13 março 2006

As borregas

As borregas do t' Zé da Côrcha a c'merem erva
Este Envern', tem ch'vido escapatòirament' e, atão, el' há erva p'r tod' ô lado.
O t' Zé do Passil tem umas q'ontas borregas e já as ac'st'mô tã bem qu' elas nã pr'cisam de moiral nem nada. Mete-as ali p'r o córg' acima elas vã c'mend' e andand'. Dã a volta lá em riba, viram p'r a chapada a baxo e, quái tod's dias, passam aqui ô pé de mim. Béque-me já me c'nhecem e tudo. Tamém, nã é caso p' admirar. Q'ondo calha, semp'e l'e dô uma folha ó ôt'a de côv' qu' elas até s' lembem.
Ont'rdia, tinha aqui a minha canita, a brab'leta, calhí à apontar p' ô lad' das borregas, nã sê perquém, foi um vê se t' avias. Em men's de nada, desengalga a ladrar atrás dos bich's, elas a fugirem e ê cá a bradar:
- Brab'leta! brab'leta! aqui, já! Ah, cadela marafada, dêx' ôs bich's em s'ssego. Venha já pr' aqui!...
E joguí-l'e assim uma pedrinha p'ô pé das pernas p'a ela ver qu' ê nã 'tava a brincar.
Lá voltô p' ô pé de mim, mái atã já tinha escramontado aquil' tudo, cada borrega p'a sê lado...
Agora, p'r ca'sa diss', lembrí-m' duma passaja que se deu, um' ocasião, q'ond' ê inda era nov', com uma burra qu' o mê pai tinha, chemava-se laranjinha, que tamém teve graça.
O raça da burra tinha um petafe. Q'ond' agente se qu'ria àmontar, ela dav' uma carrêrinha. Tinha-se que ser munt' l'gêros e montar-se a cavalo entes del' abalar.
Vai daí, o mê ti jôquim, que nã l'e conheci' às manhas, mái gostava munto d' andar a cavalo, quis 'xp'rimentar o animal, uma tarde qu' ê ia levá-la p'ô rastôlho. Em osso.
Mal êl' alsa à perna, a laranjinha arrenca, ele béque-me ass'stô-se, encalha com o tacã da bota na barriga da burra, tomba p'a trás, o chapéu p'a um lad' ele p'a ôtr', bom, p'a encurtar de rezõs, f'cô espaldêrado no chão, a impar. E a burra, um coisinh' mái à frente, a olhar assim de lado...
E ê cá a rir às carcachadas...
O pior é qu', q'ond' ele s' alevantô.
Vem d'rêt' a mim, s' ê nã fujo, inda me cascava... Par'cia uma aventoínha, todo marafado, a dar ôs braç's pr' a baxo e pr'a cima e vá d' arrulhar:
- 'Pér' aí qu' ê já te dô, g'ande malandro... Atã nã me d'zeste qu'a burra fazi'aquil', que jêto? Bem podia ter ofendido ali uma c'stela ó alguma cois' inda pior... Ê já dig' ô tê pai, qu' ele logo te dá o arroz.
Daquela vez, vi-m' em traquetes, mái vá lá qu' o mê pai andava a alquèvar, lá pr' a baxo p' à Refóias e o mê ti Jôquim nã 'teve com ele senã passad' munto tempo. E há-de-se ter desquecido.

3 comentários:

  1. Graças a Dés que nestinverno choveu um bele poucachinho, que já táva a haver munta míngua dáguinha. O qué certe é que percása da chuva creceu ervaria por tudo qonto é sito.Há ervas quaje do tamanho dum home, e assim já as berregas e as cabras têm de quemer.Percása de Berregas alembri-me dum gaje a quem alomiam de "Carlos Berrega",aquilo é um entresseirão e mete-se em todo o negóiço, agora até faz descursôs.

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  2. Olhe a descursão è a assubir o rio Doure, mas abalam do Peso da Régua inté Barca D'Alva, passando praquelas barrajas todas. Nã sei sú parente conhece, más é cá já assubi num barque desna a rebêra do Porto, até Peso da Régua e é munta linde, até dá goste ver aqueles canteirinhos todos verdinhos de parrêras ali prêacimba.

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  3. Hoje tou tã enfezado em descrever, qua inda vou continuar um poucachinho.Sabe o parente perquéque chamem de Berrega a esse tal Carles Varela? É que qondo ele andava na escola, faltava sempre no dia do mercade e qondo a prefessora lhe precurava porque tinha faltado ele arrespondia sempre da méma manêra "Fui vender uma berrega ó mercade".Assim ficou com esse anexim.É já uma vez le disse que sei muntas chetórias e conhece munta gente e sitos e sempre que me fazer jêto e malembrar voule dezendo, qaté le posso dar idéas.

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