27 março 2006

Fonte Santa da Malhada Quente (sigunda parte do conto)

Fonte Santa da Malhada Quente e Portela do Estieiro

C'm' ê ia d'zendo, inda agora, lá fui falar com o Zé Manel, a ver s' ele qu'ria ir levar a gente à Fonte Santa, D'mingo. Qu' era o dia a seguir.

Calhô bem qu', à medida qu' ê ia chigando à rua dele, par'ceu o mê compad'e Jôquim, que vinha da fazenda com uma canastra quái chêa de laranjas, umas da baía, out'as doce-de-espanha, umas q'ontas de sãingue e dôt'as q'ôlidades modernas qu' ê nã conheço.

- 'Teja com Dés, compad'e Jôquim. - Comprimentí-o.

- Seja bem par'cido, compad'e Refóias. - Respondé-me. - Há tant' ô tempo que nã no via aqui na minha rua... O qu' é o traz p'r cá', hoje?

- Eh'q, vinha aí falar com o sê filho...

E o mê compad'e lá s' assomô p'a drento de casa.

- C'stóida, nã 'tá p' aí o Zé Manel? O compad'e Refóias tem precisão de falar com ele.

Nesse entrementes, a minha c'madre, par'ceu à porta, mái des qu' o Zé Manel nã 'tava em casa, havera de 'tar ali p'ra diente p' ô pé da casa da ti Zabel. E foi ch'mar por ele.

- Zé Manel! Ó Zé Manel! Anda cá, qu' o compad'e Refóias quer falar contigo.

Ê nã disse qu' ele andava atrás da Cilinha?... É mái que certo. Ê sô má de m' enganar...

O moço lá acudiu e f'camos ali os três tramelando, enq'onto ele nã par'cia. Más a comad'e C'stóida alembrô-se, logo, d' ir b'scar uma garrafinha d' aguardente de madronho e mandô-me entrar p'a casa.

- Ó c'madre, nã é preciso, isto 'tá-se aqui bem agora o solp'stinho, o tempo 'tá ameno, o astro é que tá um coisinho empoado, mái ele nã vai chover. E a gente assenta-se aqui no pial, enq'onto se espera pr' o sê Zé Manel.

E sentamos-se.

Vem a c'mad'e c'stóida com a garrafinha, cop' a mim, cop' ô compad'e Jôquim.

- Atã e mecêa, c'madre, nã bebe um cal'cesinho dela? Beba-l'e qu' esta é boa. Olhe qu' há pôco quem faça tã boa aqui com-m'ô compad'e Jôquim...

- Ist' é vergonha uma m'lher beber, mái, d'zendo a verdade, uma vez p'r ôtra, gosto de beber um solvinho. Sendo desta assim boa... Olhe, desculpe de nã ter nada p' à acompanhar, más esta nôte, é qu' ê 'tava pensando fazer umas f'lhòzinhas de pol...

Bom, inda bobemos más uns dôs porrêtes cada um, a C'mad'e C'stóida não qu' ela teve vergonha, e, nesse mê tempo, chigô o Zé Manel. Lá se combinô o passêo p' ô D'mingo e ê voltí p'a casa.

Dí ordes à minha Maria p'a fazer um farnel como devia de ser, p'a gente nã passar mal. Verdade seja dita, ela lá nessas coisas nunca me dêxô envergonhado. Arrenja semp'e do melhor e à farta.

- Olha, s' a c'mad'e C'stóida faz f'lhós de pol, ê faço aqui umas fatias de parida. Tamém gostava de fazer uns p'xinhos da horta, mái agora nã temos bajas, fica p' a ôt'a ocasião.

- Sim, m'lher, nã t' apequentes lá p'r isso. Nã te desqueças é de pôr a garrafinha d' aguardente na cesta e aí uma chôriça ó duas dessas maiores. O presunto, inda nã no tirí do sal, nã se pode levar... Só lá daqui p'r más umas três semanas ó um mês, coisa assim, é qu' ele 'tá capaz.

E lá s' arredondô o nosso servicinho e foi-se d'rmir um pôco.

E agora tamém me vô dêtar, qu' ê inda 'tô enzamboado do passêo d' ontem com os mês compadres, qu' ê logo l'es conto, amanhã, com' é que foi o resto. E, 'tejam certos, qu' inda falta o melhor...

Tenham uma nôte descansada no corpo e na alma.

5 comentários:

  1. Quando por aqui passo, logo me apetece fazer as malar e voltar, por aqui ainda neva pode ver aqui as imagens ao vivo e ver o contraste entre Monchique e Helsínquia. Quanto a sua pronta disponibilidade em me ajudar em encontrar minhas raízes é louvável e agradeço imenso, só vem fortalecer a ideia que me acompanha sobre a mentalidade amiga das pessoas nessa região esquecida para muitos, mas como lhe disse tenho muita pouca informação, vou este fim-de-semana telefonar para uma tia minha, da parte de meu pai, que é ainda a única pessoa que deve saber um pouco mais, mas duvido, sei que minha mãe veio para Lagos trabalhar ainda muito jovem, tinha uma irmã que eu ainda me lembro que já faleceu e morava em Odeceixe, mas tinha também um irmão que vivia ai, mas, que nunca tive a oportunidade de o conhecer, e foi essa pessoa que me levou o verão passado a passar por ai, mas com tão pouca informação não é fácil, se é vivo ou não, não sei, mas gostava de saber, penso que se for vivo deve andar pela casa dos 75 anos e o nome de família é Bento, minha mãe chama-se Isabel Maria Bento. Mas amigo, mesmo que não me possa ajudar, não se preocupe, porque ao disponibilizar-se para ajudar-me, foi a maior ajuda que tive em encontrar um sinal amigo de alguém que não conheço. Vou passando por aqui para visitar seu blog mesmo que seja em forma de curiosidade, e vou tentar que outros fazem o mesmo, porque também sou da opinião que nossa cultura tem que ser preservada.

    Um abraço amigo

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  2. Fiz um telefonema relâmpago, e olhe o que descobri através de certidão de minha de nascimento: Neto materno de Júlio Bento e Maria Bebiana. Isto é um passo importante, talvez os mais antigos ai da região de Marmelete tenham algum conhecimento!

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  3. Muito interesate. Onde vai aranjar estas historias?

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  4. Amigo anónimo
    Munto l'agradeço a su' visita. Estes contos sã' o qu'ê aprendi q'ond' era moço-pequeno e enq'ondo ando na charola com a famila aqui da serra.
    Comprimentos do Parente da Refóias

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  5. Mé bel'amigue

    Pôs ás vezes, no Verão, apetêce-me apanhar uma boa fresquidão, à sombra dumas belas arvres e lá vou eu até à Fonte Santa da Malhada Quente.
    Aquile já teve munta vida, vinha munta famíla pós banhes, prencipalmente gente do Bax'Alentejo.Houve uma altura que me torni munt'amigue dum casal de velhotes de Messejena, que vinham pa lá tôdes'anes e até me traziam bombons e arrebuçades.
    Agora é uma dó d'alma, tá tude ó abandone...


    O Campaniço

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