Hoje, a minha Maria terminô cozer, foi um correpio nesta casa, de manhã à nôte. P'r c'asa disso é qu' ê, só agora m' joguí a escrever estas patochadas.
Ela c'meçô a empencer que tinha que cozer hoje, que tinha que cozer hoje, e más esta e más aquela...
- Mái tens que cozer hoje, pre mode quém, m'lher? P'r qu' é que nã dêxas isso p'a Sigunda?...
- Atão, já tenh' pôco pão e podem par'cer p' aí os môç's, e ê nã tenho pã' mole p' a l'e dar, e tamém nã sê s' os compad'es lá de baxo passam p'r cá, D'mingo, despôs da missa, e é uma vergonha dar pã' duro às criaturas...
- Atã e léveda, tens alguma?
- Ó homem, tu bem sabes qu' ê cá dêxo semp'e duma cozedura p' à ôt'a... Até já' àcre'centí logo ontem à nôte.
- Atã, assim, lá tará que ser.... Olha, enq'onto tu amassas, ê vô, além àquele lado, b'scar um fêxe de lenha, além daqueles bic's de p'nhêro. Despôs, logo dô fog' ô forno.
Lá abalí, com uma saquinha p'la cabeça, um baracinho d' ir à lenha, qu' ê tenh' ali, e o mê machadinho pequeno p'a cortar as pontas mái grossas.
Em men's de nada, fui e vinhe. Tamém nã trusse um fêxe munto grande, qu' ê tenho andado mal do bescôço com um flate que me dé' aqui e inda nã 'tô bem curado. Q'ondo cheguí, inda a minha Maria 'tava de roda do alguidar da massa, já toda desmastreada, qu' aquilo amassar, na idade dela, já é um serviço má de fazer.
Aprovêtí, fui c'mer uma bucha, qu' ê tinha-m' alevantado cedo e já tinha aqui um bicho a rabiar. Q'ondo ch'gô a hora, lá tiçí fogo ô forno, a m'lher tendeu, alimpí o sôlo com um barredoiro de fêtos e lá se pôs o panito no forno.
E nã é qu' o panito f'cô méme bom?!... Lá nisso, a minha Maria sabe fazer aquilo bem. E se ser o caso de chôriças e morcelas, é igual. Atã e mólhes e morcelas de farinha? Ficam semp'e daqui...
Mái, voltand' ô panito, já viram bem aquele tab'lêrinho? Dá gosto ver, nã dá? E o chêrinho qu' aquilo dêta...
E, inda l'es vô d'zer más uma. A seguir, carreguí com o tab´lêro p' à cozinha, puz-l'o tendal p'r cima, volt'-me p' à minha Maria e dig'-l'e:
- Nã te calhava, agora uma tiborna, Maria? Ê quái que me 'tava a apetecer...
- Olha, que bela alembrança que tu t'veste, agora. - Disse-me ela.
E, sem más esta nem más aquela, foi logo b'scar um dentinho d' alho, o azête, uma pedrinha de sal e vá, os dôs a c'mer tiborna drento duma pelengana de barro qu' ela tem p' ali...
Nem vomecêas sabem o que perderam...
Até um dia destes e Dés l'es dê saúde.
Não deixes morrer o pouco que resta de nossa identidade, acabei de fazer o link par teu blog, espero que mais pessoas mostrem alguma curiosidade pela cultura do Algarve, que está a morrer, penso eu. No verão passado, quando estive de férias em Portugal, visitei Marmelete, tentei descobrir um pouco de minha identidade, mas em vão, porque tenho muito pouca informação de familiares da parte de minha mãe que nasceu em Marmelete, minha mãe faleceu era eu ainda muito jovem, por isso todos os contactos perderam-se. Mas valeu pelo passeio, adoro toda aquela região de Monchique a Aljezur, e principalmente a humildade e a alegria estampada no rosto das pessoas, mesmo que para muitos em especial os mais idosos a vida não estar nada fácil. Estou longe de minha terra Lagos, hoje vivo em Helsínquia na Finlândia com grandes saudades, mas um dia voltarei.
ResponderEliminarUm abraço amigo.
Ah meu belo amigo, só o descobri porque comentou no blog do amigo João, fico feliz por poder ler sobre Monchique, a terrinha melhor que existe no Mundo. Vivi aí 10 anos que foram os melhores da minha vida e se pudesse regressava hoje mesmo. Quanto ao panito, é das coisas que mais tenho saudades e só de ver essa foto até fiquei com água na boca. Obrigada por partilhar, até á próxima! Um abraço muito grande para Monchique.
ResponderEliminarEncontrei seu link no blog do meu amigo three 4 five, e ao passar por aqui tenho que dizer que,só falta o frango assado aí da serra de Mochique, e um calice de bom medronho. Este pão tem a marca em baixo, será que é a marca da palmeira, lembro-me que depois do forno quente punham ramos de palmeira, e então o pão ou os folares em cima, é assim com este pão?
ResponderEliminarMonchique boa terra.
Amigo Jornal vivo
ResponderEliminarm't'ôbrigado p'r ler o qu' ê cá escrevi. S'a internet passasse p'r um bitoque, em lugar de passar p'r um fio, ê inda l'e despejava aqui uma garrafinha de madronho, podia ser que chegasse aí um coisinho, mái, assim, nã pode ser. Este panito nã levô o ramo de palmêra ó de fêtos. As marcas sã do sôlo do forno, qu' ele já vai 'tando usado.
Agora, já nã temos munto esse c'stume, mái, nôtro tempo, era assim com-m' mecêa diz. Dés l'e dê saúde é qu'o Parente da Refóias l'e deseja.
Já há umas belas horas que janti e a ólhar pra este tablêre de panites, até a água me cresce na boca.
ResponderEliminarHá muntes anes a minha mãe tamém cozia, má depôs quemeçou a fecar má velha e comprava-se pã da padaria.Naquele tempe qu'é sabesse havia duas na vila (A do sr.Rogére do Forne e a do Zé do Forne), quás que nem dava pa ver o padêre, hoje atão tamos sempre a encalhar com eles, sã más qu'as mães, vêm de tode o lade.
A maior recordação qu'é tenhe desse tempe é d'ir ó pão, à venda, com uma bolsa de ratalhos e levar um testão pa comprar dõs enrabeçados, qu pão era p'assentar no livre e pagar ó sábade qu'onde mé pai recebia a féria da semana.
O qu'é más guestava é qu'onde tinha d' esperar plo Sr Rogere do Forne e ele trazia o pão quentnho, pôs tinha a franqueza d'ófrecer um pão pa quem tevesse na venda e ele propre fazia a tiborna, ponde alhes, azête e sal, que pedia ó tabernêre e ajuntava-le sume de laranja, qu'ele méme tinha na fragueneta.Só ele é qu'é vi pôr sume na tiborna, má era bem bom...
O que nã foi nada bom, foi duma vez qu pão tava munta quente e é cá questemava prantar a bolsa às costas, más come me quimava, di-le tanta volta ó tã pouca , que chêgui a casa com o pão tode desborrachade, fête numa felhó.
O resultade foi levar uma tuna, qu'ainda hoje m'alembra...
Enfelizmente era a educação do tempe antigue, más agente fez-se homes e é cá fui deferente pó mé moce e pós més netes ainda má deferente sou.
Passe bem
O Campaniço