21 março 2006

Dia do arvoredo no mundo entêro

O qu' os encêndios fazeram às nossas sobrêras

Hoje é o dia do arvoredo p'r toda a banda e a gente tem que s' alembrar o que fazeram aqui à nossa serra nos últ'mos anos.

Nã vêem com-m' aquela sobrêrinha 'tá ali na f'tografia?!... Pôs f'caram quái todas assim. Agora é qu' as que nã secaram 'tam a dar uns rebentinhos, más essas sã as men's. Calculem que só uma em dez é que escapô d' arder... O resto f'cô tudo em cinza.

Andaram aí uns badalos, uma preção de tempo, a tiçar fogo à serra e ninguém l'e jogava as mãs, até qu' aqui, há uns dôs an's, lá l'e prantaram as mãs em riba e isto lá s' enqu'librô.

Mái, até lá, iam quem-mand' isto tudo. Par'cia uma cravoêra. Até a passarada despar'cé quái toda de cá. Aqui, no mê monte, só f'cô p' aí um mérrolo, que, todas nôtes, vinha dormir numa anesp'rêra qu' ê tenho ali no cantêro de cima.

De resto, màlamente se via um pisco ò um fuim, por 'í, desmarridos. Só há uns qu', agora, se 'tam a dar bem p'r ca'sa dos bichos-carpintêros que se criam na madêra seca das arv'es. Béque-me l'e chamam pica-paus e trepadêras, mái a gente aqui alomê-ôs p'r cavalinhos e petos.

Foi um grande charimbote aqui p'à famila que tinha alguma coisinha. Uns f'caram sem sobrèras, ôtr's sem calitros, ôtr's sem madronhêros e, méme nas hortas, foi-se tudo. Laranjêras, limoêros, f'guêras e ôtras arv'es de fruto.

Agora, nã há nada disso p'a vender e os que andavam na madêra nã dã arranjado trabalho. Más ôtra desfortuna...

Mái, nã cudem, a gente, cá na serra, foi-se acost'mados a ter que brigar munto p'à arrenjar d'comer e, atão, é o que gente vamos fazer, tal e qual com-mo os nossos avozes fazeram q'ond' isto era só mato p'r estes cerros.

Só havia madronhêros, estevas, mongariças, carquêchas, tojos e mato. E eles quebraram a terra, fazeram cantêros, samearam trigo, batatas, milho, fêjão e bejoarias. Desposeram arv'es p'r tod' ô lado, olhem, continvaram tudo. Bençoados!...

De manêras qu' isto, agora, foi uma grande charingadela, mái tudo s' há-de atamancar.

Inda voltando ô dia do arvoredo, em acaband' isto, vô-me despôr umas q'ontas arv'esinhas qu' ê tenho ali. Enxertí-as, o ano passado, nuns cavalos qu' ê tinha ali num vivêro, e, agora, 'tam méme boas p'a despôr. E o tempo vai bom p'ra isso. Fresquinho, de vez em q'ondo vem uns aguacêros, despôs vem Sol, aterra 'tá branda...

Atão, vejam lá se s'alembram do arvoredo e, mòrmente, a famila aí do Algarve, de Vila Nova e de Lagos, e dôt's lados, q'ondo virem p' aqui de passêo b'scar água, tenham munto cudadinho com o fogo e tamém nã joguem p' aqui perquêras. Sac's plástico, papés e restos de d'comer que tragam, levem ôt'a vez p'a casa ó, se nã querem levar, vã à pregunta do dum caxote do lixo e ponham lá.

Atã, passem um bom dia do arvoredo e tratem as arv'es semp'e bem, tôd's dias do ano, p'rqu' a gente tem munta míngua delas.

Fiquem-se com Dés, até ôtra ocasião.

1 comentário:

  1. Parente, imbora o dia 21 de Marce de cada ane, seja o prencipe da Primavera e dá uns anes pra cá o dia da árvre, temes de ter amor por elas tôdes os santes dias do ane e é já noti que o parente tem...
    É sempre gosti munto da natureza e das sobrêrinhas, temho-lhe cá uma estima qu mecêa nem calcula. Tenho uma preção delas despostas e tão a ficar munto benitas, é pra é cá samia-las numa terreca que tenhe numa zona que vai ficar abrangida por uma ZIF (Zona de Entervençao Florestal) e imbora nã se entre nessa associação, semes ôbrigades a ter tude limpinhe de mates.
    Há uns tempes fui assestir a uma palestra com engenhêros na cuprativa do Senhor Pé da Cruz. Eles falarem muntesísseme bem, más é cá tenhe as minhas desconfianças e até méme o Sr Engenheiro Telo samostrou desconfiado e deu a intender qu ninguém nada a ninguem...quera perciso de ter muite cuidadinhe...
    Já vai sende pó tardote e atão é cá despeço-me.


    O campaniço

    P.S.Nã sê siste é da idade, más é que nunca tenhe sone e se me dête cede é só contar carneiros, já nem dá pa contar as ripas do sebrade cagóra já é tude placas de cimente.

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