ô chão?... Nunca. 'Tá bem qu' aquilo tem lá uma ladêra temente, mái nã tenhas medo que chega-se lá bem.
- Foiteza é qu' ê cá nã tenho nenhuma...
Inda me disse ela quái com-m' quem d'zia que nã tinha lá munta vontade d' ir.
Más ê cá amontí-me na b'cicleta, ela nã teve ôt' remed'o senã amontar-se tamém e toca andar p'l' aquelas ladêras acima...
Q'ondo s' ia ali ô Enxameador prê acima, c'meçô a dêtar um torno de fumo do escaple e fazia uma urrada p'l' aquela chapada qu' até os porc's, daquelas curraletas que lá 'tão, se calaram tôd's... Isto p' a nã falar de q'ondo s' ia lá méme quái ô canto de cima, já perto do talefo. Punhana! Panha-se uma cova, a minha Famel-Zundap dá um pulo, jogo os pés ô travão, a minha Maria dá-me um cabeçadão com o capacete dela no meu, até vi estrelas...
Bom, tive qu' aparar. P' ali s' ajêtamos, ponho a Zundap a trabalhar ôtra vez, vô p'a arrencar, é o assobes... Patinava e nada. Digo p' à minha Maria:
- Vai andando até alem àquela alturinha que já t' amontas lá. Vá qu' ê leve-a à mão.
Ora, foi um descanço. Lá na alturinha, montames-se, meti-l'e uma pr'mêra, pus-l' o punho ô fundo, até estralava... Dôs sapêros, qu' andavam lá nos ares a avoar, até fugiram com medo. E, em men's de nada, se 'tava ô pé daquelas entenas que lá 'tão, béque-me dos telefones ó nã sê quem.
Aí é qu' ê gostí... Vistas c'm' àquelas é má d' haver. Via-se Lagos e Vila Nova quái c'm' se 't'vessem logo ali. Aqueles cerros tôd's d'rêto à barraja e d'rêto a Al'zur, coisa linda... E p' ô lado da Fóia?... Lobêras, Pé d' Frio, Corte Delfêra, Cerro da Madrinha, via-se tudo, tudo, tudo...
E inda há ôtra coisa qu' ê gosto naquele cerro. É aquele correpito ali im cima daquelas pedras, qu' é uma coisa bonita de se ver.
Q'ondo vô lá, tenho semp'e a mania d' assubir lá im cima. Mái, desta vez, a coisa nã me corré lá munto bem. Inda fui uns dôs ó três degraus, mái, despôs, arrecuí. Os ferros 'tavam tôd's podridos, vi-me lá em traquetes que pensí qu' aquilo s' ia partir tudo.
- Nã, nã! Toca a fugir daqui, entes qu' isto dê má resultado...
Pensí, enq'onto dava um salto cá p'ra baxo, qu' ia-me espatarrando im cimba da minha Maria. Pobrezinha, até panhô medo.
Ela, 'tava a apreciar aquilo tanto qu' até se desqueceu qu' inda se tinha que abalar prê abaxo e decer o cerro todo. Q'ondo s' alembrô, punhana!, más um nada e dava-l'e ali uma coisa... Ê vi logo qu' ela já 'tava enrascada a pensar naquela ladêra até à estrada de Marmelete.
Volta-se p'ra mim e diz, c'm' quem nã quer a coisa:
- Eh'q, ê cá, agora, gostava era d' ir a pé, ali prê abaxo p'l' aquela v'reda qeu' ê usava a passar q'ondo vinha da missa e tinha pressa de chigar a casa. Q'ondo tu inda nã tinhas a b'cicleta. Em men's de nada ê 'tava nas Bicas. Calhando, inda pr'mêro que tu.
Ela pensa qu' ê sô parvo, más ê vi logo qu' o qu' ela qu'ria era, com a desculpa d' ir p'lo encurtadoiro, furtar-se a ir amontada na Famel...
'Pera aí qu' ê já te digo...
- Nã senhora. Viemos os dôs, vai-de os dôs. Ó 'tás com medo? Se tens medo, à ôtra vez venho ê cá sòzinho... Dôs bêbados nã se largam um ô ôtro, q'onto más a gente...
- 'Tá bem, homem, nã t' apequentes. Logo vô por ali nôt'a ocasião. Ê até gosto d' ir amontada na b'cicleta p'a panhar aquela araja fresquinha na cara...
E atão, despôs de se andar mái um coisinho ali à roda da gurita, abalamos caminho da minha Famel. E olhem qu' aquilo, p'ra baxo, foi um consolo... Puse-a a deslise, nã gastí nem um destão de gasolina até à estrada de Marmelete.
Inda se foi à fonte das Bicas, más aquilo 'tá na desgraça... Tudo escalavardado, tudo marafado, até me dé desgosto. Tanta vez qu' a gente b'bia ali umas sedes d' água q'ondo s' ia a Marmelete a pé e, agora, des qu' a água nem tampôco 'tá capaz...
Ê cá b'bi na méma. Olha, se me fazer mal à barriga e ma dar p' aí alguma sôltura, logo se vê...
Más uma palavra l'es vô ê d'zer. Venham dar uns passêos p'r cá e vã ô Cerro dos Picos que nã ficam repesos. Se trazerem uma morenda, comam-na lá, se nã trazerem, vã até Marmelete, ôs Gralhos ó ô Cor' d' Vale qu' há lá umas casas que fazem um dec'mer do melhor que pode ser e haver. É daqui...
E hoje nã l'es digo mái nada, qu' inda tenho qu' ir ali alimpar um rego p'a trazer a água do tãinque da Pedra da Zorra p'a umas bejoarias que tenho p' ali. É qu' o tempo já vai quente. E, inda esta semana, calhando, tenho que regar umas batatas d' olho de perdiz que samií ali no cantêro do mêo.
Dés l'e dê saúde.
Muito interessante o tema desse blog...vivendo e aprendendo.
ResponderEliminarAbs do Brasil
I love your website. It has a lot of great pictures and is very informative.
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Meu coração também ficou em Marmelete, e penso voltar este verão com a família toda, para lhes mostrar um pouco de minhas raízes.
ResponderEliminarUm abraço amigo deste monte bem longe, onde as serras não se vêem.
Marmelete é uma terrinha pequena mas muito acolhedora, eu sempre me senti bem recebida por lá!
ResponderEliminarParabens pelo blogue. Sou natural de Marmelete, como tal, conheço bem os habitos e as tradições.
ResponderEliminarUm beijinho para todos os meus conterrâneos e todos os meus familiares que trago no meu coração.
Parabéns por este blog! Está simplesmente genuíno.
ResponderEliminarÉ um povo que trago no coração, sendo toda a minha familia proveniente deste cantinho muito caloroso.
Cuidem bem dele!
É sempre agradável visitar este cantinho cheio de informação, sentindo vontade de divulgá-lo coloquei o link no meu blogue... espero que mais pessoas o venham visitar.
ResponderEliminarUm abraço.
Olá boa tarde , andava a fazer uma pesquisa dos Picos , quando encontrei este blogue , o que achei muito interessante , por ocasião até tem uma foto do ponto mais alto dos Picos , o que por ocasião, a foto é do meu terreno , aproveito para dizer que é um sitio muito bonito para passear pois tenho um belo eucaliptal e bastantes Castanheiros que já estão a crescer , pois porque há alguns anos atraz ardeu tudo, mas a Mãe Natureza encarrega se tudo e já está tudo novamente verdejante , um bem haja para Marmelete Vitor Torrinha
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